Atitude estética é a atitude desinteressada, fixada apenas no sentimento de prazer proporcionado pela perceção do objeto!
A atitude
estética, ou a «forma estética de contemplar o mundo», é geralmente contraposta
à atitude prática, na qual só interessa a utilidade do objecto em questão. O
verdadeiro negociante de terrenos que contempla uma paisagem só a pensar no
possível valor monetário do que vê não está a contemplar esteticamente a
paisagem. Para a contemplar dessa maneira teria de «a observar por observar»,
sem qualquer outra intenção — teria de saborear a experiência de observar a
própria paisagem, tomando atenção aos seus detalhes, em vez de utilizar o
objecto observado como um meio para atingir um certo fim.
A atitude
estética distingue-se também da atitude cognitiva. Os estudantes familiarizados
com a história da arquitectura são capazes de identificar rapidamente um edifício
ou umas ruínas no que diz respeito à sua época de construção e lugar de origem,
ou ao seu estilo e a outros aspectos visuais. Contemplam o edifício sobretudo
para aumentar os seus conhecimentos, e não para enriquecer a sua experiência
perceptiva. Este tipo de habilidade pode ser útil e importante, mas não está
necessariamente correlacionado com a capacidade de desfrutar a própria
experiência da contemplação do edifício. A capacidade analítica pode
eventualmente melhorar a experiência estética, mas pode também inibi-la. Quem
se interessa por arte devido a um objectivo profissional ou técnico está
particularmente sujeito a afastar-se da contemplação estética. Isto conduz-nos
directamente a outra distinção.
A forma
estética de observar é também diferente da forma personalizada de o fazer, na
qual o observador, em vez de contemplar o objecto estético para captar o que
este lhe oferece, considera antes a relação desse objecto consigo próprio. Quem
não dá atenção a uma obra musical, usando-a apenas como estímulo para uma
fantasia pessoal, acaba por não estar a ouvir esteticamente, mesmo que pareça o
contrário.
Disto
segue-se que muitos tipos de respostas aos objectos, incluindo às obras de
arte, ficam à margem do campo da estética. O orgulho de possuir uma obra de
arte, por exemplo, pode interferir na resposta estética. A pessoa que reage com
entusiasmo perante os seus convidados ao ouvir uma sinfonia no seu próprio
equipamento estereofónico, mas que não reage à interpretação da mesma sinfonia
quando a ouve através de um equipamento idêntico na casa do seu vizinho, não
está a ter uma resposta estética. O antiquário ou o director de museu — que ao
escolher uma obra de arte tem que ter presentes o seu valor histórico, fama e
época — pode sentir-se parcialmente influenciado pela apreciação do valor
estético, mas a sua atenção desvia-se necessariamente para factores não
estéticos. Do mesmo modo, se uma pessoa aprecia uma peça de teatro ou um
romance porque espera encontrar informações relativas à época e ao lugar em que
a obra foi escrita, está a substituir o interesse pela experiência estética
pelo interesse em adquirir conhecimentos. Se uma pessoa aprecia favoravelmente
uma determinada obra de arte por esta ser moralmente edificante ou por
«defender uma causa justa», está a confundir a atitude moral com a estética, o
que também ocorre se a condenar por motivos morais e não conseguir separar essa
censura da apreciação estética.
John Hospers
Tradução e adaptação de Pedro Galvão
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