terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Estado Islâmico



O Estado Islâmico




O que é o Estado Islâmico? 


Para começar, não é um Estado, ou pelo menos não é reconhecido internacionalmente como tal. E muitos muçulmanos rejeitam que seja sequer islâmico. 


Mas o Estado Islâmico (EI), como se autodenomina, é uma realidade a ter em conta no panorama do terrorismo mundial e neste momento apresenta-se como a principal ameaça à estabilidade do Médio Oriente. 

Liderado por Abu Bakr al-Baghdadi, o EI ocupa de facto um território que abrange grande parte do Iraque e da Síria. Nesse terreno aplica uma versão radical da lei islâmica, persegue todos os não-sunitas e luta e gere o espaço como se fosse, de facto, um Estado, cobrando impostos e assegurando serviços básicos. 

Em Junho de 2014 o grupo anunciou a restauração de um califado e nomeou al-Baghdadi califa, o que faz dele, aos olhos do grupo, o líder político e espiritual de todos os muçulmanos no mundo. 

Embora a sua autoridade tenha sido aceite por alguns grupos terroristas e indivíduos, nenhum líder muçulmano de peso nem qualquer país deu crédito ao "califa". 

Estado Islâmico é o mais recente nome de um grupo que já teve vários outros títulos, incluindo Estado Islâmico do Iraque e do Levante. Muitos muçulmanos rejeitam o nome Estado Islâmico e o grupo ainda é frequentemente designado pela sigla inglesa ISIS (Islamic State of Iraque and Syria). Em árabe é também conhecido como Daesh, sobretudo por parte dos seus críticos. 

Que território ocupa? 

O Estado Islâmico ocupa uma faixa de território que abrange parte da Síria e do Iraque. No Iraque a sua presença é particularmente forte em toda a parte ocidental do país, faltando apenas partes da Curdistão iraquiano, no nordeste. Ocupa ainda a cidade de Mossul, a segunda maior do país, e está a poucos quilómetros de Bagdad. 

Na Síria o grupo ocupa uma faixa que corta o país ao meio. No nordeste há uma zona triangular que faz fronteira com a Turquia e com o Iraque que não está dominado pelo EI, mas, com a excepção de Kobani e a zona circundante, o grupo domina centena de quilómetros da fronteira com a Turquia. 

Quem são os militantes do Estado Islâmico? 

A maioria são árabes, das comunidades sunitas do Iraque e da Síria. Mas há muitos estrangeiros nas fileiras, incluindo cerca de 2.500 tunisinos. Estima-se que haja ainda cerca de 100 cidadãos americanos, bem como 500 britânicos. Só europeus serão perto de 2.000 e existe um importante contingente de homens de expressão russa, de países como a Chechénia e Cazaquistão.

Há relato de cerca de uma dúzia de portugueses no grupo, incluindo algumas mulheres. Pelo menos três portugueses ou luso-descendentes já terão morrido ao serviço do Estado Islâmico. Sandro "Funa" e Mikael Batista foram alegadamente mortos durante a luta por Kobani e José Parente morreu num atentado suicída no Iraque.

Em Outubro de 2014, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, disse à Renascença que há informações de que dois ou três tencionam abandonar o grupo e voltar para Portugal, mas não entrou em mais detalhes, nem especificou o que será feito caso isso se concretize. 

Em Janeiro de 2015 foi revelada a existência de um português, natural da Ilha Terceira, nos Açores, que estaria a planear partir para a Síria para se juntar ao Estado Islâmico. Mas "Abdul", nome que adoptava nas redes sociais, foi interrogado pela Polícia Judiciária, que terá tomado conhecimento das suas intenções, e constituído arguido.

Contra quem luta o Estado Islâmico? 

Neste momento o EI luta contra todas as outras facções no território, incluindo os exércitos da Síria e do Iraque, milícias xiitas e outros grupos da oposição ao regime na Síria. 

Durante algum tempo o EI estava aliado à Al-Qaeda, mas, desde que foi expulso da rede terrorista islâmica internacional, os seus militantes têm combatido também contra a Frente Al-Nusra, representante da Al-Qaeda na Síria. 

Em inícios de 2015 os combates mais intensos travam-se com as forças curdas, nomeadamente na Síria e no Iraque, nas regiões de Kobani, na fronteira síria com a Turquia e nos arredores de Mossul, Sinjar e Kirkuk, no Iraque.

