O Estado Islâmico
Estima-se que a principal fonte de rendimento do Estado Islâmico seja o DINHEIROobtido pela venda, no
mercado negro, de petróleo extraído da cerca de uma dezena de poços que o grupo
controla, sobretudo no Iraque, e que rendem perto de dois milhões
de euros por dia. Mas os islamitas recebem também bastante dinheiro dos
impostos que cobrem às populações que vivem nas zonas controladas por eles e,
muito possivelmente, de resgates cobrados pela libertação de pessoas raptadas.
O dinheiro e ouro pilhado de bancos em cidades como Mossul também reforçou a
posição económica do EI, considerado actualmente o grupo terrorista mais rico
do mundo.
O que é o Estado Islâmico?
Para começar, não é
um Estado, ou pelo menos não é reconhecido internacionalmente como tal. E
muitos muçulmanos rejeitam que seja sequer islâmico.
Mas o Estado Islâmico (EI), como se autodenomina, é uma realidade a ter em
conta no panorama do terrorismo mundial e neste momento apresenta-se como a
principal ameaça à estabilidade do Médio Oriente.
Liderado por Abu Bakr al-Baghdadi, o EI ocupa de facto um território que
abrange grande parte do Iraque e da Síria. Nesse terreno aplica uma versão
radical da lei islâmica, persegue todos os não-sunitas e luta e gere o espaço
como se fosse, de facto, um Estado, cobrando impostos e assegurando serviços
básicos.
Em Junho de 2014 o grupo anunciou a restauração de um califado e nomeou
al-Baghdadi califa, o que faz dele, aos olhos do grupo, o líder político e
espiritual de todos os muçulmanos no mundo.
Embora a sua autoridade tenha sido aceite por alguns grupos terroristas e
indivíduos, nenhum líder muçulmano de peso nem qualquer país deu crédito ao
"califa".
Estado Islâmico é o mais recente nome de um grupo que já teve vários outros
títulos, incluindo Estado Islâmico do Iraque e do Levante. Muitos muçulmanos
rejeitam o nome Estado Islâmico e o grupo ainda é frequentemente designado pela
sigla inglesa ISIS (Islamic State of Iraque and Syria). Em árabe é também
conhecido como Daesh, sobretudo por parte dos seus críticos.
Que território ocupa?
O Estado Islâmico ocupa uma faixa de território que abrange parte da Síria e do
Iraque. No Iraque a sua presença é particularmente forte em toda a parte
ocidental do país, faltando apenas partes da Curdistão iraquiano, no nordeste.
Ocupa ainda a cidade de Mossul, a segunda maior do país, e está a poucos
quilómetros de Bagdad.
Na Síria o grupo ocupa uma faixa que corta o país ao meio. No nordeste há uma
zona triangular que faz fronteira com a Turquia e com o Iraque que não está
dominado pelo EI, mas, com a excepção de Kobani e a zona circundante, o grupo
domina centena de quilómetros da fronteira com a Turquia.
Quem são os militantes do Estado Islâmico?
A maioria são árabes, das comunidades sunitas do Iraque e da Síria. Mas há
muitos estrangeiros nas fileiras, incluindo cerca de 2.500 tunisinos. Estima-se
que haja ainda cerca de 100 cidadãos americanos, bem como 500 britânicos. Só
europeus serão perto de 2.000 e existe um importante contingente de homens de
expressão russa, de países como a Chechénia e Cazaquistão.
Há relato de cerca de uma dúzia de portugueses no grupo, incluindo algumas
mulheres. Pelo menos três portugueses ou luso-descendentes já terão morrido ao
serviço do Estado Islâmico. Sandro "Funa" e Mikael Batista foram
alegadamente mortos durante a luta por Kobani e José Parente morreu num
atentado suicída no Iraque.
Em Outubro de 2014, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, disse
à Renascença que há informações
de que dois ou três tencionam abandonar o grupo e voltar para Portugal, mas não
entrou em mais detalhes, nem especificou o que será feito caso isso se
concretize.
Em Janeiro de 2015 foi revelada a existência de um português, natural da Ilha
Terceira, nos Açores, que estaria
a planear partir para a Síria para se juntar ao
Estado Islâmico. Mas "Abdul", nome que adoptava nas redes sociais,
foi interrogado pela Polícia Judiciária, que terá tomado conhecimento das suas
intenções, e constituído arguido.
Contra quem luta o Estado Islâmico?
Neste momento o EI luta contra todas as outras facções no território, incluindo
os exércitos da Síria e do Iraque, milícias xiitas e outros grupos da oposição
ao regime na Síria.
