sexta-feira, 15 de outubro de 2021

Cepticismo





O Cepticismo


 «Há vários graus de ceticismo. Um cético pode ser simplesmente alguém que nega a possibilidade de conhecimento genuíno (em algumas ou em todas as áreas de investigação). Um cético deste tipo não precisa de criticar a posse de crenças sobre vários assuntos, se a pessoa que as possui não alegar que essas crenças têm o estatuto de conhecimento. Ele próprio pode muito bem ter crenças, incluindo a crença de que não há conhecimento. Não há aqui qualquer inconsistência desde que ele não alegue saber que não há conhecimento. Arcesilau chegou ao ponto de criticar Sócrates por este ter afirmado saber que nada sabia. 

Um cético mais radical, no entanto, pode questionar não só a possibilidade de conhecimento, mas também a legitimidade da crença. Pode recomendar que nos abstenhamos não só do assentimento resoluto característico da certeza, mas também do assentimento precário característico da opinião. Arcesilau parece ter sido um cético deste tipo: sustentou, diz-nos Cícero, que “ninguém deve declarar ou afirmar algo, ou assentir nisso”.»

Anthony Kenny, Nova História da Filosofia Ocidental – volume 1, Filosofia Antiga, Gradiva, Lisboa, 2010, pág. 192.


«O ceticismo, na sua versão mais extrema, é a ideia de que o conhecimento não é possível (…), pois as crenças das pessoas podem não estar justificadas. 
Como prova o cético esta ideia? É possível defendê-la apelando, por exemplo, aos erros e ilusões dos sentidos ou às limitações da memória e da razão. Mas também é possível defendê-la com um argumento mais geral que vise mostrar que nunca podemos justificar as nossas crenças e, portanto, que é sempre possível que estejamos enganados acerca delas.
Para vermos como, pensemos numa qualquer afirmação de cuja verdade julguemos estar absolutamente certos, como, por exemplo, que “A Lua é o único satélite natural da Terra”, ou que “Portugal situa-se na Europa”. A questão crucial é esta: que justificação temos para estarmos certos da sua verdade? Temos de ter uma justificação, claro. Caso contrário essas crenças não constituem conhecimento. Podemos justificar as nossas crenças dizendo, por exemplo, que as aprendemos na escola com os nossos professores de Geografia ou de Ciências da Natureza, que, dada a sua formação, são especialistas no assunto. O que fizemos, deste modo, foi justificar uma crença com outra crença. Mas isto, como é óbvio, levanta uma outra questão: que justificação temos para esta nova crença? Esta crença está, afinal de contas, numa posição similar à primeira. Se essa precisa de uma justificação, porque sem ela não constitui conhecimento, o mesmo se passa com esta. E, evidentemente, se esta não constitui conhecimento, também não pode justificar a primeira. Uma forma de justificar esta segunda crença é, claro, recorrer a uma outra da qual ela possa derivar. É fácil ver, no entanto, que o mesmo problema se colocará em relação a essa nova crença. Também ela precisará de uma justificação. Cada afirmação precisa de uma justificação e a justificação de uma nova justificação, numa regressão sem fim. Desse modo, parece, nem a primeira nem qualquer das outras crenças está justificada.»

Álvaro Nunes, “O problema do ceticismo”, 
Revista Crítica 

“Existe uma espécie de ceticismo, anterior a qualquer estudo ou filosofia, muito recomendado por Descartes e outros como sendo a soberana salvaguarda contra os erros e os juízos precipitados. Este cepticismo recomenda uma dúvida universal, não apenas quanto aos nossos princípios e opiniões anteriores, mas também quanto às nossas próprias faculdades, de cuja veracidade, diz ele, devemos nos assegurar por meio de uma cadeia argumentativa deduzida de algum princípio original que seja totalmente impossível tornar-se enganador ou falacioso. Mas nem existe qualquer princípio original como esse, dotado de qualquer prerrogativa sobre outros que são evidentes e convincentes; nem, se existisse, poderíamos avançar um passo além dele, a não ser pelo uso daquelas mesmas faculdades das quais se supõe que já suspeitamos. A dúvida cartesiana, portanto, se jamais fosse capaz de ser alcançada por qualquer criatura humana (o que claramente não é), seria totalmente incurável, e nenhum raciocínio poderia alguma vez nos levar a um estado de segurança e convicção acerca de qualquer assunto.

Deve-se todavia confessar que o ceticismo, quando é mais moderado, pode ser entendido num sentido muito razoável, e constitui uma preparação para o estudo da filosofia, preservando uma adequada imparcialidade nos nossos juízos e libertando-nos o espírito de todos os preconceitos de que possamos ter sido impregnados pela educação ou por opiniões precipitadas.”

David Hume, Tratados I: Investigação sobre o Entendimento Humano, 

tradução de João Paulo Monteiro, Lisboa, INCM, 2002, pp. 161-162.



O CEPTICISMO

Para Platão, eram necessárias três condições para haver conhecimento: Crença, verdade e justificação. Há, no entanto, dificuldades em saber que tipo de razões permitem justificar, adequadamente, as nossas crenças.

· Há diferentes perspectivas sobre a natureza da justificação: serão os sentidos uma fonte fiável de justificação? Será a razão suficiente para justificar as nossa crenças?

