O que é a
Filosofia?
• Há muitas respostas a esta pergunta porque nem todos
os filósofos pensam da mesma maneira.
• Sentido etimológico do termo Filosofia
– Philo (amigo, o que deseja, o que
busca, o que ama) + Sophia (sabedoria, saber, conhecimento)
– Termo criado por Pitágoras
– Filosofia como uma procura e não como posse / Filósofo
≠ sábio
– Estuda a totalidade do real, o todo, tudo aquilo que
se apresenta ao homem.
• O homem tem uma necessidade natural de
compreender o que o rodeia – o universo.
No dia a dia o homem
depara-se com situações que lhe provocam admiração – espanto. Tais
como situações de injustiça, violência, guerra, doença, morte, catástrofes
naturais, etc. Do espanto nasce a interrogação. O espanto e a
consequente interrogação não são exclusivos do filósofo, todo o homem tem a
capacidade de se interrogar.
• A filosofia não se limita a formular interrogações,
a pôr dúvidas, ela vai encontrando respostas ou soluções para as questões que
levanta, as quais se constituem como um saber, o saber filosófico.
-A
Filosofia é uma:
a) Atividade intelectual de procura do
conhecimento – Atitude reflexiva e problematizadora; atitude crítica e
antidogmática; exercício de dúvida; curiosidade e desejo de conhecer
b) Reflexão crítica sobre o conhecimento e o
mundo – Conjunto de respostas que se foram constituindo como teorias acerca do
mundo, do ser humano e da própria vida
c) Atividade prática de procura de sabedoria
– Visa encontrar novas maneiras de conceber o mundo e a vida, definir o projeto
da nossa existência, decidir o que queremos ser e buscar o autoaperfeiçoamento.
-Especificidade
da Filosofia
• Autonomia: os
filósofos fazem um uso próprio da razão, independentemente de dogmas,
preconceitos e ideias feitas. A filosofia é uma atividade livre, não se
sujeitando a qualquer tipo de constrangimentos ou tutelas. O filósofo é aquele
que pensa e age por si, orientando-se por finalidades que reconhece como suas.
• Radicalidade: procura
os fundamentos ou a origem de todas as coisas. Interessa ao filósofo a
indagação das primeiras causas, dos primeiros princípios, da sua razão de ser.
A filosofia pretende ir à raiz dos problemas, ao porquê último das coisas.
• Historicidade: embora
os filósofos desenvolvam uma reflexão pessoal inserida na história do
pensamento, respondem a problemas marcantes da sua época, ainda que as suas
respostas possam perdurar para além do seu tempo. A filosofia é um pensar
situado no tempo e no espaço. A filosofia não está fora do mundo é uma
atividade que acontece na história humana.
•
Universalidade: as reflexões dos filósofos abordam problemas
que dizem respeito a toda a humanidade. Nenhum assunto está, à partida,
excluído da reflexão filosófica.
Problemas
filosoficos
Viver implica
defrontarmo-nos com problemas que temos de resolver. Porém,
nem todos os problemas são filosóficos.
• Se,
por exemplo, estou preocupada com a roupa que hei de levar a uma festa, talvez
esteja a viver um problema, mas de certeza não se trata de um problema
filosófico.
• As
questões filosóficas não têm solução científica ou técnica.
– Como curar o cancro? Não
é uma questão filosófica
– Qual a razão de ser da
doença e do sofrimento?
• As
questões filosóficas não são questões de facto.
– Qual a composição química
da água? Não é uma questão filosófica
• As
questões filosóficas ultrapassam o campo da legalidade.
– É permitido dar emprego a
menores? Não é uma questão filosófica
– Será eticamente correto
servir-me do trabalho infantil?
-Problemas e questões da Filosofia
Domínios
da Filosofia
|
Questões
Filosóficas
|
Problemas gnoseológicos/
Epistemológicos
|
O que é o conhecimento? O que é a verdade? Donde vem o conhecimento? |
Problemas ontológicos |
O que é a realidade?
Vivemos num sonho, numa ilusão? É possível distinguir o sonho da realidade e
despertar?
|
Problemas antropológicos |
O que é o Homem? O ser
humano tem uma alma, além do corpo?
|
Problemas existenciais e axiológicos |
Quais os valores que
devem guiar a nossa existência? O que é o bem e o mal? O que é o belo e o
feio?
|
Problemas metafísicos |
Há vida depois da morte?
