ANÁLISE DA OBRA “A ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS”, DE THOMAS KUHN
Segundo Thomas Kuhn, os cientistas necessitam trabalhar com paradigmas, ou seja, com modelos ou exemplos adquiridos por meio da educação ou da literatura a que são expostos, independentemente de possuírem ciência da causa que proporcionou a condição de paradigma a tais modelos. Essa ideia se contrapõe a concepção da necessidade de um amplo e completo conjunto de regras e determinações para o trabalho do cientista; este, ao contrário, deve trilhar por caminhos propostos pela escola na qual está inserido. Portanto, o paradigma configura-se como fundamental para as vertentes científicas em relação às soluções de questionamentos, bem como suficientes para o campo científico, não sendo necessário o estabelecimento de regras.
Tão imprescindível quanto as teorias paradigmáticas, são seus métodos e aplicações. Além disso, o paradigma proporcionam ao cientista informações sobre as entidades que a natureza contém, bem como o comportamento destas.
Entretanto, Kuhn admite como possibilidade o momento em que o paradigma dominante não oferece mais informações suficientes e/ou aceitáveis para a solução de problemas, gerando assim uma crise em que ocorrem intensos debates entre os cientistas, sobre padrões, problemas e métodos. Essa fase o autor denomina comoperíodo pré-paradigmático, que ocorrerá enquanto não houver consentimento sobre as possíveis soluções para os questionamentos e problemas encontrados. Os cientistas podem, inclusive, “concordar na identificação de um paradigma, sem entretanto entrar num acordo(ou mesmo tentar obtê-lo) quanto à uma interpretação ou racionalização completa a respeito daquele.” (página 69). Assim, é plenamente possível que diferentes escolas científicas compartilhem do reconhecimento de um mesmo paradigma, mas com diferentes interpretações e aplicações.
Thomas Kuhn ainda apresenta a concepção de Revolução Científica, sendo um processo desde um momento de profunda desestabilização a partir de incertezas paradigmáticas, passando por debates científicos e ruptura do paradigma vigente, até a aceitação de um novo paradigma. É decorrente também de situações em que a complexidade da área em estudo aumenta de maneira mais rápida do que a precisão dos seus resultados obtidos por meio da teoria escolhida, surgindo assim anomalias. Ressalta-se ainda que os debates continuam na História científica, não cessando necessariamente após a instauração do novo paradigma. Conclui-se que a função de tais crises é justamente a explicação de tais anomalias provenientes dos fenômenos estudados, pois, segundo o próprio autor, o “fracasso das regras existentes é o prelúdio para uma busca de novas regras”.
Kuhn determina como procedimento para a construção de teorias científicas por meio das seguintes etapas:
- Reconhecimento do problema como anomalia pela prática da ciência normal, por meio de diversas aplicações;
- Apresentação e manifestação de múltiplas teorias que buscam propor respostas para o problema, utilizando os dados fornecidos;
- Estabelecimento de uma situação de insegurança durante um longo período marcado por debates e análises acerca dos problemas reconhecidos e das teorias propostas;
- Aceitação da impossibilidade de encontrar respostas exatas para o problema por meio da teoria vigente;
- Fase de afloração de uma teoria que substitua a vigente, com condições de apontar caminhos para a obtenção das respostas esperadas;
- Definição e aceitação de uma nova teoria que forneça uma solução compatível para o problema em questão.
Alguns paradigmas foram substituídos, modificados ou até eliminados, entretanto, Khun afirma que a ciência possui característica cumulativa.
O autor afirma também que a resistência da ciência às novas teorias pela academia, principalmente devido ao positivismo lógico, não é prejudicial, mas sim positiva, uma vez que proporciona um surgimento de teorias de maneira mais segura. Esse tipo de exigência implica em, dentre outros fatores: concorrência mais segura, já que os profundos debates exigem o pensamento individual e coletivo dos cientistas; desenvolvimento da criatividade científica, visto que a formulação de novas teorias necessita de um longo processo de análise e elaboração de ideias que visam explicar os fatos em questão; auto-organização, uma vez que ao se encontrar e aceitar o paradigma certo após uma crise há um processo de adaptação e acomodação destas teorias e conceitos pela comunidade científica.
Concebem-se diversos tipos de relações entre as novas e antigas teorias, permitindo mudanças no desenvolvimento da ciência normal:
- Cumulativa: seleção de fenômenos que podem ser solucionados a partir de métodos e conhecimentos pré-existentes;
- Evolutiva: evolução do paradigma por meio da substituição da ignorância por novas técnicas e conceitos;
- Substitutiva: novos conhecimentos substituem os anteriores, sendo ambos distintos e incompatíveis.
Para Kuhn, o cientista deve buscar a resolução de problemas relativos ao comportamento da natureza, detalhando-os, ainda que não apresente amplitude global. As respostas e soluções não devem satisfazer apenas seu ego, mas convencer os demais. Além disso, os membros do grupo de pesquisa, também profissionais, devem ser encarados pelo pesquisador como únicos conhecedores das regras determinadas em prol de julgamentos inequívocos.
A respeito da comunidade científica, o autor define como o grupo que engloba os praticantes da atividade científica, submetidos à iniciação profissional e educação semelhantes, o que fez com que absorvessem mesmas técnica e teoria.
Como questionamentos e apontamentos relativos ao texto analisado acima, é possível levantar a seguinte questão: a comprovação do paradigma, bem como de sua possível solução, por meio de teorias diferentes das vigentes, encontram de fato uma comunidade científica aberta a aceita-las? Além disso, o processo de concepção de paradigmas e soluções é predominantemente marcado pela evolução e aperfeiçoamento dos cientistas e da Ciência ou apresenta como principal característica a competitividade em prol de reconhecimento pessoal científico?
Lola
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