· Os empiristas defendem o papel da experiência na justificação das crenças; os racionalistas salientam o papel da razão como meio de justificação das crenças.

· Há, no entanto, quem defenda que nenhuma fonte de justificação é satisfatória – seja ela a razão (a priori), seja ela a experiência (a posteriori.

· Os cépticos defendem que não é possível o conhecimento – o cepticismo é uma corrente da filosofia grega iniciada pelo filósofo Pirro de Élis (365 – 275 A. C.) e continuada por outros filósofos, nomeadamente Sexto Empírico (160-210).

· Os cépticos defendem que nenhuma das nossas crenças está devidamente justificada, quer seja pelo pensamento, quer seja pela experiência.

· Para os cépticos a justificação baseada nos sentidos ou na razão não nos garante de que não estamos enganados – assim, à falta de uma justificação adequada, nenhuma das nossas crenças poderá ser considerada conhecimento.

· Os cépticos aceitam o seguinte:

- Todos nós temos crenças

- Sem crenças não há conhecimento

- Algumas das nossas crenças são verdadeiras

- Sem crença justificada não há conhecimento.

· Os cépticos defendem que não há crenças justificadas, mesmo que algumas dessas crenças sejam verdadeiras, não é possível existir conhecimento.

· O argumento central dos cépticos é o seguinte:

- Se há conhecimento, algumas das nossas crenças estão justificadas

- Mas, nenhuma das nossas crenças está justificada

- Logo, não há conhecimento.

 

· Formalizando o argumento:

S P

Não P

Logo, não S

 

Razões que levam os cépticos a duvidar:

1. Argumento da divergência de opiniões: se alguma opinião estivesse devidamente justificada, não haveria razão para que as outras pessoas não a aceitassem. Ora, isto não acontece mesmo em especialistas da mesma área.

- Se houver duas opiniões opostas acerca do mesmo tema (Ex: Deus existe e Deus não existe), isso não significa que ambas sejam falsas, mas mostra que nenhuma delas está devidamente justificada.

- Nem tudo é uma questão de opinião, por exemplo, as pessoas estão de acordo acerca da cor da neve ou da composição química da água e, sabemos que há noções universais na Física, na Química e na Matemática – só são possíveis porque resultam de consensos.

- A divergência de opiniões é irreversível e definitiva, o que não é verdade, como por exemplo, a igualdade de direitos no trabalho entre homens e mulheres.


2. Argumento da ilusão dos sentidos: os sentidos enganam-nos, frequentemente, e isso leva-nos a ver que há uma diferença entre aquilo que pensamos conhecer e a realidade - há ilusões perceptivas  que nos dão aparências e nos iludem sobre o movimento da terra e a cor da água do mar, por exemplo.

Porém, a ciência, ultrapassando a ilusão dos sentidos, fornece-nos noções universais tais como "A água ferve a 100º", ou "A fórmula química do oxigénio é O2".


3. Argumento da regressão infinita: este argumento diz-nos que a justificação de qualquer crença é inferida de outras crenças. ora para que esta segunda crença possa justificar a primeira, temos de a justificar  também recorrendo a uma nova crença anterior.


Como isto não tem fim, acabamos por nunca conseguir justificar crença alguma, pois tudo o que fizemos foi recuar o problema da justificação, iniciando uma regressão que não acaba mais e que, por isso, é infinita.


Poderemos contrariar este argumento? A dúvida tem limites, pois há certezas que se justificam a si próprias e que servem de base a outras verdades, como por exemplo, "A soma dos ângulos internos de um triângulo é de 180º".


 

Então, podermos dizer que:

- O ceticismo é uma perspectiva filosófica iniciada pelo filósofo grego Pirro de Élis (365-275 A. C.) e continuada por outros filosofos tais como Sexto Empirico (160-210).
- O cepticismo nega a possibilidade do conhecimento, total ou parcialmente. 
- De acordo com os céticos não podemos ter a certeza de nada porque nenhuma das nossas crenças está devidamente justificada, quer a fonte de justificação seja o pensamento, quer seja a experiencia.  
- Os cépticos consideram que nem as justificações baseadas nos sentidos nem as baseadas na razão garantem que não estamos enganados.
- Deste modo, e porque há falta de justificação adequada, nenhuma das nossas crenças pode ser considerada conhecimento.



Cepticismo
 e conhecimento

Como se podem justificar, adequadamente,  as nossas crenças?

Duas perspectivas diferentes:

os racionalistas defendem que a razão tem um papel fundamental na justificação das crenças.

os empiristas pensam que é só a experiência é capaz de justificação das crenças


E o que defendem os cépticos?

- Nenhuma fonte de justificação é satisfatória.
- Nenhuma crença está devidamente justificada
Logo, para os cépticos. não há conhecimento



Que razões apresentam os cépticos para defender esta posição?




Três argumentos que levam os cépticos a defender que não há conhecimento

1. Argumento das divergências de opinião

Se alguma crença estivesse devidamente justificada não haveria razão para algumas pessoas não as aceitarem. Até os especialistas discordam entre si.


2. Argumento da ilusão

Os sentidos iludem com frequência.


3. Argumento da regressão infinita da justificação

Justificamos uma crença com base noutra que, por sua vez, se justifica com base noutra crença, numa regressão infinita. Assim, não é possível justificar uma crença.



Lola

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