quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Blogger e o Islão

Fotografia © DR


Blogger e o Islão

Blogger saudita que “insultou o Islão” recebeu as primeiras 50 de 1000 chicotadas

Raif Badawi, co-fundador do site Rede Liberal Saudita, foi condenado a dez anos de prisão e 1000 chicotadas. As primeiras foram aplicadas numa praça pública

·    Arábia Saudita condena activista dos direitos humanos a sete anos de prisão e 600 chicotadas

Centenas de espectadores numa praça pública em Jidá viram, sexta-feira, Raef Badawi a ser chicoteado 50 vezes. Durante 15 minutos, em silêncio e sem chorar, Raef Badawi foi sujeito ao castigo decidido pelas autoridades da Arábia Saudita que incluem, além de dez anos de prisão, mil chicotadas repartidas por 20 semanas por ter insultado o Islão.



Uma testemunha anónima contou à Associated Press que o co-fundador do site Rede Liberal Saudita, e laureado em 2014 com o prémio Repórteres sem Fronteiras, estava algemado mas com a cara descoberta. Foi transportado da prisão para o local, pouco depois de terem terminado as orações do meio-dia numa mesquita próxima. Cumpriu, assim, as primeiras 50 chicotadas por ter criticado o poder dos líderes religiosos na Arábia Saudita, no blogue que fundou com a activista dos direitos das mulheres Suad al-Shammari e onde defendeu o fim da influência da religião na vida pública daquele país.
Outra testemunha disse à Amnistia Internacional que a multidão se juntou em círculo. "Quem passava juntou-se e a multidão cresceu. Mas ninguém sabia porque é que Raif estava a ser castigado. Era um assassino? Um criminoso? Não reza?", perguntavam. Depois, "um polícia aproximou-se por trás e começou a bater-lhe. Raif levantou a cabeça em direcção ao céu, fechou os olhos. Estava em silêncio mas era visível pela expressão do rosto e movimento do corpo que estava a sofrer". O polícia bateu nas pernas e nas costas, contando até 50.


Activistas dos direitos humanos acreditam que as autoridades sauditas estão a utilizar Raef Badawi, pai de três filhos, como exemplo do que pode acontecer a quem ousa criticar o poder instalado. “Castigos físicos não são novidade na Arábia Saudita mas punir publicamente um activista pacífico que apenas manifestou as suas ideias é uma mensagem de intolerância horrível», criticou Sarah Leah Whitson, directora para o Médio Oriente e Norte de África da Human Rights Watch. A organização sedeada em Nova Iorque apelou ainda ao Rei Abdullah para anular a sentença e perdoar “imediatamente” o blogger.
O pedido também foi reforçado pela Repórteres sem Fronteiras (RSF) que classificou a punição de “odiosa”. “Apesar de as autoridades sauditas terem, até aqui, ignorado os pedidos repetidos pelas organizações internacionais, a RSF afirma que vai continuar o seu combate para que este cidadão, que apenas abriu o debate público sobre a evolução da sociedade através do seu blogue, possa ser libertado rapidamente”, disse Lucie Morillon, uma das directoras da organização francesa.



Aliados próximos da Arábia Saudita, os Estados Unidos criticaram a “punição inumana” e pediram a anulação da sentença “brutal”. Apelaram ainda à “reavaliação do dossier de Badawi e da sua condenação”.
A União Europeia (UE) veio, igualmente, lamentar a flagelação, dizendo que as “punições físicas são inaceitáveis e contra a dignidade humana”. Um porta-voz da diplomacia da UE, citado pela AFP, reiterou a “forte oposição” de Bruxelas à sentença e apelou às autoridades sauditas de “suspender todas as punições a Badawi e a colocar um fim à utilização de flagelação”. Riade deve travar estas "sentenças violentas no contexto da reforma judicial" em curso, e que “abre a possibilidade de melhorar a protecção dos direitos individuais”, indica a mesma fonte.
Em 2013, Badwi foi condenado a sete anos de prisão e 600 chicotadas mas depois de um recurso o juiz agravou o castigo. A mulher e os filhos vivem no Canadá, para onde foram viver logo após a detenção.
O co-fundador da Rede Liberal Saudita foi acusado de criticar a política religiosa e já tinha sito acusado de renúncia à fé, crime que pode levar à pena de morte. As autoridades desistiram desta acusação mas detiveram Badwi, em 2012, na altura com 35 anos.
Notícia corrigida às 07h14 de 11 de Janeiro de 2015: Altera número de chicotadas a que Raif Badawi foi condenado, de 600 para 1000.
In Publico
ANA RUTE SILVA 
10/01/2015 - 11:39

(actualizado às 12:36)


Terad Badawi holds a picture of his father, Raif Badawi. Raif Badawi, a blogger and activist who has a wife and three children in Sherbrooke, underwent the first round of 50 lashes in public after morning prayers Friday, January 9, 2014, in Saudi Arabia, human rights group Amnesty International said. Badawi was arrested in 2012.

Blogger poderá não resistir à segunda dose de chicotadas

A mulher de Raif Badawai receia que o blogger, condenado a 10 anos de prisão e a mil chicotadas, não resista ao próximo castigo, agendado para sexta-feira.

As autoridades da Arábia Saudita mantêm a intenção de dar 50 chicotadas a Raif Badawai na próxima sexta-feira, alertou hoje a Amnistia Internacional, organismo que defende que o país ainda vai a tempo de ouvir os apelos internacionais e de travar a medida.



A mulher de Raif Badawai receia que o marido não resista a esta segunda dose da pena de 10 anos de prisão e mil chicotadas por ter insultado o Islão. Criador de um blogue que discutia questões religiosas e políticas, a Rede Liberal Saudita, este homem deverá passar pelo martírio das chicotadas ao longo de 20 semanas. Nas vésperas da segunda, depois da sessão de sexta-feira passada, Ensaf Haidar lembra que a "pressão internacional é crucial" e que poderá resultar favoravelmente para o marido.




"Raif disse-me que está cheio de dores desde as chicotadas, a sua saúde está fraca e eu tenho a certeza que ele não conseguirá resistir a outra sessão de chicotadas", afirmou Ensaf, segundo é citada numa nota da Amnistia Internacional, organismo que alerta ainda para o facto de a sentença de Raif se ter tornado ainda mais dura na segunda-feira.

"Ele tinha sido inicialmente condenado a 15 anos de prisão, mas só teria de cumprir 10. Contudo, o juiz deu, na segunda-feira, ordem para ele cumprir os 15 anos porque ele se recusou a pedir desculpa pelas suas 'ofensas'", diz o mesmo comunicado.
A flagelação pública de Raif já foi condenada pela comunidade internacional, que deverá continuar a pressionar, diz a Amnistia.

In Diario de Noticias, 14 de Janeiro de 2015


Lola


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