quarta-feira, 4 de março de 2015

Kant e a mentira






Kant e a mentira


Kant considera que o valor moral da acção depende da submissão da vontade a motivos de ordem racional: agir apenas por dever, isto é por respeito à lei moral (fazer apenas aquilo que é universalizável e não instrumentaliza as pessoas).

Todavia, em muitas circunstâncias, agimos por outras motivações, nomeadamente sentimentais ou afectivas, e não por simples respeito ao dever. E sentimos que está certo ter essas motivações afectivas e seria errado e “desumano” não as ter.

Se o valor moral da acção depende exclusivamente da intenção (a que apenas cada pessoa tem acesso) e não das consequências do acto praticado, como podemos saber se esta esconde ou não motivos egoístas? Se Kant tiver razão, no limite, não poderemos avaliar o valor moral das acções das outras pessoas.

A lei moral diz respeito apenas à forma como devemos agir em qualquer situação. No entanto, quando existe um conflito de deveres, há situações em que a aplicação da lei moral se revela problemática – durante a Segunda Guerra Mundial os pescadores holandeses mentiam aos nazis para proteger os judeus, que levavam escondidos, possibilitando que estes acedessem a um país neutral e assim pudessem salvar a vida (1). Neste caso as consequências não terão importância? Os pescadores deveriam obedecer à lei moral e dizer a verdade? Parece profundamente errado responder que sim. Neste caso, a mentira parece ser algo moralmente correcto, aquilo que em Inglês se chama “white lie”.


Que outras razões podemos apresentar para discordar de Kant?

Ou, pelo contrário, terá este filósofo razão?


(1) Este exemplo é apresentado por James Rachels no livro Elementos de Filosofia moral (Edições Gradiva, pág. 184) 

In Logosfera




Lola

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