Argumentação, Persuasão e Manipulação
Argumentação e Persuasão
A
argumentação é distinta da persuasão. Se podemos dizer que todo o discurso
argumentativo é persuasivo, o contrário não é verdadeiro, pois nem todo o
discurso persuasivo é argumentativo.
A
argumentação para poder ser convincente tem que fazer apelo à razão, ao
julgamento de quem participa ou assiste ao confronto de ideias.
A persuasão está ligada à sedução.
A adesão de alguém a certas ideias é feita através de gestos, palavras ou
imagens que estimulam nela sentimentos ou desejos ocultos, acabando por gerar
falsas crenças. Através da persuasão o orador reforça os seus argumentos
despertando emoções, de modo a criar uma adesão emotiva às suas teses. Na
persuasão ao contrário da argumentação faz-se apelo a processos menos
racionais. Como veremos, os actuais meios de comunicação de massas, veiculam
discursos publicitários que utilizam sofisticadas técnicas de persuasão
dirigidas a públicos-alvo bem determinados.
Chaim Perelman
questiona este critério de distinção. Segundo este autor, o critério de
distinçãonão assenta na dicotomia razão/emoção, mas sim na dimensão do
auditório: os discursos argumentativos dirigem-se a públicos particulares,
capazes de avaliarem as teses em confronto. Os discursos persuasivos dirigem-se
a públicos universais, pouco versados nos tema em discussão e por isso mais
receptivos à sedução.
Persuasão e Manipulação
Persuadir
não é a mesma coisa que manipular. A grande diferença reside na intenção do
orador. No caso da persuasão o objectivo é apenas provocar a adesão, apelando a
factores racionais e emocionais. No caso da manipulação, existe uma intenção
deliberada de desvalorizar os factores racionais, apelando a uma adesão
emocional. O próprio discurso é baseado em falácias, onde é patente a intenção
de confundir o auditório.
As
técnicas de persuasão (manipulação ) ensinadas pelos sofistas, apesar da sua
eficácia, podem ser consideradas muito rudimentares face às aplicadas no século
XX para manipularem milhões de pessoas.
A
persuasão dos sofistas estava muito confinada às capacidades manifestadas pelo
orador. A palavra tinha ainda uma lugar central. As técnicas de persuasão
actuais, ornaram os oradores parte de uma vasta encenação, onde se recorre a
uma enorme variedade de mais para seduzir, persuadir e manipular.
O
ditador Adolfo Hitler, foi o primeiro a integrar a retórica em gigantescos
espectáculos de propaganda, produzindo um poderoso efeito hipnótico sobre os
auditórios.
Os
discursos Hitler eram cuidadosamente ensaiados. Modelações no tom de voz,
gestos dramáticos, olhares acutilantes, e expressões faciais acentuavam os
momentos mais importantes nos seus discursos. Os discursos abordavam de forma
muito emocional quase sempre os mesmos temas: o ódio aos judeus, o desemprego e
o orgulho ferido da Alemanha. Os locais eram decorados de forma a acentuar a
sua presença. As paradas militares, bandeiras e símbolos conferiam à sua figura
e palavras uma dimensão sobrenatural.
4. Novas Formas de Manipulação
As
práticas de manipulação são milenares. Estão intrinsecamente ligadas à vontade
de domínio. Há manipulação sempre que
alguém procura controlar o conhecimento de outro tendem em vista condicionar ou
alterar o seu comportamento. As formas de manipulação ligadas ao poder
político são as mais conhecidas, mas não são as únicas existentes.
Formas Directas de Manipulação
As
formas manipulação mais conhecidas são as realizadas pelos regimes ditatoriais.
Podemos neste caso identificar facilmente quem as faz, com que objectivos e os
meios que utiliza. Trata-se de um manipulação com rosto, que coloca desde logo
os cidadãos de sobreaviso em relação àqueles que as planeiam e executam. A
censura, a propaganda e a violência repressiva sobre os "desviantes" são
os seus meios privilegiados .
Censura:
a informação é manipulada não apenas tendo em vista omitir factos relevantes,
mas também deformar o conteúdo da informação veiculada de modo a que a mesma se
ajuste às ideias dos censores. Em Portugal a censura foi um dos instrumentos
mais utilizados pela ditadura (1926-1974) para a manipulação da opinião
pública: a informação que era autorizada era previamente mutilada. A restante
era simplesmente proibida.
