A ética kantiana
Não é
possível em seja o que for no mundo, ou até fora dele, que se possa considerar
bom sem qualificação excepto a vontade boa. A inteligência, a perspicácia, o
discernimento e sejam quais forem os talentos do espírito que se queira nomear
são sem dúvida bons e desejáveis, em muitos aspectos, tais como as qualidades
do temperamento como a coragem, a determinação, a perseverança. Mas podem
também tornar-se extremamente más e prejudiciais se a vontade, que dará uso a
estes dons da natureza e que na sua constituição especial se chama
"carácter", não for boa. O mesmo acontece com os bens da fortuna;
poder, riquezas, honra e até a saúde, e o completo be estar e satisfação
relativamente à nossa condição a que se chama "felicidade" suscitam o
orgulho e muitas vezes desse modo a arrogância, a não ser que exista uma
vontade boa para corrigir a sua influência no espírito e desse modo também
rectificar todo o princípio da acção e torná-lo universalmente conforme ao seu
fim. Um ser que não seja agraciado por qualquer resquício de uma vontade pura e
boa mas que contudo desfrute de uma prosperidade ininterrupta nunca pode
deleitar um espectador racional e imparcial. Assim, uma boa vontade parece
constituir a condição indispensável até para se ser digno de felicidade. (…)
Há
apenas um imperativo categórico, e é este: Age apenas de acordo com aquela
máxima que possas ao mesmo tempo querer que se torne uma lei universal.
Ora,
se todos os imperativos categóricos podem ser derivados deste imperativo como
principio deles, então pode pelo menos mostrar-se o que se entende pelo
conceito de dever e o que este conceito significa, apesar de ficar por decidir
se o que se chama "dever" não será um conceito vazio.
A
universalidade da lei de acordo com a qual os efeitos se produzem constitui o
que apropriadamente se chama "natureza" no sentido mais geral (quanto
à forma ), isto é, a existência de coisas enquanto determinadas por leis
universais. Assim, o imperativo universal do dever pode exprimir-se assim: Age
como se a máxima da tua acção se tornasse pela tua vontade uma lei universal da
natureza.
Kant,
Fundamentação da Metafísica dos Costumes
1. Comente:
" uma vontade boa parece constituir a
condição indispensável até para se ser digno de felicidade".
2. Qual a importância do imperativo
categórico.
3. Porque é que o imperativo hipotetico não serve à moralidade?
A concepção utilitarista
É indiscutível que um ser cujas capacidades de prazer sejam baixas tem uma
probabilidade maior de as satisfazer completamente e que um ser amplamente
dotado sentirá sempre que, da forma como o mundo é constituído, qualquer
felicidade que possa esperar será imperfeita.
(...) Tenho de repetir o que os críticos do utilitarismo raramente têm a
justiça de reconhecer que a felicidade que constitui o padrão utilitarista
daquilo quer está certo na conduta não a felicidade do próprio agente, mas a de
todos envolvidos.
(...) O motivo é irrelevante para a moralidade da acção. Aquele que salva
um semelhante de se afogar faz o que está moralmente certo, seja o seu motivo o
dever, seja a esperança de ser pago pelo seu incómodo; aquele que trai um amigo
que confia em si é culpado de um crime, mesmo que o seu objectivo seja servir
outro amigo relativamente ao qual tem maiores obrigações.
J. Stuart Mill, Utilitarismo, trad. port., Porto,
Porto
Editora, 2005, pp. 51-59 (adaptado)
1. A partir do texto, apresente ideias fundamentais do utilitarismo
2. Apresente uma
objecção à teoria utilitarista.
3. Assuma-se defensor do deontologismo Kantiano e responda à frase sublinhada no texto.
Lola
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