Deus existe? Qual o sentido da nossa existência?
|
-Ciência
e Filosofia
Há problemas
filosóficos colocados pela Filosofia que as ciências também investigam, mas há
problemas especificamente filosóficos.
• A Filosofia e a Ciência são duas formas de saber distintas e complementares.
• A Ciência procura explicar o
funcionamento da realidade, enquanto que a Filosofia procura
compreender os princípios que devem orientar a existência e desvendar os fins
para que tudo supostamente caminha.
A Filosofia é
uma atividade reflexiva e crítica; por isso, a tarefa dos filósofos
é pensar criticamente sobre um conjunto de problemas visando, por um lado uma
melhor compreensão da realidade e, por outro, o autoaperfeiçoamento.
• Pensar criticamente equivale a avaliar as
afirmações (próprias ou de terceiros), em vez de as aceitar ou porque são
óbvias e evidentes, ou porque são aceites por todos, ou porque são defendidas
por alguém com autoridade.
• Para estudar Filosofia, é preciso desenvolver competências específicas:
- Problematizar, conceptualizar e argumentar.
• Problematizar é
descobrir e formular problemas que desafiem a nossa reflexão a passar para além
dos significados imediatos das situações.
• Conceptualizar é
elaborar conceitos, isto é, noções gerais organizadoras da pluralidade da
experiência humana.
• Argumentar é
construir um conjunto de proposições articuladas logicamente de modo a
justificar uma posição ou tese.
Uma vez que para
argumentar é preciso raciocinar (ou fazer inferências válidas), são
necessários, de um ponto de vista lógico, os seguintes instrumentos:
1. Argumentos.
2. Proposições.
3. Conceitos/termos.
• Argumento é uma sequência de proposições organizadas
de tal modo que a conclusão a que chegamos tem por base outra ou outras
proposições a que chamamos premissas. Exemplo: Todos os homens são
mortais. Sócrates é um homem. Logo, Sócrates é mortal.
Um argumento é, portanto,
constituído por proposições, embora nem todas as frases que proferimos
sejam proposições.
• Por exemplo, as expressões “grande seca! ”, “sai
imediatamente” ou “que horas são?” não são proposições, o conteúdo nelas
expresso não tem valor de verdade.
• Já a frase Lisboa é a capital de Portugal é
diferente, uma vez que afirma ou nega algo. A este tipo de frases chamamos
frases declarativas.
• Proposição é o que é afirmado ou negado numa frase
declarativa.
• Juízo é o processo mental que permite construir
proposições.
•Os juízos estabelecem relações entre conceitos.
Os Conceitos/termos designam
um conjunto de características essenciais de uma classe de seres ou objetos.
• Os conceitos são:
– Universais (aplicam-se a todos os
elementos da classe)
– Abstratos (o seu significado
expressa as propriedades essenciais comuns a essa classe, ignorando as
diferenças particulares e concretas dos seus elementos).
A Ação Humana e
os Valores
-Significado do termo ação
O termo ação é usado com significados
diferentes:
– Dizemos que a ação das cegonhas é benéfica para a
agricultura ou que a gravitação é uma forma de ação à distância.
– Dizemos indiferentemente agiu bem ou fez bem, usando
os termos agir e fazer como sinónimos.
-Etimologia
• O termo fazer (do latim facere) tem um sentido mais
amplo do que agir
• O termo agir ou ação (do latim agere) designa apenas
algumas das nossas atividades (ver texto 1, pág. 51)
-O que
acontece e o que fazemos
O que acontece
• Actos humanos: observáveis, não se sabe
a intenção; não se conhecem os motivos (ex: tropeçar e cair)
• Eventos puros: não partem do sujeito; o
sujeito é recetor; o sujeito é agido. (ex: falhar a tinta da caneta)
O que fazemos
• Parte do sujeito; o sujeito é ator; o sujeito é
agente. (ex: estudar para o teste)
-Ação e Acontecimento
Os termos ação e agir designam
apenas os comportamentos:
• Intencionais
• Conscientes
• Voluntários
Está excluído do conceito
de ação:
• O que os animais fazem.
• Os movimentos que fazemos inconsciente e
involuntariamente.
• As reações automáticas (fisiológicas ou
psicológicas).
Exemplo
Constipar-se não é uma ação porque:
• acontece a
uma pessoa independentemente da nossa escolha
• Não
há interferência da sua vontade
Ir voluntariamente à farmácia é uma ação porque:
• Resulta
de deliberação (convém ir ou não?)
• Há decisão voluntária
de um agente (vou!)
