terça-feira, 31 de março de 2015

Kant: ideias e objecções





Kant: ideias e objecções

A Ética de Kant é uma ética deontológica, isto significa que estabelece deveres absolutos que não têm excepção e que têm necessariamente de ser cumpridos se queremos que as nossas acções sejam correctas moralmente correctas
As acções correctas são as realizadas por dever. Não é o resultado das acções que interessa a Kant, nem as consequências que poderão advir, pois o que conta na acção são as intenções, os princípios que o sujeito segue.

A ética Kantiana é, por isso mesmo, uma ética do dever que nos diz COMO DEVEMOS AGIR e não O QUE DEVEMOS FAZER!

Porquê?

A ética de Kant é racional, formal e universal - não tem conteúdo!


Então que tipos de acções existem?
 Há acções contra o dever e essas são proibidas moralmente. (matar inocentes) e em nenhuma circunstância permitidas. São imorais e ilegais!
 Acções conforme ao dever, estão de acordo com o dever mas a sua intenção não é moral, isto é a intenção é satisfazer uma necessidade, um interesse ou uma inclinação. São imorais e legais!
 Por fim as acções por dever e respeito absoluto pela lei, essas são acções  morais e o sujeito que as pratica é um sujeito moral. São morais e legais!

Ora, como sabemos uma mesma acção pode ser praticada com diferentes intenções: posso ajudar um amigo por compaixão, para obter um benefício (por exemplo, para ficar bem visto) ou por sentir que tenho esse dever.
Para determinar o valor moral de uma acção é preciso saber a intenção com que foi praticada porque a razão é que determina o fim da acção e é o fim da acção que é moral, e porque só uma vontade livre de inclinações e determinações subjectivas poderà garantir  o valor moral da acção, o seu valor universal.
Segundo Kant, ajudar um amigo só tem valor moral se isso tiver sido feito por dever.
A ética kantiana é um sistema de regras absolutas;
As regras morais devem ser respeitadas independentemente das consequências;
As regras morais são leis que a razão estabelece para todos os seres racionais.
As obrigações morais são absolutas porque não estão sujeitas a excepções, mesmo que ao aplicá-las resultem consequências negativas para o sujeito. 
Só assim garantimos a universalidade da lei moral.

A obrigação de não mentir não varia consoante as circunstâncias, por exemplo, ser  respeitada em algumas circunstâncias e desrespeitada  noutros.

E porquê?


 é que essa obrigação impõe-se como uma lei do ser racional ao qual ele tem, necessariamente de obedecer, pois é fruto de uma vontade autonoma e não heteronoma.
Assim poderemos dizer que as obrigações morais não são impostas por Deus nem resultam dos nossos sentimentos.
Kant defende que só somos realmente livres se  nós próprios criarmos as leis a que  devemos obedecer - somos livres de agir por dever respeitando a lei moral!


Que razão teríamos de não obedecer à própria lei do qual somos os autores?

A lei moral, em Kant, assume a forma de imperativo!

Temos, no entanto, de distinguir dois tipos de imperativos e notar aquele que "serve" à moralidade e aquele que não se liga à moralidade por é condicional!

IMPERATIVOS HIPOTÉTICOS E CATEGÓRICOS
Uma obrigação (ou imperativo) é hipotética quando existe apenas em certas condições, mas não noutras - é condicional!
Serão as nossas obrigações morais apenas hipotéticas? Porque é que o imperativo hipotético não é o imperativo da moralidade?
Se a moral fosse seguir regras hipotéticas, só teríamos, por exemplo, a obrigação de ajudar os outros em certas condições, não em todas. 

Um exemplo:

 Torno-me amigo do Paulo para conseguir, com 

mais facilidade, um lugar na empresa do seu pai! 

Ora, segundo Kant,  temos o dever de ser amigos em todas as circunstâncias, independentemente dos  nossos desejos.
A obrigação de ajudar os outros não deixa de existir porque deixámos, por exemplo, de querer agradar. Continua a existir mesmo nesse caso.
Kant conclui que a obrigação de não mentir (como todas as outras obrigações morais), não são hipotéticas - são ABSOLUTAS!

