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Blogger e o Islão
Blogger saudita que “insultou o Islão” recebeu as
primeiras 50 de 1000 chicotadas
Raif Badawi,
co-fundador do site Rede Liberal Saudita, foi condenado a dez anos de prisão e
1000 chicotadas. As primeiras foram aplicadas numa praça
pública
· Arábia Saudita condena
activista dos direitos humanos a sete anos de prisão e 600 chicotadas
Centenas de
espectadores numa praça pública em Jidá viram, sexta-feira, Raef Badawi a ser
chicoteado 50 vezes. Durante 15 minutos, em silêncio e sem chorar, Raef Badawi
foi sujeito ao castigo decidido pelas autoridades da Arábia Saudita que
incluem, além de dez anos de prisão, mil chicotadas repartidas por 20 semanas
por ter insultado o Islão.
Uma testemunha anónima contou à
Associated Press que o co-fundador do site Rede Liberal Saudita, e
laureado em 2014 com o prémio Repórteres sem Fronteiras, estava algemado mas
com a cara descoberta. Foi transportado da prisão para o local, pouco depois de
terem terminado as orações do meio-dia numa mesquita próxima. Cumpriu, assim,
as primeiras 50 chicotadas por ter criticado o poder dos líderes religiosos na
Arábia Saudita, no blogue que fundou com a activista dos direitos das mulheres
Suad al-Shammari e onde defendeu o fim da influência da religião na vida
pública daquele país.
Outra testemunha disse à Amnistia
Internacional que a multidão se juntou em círculo. "Quem passava juntou-se
e a multidão cresceu. Mas ninguém sabia porque é que Raif estava a ser
castigado. Era um assassino? Um criminoso? Não reza?", perguntavam.
Depois, "um polícia aproximou-se por trás e começou a bater-lhe. Raif
levantou a cabeça em direcção ao céu, fechou os olhos. Estava em silêncio mas
era visível pela expressão do rosto e movimento do corpo que estava a
sofrer". O polícia bateu nas pernas e nas costas, contando até 50.
Activistas dos direitos humanos
acreditam que as autoridades sauditas estão a utilizar Raef Badawi, pai de três
filhos, como exemplo do que pode acontecer a quem ousa criticar o poder
instalado. “Castigos físicos não são novidade na Arábia Saudita mas punir
publicamente um activista pacífico que apenas manifestou as suas ideias é uma
mensagem de intolerância horrível», criticou Sarah Leah Whitson, directora
para o Médio Oriente e Norte de África da Human Rights Watch. A organização
sedeada em Nova Iorque apelou ainda ao Rei Abdullah para anular a sentença e
perdoar “imediatamente” o blogger.
O pedido também foi reforçado
pela Repórteres sem Fronteiras (RSF) que classificou a punição de “odiosa”.
“Apesar de as autoridades sauditas terem, até aqui, ignorado os pedidos
repetidos pelas organizações internacionais, a RSF afirma que vai continuar o
seu combate para que este cidadão, que apenas abriu o debate público sobre a
evolução da sociedade através do seu blogue, possa ser libertado rapidamente”,
disse Lucie Morillon, uma das directoras da organização francesa.
Aliados próximos da Arábia
Saudita, os Estados Unidos criticaram a “punição inumana” e pediram a anulação
da sentença “brutal”. Apelaram ainda à “reavaliação do dossier de Badawi e da
sua condenação”.
A União Europeia (UE) veio,
igualmente, lamentar a flagelação, dizendo que as “punições físicas são
inaceitáveis e contra a dignidade humana”. Um porta-voz da diplomacia da UE,
citado pela AFP, reiterou a “forte oposição” de Bruxelas à sentença e apelou às
autoridades sauditas de “suspender todas as punições a Badawi e a colocar um
fim à utilização de flagelação”. Riade deve travar estas "sentenças
violentas no contexto da reforma judicial" em curso, e que “abre a
possibilidade de melhorar a protecção dos direitos individuais”, indica a mesma
fonte.
Em 2013, Badwi foi condenado a
sete anos de prisão e 600 chicotadas mas depois de um recurso o juiz agravou o
castigo. A mulher e os filhos vivem no Canadá, para onde foram viver logo após
a detenção.
O co-fundador da Rede Liberal
Saudita foi acusado de criticar a política religiosa e já tinha sito acusado de
renúncia à fé, crime que pode levar à pena de morte. As autoridades desistiram
desta acusação mas detiveram Badwi, em 2012, na altura com 35 anos.
Notícia corrigida às 07h14 de 11
de Janeiro de 2015: Altera número de chicotadas a que Raif Badawi foi condenado, de 600
para 1000.
In Publico
ANA RUTE SILVA
10/01/2015 - 11:39
(actualizado às 12:36)
Blogger poderá não
resistir à segunda dose de chicotadas
A mulher de Raif Badawai receia
que o blogger, condenado a 10 anos de prisão e a mil chicotadas, não resista ao
próximo castigo, agendado para sexta-feira.
As
autoridades da Arábia Saudita mantêm a intenção de dar 50 chicotadas a Raif
Badawai na próxima sexta-feira, alertou hoje a Amnistia Internacional,
organismo que defende que o país ainda vai a tempo de ouvir os apelos
internacionais e de travar a medida.
A
mulher de Raif Badawai receia que o marido não resista a esta segunda dose da
pena de 10 anos de prisão e mil chicotadas por ter insultado o Islão. Criador de
um blogue que discutia questões religiosas e políticas, a Rede Liberal Saudita,
este homem deverá passar pelo martírio das chicotadas ao longo de 20 semanas.
Nas vésperas da segunda, depois da sessão de sexta-feira passada, Ensaf Haidar
lembra que a "pressão internacional é crucial" e que poderá resultar
favoravelmente para o marido.
"Raif
disse-me que está cheio de dores desde as chicotadas, a sua saúde está fraca e
eu tenho a certeza que ele não conseguirá resistir a outra sessão de
chicotadas", afirmou Ensaf, segundo é citada numa nota da Amnistia
Internacional, organismo que alerta ainda para o facto de a sentença de Raif se
ter tornado ainda mais dura na segunda-feira.
"Ele
tinha sido inicialmente condenado a 15 anos de prisão, mas só teria de cumprir
10. Contudo, o juiz deu, na segunda-feira, ordem para ele cumprir os 15 anos
porque ele se recusou a pedir desculpa pelas suas 'ofensas'", diz o mesmo
comunicado.
A
flagelação pública de Raif já foi condenada pela comunidade internacional, que
deverá continuar a pressionar, diz a Amnistia.
In Diario de Noticias, 14 de Janeiro de 2015
Lola
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