Durante algum tempo o EI estava aliado à Al-Qaeda, mas, desde que foi expulso
da rede terrorista islâmica internacional, os seus militantes têm combatido
também contra a Frente Al-Nusra, representante da Al-Qaeda na Síria.
Em inícios de 2015 os combates mais intensos travam-se com as forças curdas,
nomeadamente na Síria e no Iraque, nas regiões de Kobani, na fronteira
síria com a Turquia e nos arredores de Mossul, Sinjar e Kirkuk, no Iraque.
A cidade de Kobani resiste como um dos últimos enclaves naquela zona da Síria.
Ao fim de quase cinco meses de intensos combates, as forças curdas, apoiadas
por ataques aéreos levados a cabo por forças internacionais, conseguiram
expulsar o Estado Islâmico da cidade, embora a ameaça permaneça
nos arredores. A cidade tornou-se assim um símbolo da resistência ao
radicalismo islâmico.
Fora do seu território, o Estado Islâmico promove ataques contra todos os
países ocidentais, nomeadamente os que fazem parte da coligação internacional.
Alguns destes atentados, como o da Austrália e os
do Canadá são levados a cabo por "lobos
solitários", que não têm contacto próximo ou regular com quadros do Estado
Islâmico mas se identificam com a causa e são inspirados por este. Mas há
também ataques mais bem organizados, como os que recentemente tiveram como alvo
as forças governamentais do Egipto, na
região do Sinai.
Mais de 60 países ou Estados uniram-se numa coligação para combater o Estado
Islâmico. A maioria, incluindo Portugal, pouco mais fornecem do que apoio moral
ou logístico.
Os Estados Unidos fornecem o grosso do material e do pessoal bélico, juntamente
com França, Holanda e Canadá, mas vários países árabes também participam,
incluindo o Bahrein, Jordânia, Qatar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos. O
Reino Unido participa também com material de vigilância.
A acção desta coligação limita-se a ataques aéreos às posições do EI, sem
qualquer presença no terreno, mas tem havido coordenação com as forças curdas
que lutam contra os islamitas.
Como é que o Estado Islâmico se financia?
As origens do grupo são algo obscuras, mas há indícios de que tenha sido
formado com o apoio de pessoas influentes da Arábia Saudita e do Qatar, como
forma de atacar o regime de Bashar al-Assad (Síria).
Actualmente e oficialmente, os dois países rejeitam os métodos e a doutrina do
Estado Islâmico, e ambos participam na coligação internacional formada para o
atacar.
O Estado Islâmico alega ter tanto ouro que já anunciou que vai
cunhar moeda, de ouro maciço, prata e cobre, que deverá entrar em
circulação em 2015.
Que crimes comete o Estado Islâmico?
As atrocidades cometidas pelos membros do EI são incontáveis, mas as mais
mediáticas terão sido as decapitações de americanos, ingleses e japoneses
que foram filmadas e divulgadas "online". Mas as execuções menos
mediáticas são comuns: incluem decapitações, lapidações e fuzilamentos.
O castigo reservado aos homossexuais é serem lançados do topo do edifício mais
alto das redondezas.
Todos estes crimes são regularmente filmados e divulgados nas redes sociais.
Num caso que mereceu bastante atenção, a execução de dois alegados espiões
é levada
a cabo por uma criança que aparente não ter mais do que 12 anos.
O grupo tornou-se mais conhecido quando conseguiu ocupar Mossul. Na altura foram
massacrados todos os soldados apanhados vivos, depositados em valas comuns ou
exibidos como troféus.
No avanço que se seguiu no Iraque foram alvos particulares os membros da
comunidade cristã e os yazidis, que vivem na região do Iraque conhecida como o
vale de Nínive e que não dispunham sequer de milícias de defesa.
Houve vários massacres de cristãos, mas os yazidis poderão mesmo
ter sofrido mais. Cercados numa montanha, houve relatos de crianças a morrer de
fome e de sede. As mulheres capturadas foram transformadas em escravas e
violadas, por vezes dezenas de vezes por dia. Quem conseguiu escapar procurou
refúgio na capital do Curdistão iraquiano.
Os membros do Estado Islâmico fazem questão de filmar e publicitar bem as suas
atrocidades. Em Raqqa, na Síria, onde o grupo tem a sua sede, há cabeças
colocadas em estacas e recuperou-se a crucifixão como forma de punição.
[Artigo actualizado a 1
de Fevereiro de 2015]
In Radio renascença, 28-10-2014 15:05
por Filipe d'Aville
Sajida al-Rishawi, a mulher suicida que a Jordânia
tentou trocar pelo piloto sequestrado
A Jordânia tentou, sem sucesso, negociar a libertação do piloto Moaz
al-Kasasbeh, propondo trocá-lo por Sajida al-Rishawi, uma mulher bombista
suicida condenada à morte pelo envolvimento no ataque a um hotel em Amã, em
2005.