Mentir, roubar ou matar pessoas inocentes, não é permissível pois as máximas destas acções não são universalizáveis:

As obrigações morais particulares como não mentir, não roubar ou não matar pessoas inocentes, têm em comum o facto de as suas máximas (o lado subjectivo do querer, o que quero para mim)  não poderem ser universalizáveis.
Esta característica comum reflecte a nossa obrigação moral básica: agir segundo máximas que todos possam também seguir, logo que possam ser universalizàveis.
Esta obrigação moral é o fundamento de todas as nossas obrigações morais!
Trata-se de respeitar a lei moral que se exprime no IMPERATIVO CATEGÓRICO.






Que reflexão nos merece a Ética de Kant?



 OBJECÇÕES À MORAL KANTIANA

Primeira
 Kant pensava que a exigência de praticar apenas acções cujas máximas pudessem ser universalizadas garantia que as regras morais eram absolutas.

 Elisabeth Ancombe uma filósofa inglesa do século XX (1919—2001) mostrou que Kant estar enganado neste ponto. 

Ver aqui


Gertrude Elizabeth Margaret Ancombe was born on March 18, 1919, in Limerick, Ireland.


 O respeito pelo imperativo categórico não implica a obrigação de não mentir em todas as situações


 A ideia de que temos a obrigação de não mentir seja em que circunstância for não é fácil de defender.

Kant acreditava que as regras morais serem absolutas é uma consequência de apenas serem permitidas as acções cujas máximas podem ser universalizadas.

Isto levou-o a concluir que obrigações como respeitar a palavra dada ou não mentir, não dependem das circunstâncias, sejam quais forem as consequências.


 Um exemplo pode mostrar que Kant não tem razão

 Durante a segunda guerra mundial, Helga esconde em sua 

casa uma amiga judia para evitar ser deportada para um 

campo de extermínio. Um dia, um oficial nazi bate à 

porta de Helga e pergunta onde está a sua amiga.


 Segundo Kant, Helga tinha o dever de dizer a verdade.
 A máxima “É permitido mentir” não pode, segundo Kant,  ser universalizável: se todos mentissem ninguém acreditaria em nada e mentir deixava a vida sem sentido.
 Mas a máxima “Mente na condição de isso permitir salvar a vida de Helga” não tem este defeito.

Poderá, mesmo assim, tornar-se  universal?


Segunda


Kant não responsabiliza o agente moral pelas consequências materiais da acção. Uma acção cuja intenção é boa,  pode ter  consequências nefastas. Mas esta acção de não mentir obedeceria ao dever embora saibamos que mas teria consequências graves para a amiga de Helga. Logo, poderemos acusar esta teoria de formal ou ideal. 



Num mundo ideal "não mentir" seria sempre obrigatório mas no mundo real, "não mentir" pode ter consequências  graves, das quais o agente moral é também responsável. 

Os deveres morais não podem depender das circunstâncias porque se assim fosse haveria sempre justificação para não se cumprirem e a moral seria uma mera ilusão. 

Mas o agente moral não é só responsável por si, também é responsável pelos outros e pela sua felicidade e bem estar. 

Esse princípio não é importante, porque considera Kant, não podemos legislar sobre a felicidade mas apenas e só sobre o que devemos fazer.

E porquê?

A FELICIDADE é um ideal da imaginação e não da razão! Ora, toda a ética Kantiana é racional!

TAREFAS:

1.O que são acções moralmente correctas?

2.Como distinguir uma acção moral de uma imoral?

3.O que distingue o imperativo categórico do imperativo hipotético?

4.Apresente as objecções à  Ética de Kant?

5. Atente no exemplo apresentado. Qual seria a obrigação de Helga? 


6. Concorda com esta obrigação?






                                              Lola

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