quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Sofistas e Platão




Sofistas e Platão

Os sofistas são simplesmente professores de eloquência, que andam de cidade em cidade, professores de retórica que ensinam a arte de falar em público. Ao aprender a defender uma tese, seja ela qual for, ao encontrar os meios para levar a melhor sobre o adversário numa discussão, os sofistas participam na elaboração de uma “razão-discurso”. Num regime em que a persuasão é um dado fundamental do jogo político, os sofistas vão ensinar a defender a tese e a antítese com igual brio (…)”
                                                                                                                                  J.Russ


"Para Platão, a retórica é sofística e não tem nada de positivo. A dialética, segundo Platão, é mesmo um jogo de questões e respostas, mas dessa verdade única e unívoca que deve emergir da discussão porque é sempre pressuposta por ela. Este aparecimento do saber assenta, para além da discussão, numa realidade estável, feita de verdades, as Ideias (…)”

                                                                                                                                       Meyer



 Características da sofística

    Tinha objectivos práticos: preparar os jovens para a disputa política e jurídica
     Preocupava-se mais com a forma do que com o conteúdo do discurso
 Os mestres da oratória e da eloquência faziam da retórica uma técnica           persuasão
    Transformando o discurso numa arte de sedução, a sofística transformou-se
    num  instrumento de manipulação
Devido à sua postura relativista quanto à questão do "saber" e da "verdade", desenvolveu o recurso à noção de "prova"
 Privilegia a opinião "doxa”



Características da filosofia

-       Tem objectivos de investigação - procura/pesquisa racional da verdade absoluta e universal
É um meio de procurar a verdade e o aperfeiçoamento do ser humano - coincidência das dimensões gnosiológica e ética
-       Desenvolve a dialéctica
-       Visa o esclarecimento e a compreensão através do exercício da razão
Privilegia a sabedoria




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"Os sofistas eram eruditos que se apresentavam como oradores e professores que ensinavam a retórica, a arte de argumentar, a arte de persuadir e a gramática. Preparavam jovens com aspirações políticas, tinham um saber dito enciclopédico e transmitiam verdades feitas. Apareceram como necessidade do próprio regime: a democracia.

Platão, filósofo da antiguidade grega, discípulo de Sócrates criticava arduamente os sofistas. Platão considerava que os sofistas investiam na manipulação, que muitos sofistas entraram no campo da manipulação. A retórica era apenas sofistica, tem uma finalidade prática que está ligada ao exercício do poder político. 

Os sofistas defendiam o relativismo. O relativismo defende que não existe verdades universais no campo da ética, existem apenas os vários códigos morais. Tudo quanto existe são os costumes de sociedades diferentes. Não se pode dizer que estes costumes estão “correctos” ou “incorrectos”, pois isso implicaria ter um padrão independente de certo e errado, pelo qual poderíamos julgá-los. Mas tal padrão não existe; todos os padrões são determinados por uma cultura. 

Platão criticava este relativismo sofístico tanto no campo da ética, como no campo do conhecimento.


Os sofistas e os filósofos tinham concepções diferentes de “verdade”. 
Os sofistas preocupavam-se com a procura de argumentos e ideias para defender esses mesmos argumentos, sem que se preocupassem com a procura pela verdade, a “verdade” não era portanto o objecto da sofística, no entanto era o objectivo máximo de filósofos como Platão. 

Segundo Platão a retórica sofística preocupava-se apenas com a eficácia do discurso para atingir finalidades práticas, o que faz da retórica uma técnica de persuasão. A sofística tinha portanto objectivos claramente práticos (visava a acção); preocupava-se mais com a forma do que com o conteúdo; procurava captar a atenção dos auditórios, mais do que transmitir-lhe sabedoria; era uma arma de conquista de poder na cidade. O ensino dos sofistas é um ensino formal, para eles, a verdade é relativa consoante a sua utilidade, o individuo e a situação. 