• Há
uma intenção (comprar um medicamento)
• Há
um motivo (estar doente)
-Definição de Ação
É uma interferência consciente e voluntária do
agente no normal decurso das coisas que, sem essa interferência, seguiriam um
caminho distinto.
-Rede
conceptual da ação
Para haver uma ação humana é
necessário:
- Um agente ou sujeito da ação;
– Com consciência – perceção que é o autor
da ação;
– Com uma intenção – quê, que faz;
– Com um motivo – porque faz;
– Dotado de livre-arbítrio ou vontade –
capacidade de opção e de decisão.
-O
voluntário e o involuntário
Definimos ação como uma interferência
consciente e voluntária do agente
Agora perguntamos:
• O agente decide sempre em função de razões que ele
próprio escolheu?
• Conhece todos os motivos que o movem?
• Existem motivações não conscientes?
Alguns autores não
reconhecem à vontade poder para optar (apesar de reconhecerem à vontade humana
o poder de optar e decidir).
Outros reconhecem esse
poder, mas afirmam que a subjetividade humana também integra força se
tendências inconscientes resistentes ao poder da vontade.
-Condicionantes da ação
• Condicionantes físico-biológicas
e psicológicas (conferem aptidões mas condicionam as ações)
• Património genético (sexo, cor de
pele, olhos, inteligência…).
• Ambiente (recursos materiais,
clima, etc.).
• Personalidade (força de vontade,
conformismo, timidez).
Condicionantes histórico-sócio-culturais (noutra
época e noutro lugar cada um de nós seria diferente)
• Época histórica
• O meio sociocultural
Socialização é o processo de
integração de uma criança numa determinada sociedade (implica a assimilação da
cultura a que pertence).
Cultura é o conjunto de
formas que um grupo social adotou para tratar de todos os problemas que lhe são
comuns, que herda e transmite às gerações seguintes.
-Teorias acerca do problema do
livre-arbítrio
• Determinismo radical (incompatibilismo)
• Indeterminismo
• Determinismo moderado (compatibilismo)
• Libertarismo
• Determinismo radical (incompatibilismo)
Determinismo é um
conceito importado da física clássica
Afirma: se cada acontecimento no mundo decorre
necessariamente da série de acontecimentos que o antecederam, então tendo
ocorrido o fenómeno X, causa de Y, este último tem de ocorrer.
• Todos os acontecimentos, inclusive as
opções humanas, são causados por acontecimentos anteriores.
• Num mundo regido por leis determinísticas, as ações
e os acontecimentos sucedem-se em cadeias causais.
• Não podemos interferir nessas ocorrências (mesmo que
tenhamos consciência delas).
• As leis que as regem não estão minimamente sob o
nosso controlo.
• A existência de livre-arbítrio é incompatível com o
determinismo.
Em suma: o determinismo radical defende a
incompatibilidade entre determinismo e liberdade.
• Indeterminismo
• Para a física contemporânea é impossível prever o
comportamento de um dado sistema de micropartículas da matéria.
• Elas comportam-se de modo diferente em cada momento,
sem que se possa encontrar a causa dessa mudança
• Podemos admitir que o indeterminismo que rege o
mundo das micropartículas também se aplica à vontade humana
• Uma vez que há indeterminismo na Natureza, o indeterminismo defende
que as nossas ações não são determinadas
• Determinismo
moderado (compatibilismo)
• Parte do conceito comum de liberdade e aceita a
convicção de que poderíamos ter feito outra coisa se o tivéssemos escolhido.
• No mundo todos os fenómenos são causalmente
relacionados.
• A vontade humana, igualmente determinada, é livre
quando não for obrigada a escolher sob ameaça (de uma arma, por exemplo).
• Tudo no mundo natural é determinado, mas as ações
humanas são livres, por serem determinadas mas não constrangidas.
O determinismo moderado defende a
compatibilidade entre o determinismo e a liberdade.
• Libertarismo
• As nossas ações nem são determinadas nem aleatórias
• É dualista (matéria e espírito são de natureza
diferente)
• Os fenómenos mentais não são fenómenos físicos
• O mundo material e a ação humana são de natureza
diferente e regem-se por leis diferentes
• As leis dos fenómenos materiais não se aplicam aos
fenómenos mentais
O Libertarismo afirma que as ações humanas
resultam de deliberações racionais e podem alterar o curso dos acontecimentos
no mundo
-Consequências das teorias do
livre-arbítrio
•Compatibilismo: defende que é possível
compatibilidade o determinismo e a vontade livre. A vontade é livre se não for
constrangida, apesar de ser também determinada. Aceita o determinismo no mundo
natural, mas defende que existe espaço para a liberdade e para a
responsabilidade humanas.
