segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Análise fenomenologica



Análise fenomenológica do conhecimento



A gnoseologia, ou teoria do conhecimento, é uma disciplina filosófica que estuda as relações entre o sujeito e o objecto, procurando esclarecer e analisar criticamente os problemas que essas relações suscitam, nomeadamente os problemas relativos à origem, à natureza, à validade e aos limites do conhecimento.

O que é o sujeito? O que é o objecto? 

Para respondermos a estas questões, podemos efectuar uma análise fenomenológica do conhecimento. Esta análise permitirá conduzir-nos aos diversos problemas gnoseológicos.
É complicado fazer tais descrições, sobretudo porque é difícil abstrairmo-nos de pressupostos e de significações que trazemos connosco. É difícil descrever a realidade que vemos como se fosse a primeira vez que a víamos.

O objectivo da fenomenologia consiste precisamente em descrever a estrutura dos fenómenos (daquilo que nos aparece), antes de qualquer pressuposto.

O método fenomenológico consiste em examinar todos os conteúdos de consciência (pensamento), mas em vez de determinar se tais conteúdos são reais ou irreais, ideias, imaginários, etc., procede-se a examiná-los enquanto são puramente dados. A fenomenologia coloca-se ‘’antes’’ de toda a crença e de todo o juízo para explorar simplesmente o dado.
A fenomenologia estuda a estrutura geral dos fenómenos, pondo de parte teorias, crenças ou ideias prévias. Neste âmbito, fenómeno é tudo aquilo que se apresenta à nossa consciência.
A fenomenologia do conhecimento é a descrição do fenómeno do conhecimento, pondo em relevo os elementos que intervêm neste processo (sujeito e objecto).

A fenomenologia do conhecimento tem o propósito de evidenciar o que significa ser objecto, o que significa ser sujeito e que tipo de relações estes elementos estabelecem entre si.

O conhecimento é aquilo que acontece quando um sujeito apreende um objecto.

Para que haja conhecimento, é necessária a existência de dois elementos fundamentais: o sujeito – aquele que conhece – e o objecto – aquele que é conhecido.

 Sem a presença de um destes elementos, o conhecimento é impossível.

"1. Em todo o conhecimento, um ‘’cognoscente’’ e um ‘’conhecido’’, um sujeito e um objecto encontram-se face a face. A relação que existe entre os dois é o próprio conhecimento. A oposição dos dois termos não pode ser suprimida; esta oposição significa que os dois termos são originariamente separados um do outro, transcendentes um em relação ao outro. Estão separados um do outro, são sempre assim, nunca haverá uma união senão quebra-se o acto de conhecer.

2. Os dois termos da relação não podem ser separados dela sem deixar de ser sujeito e objecto. O sujeito só é sujeito em relação a um objecto e o objecto só é objecto em relação a um sujeito. Cada um deles apenas é o que é pela sua relação; condicionam-se reciprocamente. A sua relação é uma correlação. Se se separarem deixam de ser sujeito e objecto. Não existem fora da relação, só são o que são em função da relação existente. 

3. A relação constitutiva do conhecimento é dupla, mas não é reversível. O facto de desempenhar o papel de sujeito em relação a um objecto é diferente do facto de desempenhar o papel de objecto em relação a um sujeito. No interior da correlação, sujeito e objecto não são, portanto, intermutáveis; a sua função é essencialmente diferente. Não se pode alterar a relação: o objecto não pode passar a sujeito, e vice-versa porque são coisas diferentes as suas funções não são mutáveis no mesmo acto de conhecimento.

4. A função do sujeito consiste em apreender o objecto; a do objecto em poder ser apreendido pelo sujeito e em sê-lo efectivamente. Constituem-se no próprio acto de conhecer fora do acto de conhecer não existe sujeito nem objecto.

5. Considerada do lado do sujeito, esta ‘’apreensão’’ pode ser descrita como uma saída do sujeito para fora da sua própria esfera e como uma incursão na esfera do objecto, a qual é, para o sujeito, transcendente e heterogénea. O sujeito apreende as determinações do objecto e, ao apreendê-las, introdu-las, falas entrar na sua própria esfera. O sujeito sai da sua esfera e vai para a esfera do objecto, capta as características, informações do objecto e volta para a sua esfera.

6. O sujeito não pode captar as propriedades do objecto senão fora de si mesmo, pois a oposição do sujeito e do objecto não desaparece na união que o acto de conhecimento estabelece entre eles; antes permanece indestrutível. A consciência desta oposição é um aspecto essencial da consciência do objecto. O objecto, mesmo quando é apreendido, permanece, para o sujeito, algo de exterior; é sempre ‘’o objectum’’, quer dizer, o que está diante dele. O sujeito não pode captar o objecto sem sair de si (sem se transcender); mas não pode ter consciência do que é apreendido, sem reentrar em si, sem se reencontrar na sua própria esfera. O conhecimento realiza-se, pois, por assim dizer, em três tempos: o sujeito sai de si, está fora de si e regressa finalmente a si. O sujeito permanece sempre exterior ao objecto, mesmo na sua esfera. Quando regressa à sua esfera, com as informações recolhidas, cria uma imagem mental do objecto e assim se processa o conhecimento. O sujeito só toma consciência quando entra na sua esfera. Consciência – conhecimento; processo – acto de conhecer.

7. O facto de que o sujeito saia de si para apreender o objecto não muda nada neste. O objecto não se torna por isso imanente. As características do objecto, se bem que sejam apreendidas como que introduzidas na esfera do sujeito, não são, contudo, deslocadas. Apreender o objecto não significa fazê-lo entrar no sujeito, mas sim reproduzir neste as determinações do objecto numa construção que terá um conteúdo idêntico ao do objecto. O objecto não é modificado pelo sujeito, mas sim o sujeito pelo objecto. Apenas no sujeito alguma coisa se transforma pelo acto de conhecimento. No objecto nada de novo é criado; mas no sujeito nasce a consciência do objecto, com o seu conteúdo, a imagem do objecto." 

O objecto nunca se altera no acto de conhecer; o conhecimento é uma reprodução através de uma imagem, pois no sujeito surge a representação do objecto.

O sujeito e o objecto não se confundem, são originariamente separados um do outro, transcendentes um em relação ao outro. Estabelecem uma relação de oposição.
Apesar de opostos, precisam um do outro para serem considerados sujeito e objecto. Com efeito, cada um deles apenas é o que é pela sua relação com o outro, o que significa que a sua relação constitui uma correlação.

Embora correlacionados, não podem trocar de funções. Estabelecem uma relação de irreversibilidade. 

O papel do sujeito é o de apreender o objecto; o do objecto é o de poder ser apreendido pelo sujeito e de o ser efectivamente.- pois se não o for, não hà conhecimento!

Dado que o sujeito e o objecto têm funções específicas, o resultado do conhecimento não será igual para ambos. 
De facto, o sujeito, saindo de si para captar o objecto, é modificado por este, ao passo que o objecto não é modificado pelo sujeito, permanece inalteràvel!
Uma vez que, neste processo, o sujeito apreende a imagem do objecto então podemos considerar o conhecimento como a relação entre o sujeito e o objecto, que se traduz numa representação do objecto no sujeito.






                                                Lola




          

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