Se seguirmos as
propostas de Perelman, constatamos que esse acordo prévio entre o orador e o
interlocutor/auditório diz respeito ao que mutuamente se concede e admite
comummente entre o orador e o seu auditório.
Esse acordo
exprime-se nas premissas da argumentação. Sem premissas acordadas, explicita ou
implicitamente, não há argumentação possível, nem sequer comunicação.
Assim, sendo a
argumentação um discurso que se insere numa troca interlocutória recíproca ao
nível da sociabilidade, terá de pressupor, ou partir de um acordo sobre o que
seja, pelo menos, o real. Isto é, como premissa da argumentação existe um
acordo sobre o que seja, e que defina e delimite o que é o real. Mas não só, o
acordo prévio abrange também o que seja o preferível.
Se não há
qualquer espécie de acordo sobre o que seja o real, dificilmente qualquer troca
argumentativa se torna possível de suceder. Mas entendamo-nos, por real não se
entende aqui a palavra no seu sentido ontológico mas, mais precisamente, apenas
aquilo que um auditório entende ou acredita ser real. Isto com uma pretensão de
universalidade, apesar da disparidade de auditórios.
É, mesmo assim,
por essa pretensão de universalidade, que Perelman quer distinguir o real do
preferível cujo acordo só seria válido para um auditório particular.
Precisando:
acordo (que é premissa na argumentação) sobre o real: consenso em torno do que
se entende serem factos, verdades e presunções. Quanto ao acordo sobre o
preferível, ele refere-se aos valores, hierarquias e aos lugares do preferível.
Começando pelos
factos. Fiel à centralidade do conceito de auditório, que lhe vem pelo menos
desde Aristóteles, um facto é, muito simplesmente, tudo aquilo que um auditório
entende como tal.
Ora, factos
reais são o que o auditório admite como tal. Mas sendo o auditório, como
pretende o próprio Perelman, uma criação do orador, acaba por ser este, ou
aquele que o precede, a construir a realidade factual.
Mas se os
factos resultam de um acordo por parte do auditório, o mesmo sucede com a
verdade.
Uma verdade,
que o é porque sobre ela o auditório está previamente de acordo, pode
enunciar-se acerca de um facto, acontecimento, que também recolha o consenso do
auditório.
Para um
auditório religioso como a Igreja Católica - universal - a divindade de Cristo
é uma verdade que enuncia como um facto a sua ressurreição. O acordo sobre esta
matéria é mesmo a condição prévia para pertencer ao auditório universal que é a
Igreja Católica.
No entanto, no real aceite pelo auditório nem tudo são factos ou verdades. Há também as presunções. Por exemplo, houve tempos em que o auditório da imprensa escrita estava de acordo para dizer "se vem no jornal é presumível que tenha acontecido". Presumível quer aqui dizer verosímil e essa verosimilhança assenta, neste caso, na credibilidade dos media.
No entanto, no real aceite pelo auditório nem tudo são factos ou verdades. Há também as presunções. Por exemplo, houve tempos em que o auditório da imprensa escrita estava de acordo para dizer "se vem no jornal é presumível que tenha acontecido". Presumível quer aqui dizer verosímil e essa verosimilhança assenta, neste caso, na credibilidade dos media.
É crível,
presumível, aquilo que é normal, diz Perelman. Presume-se ser normalidade o que
mais probabilidade tem de acontecer. Perelman escreve "... o normal opõe-se ao excepcional".Que o sol se levantará amanhã de novo, é
uma presunção tão geralmente partilhada precisamente porque o mais normal é que
isso venha a acontecer.
O real, que nos permite viver, está cheio destas presunções.
"Mas quando se trata de argumentar, de influenciar, através do discurso, a adesão de um auditorio a certas teses, não é possivel negligenciar completamente e considerar como irrelevantes as condições psiquicas e sociais sem as quais a argumentação seria sem objecto ou sem efeito. Porque, toda a argumentação tem por fim a adesão dos espiritos e, por isso mesmo, supõe a existência de um contacto intelectual"
Perelman, Ch e Lucie Olbrechts- Tyteca (1988) Traité de l'Argumentation, Ed. de l'Université de Bruxelles, p.18
O real, que nos permite viver, está cheio destas presunções.
"Mas quando se trata de argumentar, de influenciar, através do discurso, a adesão de um auditorio a certas teses, não é possivel negligenciar completamente e considerar como irrelevantes as condições psiquicas e sociais sem as quais a argumentação seria sem objecto ou sem efeito. Porque, toda a argumentação tem por fim a adesão dos espiritos e, por isso mesmo, supõe a existência de um contacto intelectual"
Perelman, Ch e Lucie Olbrechts- Tyteca (1988) Traité de l'Argumentation, Ed. de l'Université de Bruxelles, p.18
Lola
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