•Libertarismo: Considera que a liberdade de escolha
nem é causalmente determinada nem é aleatória. O agente tem o poder de
interferir no curso normal das coisas pela sua capacidade racional e
deliberativa. Defende o livre-arbítrio e a responsabilidade do ser humano.
-John Searle
Pressupostos de Searle:
• Não é dualista quanto à substância (não
reconhece, como Descartes, que alma e corpo sejam de natureza essencialmente
diferente)
• Admite que o funcionamento do corpo e da consciência (alma,
para Descartes) têm leis diferentes
• Embora seja monista - pensa que a mente é uma função
do cérebro (que é corpo) - admite que a consciência não está
submetida às leis (física) da restante matéria.
• Embora admita não saber por que é que isto acontece
assim, justifica a sua posição pelo poder da mente para influenciar o
comportamento do corpo.
-Dualismo/Monismo
O dualismo afirma
que há duas substâncias ou essências diferentes no universo (matéria e
espírito), e que os fenómenos mentais são fenómenos não físicos.
O monismo afirma
que há apenas uma substância ou essência constitutiva de toda a realidade (para
os materialistas a matéria, para idealistas o espírito).
-Argumentos de Searle
1) A conceção da liberdade humana está essencialmente
ligada à consciência e só atribuímos liberdade aos seres conscientes.
2) Temos experiência da consciência: é um fator
essencial da existência especificamente humana.
3) Atribuímos liberdade somente aos seres conscientes
capazes de realizar ações voluntárias e intencionais, ou seja, caracterizadas
pela intencionalidade.
Intencionalidade é “a característica pela qual os
nosso atos mentais se dirigem ou se referem a objetos e estados de coisas do
mundo diferentes deles mesmos.” (Searle).
4) Temos experiência da subjetividade dos nossos
estados mentais (domínio a que só cada indivíduo tem acesso).
5) Isso choca com a pretensão da Ciência de ser
completamente objetiva.
6) Apesar de não sabermos como resolver o problema da
causalidade mental (não sabermos explicar como é que os nossos sentimentos e
pensamentos exercem um efeito causal sobre o mundo físico.
7) Temos experiência da liberdade (isto é, a convicção
de que a ação é resultado da nossa decisão, e de que somos nós que fazemos isso
acontecer).
-Valores
Justiça, Lealdade, Tolerância, Igualdade,
Solidariedade, Honestidade, Liberdade, Vida, Liberdade, Amor, Paz…
-Juízos de facto e juízos de valor
Há dois tipos de abordagem de um acontecimento:
• Imparcial
- quando descrevemos o acontecimento sem qualquer apreciação emitimos, juízos
de facto.
Descrevem a realidade.
São: Descrições neutras e impessoais, Objetivos,
Verificáveis, Suscetíveis de serem verdadeiros ou falsos.
Exemplos:
Miguel Ângelo é autor da
Pietá
Picasso pintou Guernica
Platão é um filósofo grego
Lisboa é a capital de Portugal
• Apreciativa
- quando manifestando as nossas preferências e apreciações emitimos juízos
de valor.
Indicam uma valoração
São:
• Interpretações parciais e subjetivas
• Relativos
• Discutíveis
• Expressam emoções
Exemplos
Pietá é uma das mais belas esculturas renascentistas.
Guernica é uma bela pintura.
O amor é belo .
Lisboa é uma cidade encantadora.
-Conceito
de valor
Significado técnico: O valor de uma mercadoria ou o
valor de uma incógnita (como no caso de uma equação matemática).
Significado afetivo: O valor das coisas que nos
merecem estima (que valor atribuímos à amizade?).
Significado moral: O valor que atribuímos a um
comportamento: a coragem, a solidariedade, o altruísmo, o egoísmo.
Valor É uma qualidade potencial
resultante da apreciação que um indivíduo ou sociedade faz acerca de um objeto,
de uma ação, ou de um ser real ou ideal, em função da presença ou ausência de
algo que é desejável ou digno de estima.
