terça-feira, 7 de outubro de 2014

Coruja e Filosofia





Coruja e Filosofia



Coruja e filosofia - o que fazem juntas?

A coruja da filosofia é a Coruja de Minerva. Minerva é uma deusa romana. Seu equivalente grego é Athena. A deusa Athena é filha predileta do deus dos deuses,Zeus, e da deusa Metis, cujo nome significa "conselheira", e que indica a posse deuma sabedoria prática. Athena não nasceu de parto normal. Zeus engoliu a esposa,Metis, para se safar do filho que, pensava ele, poderia destroná-lo, aliás como elepróprio fez com seu pai, Cronos. O nascimento de Athena se dá de um modo especial: após uma grande dor de cabeça, Zeus teve sua fronte aberta por um deseus filhos, e daí espirrou Athena, já forte e grande.Athena seria a protetora natural de Athenas – uma vez que estava ligada à idéiade cuidado com as habilidades manuais, com as artes em geral, com a guerraenquanto capacidade de proteção e, enfim, com a sabedoria, ou seja, tudo quedeveria comandar uma cidade. Todavia, foi desafiada por Poseidon, que tambémdesejava ser o protetor da cidade de Atenas. 
Os deuses em reunião decretaramque ficaria com a cidade aquele que produzisse algo de mais útil aos mortais.Poseidon fez o cavalo, Athena fez a oliva. A vitória foi concedida a Athena.A disputa clássica na vida de Athena, no entanto, foi contra uma mortal – Arachne,talvez uma princesa, mas que aparece na mitologia como um tipo de doméstica.Arachne tecia muito bem, maravilhosamente, a ponto de dizerem que a própriadeusa das habilidades, Athena, a havia ensinado. Mas Arachne negava tal fato eretrucava que poderia produzir uma rede muito superior a qualquer coisa queAthena fizesse. E assim desafiou a deusa.Athena transformou-se em uma velha e foi procurar Arachne, para aconselhá-la anão desafiar um deus. Mas Arachne ficou furiosa, e manteve seu desafio. E entãoveio o confronto. Ambas teceram rapidamente, mostrando uma habilidade incrível, ea própria disputa se fez de modo tão fantástico que parecia uma homenagem aotrabalho. No produto de Athena, as figuras tecidas mostravam os deuses,imponentes, mas desgostosos com a presunção dos mortais. No produto deArachne, as figuras exemplificavam erros dos deuses – tudo em forma de deboche.O resultado foi que Athena não suportou o insulto, e se insurgiu contra Arachne.Quando foi para colocar fim na vida de Arachne sentiu piedade (piedade grega, nãocristã, é claro) e a poupou, deixando-a viver como um estranho animal – a aranha.O mito tem como objetivo mostrar a criação da aranha, é claro. Mas, como sempre,fornece mais leituras: mostra Athena como compreensiva aos erros humanos: umdeus que não fosse Athena não se daria ao luxo de virar uma mortal para,sutilmente, persuadir um outro mortal de não insultá-lo.
 Assim, com tal característica, Athena era de fato a condutora da cidade de Athenas, que recebeutal nome por causa dela. Inspirados em Athena, os cidadãos gregos daquela cidadeaprenderiam a se comportar diante das leis urbanas, deveriam tomar as melhoresdecisões, evitar conflitos e se proteger, ordenadamente – inclusive através daguerra – contra inimigos externos.A imagem de Athena povoou as mentes de alguns filósofos. Platão, ao falar deAthena, a tomou como protetora dos artesãos, ressaltando o caráter da deusaenquanto não somente uma guerreira e conselheira, mas efetivamente como aquelaque, desde o momento que deu a oliveira aos mortais, estava preocupada emhonrar a sabedoria prática, a habilidade de usar as mãos em articulação com océrebro. Talvez Marx, ao falar que o pior engenheiro é ainda melhor que a melhordas aranhas, estivesse pensando, de fato, em Arachne. Mas certamente é comHegel que Athena se imortalizou para nós modernos, finalmente, na sua ligaçãocom a filosofia. É claro que predominou seu nome romano, Minerva. E mais que aprópria deusa, a coruja ficou no centro da história. A frase de Hegel, que diz que aCoruja de Minerva levanta vôo somente ao entardecer, alude ao papel da filosofia.Ou seja, a filosofia só pode dizer algo sobre o mundo, através da linguagem darazão, após os acontecimentos que haviam de acontecer realmente acontecerem.Antes que "prever para prover", que é um lema de Comte e, portanto, do espíritocientificista, Hegel preferia dar crédito a uma postura filosófica que se via distinta dapostura da ciência: a voz da razão explica – racionaliza – a história. Ou seja, depoisda história, ela mostra que esta não foi em vão.Quando dizemos, com William James, que cada filosofia é o temperamento dofilósofo que a criou, podemos então caminhar mais um pouco e dizer que Marx eHegel aparecem como os que melhor encarnaram a própria psicologia de Athenapara tecerem suas filosofias. Marx e Hegel, cada um com sua própria psicologia,seus temperamentos, captaram o espírito de Athena para fazerem disso espelhospara suas filosofias. Pois, afinal, Athena detinha com suas duas facetas o espíritode suas filosofias: de um lado, Athena era a protetora de uma democracia deartesãos, de outro, a racionalizadora das decisões urbanas. Portanto, Marx e Hegel,em essência! Mas sabemos que, de fato, o símbolo da filosofia ficou sendo a coruja,não Athena. 
Poderia ser outro animal, e não a coruja, o mascote de Athena? E como mascote da filosofia, o que indica?A coruja não é bela. Platão era tido como belo, mas Sócrates era horrível. A coruja não é adepta de uma visão unidirecional, ela gira a cabeça quase que completamente, vendo todos os lados. Platão era adepto de uma visão unificadora,mas Sócrates era quase um perspectivista. Platão ensinava em uma escola que,muitas vezes, foi oficial. Mas Sócrates ensinava nas ruas. Foi acusado e condenado por seduzir os jovens, por roubá-los da Cidade, da Pólis. A coruja, por sua vez, é a ave de rapina par excellence e apanha os descuidados – na noite. Os leva da cidade, para seu ninho. 
E então, dá para entender, agora, o que é que coruja e filosofia fazem juntas?

Paulo Ghiraldelli Jr., filósofo


Ver http://pt.scribd.com/doc/11544585/Filosofia-Para-Adolescentes


                                              Lola

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