quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Acção e sentidos




Acção e sentidos




"Deixando de lado alguns usos puramente técnicos da palavra acção (por exemplo, acção como participação no capital de uma empresa ), o núcleo significativo da palavra assenta na produção ou provocação de um efeito. A palavra acção emprega-se às vezes para falar de seres não-humanos (diz -se que a acção das cegonhas é benéfica para a agricultura), ou inclusive de objectos inanimados (diz-se que a gravitação é uma forma de acção à distância, ou que a toda a acção exercida sobre um corpo corresponde uma reacção igual e de sentido contrário). Mas, sobretudo, empregamos a palavra acção para falar do que fazem os seres humanos, (...)


As nossas acções são (algumas das) coisas que fazemos. Na realidade o verbo fazer cobre um campo semântico, bastante mais amplo do que o substantivo acção. A língua latina, distingue o agere ( agir) do facere ( fazer). (...)

O substantivo latino actio ( acção), derivado agere (agir), manteve-se dando lugar ao substantivo" acção". Assim, etimologicamente, "acção" só traz a carga semântica de agere enquanto que " fazer" traz tanto a de agere como a de facere.

Tudo quanto fazemos faz parte da nossa conduta, mas nem o que fazemos constitui uma acção. Enquanto dormimos, fazemos muitas coisas: respiramos, damos voltas na cama, sonhamos.... todas estas coisas as fazemos inconscientemente, pois estamos adormecidos. Fazemo-las, mas não nos damos conta disso, não temos consciência do que estamos a fazer. A estas coisas que fazemos inconscientemente não chamamos "acções". 

O termo "acção" reservamo-lo para as coisas que fazemos conscientemente, dando-nos conta de que as fazemos.

Há coisas que fazemos consciente (...) sem que, porém, a sua realização corresponda a uma intenção nossa. Damo-nos conta dos nossos tiques e de muitos dos nossos actos reflexos, contudo realizamo-los involuntariamente constatamo-los como espectadores, não os efectuamos como agentes (A palavra agente é outro resíduo do naufrágio do verbo agere). Pelo que sentimos depois de comer, damo-nos conta de que estamos a fazer a digestão. Mas fazer a digestão não constitui, normalmente, uma acção.
Também não chamamos acções a aspectos da nossa conduta de que nos damos conta, mas que não efectuamos intencionalmente.

Só devemos chamar "acções", às acções conscientes e voluntárias. Uma acção é uma interferência consciente e voluntária de um ser humano (o agente), no normal decurso das coisas, o qual, sem a sua interferência, teria seguido um caminho distinto. Uma acção consta, pois, de um acontecimento que sucede graças à interferência de um agente, o qual tem a intenção de interferir para conseguir que tal acontecimento sucedesse." 




Jesus Mosterin, Racionalidad y Accion Humana
Alianza Editorial, Madrid. pp. 141-143


Agora, responda às seguintes questões:


1. Refira os vàrios  usos da palavra "acção" ?

2. Porque é que nem o que fazemos constitui uma acção.

3. Distinga:

  •  Consciente
  • Inconsciente
  • Voluntario
  • Involuntario




Lola



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