![]() |
AFP / Getty Images |
No dia 9 de novembro do ano de 2005, a iraquiana Sajida al-Rishawi, de 35
anos, casada dias antes com Ali Hussein al-Chammari, permitiu que o marido lhe
ocultasse no corpo um cinto de explosivos. Os dois dirigiram-se de seguida ao
hotel Radisson, na cidade de Amã, capital da Jordânia.
No salão de dança celebrava-se o casamento de Ashraf Akhras e Nadia
Al-Alami, que decorria naquela unidade de cinco estrelas com a presença de 900
convidados, homens, mulheres e crianças, tanto palestinianos como jordanos. Conforme
instruída, à hora combinada Sajida pressiona o gatilho mecânico do dispositivo
explosivo, mas nada acontece. Aborrecido, o marido terá empurrado a mulher para
fora do salão. O homem sobe então para o tampo de uma mesa e detona outra bomba
que trazia atada à sua cintura.
"O meu marido detonou a sua bomba. Eu também tentei detonar a minha,
mas falhei", disse Rishawi à televisão da Jordânia, em 2005, sem grande
emoção. "As pessoas corriam, eu saí dali correndo com elas."
Morreram 38 pessoas na explosão, entre as quais os dois pais dos noivos.
Muitas outras sofreram ferimentos. A sala de baile ficou destruída, mobília e
vidros de portas e janelas estilhaçados, os painéis do teto vieram parar ao
chão.
Praticamente ao mesmo tempo, noutros dois hotéis de cinco estrelas da
cidade (Grand Hyatt e Days Inn), idênticas detonações fizeram-se sentir,
aumentando o número de mortos para cerca de 60 civis, naquela que mais tarde
ficou conhecida como uma bem coordenada série de ataques suicidas por bomba
perpetrados em hotéis na cidade de Amã.
O grupo terrorista islâmico Al-Qaeda chamou a si a autoria dos ataques,
afirmando que quatro bombistas suicidas, inclusive uma dupla marido e mulher,
tinham estado envolvidos nessas intervenções. Só nesse momento as autoridades
locais ficaram a saber da existência de um quarto elemento terrorista, do sexo
feminino, que não se encontrava entre os estraçalhados corpos dos outros
suicidas.
Iniciada a busca por esse "sobrevivente", Rishawi acabou presa
quatro dias após os ataques. Só durante a sua confissão é que ficou a saber-se
que o artefacto explosivo que escondia não funcionou.
Sentenciada à morte em 2006, Sajida al-Rishawi, agora com 44 anos, não é
vista desde então. Permanecerá presa na Jordânia e deverá estar viva - no mesmo
ano em que foi condenada, o país impôs um adiamento a qualquer pena capital.
Mas as execuções foram retomadas no mês passado.
Esta terça-feira, o Estado Islâmico divulgou um vídeo em que mostra o
piloto jordano a ser queimado vivo. Segundo a televisão pública da Jordânia, a
execução aconteceu a 3 de janeiro, apesar de o vídeo só ter sido divulgado
agora.
In Expresso |
17:52 Terça feira, 3 de fevereiro de 2015
Estado Islâmico divulga vídeo em
que queima vivo piloto jordano
Trata-se do piloto-aviador jordano que caiu em território sírio a 24 de
dezembro. Forças Armadas da Jordânia confirmam a autenticidade do vídeo.
Um vídeo divulgado esta terça-feira por militantes do autodenominado Estado
Islâmico mostra alegadamente o piloto-aviador jordano Moaz al-Kasasbeh, 26
anos, a ser queimado vivo. No vídeo é possível ver um homem numa jaula envolto
em chamas.
Segundo a agência Reuters, o Estado-Maior das Forças Armadas jordanas já
terá informado a família de Moaz al-Kasasbeh da sua morte. A televisão pública
da Jordânia avança que a execução do piloto terá acontecido a 3 de janeiro,
apesar de o vídeo ter sido divulgado esta terça-feira.
O tenente Moaz al-Kasasbeh foi capturado a 24 de dezembro depois de o F-16
por si pilotado ter caído em Raqqa, no norte da Síria. O militar cumpria uma
missão no âmbito da coligação internacional contra o Estado Islâmico, liderada
pelos Estados Unidos.
A Jordânia tentou, sem sucesso, negociar a libertação do piloto, propondo
trocar Moaz al-Kasasbeh por Sajida al-Rishawi , uma mulher bombista suicida condenada à
morte pelo envolvimento no ataque a um hotel em Amã, em 2005.