A cidade de Kobani resiste como um dos últimos enclaves naquela zona da Síria. Ao fim de quase cinco meses de intensos combates, as forças curdas, apoiadas por ataques aéreos levados a cabo por forças internacionais, conseguiram expulsar o Estado Islâmico da cidade, embora a ameaça permaneça nos arredores. A cidade tornou-se assim um símbolo da resistência ao radicalismo islâmico. 

Fora do seu território, o Estado Islâmico promove ataques contra todos os países ocidentais, nomeadamente os que fazem parte da coligação internacional. Alguns destes atentados, como o da Austrália e os do Canadá são levados a cabo por "lobos solitários", que não têm contacto próximo ou regular com quadros do Estado Islâmico mas se identificam com a causa e são inspirados por este. Mas há também ataques mais bem organizados, como os que recentemente tiveram como alvo as forças governamentais do Egipto, na região do Sinai.

Mais de 60 países ou Estados uniram-se numa coligação para combater o Estado Islâmico. A maioria, incluindo Portugal, pouco mais fornecem do que apoio moral ou logístico. 

Os Estados Unidos fornecem o grosso do material e do pessoal bélico, juntamente com França, Holanda e Canadá, mas vários países árabes também participam, incluindo o Bahrein, Jordânia, Qatar, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos. O Reino Unido participa também com material de vigilância. 

A acção desta coligação limita-se a ataques aéreos às posições do EI, sem qualquer presença no terreno, mas tem havido coordenação com as forças curdas que lutam contra os islamitas. 

Como é que o Estado Islâmico se financia?

As origens do grupo são algo obscuras, mas há indícios de que tenha sido formado com o apoio de pessoas influentes da Arábia Saudita e do Qatar, como forma de atacar o regime de Bashar al-Assad (Síria).

Actualmente e oficialmente, os dois países rejeitam os métodos e a doutrina do Estado Islâmico, e ambos participam na coligação internacional formada para o atacar. 

Estima-se que a principal fonte de rendimento do Estado Islâmico seja o DINHEIROobtido pela venda, no mercado negro, de petróleo extraído da cerca de uma dezena de poços que o grupo controla, sobretudo no Iraque, e que rendem perto de dois milhões de euros por dia. Mas os islamitas recebem também bastante dinheiro dos impostos que cobrem às populações que vivem nas zonas controladas por eles e, muito possivelmente, de resgates cobrados pela libertação de pessoas raptadas. O dinheiro e ouro pilhado de bancos em cidades como Mossul também reforçou a posição económica do EI, considerado actualmente o grupo terrorista mais rico do mundo.

O Estado Islâmico alega ter tanto ouro que já anunciou que vai cunhar moeda, de ouro maciço, prata e cobre, que deverá entrar em circulação em 2015.

Que crimes comete o Estado Islâmico? 

As atrocidades cometidas pelos membros do EI são incontáveis, mas as mais mediáticas terão sido as decapitações de americanos, ingleses e japoneses que foram filmadas e divulgadas "online". Mas as execuções menos mediáticas são comuns: incluem decapitações, lapidações e fuzilamentos. 

O castigo reservado aos homossexuais é serem lançados do topo do edifício mais alto das redondezas. 

Todos estes crimes são regularmente filmados e divulgados nas redes sociais. Num caso que mereceu bastante atenção, a execução de dois alegados espiões é levada a cabo por uma criança que aparente não ter mais do que 12 anos.

O grupo tornou-se mais conhecido quando conseguiu ocupar Mossul. Na altura foram massacrados todos os soldados apanhados vivos, depositados em valas comuns ou exibidos como troféus. 

No avanço que se seguiu no Iraque foram alvos particulares os membros da comunidade cristã e os yazidis, que vivem na região do Iraque conhecida como o vale de Nínive e que não dispunham sequer de milícias de defesa. 

Houve vários massacres de cristãos, mas os yazidis poderão mesmo ter sofrido mais. Cercados numa montanha, houve relatos de crianças a morrer de fome e de sede. As mulheres capturadas foram transformadas em escravas e violadas, por vezes dezenas de vezes por dia. Quem conseguiu escapar procurou refúgio na capital do Curdistão iraquiano. 

Os membros do Estado Islâmico fazem questão de filmar e publicitar bem as suas atrocidades. Em Raqqa, na Síria, onde o grupo tem a sua sede, há cabeças colocadas em estacas e recuperou-se a crucifixão como forma de punição. 

[Artigo actualizado a 1 de Fevereiro de 2015]



In Radio renascença, 28-10-2014 15:05
 por Filipe d'Aville


Foto youtube

Sajida al-Rishawi, a mulher suicida que a Jordânia tentou trocar pelo piloto sequestrado


A Jordânia tentou, sem sucesso, negociar a libertação do piloto Moaz al-Kasasbeh, propondo trocá-lo por Sajida al-Rishawi, uma mulher bombista suicida condenada à morte pelo envolvimento no ataque a um hotel em Amã, em 2005. 
    



