terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Estatuto do conhecimento científico




O Estatuto do conhecimento científico


«Concordo plenamente consigo quanto à importância e ao valor educativo da metodologia e bem assim da história e da filosofia da ciência. Hoje, muitas pessoas — e mesmo cientistas profissionais — parecem-me alguém que viu milhares de árvores mas nunca uma floresta. Um conhecimento das bases históricas e filosóficas fornece aquele tipo de independência dos preconceitos da sua geração que afectam muitos cientistas. Esta independência criada pelo conhecimento filosófico é — na minha opinião — a marca de distinção entre um mero artesão ou especialista e um verdadeiro pesquisador da verdade.»
Albert Einstein in “Albert Einstein como filósofo da ciência”,





Antes de mais....


Depois da reflexão gnosiológica (sobre o conhecimento) feita em que foram abordadas as teorias filosóficas acerca do conhecimento defendidas por Descartes e David Hume,  iremos agora focalizar a nossa atenção num tipo de conhecimento particular: o conhecimento científico.

A disciplina filosófica ou área da filosofia que reflecte sobre o conhecimento científico tem o nome de Epistemologia ou Filosofia das Ciências.

  

 Afinal de que trata a Filosofia da Ciência? Que problemas aborda?



Os temas: 

 - Conhecimento vulgar e conhecimento científico

- Características que tornam um conhecimento científico

 - Comparar a ciência com o senso comum, a partir dessas características

- Discutir a importância do senso comum para a construção da ciência

Ciência e construção — validade e verificabilidade das hipóteses

- Ciência e Método - Método indutivo e Método Hipotético-dedutivo.

 A racionalidade científica e a questão da objectividade


Os problemas:

- O que é a ciência (quais a características do conhecimento científico)?

- O que há de comum e de diferente entre o conhecimento científico e o conhecimento vulgar (ou senso comum)?

- Há ou não continuidade entre o conhecimento vulgar e conhecimento cientifico?

- Em que consiste o  método científico?

- Como se distinguem as teorias científicas das não-científicas?

- Podem as teorias científicas ser verificadas?

- Em que consiste a  perspetiva indutivista do método científico

- Quais as objeções à perspetiva indutivista.

- De que modo o falsificacionismo de Popper procura responder às dificuldades levantadas por essas objeções?

- Como se poderá avaliar a resposta de Popper?

- Será a ciência  objetiva?

- Como progride a ciência?

- O problema da objetividade e do progresso da ciência

- Que  perspetivas apresentam  Popper e  Kuhn acerca da objetividade e do progresso da ciência

- Comparar as perspetivas de Popper e de Kuhn.


 A. O conhecimento vulgar ou senso comum

 

- é o primeiro nível de conhecimento que se constitui a partir da apreensão espontânea e imediata do real; 

- adquire-se no trato directo com as coisas e com os outros homens,

- não resulta de nenhuma procura sistemática e metódica, nem exige qualquer estudo prévio, como o conhecimento científico. 

-  é comum a todos os homens e forma as condições materiais e espirituais em que a realidade é fixada como mundo de confiança, intimidade e familiaridade. 

- difere, ou pode diferir, de comunidade para comunidade, no espaço e no tempo. 

- É um saber que inclui aquelas crenças amplamente partilhadas cuja justificação decorre da experiência colectiva e acumulada dos seres humanos 

- O sen­so comum abrange aquelas coisas que quase toda a gente sabe e que se vão aprendendo, desde muito cedo, de uma forma espontânea. 

- Faz parte da consciência de um povo e ser funcional, 

- Não proporciona a compreensão dos fenómenos, das coisas e da realidade 

-  Pode  conduzir a uma visão errónea, ilusória, aproximado da realidade.

O senso comum um conhecimento subjectivo, assistemático, espontâneo, superficial e dogmático.



Assim, poderemos dizer que o saber vulgar....
  • Nasce da experiência vivida
  • É um saber feito através da experiência
  • É um saber espontâneo e sensorial
  • É o contacto imediato e directo com o real. Exemplo: Hoje está quente!

Qual a sua origem?
  • As tradições que passam de geração em geração
  • As nossas experiências de vida traduzem-se na forma como vemos o real
  • As experiências práticas do quotidiano.


O que permite o conhecimento vulgar?
  • Conviver
  • Integração num grupo social
  • Lidar imediata e sensorialmente com o real.