Propaganda:
a informação é forjada de forma provocar a uma adesão imediata a certos
estímulos, explorando para tal as emoções ou os medos das pessoas. Durante a
1ª. Guerra Mundial (1914-1945), as técnicas de propaganda aos serviços dos
Estados tornaram-se enormes máquinas de mobilização de massa, dotadas de
enormes recursos técnicos, que foram depois eficazmente aplicados e
desenvolvidos pelos diferente regimes totalitários.
Em
Portugal, uma das primeiras acções da ditadura (1926-1974) foi a de criar
importantes orgãos de propaganda do regime ( consultar ). O regime de nazi, foi
contudo aquele mais desenvolveu as técnicas de propaganda e as aplicou com
grande êxito. No Congresso de Nuremberg, em 1936, Hitler afirmou: "a propaganda conduziu-nos ao poder, a propaganda permitiu-nos
conservar depois o poder, a propaganda, ainda, dar-nos-à a possibilidade de
conquistar o mundo". Uma das suas acções mal
conquistou o poder foi criar um Ministério da Propaganda, dotando-o de enormes
recursos. A propaganda nazi assentava em ideias muitos simples, que podia ser
facilmente apreendidas pelas pessoas. Estas ideias apelavam à emoção,
estimulando reacções de medo, ódio, violência e desejo de vingança.
Formas
Difusas Manipulação
Os
processos de manipulação da informação
são todavia mais amplos, e estão largamente disseminados nas sociedades
democráticas ocidentais, utilizando-se técnicas muito sofisticadas, mas não
menos eficazes, nomeadamente porque os cidadãos estão desprevenidos.
Televisão: Um Perigo para a
Democracia ?
Karl Popper,
no início da década de 90, acusou a televisões de estarem a destruir os regimes
democráticos. Afirmando:
1.
A finalidade das televisões não é a educação ou a melhoria das pessoas, mas
apenas o lucro.
2.
Aquilo que oferecem às pessoas não é o que é melhor para a sua educação, mas
apenas aquilo que as seduz e as mantém presas aos ecrans de televisão, fazendo
desta forma subir as audiências. A receita que utilizam é sempre a mesma: sexo,
violência, sensacionalismo, etc. Uma receita que cansa, por isso mesmo
obriga-as a um reforço continuo das suas doses diárias (mais sexo, mais
violência, mais sensacionalismo…).
3.Com
o aumento do número de canais de televisão, cresceu também o número de pessoas
mediocres ou gente sem escrúpulos ligadas à produção de programas televisivos.
Gente que apesar da sua enorme influência social, trabalha na mais completa
impunidade e sem qualquer controlo democrático.
4.
As pessoas mais vulneráveis a esta influência nefasta da televisão são as que
possuem um nível de formação e maturidade insuficiente para estabelecerem uma
distinção entre a ficção e a realidade.
Exemplos de Manipulação
A -
Os meses que precederam a ocupação do
Iraque, em 19 de Março de 2003, assistiu-se a uma campanha de manipulação
da informação a nível mundial.
As
principais agências de comunicação social divulgavam informações provenientes
das mais diversas fontes e origens todas num único sentido: sustentarem a tese
dos EUA de que a o ditador do Iraque possui armas de destruição maciça .
Em
vários países, como Portugal, muitos jornalistas e especialistas em questões
militares apoiaram activamente esta campanha preparando a opinião pública para
aceitar a inevitabilidade de uma intervenção no Iraque, a fim de acabar com os
arsenais e a produção das alegadas armas de destruição maciça.
Um
ano depois da ocupação, os governos dos EUA e da Grã-Bretanha reconheciam que
estas armas não existiam e que haviam enganado a opinião pública. Acusaram na
altura os seus serviços de espionagem de lhes terem fornecido de informações
forjadas.
Objectivo da
manipulação: o controlo das enormes reservas de petróleo existentes no Iraque.
B
- Logo após o atentado de Madrid de 11
de Março de 2004, o governo espanhol procurou deliberadamente manipular a
comunicação social, veiculando informações no sentido de fazer crer à população
que a ETA era a autora do atentado ( A ETA é uma organização fundada em finais
dos anos 50 do século XX e que luta pela Independência do país Basco
(Euskadia). O próprio primeiro-ministro da altura (José Maria Aznar) pressionou
directamente directores de jornais para veicularem uma informação que sabia ser
falsa.
Objectivo da manipulação:
vencer uma disputa eleitoral.
Lola
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