John Locke e o Estado
O que se entende por
teorias contratualistas ?
São teorias que
defendem o estabelecimento de um acordo entre vários indivíduos, implicando compromissos
recíprocos. A este acordo entre os indivíduos chama-se pacto ou contrato social
(porque estabelecido entre os indivíduos de uma determinada sociedade).
Qual é a finalidade
do acordo?
Este acordo visa
alterar uma determinada situação na sociedade que se tornou insustentável,
concretamente o desrespeito pelos direitos básicos dos indivíduos, desrespeito
esse que gera um estado conflituoso. O acordo vai permitir eliminar ou reduzir
os conflitos na sociedade.
Que compromissos
recíprocos são estabelecidos com o acordo?
Estes compromissos
traduzem-se geralmente no seguinte: todos os indivíduos comprometem-se a
obedecer a um poder exterior que garanta uma melhoria das relações entre eles e
promova um maior bem-estar geral.
Que poder exterior é
esse a que todos os indivíduos se comprometem obedecer?
Esse poder é o
Estado. Neste sentido, o contrato social é uma forma de legitimação do Estado.
As teorias contratualistas que vamos estudar são as de Thomas
Hobbes e John Locke.
O que carateriza o
estado de natureza segundo Locke?
O estado de natureza corresponde à vida sem governantes. Cada ser humano
tem o poder de se autogovernar. Ao contrário do que Hobbes pensava, o estado de
natureza não é um estado lastimável e completamente negativo, marcado pelo
constante medo dos outros, da morte e das agressões que neles teriam a sua
origem. Há restrições e deveres que os seres humanos nesse estado são obrigados
a cumprir pela sua consciência moral e em nome do seu interesse. Esses deveres
e obrigações estão ligados ao facto de haver direitos naturais por todos
reconhecidos: os direitos à vida, à liberdade e à propriedade.
Por que razão vai
ser necessária a autoridade política ou Estado?
O estado de natureza não é o estado de guerra de todos contra todos. Locke
não o considera um estado calamitoso. Mas reconhece que pode ser um estado de
guerra de alguns contra alguns. Porquê? Porque, embora a maioria dos seres
humanos no estado de natureza respeitem os direitos básicos acima referidos,
alguns não o fazem. É evidente que cada pessoa lesada ou ameaçada tem neste
estado o direito a defender-se e a punir e castigar os infratores. Contudo, nem
sempre somos suficientemente fortes para defender e fazer respeitar esses
direitos. Assim surge a necessidade do Estado com as suas leis, os seus
tribunais e as forças que impõem a sua autoridade. Protegerá as nossas vidas,
liberdades e propriedades daqueles que não as respeitam. Vemos por que razão,
para Locke, o estado de natureza é insatisfatório: a ausência de leis,
tribunais e autoridades policiais não garante aos seres humanos uma defesa
adequada dos seus direitos, ou seja, não protege a vida, a liberdade e a
propriedade como deve ser.
O surgimento do Estado implica que os indivíduos renunciem aos seus
direitos naturais?
O surgimento do Estado não significa que os indivíduos renunciem aos seus
direitos naturais. Bem pelo contrário, o Estado é instituído para, em caso de
violação, defender os direitos naturais. O contrato ou pacto social significa
que os seres humanos, naturalmente livres, iguais e independentes, renunciam,
não aos seus direitos, mas a fazerem justiça por suas próprias mãos. A justiça
privada – muitas vezes impotente – dá lugar, com o Estado, à justiça pública –
polícia, tribunais, multas e prisões.
A transferência de poderes e de direitos para o Estado que surge do
contrato social é ilimitada?
Não. Como é o
consentimento dos cidadãos que dá origem à autoridade política, a vontade do
povo tem prioridade sobre aquela. O governo é o servidor da vontade dos
cidadãos, que, por acordo mútuo, consentiram em confiar-lhe a defesa dos seus
direitos e interesses. Para Hobbes, em nome da segurança não havia
aparentemente limites ao que o Estado podia fazer. Para Locke, a autoridade do
Estado é limitada pelos direitos naturais dos indivíduos. O Estado deve
garantir a segurança dos cidadãos, mas isso não pode nunca ser pretexto para
violar os direitos naturais dos cidadãos. Os direitos que temos no estado de
natureza continuam a existir no estado de sociedade. O Estado não deve
tirar-nos a vida, a liberdade e a propriedade. Se alguma lei ou decreto do
governo desrespeita direitos fundamentais, então justifica-se a desobediência
ou a resistência dos cidadãos.
A autoridade do Estado tem limites?
Sim. O contrato social não garante ao governante poder absoluto para fazer o que bem entender em nome da paz e da segurança. Há, para Locke, valores mais importantes do que a segurança e a ordem. O direito à liberdade é um deles. Os cidadãos não renunciam aos direitos individuais naturais como a liberdade. Só renunciam ao direito de aplicarem por si mesmos o direito natural de punirem quem desrespeita e viola esses direitos básicos.
Lola
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