 Características do conhecimento vulgar

  • vulgar
  • empírico (provem da experiência)
  • aparente
  • ingénuo
  • imediato
  • sensorial
  • superficial
  • variável (de homem para homem, de cultura para cultura)
  • subjectivo (varia de sujeito para sujeito)
  • espontâneo
  •  dogmático (não aceita a crítica)
  •  acrítico
  •  assistemático (não organizado)
  • directo
  • constata/regista o que capta pelos sentidos
  • não explica
  • heterogéneo
  • acumulado (soma "conhecimentos" e não os relaciona)
  • é mais um reconhecimento e menos um conhecimento
  • constata mas não descobre, não cria nem constrói
  • lida com qualidades: quente, frio, alto baixo
  • lida com o facto bruto (facto tal qual surge na natureza)
  • avulso (responde a cada situação à medida que ela surge)
  • faz observações ocasionais: desprovidas de reflexão, organização e sistematização
  • não prevê
  • não usa instrumentos
  • gera ambiguidades
  • falível
  • faz generalizações falsas
  •  Intuitivo
  •  Dependente de preconceitos  
  •  Dado e não construído
  •  Ilusório
  • sincrético
  • imperfeito
  • falacioso
  • não é rigoroso
  • limitado
  • pragmático


Sendo o Conhecimento vulgar tão falacioso, porque é que este tipo de conhecimento é importante?

  • Orienta a vida quotidiana
  • tem um carácter prático
  • satisfaz necessidades básicas
  • orienta as nossas acções
  • permite resolver problemas simples
  • o seu grande objectivo é a prática



B. O conhecimento científico


- Resulta de um esforço intelectual sistemático, metódico e controlado pela experiência para explicar, tão profundamente quanto possível, os fenómenos conhecidos. 

- Os cientistas testam as teorias, confrontam-nas com a experiência e têm uma disposição geral para as modificar caso, estas, não estejam de acordo com aquilo que observam no mundo.

-  Para isso, dispõem de um método próprio assistido por tecnologias e instrumentos

- Usa uma linguagem técnica adequada para representar o objecto do seu estudo.

- A ciência é um conhecimento  objectivo, sistemático, metódico e crítico. 





 Características do Conhecimento científico 


  • Crítico
  • Rigoroso
  • Racional (construção do intelecto humano)
  •  Autónomo
  • Reversível/revisível (as verdades científicas são provisórias podendo ser revistas, aperfeiçoadas ou mesmo, substituídas.
  • Metódico (usa técnicas e regras no método científico)
  • Construído (através de teorias e instrumentos)
  • Homogéneo
  • Objectivo – intersubjectivo
  • Positivo – operatório (submetido aos factos)
  • Sistemático
  • Especializado 
  • Fático (estuda os factos)
  • Claro e preciso
  • Comunicável (não é privado, é publico)
  • Usa linguagem matemática
  • Verificável (através da experiência/experimentação)
  • Um sistema de ideias ligadas entre si
Explicativa (explica os factos através de leis científicas)


- "O primeiro carácter do conhecimento científico, reconhecido até por cientistas e filósofos das mais diversas correntes, é a objectividade, no sentido de que a ciência intenta afastar do seu domínio todo o elemento afectivo e subjectivo, deseja ser plenamente independente dos gostos e das tendências pessoais do sujeito que a elabora. Numa palavra, o conhecimento verdadeiramente científico deve ser um conhecimento válido para todos. A objectividade da ciência, por isso, pode ser também, e talvez melhor, chamada intersubjectividade, até porque a evolução recente da ciência, e especialmente da Física, mostrou a impossibilidade de separar adequadamente o objecto do sujeito e de eliminar completamente o observador. Este reconhecimento que é essencial na teoria da relatividade e na nova Física quântica, torna o carácter da objectividade mais complexo e problemático do que parecia no século [XIX]; todavia, não elimina de modo algum da ciência o propósito radicalmente objectivo.

- Outro carácter universalmente conhecido é a positividade, no sentido de uma plena aderência aos factos e de uma absoluta submissão à fiscalização da experiência. (...). O conceito de positividade como recurso à experiência e adesão aos factos era ainda mais vago, e, nesse tempo (no século [XIX]), demasiado restrito, não só em Filosofia, como no própria ciência; o que teria, por exemplo, excluído perentória e definitivarnente a astrofísica e toda a teoria atómica das quais os cientistas tiveram que reconhecer a legitimidade. Só recentemente, por obra de Einstein, e mais explicitamente de Heisenberg, a positívidade da ciência se precisou na operatividade dos conceitos científicos, segundo a qual um conceito não tem direito de cidadania ern ciência se não for definido mediante uma série de operações físicas, experiências e medidas ao menos idealmente possíveis. Tal precisão permite, por um lado, reconhecer claramente a não positividade de conceitos como o de espaço e de tempo absolutos e, por outro lado, admitir como positivos elementos não efectivamente experimentáveis, quando a não experimentalidade é devida à impossibilidade prática e não teórica, como a noção de ciclo perfeitamente reversível a toda a astrofísica. Tal previsão, além disso, permite compreender também a positividade da matemática. (...) Não no mesmo sentido das ciências experimentais. Introduzindo o conceito de operatividade, a positividade da matemática significa que as suas noções são implicitamente definidas pelo conjunto de axiomas e postulados formulados na sua base e segundo os quais as noções são utilizáveis.