Os sofistas defendem qualquer causa, qualquer ideia, não lhes interessa a procura pela verdade, no entanto não fazem a distinção entre conhecimento sensível e conhecimento racional, este é o seu maior erro, e por isso caem na posição de relativismo, que acaba por se refutar a si própria, visto que ao dizerem que a verdade é relativa, para eles isso mesmo é universal. Resumindo para os sofistas a verdade era relativa; subjectiva; um ponto de vista e particular.

Enquanto isto, a filosofia preocupa-se afincadamente com a procura pela verdade e com o aperfeiçoamento ético e ontológico dos seres humanos. Desenvolveu uma arte a que chamamos dialéctica que visava através do discurso com os seus interlocutores a procura da verdade, visiva o esclarecimento e a compreensão. A dialéctica é um processo de abstracção que destrói ideias feitas, para passo a passo através do diálogo chegar a uma conclusão. Os filósofos empenham-se na procura da verdade com humildade, isto é, quanto mais sabem, mais tomam conhecimento da sua ignorância.

Platão faz a distinção entre dois mundos: o mundo sensível e o mundo inteligível; e assim estabelece uma série de dualismos: dualismo cosmológico (dois mundos: o mundo sensível e o mundo inteligível); dualismo gnosiológico (dois níveis de conhecimento); dualismo ontológico (dois níveis de ser: o ser e o parecer) e dualismo antropológico.

 Para Platão o mundo sensível é o dos objectos que percepcionamos, o mundo dos sentidos: tacto, audição, olfacto, paladar e visão. Para este filósofo este mundo é uma ilusão, uma aparência, uma sombra do mundo inteligível. O mundo inteligível é constituído pelas realidades, as essências, o mundo sensível é a sombra deste mundo. Segundo Platão o Homem vive no mundo sensível, mas durante toda a sua vida deve tentar atingir o mundo inteligível. Quando olhamos em redor captamos as aparências. A realidade não se mostra directamente à nossa percepção sensível. Os nossos sentidos captam o parecer e não o ser. Assim Platão faz a distinção entre o parecer e o ser, entre o plano da aparência e da razão. A verdade é o conhecimento da realidade, do ser das coisas. O mundo sensível é um mundo mutável, está em constante mudança, em constante transformação e devir, enquanto que o mundo inteligível permanece imutável. No mundo inteligível situam-se as ideias, os conceitos e as essências. Ora se para Platão o mundo sensível é uma aparência, o que da origem a um conhecimento aparente, então neste mundo só se pode atingir a opinião. O mundo inteligível é a realidade, então este é o conhecimento verdadeiro, Episteme. 

Para se passar do mundo sensível para o mundo inteligível é necessário fazer um percurso racional através da dialéctica (processo de abstracção, racionalização, através do diálogo). No conhecimento sensível temos dois tipos de conhecimento: a ignorância e em seguida a opinião. No conhecimento inteligível existem também dois tipos de conhecimentos: conhecimento matemático e conhecimento filosófico. 

Em Platão as realidades e os conceitos são de natureza ética sobretudo. A ideia máxima de é a ideia de bem. O conhecimento é feito no campo da ética. E realidade é portante o objecto do conhecimento".
Vanessa Pontes, In Jornal de Filosofia




"A retórica nasceu na Grécia, desenvolveu-se em Atenas, e atingiu particular relevância durante o século V a.C., coincidido com o apogeu da democracia. Tal como nos nossos dias, na democracia grega, a capacidade de argumentação tornou-se um factor decisivo na conquista do poder e os cidadãos que queriam dedicar-se política precisavam de adquirir essa capacidade.