-Tipos de
valores
Materiais - referem-se ao domínio da
sobrevivência biológica. Podem ser:
Vitais – referentes à saúde,
robustez, resistência física
Do agradável e do prazer –
referentes às sensações de prazer e satisfação
Económicos – referentes a bens
de consumo: dinheiro, habitação, vestuário, alimentação
Espirituais – referem-se ao domínio do
aperfeiçoamento das qualidades humanas. Podem ser:
Ético-políticos – referentes ao
relacionamento com os outros (lealdade, honestidade, solidariedade)
Estéticos – referentes à
apreciação da harmonia, beleza e elegância
Religiosos – referentes à nossa
relação com o sagrado
-Tabela de valores de Max Scheler
Valores úteis
|
Caro/barato;
capaz/incapaz; abundante/escasso; adequado/inadequado;
conveniente/inconveniente
|
Valores vitais
|
Forte/fraco;
enérgico/inerte; são/enfermo
|
Valores lógicos
|
Verdade/falsidade;
conhecimento/erro; exato/aproximado; evidente/provável
|
Valores estéticos
|
Belo/feio;
gracioso/tosco; elegante/deselegante; harmonioso/desarmonioso;
sublime/ridículo
|
Valores éticos/morais
|
Bom/mau; justo/injusto;
leal/desleal; misericordioso/desapiedado;
|
Valores religiosos
|
Santo/profano;
divino/demoníaco; milagroso/mecânico; supremo/derivado
|
-Caracterização
geral dos valores
• Polaridade
• Hierarquização (tábuas de valores)
• Historicidade/perenidade
• Absolutividade/relatividade
Polaridade – tem
sempre um pólo positivo e um pólo negativo (bem/mal; belo/feio;
sagrado/profano).
Hierarquizações –
ordenam-se de acordo com o grau da sua importância e poder impositivo,
constituindo uma escala - tábua de valores.
Historicidade – caráter
temporal e relativo de alguns valores; padrões valorativos próprios de uma
época.
Perenidade –
caráter intemporal de alguns valores; valores que não sofrem alterações nem
acompanham a história dos homens.
Absolutividade/relatividade – caráter
absoluto de alguns valores (não dependem de nada, nem do sujeito, nem do
objeto, valem por si mesmos) e a dependência histórica e cultural de outros
(dependem da valoração do sujeito, quer em termos pessoais, quer tendo em conta
o contexto social e cultural em que ele se encontra).
-Conceções acerca da natureza dos
valores
Duas grandes conceções acerca da natureza dos valores:
a) Objetivismo
axiológico ou conceção objetiva de valor: o valor existe
independentemente das pessoas, que apenas têm de considerar valiosas as coisas
que o incorporam.
b) Subjetivismo
axiológico ou conceção subjetiva de valor: o valor depende dos
sentimentos de agrado ou de desagrado, ou seja, da subjetividade humana
individual ou coletiva.
-Papel da
cultura na ação humana
As nossas ações são condicionadas pela cultura
• Condicionantes: padrões de comportamento,
crenças, critérios de atribuição da riqueza, direitos e papéis sociais.
• Cada cultura tem uma identidade própria.
• Pela socialização cada indivíduo
interioriza e transmite padrões de cultura próprios de uma sociedade.
-Dinâmica cultural
A cultura é dinâmica
e transforma-se.
As alterações devem-se:
• À evolução própria
das sociedades
• Às influências de
outras culturas
Aculturação é o
processo de transformação cultural causado por influência de outras culturas.
Os contactos entre pessoas de duas sociedades diferentes podem consistir em interações
diretas, provocadas por conquistas militares, colonização, emigração,
atividades missionárias e até turismo. Mas podem também ser contactos
indiretos através dos diversos meios de comunicação social (televisão,
internet, cinema, jornais, etc.).
Este processo tornou-se
mais rápido e poderoso a partir do século XX, graças aos meios de transporte
(avião, automóvel), de comunicação (rádio, televisão e Net) e ao contacto entre
as culturas (migrações, turismo, comércio). A aculturação é um fenómeno social
constante, tanto no presente como no passado. As diversas sociedades não são
estanques e influenciam-se umas às outras de diversos modos.
A aculturação parece
assumir duas formas principais, havendo entre elas diversos graus intermédios.
A aculturação por destruição, quando uma
sociedade consegue impor a sua cultura a outra sociedade e a cultura desta
desaparece ou se torna residual.
A aculturação por assimilação, quando uma
sociedade é influenciada pela cultura de outra sociedade mas não põe de lado a
sua própria cultura. Essa influência constitui um enriquecimento, um
alargamento do património cultural.
