Verdade e objectividade científicas
A finalidade do conhecimento científico é
atingir o estatuto de conhecimento objectivo. O
conhecimento objectivo é aquele que se refere exclusivamente ao objecto de
estudo, independentemente do sujeito que realizou a investigação.
Serà possivel
afastar o cientista do objecto de estudo?
Para atingir o
conhecimento objectivo, o cientista teria de se abstrair da sua subjectividade,
isto é, da sua forma pessoal de entender o objecto, da sua afectividade, dos
seus valores, dos seus interesses, das suas crenças ideológicas e políticas,
dos seus gostos estéticos e outros.
A objectividade segundo o positivismo e
o neopositivismo
As correntes
positivista e neopositivista atribuem à ciência o estatuto de conhecimento
verdadeiro e objectivo. Consideram que os factos são susceptíveis de uma
descrição exacta e de uma explicação rigorosa.
A verdade da
ciência parecia indubitável, visto que se baseava em verificações, em
confirmações, numa multiplicação de observações, que confirmavam sempre os
mesmos dados – teoria científica uma construção lógica que reflectia a própria
coerência do universo.
A
objectividade científica era assegurada pelo rigor da medição e da
experimentação. A medida é um elemento poderoso de objectivação e por esse
motivo se quantifica.
Paradigma
da modernidade: pressupõe
uma única forma de conhecimento válido; cuja validade reside na objectividade;
reduz o universo dos observáveis ao universo dos quantificáveis; reduz o rigor
do conhecimento ao rigor matemático.
Então,
o conhecimento era entendido como objectivo, verdadeiro, imparcial e capaz
de descrever ou explicar o mundo tal como ele é.
O conhecimento objectivo segundo Karl
Popper
Popper
afasta da concepção que atribui à ciência o estatuto de conhecimento objectivo,
certo e descritivo dos fenómenos tal como são.
O
cientista não é um observador indiferente ou descomprometido com o mundo, nem
os factos são puros. O investigador é um sujeito ativo, comprometido com
ideias, valores e princípios que funcionam como um quadro teórico de referência
no seu trabalho.
Tendo por
base a crítica e a criatividade, o cientista encontra, por vezes, falhas ou
erros nas teorias já existentes e empenha-se na procura de novas
respostas. O seu objectivo é encontrar a verdade, ainda que essa tarefa
corresponda apenas a uma aproximação à verdade por intermédio de teóricas cada
vez melhores.
A ciência
não é um sistema de enunciados certos e irrevogavelmente verdadeiros. A ciência
nunca alcança a verdade, mas aproxima-se dela propondo sistemas hipotéticos
complexos que permitem explicar mais ou menos fenómenos empíricos. Nunca uma
teoria científica surge por indução a partir de factos e observações simples.
Uma vez que a ciência é conjetural, ela não atinge a verdade, apenas se
aproxima dela. De uma teoria nunca podemos afirmar que é verdadeira mas apenas
que é verosímil.
A verdade é um ideal regulador da ciência!
· Que contributos Popper apresenta para uma nova forma de entender a ciência?
- substituiu
a actividade indutiva pela da conjeturação
- substituiu
a verificabilidade pela falsificabilidade
- substituiu
a verdade pela verosimilhança, probabilidade de ser verdadeiro
Qual, em seu entender, o Estatuto da
ciência?
As teorias científicas são meras conjeturas que devem ser
constantemente postas à prova, isto é, falsificadas, pelo que não se atingem
certezas. Nesse sentido, a objectividade e a verdade científicas são apenas
aproximações.
Uma teoria científica não é verdadeira mas mais ou menos
verosímil.
A objectividade na ciência segundo Kuhn
Para Thomas Kuhn, a evolução da ciência depende essencialmente do trabalho dos cientistas. Ele
consida o processo de produção da ciência o ponto central da reflexão
epistemológica.
Kuhn não vê o cientista como um investigador neutro,
nem as teorias como construções resultantes da análise de factos em bruto
depois de submetidos à experimentação e à matematização.
O cientista
não é um sujeito neutro nem isolado, mas condicionado e contextualizado. A
construção de teorias científicas está sempre dependente do conjunto de factos,
de conhecimentos, de regras e das técnicas vigentes em dada época e aceites
pela maioria dos cientistas.
A
mudança de um paradigma para outro não é cumulativa, antes corresponde a um
modo qualitativamente diferente de olhar o real.
A verdade e a objectividade são relativas ao paradigma em
que se inserem: aquilo que é verdadeiro num paradigma pode não ser noutro.
Um novo
modelo explicativo tem de ser aceite pela comunidade científica, pelo que o
método científico não se reduz à experimentação, mas está dependente da
argumentação. A escolha entre teorias rivais obedece a critérios de dois tipos:
critérios partilhados por toda a comunidade científica, dependentes de factores
objectivos, isto é, princípios, regras e até valores comummente adoptados;
critérios individuais, dependentes de factores subjectivos, relativos ao que
individualmente cada cientista sente e pensa – de acordo com a sua história de
vida e a sua personalidade – em relação à teoria que elege.
A proposito, que diria Gaston Bachelard ?
Os
princípios partilhados são, muitas vezes, aplicados de modos distintos. A
escolha individual entre teorias rivais depende de uma mistura de factores
objectivos e subjectivos, ou de critérios partilhados e individuais.
Para Kuhn, a subjectividade está presente não apenas no
contexto de descoberta de novas teorias, mas também no contexto da sua
justificação. Sujeito e objecto de conhecimento não são puros mas sempre
contextualizados.
Todavia, se
a escolha de dada teoria depende (em parte) de factores subjectivos, isso não
significa que não seja possível encontrar boas razões que permitam justificar a
escolha ou a preferência por uma teoria em detrimento da sua rival.
Lola
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