O vídeo divulgado esta terça-feira, com 22 minutos e 34 segundo, foi
colocado inicialmente numa conta na rede social Twitter, entretanto bloqueada,
usada habitualmente pela máquina de propaganda do autodenominado Estado
Islâmico. Foi realizado ao estilo de um documentário, onde nos primeiros 16
minutos é possível ver o piloto jordano a caminhar entre destroços de alegados
bombardeamentos da coligação internacional.
O vídeo já foi entretanto carregado para o YouTube - várias vezes -, tendo
sido posteriormente retirado.
In Expresso |
16:59 Terça feira, 3 de fevereiro de 2015
In R Renascença de 03-02-2015 19:31
por Filipe d’Avillez
"Sabes o que o Estado Islâmico vai fazer contigo?" "Sim, vão matar-me"
Imolação de refém criticada por simpatizantes do
Estado Islâmico
Muath Al-Kasasbeh, piloto jordano queimado vivo pelo
Estado Islâmico.
![]() |
Foto: DR |
Hà quem diga que este tipo de execução é expressamente
proibida pelo islão, mas outros adeptos da jihad justificam-se com base no
Alcorão.
O método usado para assassinar
o piloto jordano Mu'ath Al-Kasasbeh - queimá-lo vivo - foi tão
violento que mesmo muitos simpatizantes do autodenominado Estado Islâmico estão
a questioná-lo nas redes sociais.
Ao contrário da maioria dos outros reféns e presos do Estado Islâmico, que
foram decapitados ou mortos com tiros na nuca, Kasasbeh foi colocado dentro de
uma jaula e queimado vivo.
O acto está a gerar muita discussão nas redes sociais. De fora a condenação é
unânime, mas mesmo entre os simpatizantes do Estado Islâmico há opiniões
diferentes.
Pela sua própria natureza, de autoproclamado expoente máximo do islão, o Estado
Islâmico procura justificar todos os seus actos com citações do Alcorão ou dos
hadites, os ditos de Maomé que foram sendo passados oralmente até serem
codificados e que formam, juntamente com o livro sagrado do islão, os dois pilares
de todo o sistema jurídico islâmico.
É precisamente num dos hadites que pegam os que questionam a forma como
Kasasbeh foi morto. O dito em questão afirma que Maomé proibiu expressamente
que alguém seja morto pelo fogo, uma vez que essa forma de castigo estaria
reservada a Deus.
O hadite 6922, coligido por Muhammad al-Bukhari, diz: "Alguns ateus foram
levados a Ali e ele queimou-os. A notícia chegou a Ibn Abbas, que disse: 'Se
fosse eu não os teria queimado, uma vez que o Mensageiro de Deus o proibiu,
dizendo: 'Não castigues ninguém com o castigo de Deus (fogo)'".
Segundo este artigo, o acto levado a cabo pelo Estado Islâmico poderia mesmo
ser considerado herético e deveria ser condenado por todos os muçulmanos.
Contudo, os simpatizantes e membros do Estado Islâmico apontam para outras
tradições de sentido contrário, incluindo uma citação do Alcorão, a autoridade
máxima, que diz que os agressores deviam ser mortos com o mesmo instrumento que
utilizaram para ferir as suas vítimas. No caso do piloto, esse instrumento é o
fogo, alegam, uma vez que ele bombardeava os territórios ocupados pelo grupo
terrorista: "Quando castigardes, fazei-o do mesmo modo como fostes
castigados".
Os defensores da imolação citam também outro alegado dito do profeta, desta
feita proferido por um dos seus companheiros, Al-Baraa ibn Malik al-Ansari, que
terá atribuído a Maomé o seguinte: "Quem queimar um muçulmano até à morte,
também o queimaremos; e quem afogar um muçulmano, também o afogaremos".
Mal surgiram as primeiras imagens da morte do piloto jordano, muitos
simpatizantes do Estado Islâmico começaram a publicar nas redes sociais imagens
de crianças feridas e desfiguradas, alegadamente devido a bombardeamentos
levados a cabo pela coligação internacional em Raqqa e outras cidades ocupadas
pelos islamitas, justificando dessa forma o acto.
Outros confessaram que o vídeo, que mostra o soldado aos gritos enquanto é
queimado vivo, os tinha deixado mal-dispostos, mas relativizaram: é uma questão
de hábito, disseram.
Contudo, alguns especialistas que seguem o Estado Islâmico, consideram que a
brutalidade deste acto apenas servirá para hostilizar as bases de apoio do
grupo.
por Filipe d’Avillez
Lola
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