-Consequências
da aculturação
A comunicação à escala mundial originou:
a) Sociedades multiculturais –
coexistência de grupos de culturas diferentes.
b) Novos valores – tolerância e
respeito pela diferença – Relativização axiológica – Valorização da diversidade
cultural – Direitos humanos. Estes novos valores originaram:
• Movimentos
de defesa dos direitos humanos e de denúncia de crimes contra a Humanidade.
• Fenómenos
de intolerância como a xenofobia, racismo, prática de genocídio.
-Etnocentrismo
A intolerância baseia-se no etnocentrismo.
Etnocentrismo é a tendência para sobrevalorizar
uma dada cultura, considerada como medida do que é desejável e estimável para
todos legitima:
a) Os processos de aculturação forçada no passado
(colonialismo, genocídio dos índios, destruição das culturas Maia, Inca e
Azteca, etc.)
b) O extermínio de milhões de pessoas (pelos nazis e
pelos estalinistas), os genocídios na Bósnia, em África, no Médio Oriente, etc.
-Contra o etnocentrismo
O relativismo cultural propõe a aceitação
das diferenças
Defende:
a) O respeito pelas outras culturas
b) A tolerância face às diferenças raciais, étnicas,
religiosas, sexuais, etc.
Relativismo cultural
• Defende que os padrões de cultura dos povos sejam
julgados e avaliados sem referência a padrões absolutos.
• Defende a tolerância pelas diferenças, e
o respeito pelas outras culturas.
• Critica a tendência para julgar
como inferior, irracional e bizarro, tudo o que é diferente dos próprios
costumes.
A dimensão ético-política
- Em que consiste
uma opção moral?
As interrogações anteriores apontam para a dimensão
ética da ação
Dimensão ética: Domínio da ação humana orientado por
valores morais (bem/mal, justo/injusto) propostos pela consciência.
Consciência: Capacidade interior de orientação, de
avaliação e de crítica da nossa conduta em função de valores.
Moralidade - É o esforço para orientar a nossa
conduta por princípios racionalmente justificados, tendo em conta tanto os
nossos interesses como os interesses de todos os que serão afetados pelas
nossas ações.
Ação moral - É a vivência guiada por valores auto
impostos pela consciência (ainda que possamos agir exclusivamente segundo
códigos de conduta exteriores – códigos jurídicos ou padrões sociais). Define o
indivíduo como um ser ético/moral
-Um ser ético-moral
• Avalia imparcialmente os seus
interesses e os alheios.
• Reconhece princípios éticos de conduta.
• Não se deixa guiar por impulsos, mas escuta
a razão.
• Delibera com autonomia,
independentemente das pressões.
• Guia-se por valores para se tornar
melhor ser humano.
-Como identificar as ações boas? Savater
responde:
Boas ações - São as que convêm à nossa condição
de seres racionais, promovendo tanto a nossa humanidade como a dos outros.
Más ações - São as que não nos convêm e que nos
diminuem por serem contrárias àquilo que devemos ser.
-Ética e telos da ação
Os seres humanos definem fins ou finalidades (telos)
para as suas vidas.
Exemplo: A dignidade é um fim: devemos ser honestos
para estar à altura dessa dignidade
Fim ou finalidade é o que dá sentido à
ação, aquilo para que as ações tendem.
-Intenção e Norma
Para a moralidade de uma
ação não basta o acordo externo com a norma é necessário o acordo
interno, a intenção.
Normas são regras socialmente estabelecidas que
servem de padrão para a ação.
Intenção é o julgamento íntimo que cada um faz do
que é permitido e do que é proibido.
-Opção moral
Só há opção moral/decisão
ética quando o indivíduo se “obriga” a si mesmo a respeitar o fim que
definiu como bom (ex: ser honesto) tendo em vista o seu aperfeiçoamento (ainda
que só ele saiba a verdadeira intenção)
No domínio da moralidade - O
indivíduo só tem que prestar contas à sua própria consciência (autoridade
que o guia e perante a qual tem de responder). O indivíduo é responsável pelos
seus atos, uma vez que pode escolher.
-Liberdade e
responsabilidade
Liberdade moral: Traduz a obrigação da pessoa (sujeito
moral) se orientar pelos valores que a própria razão reconhece como bons.
Responsabilidade moral: Expressa o reconhecimento da
autoria da ação e a obrigação de responder perante a própria consciência.