 AFP / Getty Images

No dia 9 de novembro do ano de 2005, a iraquiana Sajida al-Rishawi, de 35 anos, casada dias antes com Ali Hussein al-Chammari, permitiu que o marido lhe ocultasse no corpo um cinto de explosivos. Os dois dirigiram-se de seguida ao hotel Radisson, na cidade de Amã, capital da Jordânia.
No salão de dança celebrava-se o casamento de Ashraf Akhras e Nadia Al-Alami, que decorria naquela unidade de cinco estrelas com a presença de 900 convidados, homens, mulheres e crianças, tanto palestinianos como jordanos. Conforme instruída, à hora combinada Sajida pressiona o gatilho mecânico do dispositivo explosivo, mas nada acontece. Aborrecido, o marido terá empurrado a mulher para fora do salão. O homem sobe então para o tampo de uma mesa e detona outra bomba que trazia atada à sua cintura.
"O meu marido detonou a sua bomba. Eu também tentei detonar a minha, mas falhei", disse Rishawi à televisão da Jordânia, em 2005, sem grande emoção. "As pessoas corriam, eu saí dali correndo com elas."
Morreram 38 pessoas na explosão, entre as quais os dois pais dos noivos. Muitas outras sofreram ferimentos. A sala de baile ficou destruída, mobília e vidros de portas e janelas estilhaçados, os painéis do teto vieram parar ao chão.
Praticamente ao mesmo tempo, noutros dois hotéis de cinco estrelas da cidade (Grand Hyatt e Days Inn), idênticas detonações fizeram-se sentir, aumentando o número de mortos para cerca de 60 civis, naquela que mais tarde ficou conhecida como uma bem coordenada série de ataques suicidas por bomba perpetrados em hotéis na cidade de Amã.
O grupo terrorista islâmico Al-Qaeda chamou a si a autoria dos ataques, afirmando que quatro bombistas suicidas, inclusive uma dupla marido e mulher, tinham estado envolvidos nessas intervenções. Só nesse momento as autoridades locais ficaram a saber da existência de um quarto elemento terrorista, do sexo feminino, que não se encontrava entre os estraçalhados corpos dos outros suicidas.
Iniciada a busca por esse "sobrevivente", Rishawi acabou presa quatro dias após os ataques. Só durante a sua confissão é que ficou a saber-se que o artefacto explosivo que escondia não funcionou. 
Sentenciada à morte em 2006, Sajida al-Rishawi, agora com 44 anos, não é vista desde então. Permanecerá presa na Jordânia e deverá estar viva - no mesmo ano em que foi condenada, o país impôs um adiamento a qualquer pena capital. Mas as execuções foram retomadas no mês passado.
Esta terça-feira, o Estado Islâmico divulgou um vídeo em que mostra o piloto jordano a ser queimado vivo. Segundo a televisão pública da Jordânia, a execução aconteceu a 3 de janeiro, apesar de o vídeo só ter sido divulgado agora. 

In Expresso |
17:52 Terça feira, 3 de fevereiro de 2015






Estado Islâmico divulga vídeo em que queima vivo piloto jordano


Trata-se do piloto-aviador jordano que caiu em território sírio a 24 de dezembro. Forças Armadas da Jordânia confirmam a autenticidade do vídeo.
    






Um vídeo divulgado esta terça-feira por militantes do autodenominado Estado Islâmico mostra alegadamente o piloto-aviador jordano Moaz al-Kasasbeh, 26 anos, a ser queimado vivo. No vídeo é possível ver um homem numa jaula envolto em chamas. 
Segundo a agência Reuters, o Estado-Maior das Forças Armadas jordanas já terá informado a família de Moaz al-Kasasbeh da sua morte. A televisão pública da Jordânia avança que a execução do piloto terá acontecido a 3 de janeiro, apesar de o vídeo ter sido divulgado esta terça-feira. 
O tenente Moaz al-Kasasbeh foi capturado a 24 de dezembro depois de o F-16 por si pilotado ter caído em Raqqa, no norte da Síria. O militar cumpria uma missão no âmbito da coligação internacional contra o Estado Islâmico, liderada pelos Estados Unidos.
A Jordânia tentou, sem sucesso, negociar a libertação do piloto, propondo trocar Moaz al-Kasasbeh por Sajida al-Rishawi , uma mulher bombista suicida condenada à morte pelo envolvimento no ataque a um hotel em Amã, em 2005.
O vídeo divulgado esta terça-feira, com 22 minutos e 34 segundo, foi colocado inicialmente numa conta na rede social Twitter, entretanto bloqueada, usada habitualmente pela máquina de propaganda do autodenominado Estado Islâmico. Foi realizado ao estilo de um documentário, onde nos primeiros 16 minutos é possível ver o piloto jordano a caminhar entre destroços de alegados bombardeamentos da coligação internacional.