-O terceiro carácter do conhecimento científico reside na sua racionalidade. Não obstante a oposição de toda a corrente ernpirista, a ciência moderna é essencialmente racional, isto é, não consta de meros elementos empíricos mas é essencialmente uma construção do intelecto. (...) A ciência pode ser definida como urn esforço de racionalização do real; partindo de dados empíricos, através de sínteses cada vez mais vastas, o cientista esforça-se por abraçar todo o domínio dos factos que conhece num sistema racional, no qual de poucos princípios simples e universais possam logicamente deduzir-se as leis experimentais mais particulares de campos à primeira vista aparentemente heterogéneos.

- Além disto, os cientistas modernos verificam unanimemente no conhecimento científico um carácter muito alheio à mentalidade científica do século [XIX], o da revisibilidade. Não há nem nas ciências experimentais, nem mesmo na matemática, posições definitivas e irreformáveis. Toda a verdade científica aparece, em certo sentido, como provisória, susceptível de revisão, de aperfeiçoamento, às vezes mesmo de uma completa reposição em causa. Todos os conhecimentos científicos são aproximados, quer pela imperfeição das observações experimentais em que se fundam, quer pela necessária abstracção e esquematização com que são tratados. Os conceitos de adequação total e perfeita devem ser substituídos pelos de aproximação e validez limitada. Esta nova mentalidade científica que deve ser mantida num só equilíbrio é principalmente o fruto de numerosas crises e revoluções da ciência (...).

-Finalmente, um último carácter do conhecimento científico é a autonomia relativamente à Filosofia e à . A ciência tem o seu próprio campo de estudo, o seu método próprio de pesquisa, uma fonte independente de informações que é a Natureza. (...) Isto não significa que a Filosofia não possa e não deva levar a termo uma indagação crítica sobre a natureza da ciência, sobre os seus métodos e os seus princípios [uma indagação levada a cabo pela Epistemologia ) e que o cientista não possa tirar vantagem do conhecimento reflexivo, filosófico e crítico da sua mesma actividade de cientista. (...) Mas em nenhum caso a ciência poderá dizer-se dependente de um sistema filosófico ou poderá encontrar numa tese filosófica uma barreira-limite que impeça a priori a aplicação livre e integral do seu método de pesquisa. E o mesmo se dirá no que respeita à fé: ela poderá constituir uma norma directriz e prudencial para o cientista, enquanto homem e crente, nunca será uma norma positiva ou restritiva para a ciência enquanto tal."

 

F. Selvaggi, Enciclopédia Filosófica. 

  •  


Um pouco de história da ciência


- A ciência é uma construção que, podemos dizer seguramente, se inicia na Grécia antiga e que nos seus primórdios não se distinguia da filosofia. 

- Os fisiólogos (filósofos pré-socráticos) procuraram explicar as coisas pelas suas causas, como afirmou Aristóteles. Nos séculos XVI e XVII, com Galileu, Copérnico, Francis Bacon, Kepler, Giordano Bruno, Newton, a ciência começa um processo de autonomização em relação à filosofia e transforma-se, no que hoje se denomina ciência moderna, num conhecimento que, recorrendo à linguagem matemática, procura formular leis capazes de explicar os fenómenos. 

 - A matematização do real, a experimentação, a ideia de determinismo, a ideia de causalidade e a lei científica marcam o modelo de racionalidade científica da ciência moderna. 

- A ciência ganha um novo impulso com os trabalhos de Einstein, Heisenberg e Bohr. Porém, a teoria da relatividade e a física quântica estão marcadas por um modelo de racionalidade radicalmente diferente da do período moderno. 

- O modelo de racionalidade científica da ciência do século XX (ciência pós-moderna) está marcado pelas ideias de probabilidade, incerteza, indeterminismo e relatividade.

- A ciência foi ganhando, desde a sua criação, o estatuto de único conhecimento legítimo e fiável e representa, hoje, o estado mais avançado de evolução do conhecimento. 



Objecto e método da Ciência


- Não é consensual que exista apenas um modelo da ciência. 

- O objecto das ciências da natureza (ex: Biologia, Química) é diferente do das ciências sociais e humanas (Sociologia, Economia) e do das ciências formais (ex: Matemática, Lógica), como é diferente a metodologia que cada ciência usa para abordar o seu objecto. 

- Comte defendia que todas as Ciências deveriam adoptar a metodologia das Ciências da Natureza

- Dilthey propôs a distinção  entre Ciências da Natureza e Ciências do Espírito. Às Ciências da Natureza, atribuiu-lhes o objectivo de explicar os fenómenos físicos. Às Ciências do Espírito, atribuiu-lhes a finalidade de compreender os fenómenos sociais e humanos. 