-Moral e Ética
Embora eu use as palavras, moral e ética como
equivalentes, elas não significam o mesmo:
Moral é o conjunto de condutas e normas que tu,
eu e alguns dos que nos rodeiam costumamos aceitar como válidas
Ética é a reflexão sobre o porquê de as
considerarmos válidas, bem como a sua comparação com outras “morais”.
-Características da ação
moral
• Está orientada para um fim, que é um bem.
• É voluntária e intencional
• É suscetível de juízo (pode ser avaliada
em termos de bem ou de mal)
• Adota um posicionamento não só individual mas também
comunitário, pretendendo chegar à perspetiva da universalidade do
agir.
-Juízos ético/morais
• Proposições
que expressam uma avaliação das ações a partir da adoção de um determinado
padrão ou critério valorativo.
-Emitir juízos morais
Exige:
• Compreensão descomprometida
dos factos.
• Um critério
valorativo (princípios éticos) (ex.: a vida humana é sagrada; não devemos
usar a pessoa como um meio; reconhecer igual dignidade a todos os seres
humanos).
• Imparcialidade ou
que se considere em pé de igualdade os interesses de todos os indivíduos
(tratar todas as pessoas como iguais a não ser que exista uma boa razão para
não o fazer).
-A Ética deve:
•Definir princípios universais reguladores
da convivência social (ex.: altruísmo em vez do egoísmo; solidariedade em vez
da competição; cooperação em vez de hostilidade; bem-estar coletivo em vez do
benefício pessoal).
• Estabelecer os direitos e os deveres de
cada um.
• Propor fins para a realização pessoal e
social dos indivíduos.
-Funções e importância da consciência moral
Consciência moral é a capacidade interior de
orientação, de avaliação e de crítica, formada em cada humano com base na
interação social.
A consciência moral
desenvolve-se na interação entre:
Heteronomia → (hetero + nomos)
interiorização de regras e padrões do grupo.
Autonomia→ (auto + nomos)
autodeterminação a agir segundo princípios racionalmente justificados.
-A consciência tem um sentido
Apelativo - para valores e normas ideais, como
uma bússola orientadora da ação.
Imperativo - ordena uma ação segundo os valores
do agente.
Judicativo - julga os atos e as intenções.
Censório - censura ou elogia o agente.
Devemos
agir moralmente porque...
... só nos tornamos humanos
na companhia de outros humanos, temos de compatibilizar os nossos direitos com
os direitos dos outros (garantir a coexistência digna de todos) e se quisermos
viver como pessoas temos de tratar os outros como pessoas.
-A necessidade
de fundamentação da moral – duas perspetivas filosóficas
Deontológicas Teorias
que fazem depender a moralidade de uma ação do respeito por princípios.
Devemos agir por obediência a regras - Exemplo: para Kant mentir é errado ainda
que do ato de mentir resultem benefícios. Kant pergunta: qual
foi a intenção da ação?
Consequencialistas Teorias
que fazem depender a Moralidade de uma ação das suas consequências. Devemos
escolher a ação que tem as melhores consequências globais - Exemplo:
para Stuart Mill mentir não é errado por princípio, mas em função das
consequências. S.Mill pergunta: quais as consequências das
ações?
Uma teoria deontológica: a ética racional de Kant
Legalidade - caráter das ações
simplesmente boas, em conformidade com a norma.
Moralidade - caráter das ações
realizadas não só em conformidade com a norma, mas também por respeito ao
dever.
-As três disposições do ser humano
Disposição
sensível
|
Disposição
sensível
|
Disposição
racional
|
Para a animalidade
ser vivo
a natureza em nós:
inclinações e necessidades sensíveis
|
Para a humanidade
ser vivo e ser racional
influências da sociedade
e da comunidade de interesses
|
Para a personalidade
ser racional capaz de
responsabilidade: tornar-se pessoa exigências auto impostas pela razão
-desprendimento e autonomia
|
-Como alcançar a vontade boa?
• O corpo e a razão não têm as mesmas inclinações.
• A vontade fica sujeita a conflitos entre
disposições.
• A vontade fica dividida entre o dever (motivações
racionais) e o prazer (inclinações sensíveis).
• A vontade pode escolher (é o livre-arbítrio).
• Nem sempre escolhe o dever (a moralidade).
Vontade boa
Devido aos conflitos entre
as disposições a vida ética é uma luta. Kant propõe como ideal
moral o esforço para transformar a vontade dividida e imperfeita numa
vontade boa, isto é, numa vontade que se determine a agir por dever
Só a escolha do dever
por dever permite transformar a vontade numa vontade boa
-Dever e
lei moral – imperativo categórico da moralidade
O que é agir por dever? É orientar-se pela
disposição para a personalidade, e consiste na elaboração de leis
racionais a que a própria razão se submete (autonomia). O dever é o
respeito pela lei moral.
