terça-feira, 1 de outubro de 2013

Poesia e Logica

Será que todos os discursos têm Lógica? 

Exílio


Éramos vinte ou trinta nas margens do Sena.
E os olhos iam com as águas.
Procuravam o Tejo nas águas do Sena
procuravam salgueiros nas margens do vento
e esse país de lágrimas e aldeias
pousadas nas colinas do crepúsculo.
Procuravam o mar.
Éramos vinte ou trinta nas margens do Sena

sentados
ausentes.
E havia uma rua. Havia uma casa.
Havia um cesto de cerejas sobre a mesa.
Havia um puro cheiro a pão. Uma varanda
e roupa branca a secar.
Havia uma Pátria
E havia tecedeiras subterrâneas
tecendo em Coimbra a primavera.
Havia o António e uma guitarra
incendiada nos seus dedos.
E a minha irmã morava nesse ritmo.
A minha mãe bordava. (Às vezes creio que lembrava.)
Meu pai – esse partia extasiado
para o país da música. Havia uma avó
procurando sentir o que eu sentia.
Havia uma casa.
Havia uma Pátria.
Éramos vinte ou trinta nas margens do Sena
onde o vento cantava
uma canção estrangeira.
Manuel Alegre – «Exílio» in O canto e as armas (1967)



"O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia;
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia;
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia."

Alberto Caeiro, Poemas




Porquê?

Provocação estética.

A arte escapa,felizmente, às regras da Lógica.


LOLA






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