Descartes: O Mundo
Afastada a hipótese da existência do Génio Maligno, Descartes reconhece Deus como uma uma entidade criadora - não só do Homem mas de tudo o que existe;
Deus é a garantia de que tudo o que conhecemos clara e distintamente é verdadeiro
Descartes continua a interrogar-se no sentido de averiguar se não poderão existir outras coisas para além de si e de Deus
Descartes descobre uma outra ideia que se lhe impõe com a mesma evidencia - trata-se da ideia de extensão
Que esta ideia existe, é um facto, mas existirá algo que lhe corresponda fora do pensamento?
Mais uma vez, Deus é invocado como garantia da evidencia, pois se possuímos a ideia clara e distinta de extensão, ela terá de corresponder a uma extensão real na natureza
Assim, a extensão é a propriedade fundamental da matéria
Todos os corpos materiais e o próprio espaço se reduzem à extensão que é a característica essencial dos corpos
Qualquer corpo consiste unicamente numa substancia extensa em comprimento, largura e profundidade.
Síntese:
A prova da existência de Deus levou Descartes a rejeitar a hipótese do Génio Maligno
Deus garante o critério de verdade: as ideias claras e distintas
Descartes pretende agora saber se as nossas percepções sensiveis correspondem à existência de objectos físicos.
Agora, Descartes, concebe, clara e distintamente, outra substancia: a rés extensa.
E o que é a extensão?
E a característica dos corpos em comprimento, largura e profundidade!
O raciocinio de Descartes é:
Acredito que as minhas percepções sensíveis são criadas por objectos físicos
Se eu estivesse enganado sobre esta crença, Deus seria enganador
Ora, Deus não é enganador
Logo, a minha crença que as minhas percepções sensíveis são criadas por objectos físicos, é correcta.
Então o MUNDO existe!
"Se bem que estejamos persuadidos de que há corpos que estão realmente no mundo, contudo, como tínhamos duvidado até aqui, (...) é necessário que encontremos razões que nos permitam ter sobre isto um conhecimento certo. Em primeiro lugar, experimentamos em nós próprios que tudo o que sentimos em nós vem de qualquer coisa distinta do nosso pensamento. (...) É verdade que poderíamos indagar se seria Deus ou qualquer outro ser diferente; mas porque os nossos sentidos nos excitam apercebemo-nos clara e distintamente de uma matéria extensa em comprimento, largura e profundidade cujas partes tem figuras e movimentos diversos, donde procedem os sentimentos que temos das cores, dos odores, da dor, etc. , se fosse Deus a apresentar imediatamente por si próprio a ideia dessa matéria extensa, ou pelo menos, permitisse que fosse causada em nós por qualquer coisa que não tivesse extensão, figura e movimento, não poderíamos encontrar razões que nos impedissem de crer que ele tinha prazer em nos enganar. Porque concebemos essa matéria como uma coisa diferente de Deus e do nosso pensamento, parece-nos que a ideia que temos dela se forma em nós em contacto com os corpos de fora, aos quais é inteiramente semelhante. Ora, como Deus não nos engana, porque isso repugna à sua natureza (...), temos de concluir que há uma certa substância extensa (...) que existe presentemente no mundo com todas as propriedades que sabemos manifestamente pertencer-lhe. E esta substância extensa é o que chamamos propriamente corpo, ou a substância das coisas materiais."
Descartes, Princípios de Filosofia
Ora, a substância extensa (ou matéria), possui propriedades primárias que são essenciais dos corpos (extensão e movimento) e propriedades secundárias (cores, cheiros,), sendo estas últimas atributos não essenciais :
"Há apenas uma única matéria em todo o universo e conhecemo-la só pelo facto de ser extensa; porque todas as propriedades que percebemos distintamente nelas referem-se à divisibilidade e ao movimento relativamente às suas partes e à possibilidade de perceber todas as diversas disposições que notamos poderem dar-se pelo movimento das partes."
Descartes, Princípios de Filosofia
Lola
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