Kant e a mentira
Kant considera que o valor moral da acção depende da submissão da
vontade a motivos de ordem racional: agir apenas por dever, isto é por respeito
à lei moral (fazer apenas aquilo que é universalizável e não instrumentaliza as
pessoas).
Todavia, em muitas circunstâncias, agimos por outras motivações,
nomeadamente sentimentais ou afectivas, e não por simples respeito ao dever. E
sentimos que está certo ter essas motivações afectivas e seria errado e
“desumano” não as ter.
Se o valor moral da acção depende exclusivamente da intenção (a
que apenas cada pessoa tem acesso) e não das consequências do acto praticado,
como podemos saber se esta esconde ou não motivos egoístas? Se Kant tiver
razão, no limite, não poderemos avaliar o valor moral das acções das outras
pessoas.
A lei moral diz respeito apenas à forma como devemos agir em
qualquer situação. No entanto, quando existe um conflito de deveres, há
situações em que a aplicação da lei moral se revela problemática – durante a
Segunda Guerra Mundial os pescadores holandeses mentiam aos nazis para proteger
os judeus, que levavam escondidos, possibilitando que estes acedessem a um país
neutral e assim pudessem salvar a vida (1). Neste caso as consequências não
terão importância? Os pescadores deveriam obedecer à lei moral e dizer a
verdade? Parece profundamente errado responder que sim. Neste caso, a mentira
parece ser algo moralmente correcto, aquilo que em Inglês se chama “white lie”.
Que outras razões podemos apresentar para discordar de Kant?
Ou, pelo contrário, terá este filósofo razão?
(1) Este
exemplo é apresentado por James Rachels no livro Elementos de Filosofia
moral (Edições Gradiva, pág. 184)
In Logosfera
Lola
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