- É o rigor da linguagem e do método, ainda que diversos, que assegura o estatuto de cientificidade das diferentes ciências.

 

Um dos problemas abordados pela Filosofia da Ciência....


Será o Senso comum a origem do conhecimento cientifico ou, um obstáculo ao avanço da ciência?


A história da filosofia dá-nos duas reflexões epistemológicas, radicalmente diferentes, sobre a "relação" do conhecimento vulgar na produção do conhecimento científico.

 

A. Karl Popper admite que o senso comum é um ponto de partida, ainda que inseguro, para a ciência e para a filosofia. Sendo a crítica o grande instrumento para progredir do senso comum para um conhecimento mais profundo do real.

 

A ciência, a filosofia, o pensamento racional, todos devem partir do senso comum.
Não, talvez, por ser o senso comum um ponto de partida seguro: a expressão "senso comum" que estou aqui a usar é muito vaga, simplesmente porque denota uma coisa vaga e mutável - os instintos, ou opiniões de muitas pessoas, às vezes adequados ou verdadeiros e às vezes inadequados ou falsos.
Como nos pode fornecer um ponto de partida uma coisa tão vaga e insegura como o senso comum? A minha resposta é: porque não pretendemos nem tentamos construir (...) um sistema seguro sobre esses "alicerces". Qualquer das nossas muitas suposições de senso comum (...) da qual partamos pode ser contestada e criticada a qualquer tempo; frequentemente, tal suposição é criticada com êxito e rejeitada (por exemplo, a teoria de que a Terra é plana). Em tal caso, o senso comum é modificado pela correcção, ou é transcendido e substituído por uma teoria que, por menor ou maior período de tempo, pode parecer a certas pessoas como mais ou menos "maluca" (...). Toda a ciência e toda a filosofia são senso comum esclarecido. (...)
A minha primeira tese é, pois, que o nosso ponto de partida é o senso comum e que o nosso grande instrumento para progredir é a crítica.

K. Popper (1975), Conhecimento Objectivo

 

• Karl Popper admite que o senso comum é um ponto de partida, ainda que inseguro, para a ciência e para a filosofia. Sendo a crítica o grande instrumento para progredir do senso comum para um conhecimento mais profundo do real.

 

– Tese contínuista:

• Defende a continuidade entre o senso comum e a ciência;

• Apesar das diferenças entre eles, têm um grau de parentesco;

• Prolongamento  - A ciência é o prolongamento do senso comum;

•. É um acrescimento e um aperfeiçoamento;

•. As suas diferenças são apenas de grau (a ciência é mais desenvolvida);

• Defende que o senso comum é o ponto de partida para todo o conhecimento do real;

• O senso comum tem, no entanto, um caráter inseguro;

• O grande instrumento para progredir (avançar do senso comum para o conhecimento científico) é a crítica.

• Toda a ciência e filosofia são senso comum esclarecido (nelas tudo é sujeito à crítica).

11ºD


B. Gaston Bachelard, pelo contrário, considera o senso comum um obstáculo epistemológico, algo que impede a produção de conhecimento científico e com o qual é necessário fazer um corte epistemológico.

 

"A ciência, na sua necessidade de realização como no seu princípio, opõe-se absolutamente à opinião. Se lhe acontece, num aspecto particular, legitimar a opinião, é por outras razões que não aquelas que fundamentam a opinião; de tal maneira que a opinião não tem de direito qualquer razão. A opinião pensa mal; ela não pensa: ela traduz necessidades em conhecimentos. Designando os objectos pela sua utilidade, ela interdiz-se de os conhecer. Nada se pode fundar sobre a opinião: é necessário primeiro destruí-la. Ela é o primeiro obstáculo a superar. Não bastará, por exemplo, rectificá-la em pontos particulares, mantendo, como uma espécie de moral provisória, um conhecimento vulgar provisório. O espírito científico interdiz-nos de ter uma opinião sobre questões que não compreendemos, sobre questões que nós não sabemos formular claramente".

 

G. Bachelard (1996), La Formation de l'Esprit Scientifique, Paris, J. Vrin, p. 14.


• Gaston Bachelard, pelo contrário, considera o senso comum um obstáculo epistemológico, algo que impede a produção de conhecimento científico e com o qual é necessário fazer um corte epistemológico.

 

– Tese descontínuista:
• É necessária uma ruptura epistemológica, ou seja, um corte entre o senso comum e a ciência;
• As opiniões a que os cientistas aderem são o principal obstáculo (=senso comum) que impede a chegada a um conhecimento objetivo;
• O conhecimento científico constrói-se em luta contra os obstáculos;
• A opinião traduz necessidades em conhecimentos, ou seja, impede que se veja aquilo que realmente é.



LOLA


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