 Devido a estas circunstâncias, surgem os sofistas que são oradores e professores da retórica, ensinado as bases de argumentação e persuasão formando as elites políticas

. No entanto o filósofo Sócrates, grande figura na altura tentava transmitir a arte da filosofia, arte de pensar racionalmente, utilizando um método muito perspicaz, este era conhecimento por utilizar apenas o diálogo, comunicando e transmitindo a capacidade de procurar a verdade, a partir do diálogo utilizava a ironia e a maiêutica para reforçar o seu diálogo. Apesar de os sofistas serem de grande importância na altura,

 Sócrates e Platão vão opor-se a estas ideias, defendendo a filosofia. Estes criticavam que os sofistas utilizavam a retórica com o objectivo de manipular ou seja entravam no campo da manipulação para defender a sua tese, sem se preocupar com a verdade, foi por esta razão que a retórica sofística preocupa-se mais com a eficácia do discurso para atingir finalidades práticas, fizeram da retórica uma técnica de persuasão. Sobretudo os filósofos não ficaram agradados, pela perspectiva pragmática e relativista em relação aos valores tradicionais, defendida pelos sofistas, que tinham concepções diferentes acerca do conhecimento, da finalidade da vida política e do Homem.

 Estas ideias relativistas por parte dos sofistas envolviam o conhecimento e a ética, ao dizermos que o conhecimento é relativo, estaremos a afirmar que não existe um conhecimento/ verdade absoluta, e uma ética relativista significa que os valores são relativos negando a existência de valores absolutos/ universais, estas teorias foram extremamente criticadas por Platão. Quando pensamos sobra a utilização da argumentação, reparamos que serve para expor, justificar, partilhar e discutir as nossas ideias e fazer avançar o conhecimento. Podemos é perguntar o que é o conhecimento e a verdade ou ainda o que podemos conhecer. 
Ora as respostas de Platão eram claramente diferentes dos sofistas. Pois estes concebiam a verdade simplesmente como um ponto de vista sobre a realidade, não havendo uma verdade única que fosse sempre idêntica. 

Platão pelo contrário, admitia a existência de um mundo imutável, original e verdadeiro, concebendo a verdade como sendo a “visão” racional desse mundo ideal que constitui a meta que todos os filósofos se propõem a alcançar. Tendo duas perspectivas diferentes, não é de espantar que os sofistas e o filósofos não estivessem de acordo. Segundo os sofistas, qualquer tese é defensável, pois a verdade é a tese defendida pelo melhor orador. Em contrapartida, para Platão só o verdadeiro conhecimento era digno de ser defendido e este é o que permite ver a realidade, desenvolveu-se uma arte a que chamaram dialéctica que visava através do discurso com os interlocutores a procura da verdade, visando o esclarecimento e a compreensão, a dialéctica é um processo de abstracção que destrói ideias feitas, para passo e passo através do diálogo chegar à conclusão, mas no entanto para chegarmos à realidade é necessário atravessar vários níveis: a realidade sensível, que era a ilusão e aparência, e a realidade autêntica, como uma sombra é menos real que um objecto físico, e este é menos real do que uma forma pura. 

A estes níveis de realidade correspondiam níveis diferentes de conhecimento a opinião e o conhecimento, respectivamente. Por isso, a investigação começa pela recusa do mundo aparente, que é construído em nós a partir das informações fornecidas pelos sentidos, e pelo desenvolvimento de capacidades intelectuais que nos permitam ver um mundo invisível aos sentidos: um mundo inteligível, só visível pela razão.

 A verdade será então, este conhecimento racional do mundo inteligível. Estas eram as explicações de Platão que utilizou vários dualismos, como já referidos, dois níveis de conhecimento( gnosiológico), dois níveis de realidade( ontológico) e pois claro a distinção entre o mundo aparente e o mundo real ( cosmológico). Assim poderemos verificar que Platão criticava arduamente os sofistas pelas ideias que tinham, na utilização da retórica, não se preocupando com a verdade chegando até manipular, e pois claro as suas teorias sobre o conhecimento e realidade, em que os filósofos vão se opor e procurar o mundo da verdadeira realidade".

                                                                          Ruben Guerreiro, In Jornal de Filosofia








                                              Lola


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