O vídeo já foi entretanto carregado para o YouTube - várias vezes -, tendo sido posteriormente retirado.


In Expresso |
16:59 Terça feira, 3 de fevereiro de 2015





  "Sabes o que o Estado Islâmico vai fazer contigo?" "Sim, vão matar-me"







Imolação de refém criticada por simpatizantes do Estado Islâmico

Muath Al-Kasasbeh, piloto jordano queimado vivo pelo Estado Islâmico.



 Foto: DR

Hà quem diga que este tipo de execução é expressamente proibida pelo islão, mas outros adeptos da jihad justificam-se com base no Alcorão.

O método usado para assassinar o piloto jordano Mu'ath Al-Kasasbeh - queimá-lo vivo - foi tão violento que mesmo muitos simpatizantes do autodenominado Estado Islâmico estão a questioná-lo nas redes sociais. 


Ao contrário da maioria dos outros reféns e presos do Estado Islâmico, que foram decapitados ou mortos com tiros na nuca, Kasasbeh foi colocado dentro de uma jaula e queimado vivo. 

O acto está a gerar muita discussão nas redes sociais. De fora a condenação é unânime, mas mesmo entre os simpatizantes do Estado Islâmico há opiniões diferentes. 

Pela sua própria natureza, de autoproclamado expoente máximo do islão, o Estado Islâmico procura justificar todos os seus actos com citações do Alcorão ou dos hadites, os ditos de Maomé que foram sendo passados oralmente até serem codificados e que formam, juntamente com o livro sagrado do islão, os dois pilares de todo o sistema jurídico islâmico. 

É precisamente num dos hadites que pegam os que questionam a forma como Kasasbeh foi morto. O dito em questão afirma que Maomé proibiu expressamente que alguém seja morto pelo fogo, uma vez que essa forma de castigo estaria reservada a Deus. 

O hadite 6922, coligido por Muhammad al-Bukhari, diz: "Alguns ateus foram levados a Ali e ele queimou-os. A notícia chegou a Ibn Abbas, que disse: 'Se fosse eu não os teria queimado, uma vez que o Mensageiro de Deus o proibiu, dizendo: 'Não castigues ninguém com o castigo de Deus (fogo)'". 

Segundo este artigo, o acto levado a cabo pelo Estado Islâmico poderia mesmo ser considerado herético e deveria ser condenado por todos os muçulmanos. 

Contudo, os simpatizantes e membros do Estado Islâmico apontam para outras tradições de sentido contrário, incluindo uma citação do Alcorão, a autoridade máxima, que diz que os agressores deviam ser mortos com o mesmo instrumento que utilizaram para ferir as suas vítimas. No caso do piloto, esse instrumento é o fogo, alegam, uma vez que ele bombardeava os territórios ocupados pelo grupo terrorista: "Quando castigardes, fazei-o do mesmo modo como fostes castigados". 

Os defensores da imolação citam também outro alegado dito do profeta, desta feita proferido por um dos seus companheiros, Al-Baraa ibn Malik al-Ansari, que terá atribuído a Maomé o seguinte: "Quem queimar um muçulmano até à morte, também o queimaremos; e quem afogar um muçulmano, também o afogaremos". 

Mal surgiram as primeiras imagens da morte do piloto jordano, muitos simpatizantes do Estado Islâmico começaram a publicar nas redes sociais imagens de crianças feridas e desfiguradas, alegadamente devido a bombardeamentos levados a cabo pela coligação internacional em Raqqa e outras cidades ocupadas pelos islamitas, justificando dessa forma o acto. 

Outros confessaram que o vídeo, que mostra o soldado aos gritos enquanto é queimado vivo, os tinha deixado mal-dispostos, mas relativizaram: é uma questão de hábito, disseram.

Contudo, alguns especialistas que seguem o Estado Islâmico, consideram que a brutalidade deste acto apenas servirá para hostilizar as bases de apoio do grupo.



In R Renascença de 03-02-2015 19:31
 por Filipe d’Avillez






                                                Lola

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