O conhecimento cientifico:
características
A ciência pode ser e é vulgarmente entendida como uma organização de conhecimentos e de resultados que são aceites universalmente. Esta aceitação universal é devido ao facto de os resultados poderem ser verificados.
" O primeiro carácter do conhecimento científico (...), é a objectividade, no sentido de que a ciência intenta afastar do seu domínio todo o elemento afectivo e subjectivo, deseja ser plenamente independente dos gostos e das tendências pessoais do sujeito que elabora. Numa palavra, o conhecimento verdadeiramente científico deve ser um conhecimento válido para todos. A objectividade da ciência, por isso, pode ser também, e talvez melhor, chamada intersubjectividade, até porque a evolução recente da ciência, e especialmente da Física, mostrou a impossibilidade de separar adequadamente o objecto, do sujeito e de eliminar completamente o observador. (...)
Todavia, não elimina de modo algum da ciência o propósito radicalmente objectivo.
Outro carácter universalmente conhecido é a positividade, no sentido de uma plena adesão aos factos e de uma absoluta submissão à fiscalização da experiência. (...)
O terceiro carácter do conhecimento científico reside na sua racionalidade. (...) A ciência moderna é essencialmente racional, isto é, não consta de meros elementos empíricos, mas é essencialmente uma construção do intelecto. (...) A ciência pode ser definida como um esforço de racionalização do real. (...)
Além disso, os cientistas modernos verificam unanimemente no conhecimento um carácter muito alheio à mentalidade científica do século passado, o da revisibilidade. Não há posições definitivas e irreformáveis. Toda a verdade científica aparece, em certo sentido, como provisória, susceptível de revisão, de aperfeiçoamento, às vezes mesmo de uma completa reposição em causa. Todos os conhecimentos científicos são aproximados. (...)
Os conceitos de adequação total e perfeita devem ser substituídos pelos de aproximação e validez limitada."
Os conceitos de adequação total e perfeita devem ser substituídos pelos de aproximação e validez limitada."
Selvaggi, F.: Enciclopédia Filosófica
" O conhecimento científico é fáctico: (...) Parte dos factos, respeita-os até certo ponto e sempre retorna a eles. A ciência procura descobrir os factos tais como são, independentemente do seu valor emocional (...). Nem sempre é possível, (...) respeitar inteiramente os factos quando se analisam. (...) O físico perturba o átomo que deseja espiar; o biólogo modifica e pode inclusive matar o ser vivo que analisa; o antropólogo, empenhado no seu estudo de campo de uma comunidade, provoca nele modificações. Nenhum deles apreende o objecto tal como é, mas tal como fica modificado pelas suas próprias operações.
O conhecimento científico é claro e preciso: os seus problemas são distintos, os seus resultados são claros. (...)
O conhecimento científico é comunicável: (...) não é privado, mas público. A linguagem científica comunica informações a quem quer que tenha sido preparado para a entender. (...)
O conhecimento científico é verificável: deve passar pelo exame da experiência. Para explicar um conjunto de fenómenos, o cientista inventa conjecturas fundadas de algum modo no saber adquirido. As suas suposições podem ser cautelosas ou ousadas, simples ou complexas; em todo o caso, devem pôr-se à prova. (...)
A investigação científica é metódica: (...) A investigação procede de acordo com regras e técnicas que se revelaram eficazes no passado, mas que são aperfeiçoadas continuamente (...).
O conhecimento científico é sistemático: uma ciência não é um agregado de informações desconexas, mas um sistema de ideias ligadas logicamente entre si. (...)
O ciência é explicativa: tenta explicar os factos em termos de leis e as leis em termos de princípios. Os cientistas não se conformam com descrições pormenorizadas; além de inquirir como são as coisas, procuram responder ao porquê: porque é que ocorrem os factos tal como ocorrem e não de outra maneira. (...)"
M. Bunge, La ciencia, su método y su filosofía
Tal como podemos constatar através da análise dos textos, a ciência pode ser e é vulgarmente entendida como uma organização de conhecimentos e de resultados que são aceites universalmente. Esta aceitação universal é devido ao facto de os resultados poderem ser verificados e de a construção do conhecimento se submeter a métodos.
