David Bowie
Da intervenção...
O Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão
agradeceu a David Bowie, que morreu no domingo, por ter "ajudado a
derrubar" o Muro de Berlim em 1989 com a música "Heroes", que se
transformou num hino anti Guerra Fria.
"Adeus
David Bowie. Está agora entre os #Heroes. Obrigado por ajudares a derrubar o
Muro", lê-se numa mensagem na conta do Ministério dos Negócios
Estrangeiros alemão na rede social Twitter, com uma ligação para o vídeo da
música.
Bowie
escreveu "Heroes" quando, nos anos 1970, viveu por três anos na
Berlim dividida do pós-guerra.
Enquanto
gravava nos estúdios Hansa, em Berlim ocidental, perto da fronteira onde
militares da Alemanha de Leste tinham ordens para matar, observou um casal a
beijar-se, cena que retratou na letra da música como um apelo para que o amor
se sobrepusesse às divisões.
Tirado DAQUI
"Consigo
lembrar-me/De pé junto ao muro/As armas a dispararem sobre as nossas cabeças/E
nós beijámo-nos/Como se nada pudesse cair" ("I can remember/Standing
by the wall/And the guns shot above our heads/And we kissed, as though nothing
could fall").
Anos
mais tarde, em 1987, Bowie interpretou a canção num concerto no Reichstag
(parlamento alemão), perto do Muro, que levou centenas de jovens da Alemanha de
Leste a juntar-se na fronteira para ouvir a música.
David
Bowie começou o concerto afirmando ao microfone, em alemão, "Cumprimentos
a todos os nossos amigos que estão do outro lado do muro", cantando em
seguida "Heroes". Do outro lado do muro, segundo relatos, centenas
aplaudiram a música aos gritos de "O muro tem de cair!".
"Não
podia ter composto a música que compus se não tivesse ficado completamente
cativado por Berlim, pelas suas estruturas especiais e as suas tensões, o Muro
e o seu impacto na cidade", disse Bowie numa entrevista ao diário
Tagespiegel em 2002.
Nas
comemorações do 25.º aniversário da queda do Muro, em novembro de 2014, o
músico britânico Peter Gabriel foi convidado a cantar uma versão reduzida de
"Heroes", com bandas de rock da Alemanha Ocidental e Oriental e com
antigos dissidentes em palco.
David
Bowie morreu de cancro no domingo, aos 69 anos, dois dias depois da edição do
seu 25.º álbum, "Blackstar".
...à consciência da finitude!
Tirado DAQUI
No último clipe, "Lazarus", Bowie transforma
a morte em obra de arte
Artista aparece em uma cama de hospital cantando
versos que, diante do impacto de sua morte, ilustram sua emocionante despedida
"Olha aqui, eu estou no céu", começa a
cantar Bowie em Lazarus, canção daquele que nenhum fã poderia imaginar que
seria mesmo seu último disco, Blackstar, lançado na última sexta-feira, dia em
que completou 69 anos. A melancólica canção remete ao personagem bíblico
(Lázaro é o homem que Jesus Cristo traz de volta do mundo dos mortos) — e era
justo um fã de Bowie querer interpretá-la como uma celebração do artista à vida
e à retomada da carreira com mais uma de suas surpreendentes reinvenções
sonoras.
Mas o videoclipe de Lazarus, revisto agora sob o
tremendo impacto da morte de Bowie, foi de fato uma despedida. Visivelmente
debilitado pelo câncer que enfrentou de forma muito reservada nos últimos 18
meses, Bowie aparece em uma cama de hospital cantando versos como "eu
estou em perigo, nada tenho a perder" e falando de "cicatrizes que
não podem ser vistas" . Está vendado, com dois pequenos objetos circulares
sobre os olhos, emulando os milenares rituais que colocam moedas sobre as
vistas dos mortos.
Por um breve momento, aparece próximo a uma janela,
iluminado, e dança lembrando "do tempo que cheguei a Nova York e estava
vivendo como um rei". Essa sequência pode ter sido seu esforço derradeiro
esforço para mostra-se ao fãs com a energia performática e transgressora que
lhe foi tão característica ao longo de sua trajetória. E então vai saindo de
cena lentamente, caminhado para trás até fechar a porta. O brilho vira
escuridão. Bowie foi um artista corajoso inovador até seus últimos instantes.
Fez de seu próprio obituário uma emocionante obra de arte.
Via Zero Hora Entretenimento
Por: Marcelo Perrone
Olha para mim, estou em perigo, já não tenho nada a perder
Ele despediu-se de nós com um vídeo. Que
era premonitório, sabemo-lo agora. “Lazarus” é o adeus. Comovente, duro. “Isso
não é típico de mim?” David Bowie morreu esta segunda-feira, vítima de cancro
“Olha para mim, estou no céu / Tenho
cicatrizes que não podem ser vistas / Olha para mim, estou em perigo / Já não
tenho nada a perder.”
David Bowie está deitado numa cama de
hospital, vendado, dois botões cosidos no lugar dos olhos. Está agitado, como a
música que canta. Os gestos são teatrais. As palavras inquietam-nos, agora que
sabemos que o ícone partiu. Bowie conhecia o seu destino.
Descrevemos o vídeo de “Lazarus”, o
segundo single a ser extraído de “Blackstar”, o álbum do músico inglês lançado
na passada sexta-feira, no dia em que completava 69 anos. O nome é roubado a
Lázaro, personagem bíblica que morre e é ressuscitada poucos dias depois por
Jesus Cristo, quando o seu corpo está envolvido por faixas, tal como o de Bowie
no vídeo. Muitas vidas couberam nos 69 anos de Bowie; o legado fica entre nós,
o milagre foi o seu talento.
Apesar de ter sido escrita para o musical
homónimo que estreou em Nova Iorque no mês passado, “Lazarus” parece uma
espécie de capítulo final, o encerramento de uma vida que todos conhecemos, mas
nem sempre compreendemos (“Tenho drama, não pode ser roubado / Todos me
conhecem agora”). Soa à despedida de quem sabia o que estava para vir.
A crítica rendeu-se ao novo álbum e a
“Lazarus”, o último vídeo de Bowie. Embora seja sempre difícil perder um ídolo,
talvez o consolo possa ser encontrado nos versos que põem um ponto final, na
carreira e na vida do cantor: “Desta ou de nenhuma forma / Sabes que vou ser
livre/ Tal como um pássaro / Isso não é típico de mim?”.
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