A ciência visa a observação e o estudo aprofundado dos fenómenos naturais e sociais.
- não se limita a descrever a experiência, mas a explicá-la por meio de leis;
- é um conhecimento que se submete à verificação experimental;
- é um conhecimento organizado, metódico, que se baseia numa investigação planeada;
- é um conhecimento sistemático, ou seja, não é constituído por um amontoado de informações, mas por um conjunto de ideias metódica e logicamente organizadas;
- o conhecimento científico procura as causas e uma explicação para os fenómenos observados;
- à subjectividade do conhecimento do senso comum, o conhecimento científico procura opôr a objectividade: ser independente dos gostos e tendências do sujeito que conhece. É neste sentido que a ciência se constitui como um conhecimento que procura ser universalmente válido, isto é, válido para todos. Este objectivo é assegurado quer pela submissão de todas as hipóteses à fiscalização da experiência, quer pela utilização de uma linguagem rigorosa.
A ciência ganhou durante a modernidade o estatuto de conhecimento verdadeiro e objectivo, subordinado ao rigor matemático e ao método experimental. Esta concepção despertou um optimismo muito grande no papel da ciência, chegando-se a pensar que em seu nome poder-se-ia dominar o mundo e que o progresso científico conduziria a humanidade em direcção à verdade total sobre a natureza, à organização da justiça entre os homens e à felicidade nesta vida.
MAS, a ciência perdeu este estatuto. Hoje, a ciência apresenta-se de forma menos ambiciosa, configurando apenas uma das interpretações possíveis do mundo, susceptível de ser falsificada, sem um método concludente, sem verificações definitivas e com uma objectividade aproximada. A ciência é um processo em contínua revisão, em permanente auto-correcção. O rigor do conhecimento científico é limitado e apenas podemos esperar resultados aproximados, não absolutamente certos.
Mas, apesar do dito, não podemos negar que vivemos numa época profundamente marcada pela ciência e não temos receio de afirmar que muito lhe devemos. É hoje um lugar comum, defender que a vida dos homens e das mulheres se transformou e que muitas dessas transformações são devidas ao progresso científico e técnico.
Não podemos pois ignorar a ciência: foi ela que nos deu os antibióticos, as viagens à lua, os raios laser, todo o conforto material a que hoje estamos habituados e que já não dispensamos. Talvez por isso, ainda domine actualmente uma concepção de ciência como algo de qualidade, mas uma qualidade que não pode oferecer dúvidas uma vez que foi testada e provada e que inclusive já deu provas suficientes para ser merecedora de uma confiança total.
De facto, aos olhos do grande público, a ciência surge como o protótipo de um conhecimento rigoroso, objectivo, fiável e merecedor de total confiança.
Não podemos pois ignorar a ciência: foi ela que nos deu os antibióticos, as viagens à lua, os raios laser, todo o conforto material a que hoje estamos habituados e que já não dispensamos. Talvez por isso, ainda domine actualmente uma concepção de ciência como algo de qualidade, mas uma qualidade que não pode oferecer dúvidas uma vez que foi testada e provada e que inclusive já deu provas suficientes para ser merecedora de uma confiança total.
De facto, aos olhos do grande público, a ciência surge como o protótipo de um conhecimento rigoroso, objectivo, fiável e merecedor de total confiança.
Terá a ciência um lado negativo?
Sim!
Não nos podemos esquecer também do lado negativo da ciência: armamento, guerras, bombas nucleares, atómicas, químicas, cobaias, manipulação genética, clonagem, desastres ecológicos, etc.
A ciência tornou-se explosiva. Mas não podemos passar sem ela e sem o que ela nos permite obter.
É afinal, a dramática contradição do humano modo de viver: perpetuamente em desequilíbrio, constantemente em progresso.
Não nos podemos esquecer também do lado negativo da ciência: armamento, guerras, bombas nucleares, atómicas, químicas, cobaias, manipulação genética, clonagem, desastres ecológicos, etc.
A ciência tornou-se explosiva. Mas não podemos passar sem ela e sem o que ela nos permite obter.
É afinal, a dramática contradição do humano modo de viver: perpetuamente em desequilíbrio, constantemente em progresso.
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