- As leis da razão e as leis da natureza valem
universalmente
As leis naturais são descritivas – Dizem
como a natureza funciona
As leis morais são prescritivas (normativas)
– prescrevem um comportamento – são incondicionais e absolutas – são um
imperativo categórico (uma ordem incondicional).
-Enunciado do Imperativo Categórico
Age apenas segundo uma máxima tal
que possas, ao mesmo tempo, querer que ela se torne lei universal.
• É uma ordem incondicional.
• Impõe a ação como necessária, fim em si mesma.
Imperativo categórico Significa
que:
• A
regra particular (máxima) que seguimos, deve poder ser aceite por todos os
seres racionais – universalização.
• A
universalização da máxima garante a imparcialidade e a independência do agente
em relação aos seus interesses particulares.
• A
universalização da máxima torna-a ação boa (moral).
-Moralidade, autonomia e
dignidade humana
A opção pela moralidade permite ao indivíduo
tornar-se ser moral ou pessoa, conferindo-lhe dignidade e valor
absoluto.
Diz Kant que a moralidade é a única condição que pode fazer de um ser racional
um fim em si mesmo; a moralidade, e a humanidade, enquanto capaz de moralidade,
são as únicas coisas que têm dignidade. Podemos agora explicar-nos facilmente
(pois) sucede que possamos achar simultaneamente uma certa sublimidade e
dignidade na pessoa que cumpre todos os seus deveres.
Pois enquanto ela está submetida à lei moral não há
nela sublimidade alguma; mas há-a sim na medida em que ela é ao mesmo tempo
legisladora em relação a essa lei moral e só por isso lhe está subordinada. Não
é nem o medo nem a inclinação mas tão somente o respeito à lei, que constitui o
móbil [motivo] que pode dar à ação um valor moral. Só esta vontade que nos é
possível [representar] na ideia é o objeto próprio do respeito, e a dignidade
da humanidade consiste precisamente nesta capacidade de ser legislador
universal, se bem que com a condição de estar ao mesmo tempo submetido a essa
mesma legislação.
Autonomia
Kant chama autonomia à propriedade da
vontade de se constituir como a sua própria lei. A autonomia da vontade é o
princípio supremo da moralidade e o fundamento da dignidade e do respeito
devido ao ser moral ou pessoa.
Fundamento e critério de moralidade
Segundo Kant, o fundamento da moralidade é
a racionalidade e a autonomia da vontade
Isso implica:
• cumprimento do dever por dever.
• independência face às disposições sensíveis.
• opção pela personalidade.
Segundo Kant, o critério para
identificar uma ação como boa é o caráter incondicional e
universalizável da máxima que determina a escolha, ou seja, o caráter
racional da lei moral.
Uma teoria consequencialista: a ética utilitarista de Stuart
Mill
O credo que aceita a Utilidade ou o Princípio da Maior Felicidade como fundamento da moral sustenta que:
• As ações são justas na proporção em que tendem a
promover a felicidade e injustas enquanto tendem a produzir o contrário da
felicidade.
• Entende-se por felicidade o prazer e a
ausência de dor; por infelicidade a dor e a ausência do prazer.
• O prazer e a ausência de dor são as únicas coisas
desejáveis como fins e todas as coisas desejáveis são-no pelo prazer inerente a
elas mesmas, ou como meios para a promoção do prazer e a prevenção da dor.
O princípio princípio moral em que se baseia
o utilitarismo é o princípio da Utilidade ou da Maior Felicidade. Chama-se
hedonismo (grego hédonê, prazer) a este tipo de conceção
-Princípio da Utilidade ou da Maior Felicidade
Uma ação é boa quando promove a felicidade
A felicidade é “única coisa desejável como fim” e, por
isso, boa em si mesma.
A felicidade é um estado de bem-estar, de
prazer e ausência de dor ou sofrimento.
-Distinção
qualitativa do prazer e do sofrimento (dor)
Mas o que é que causa maior felicidade ou prazer?
Stuart Mill distingue:
. Prazeres físicos: Os
prazeres sensoriais ligados às necessidades somáticas(básicas), como
beber, comer, sexo.
. Prazeres espirituais: Ligados
a necessidades intelectuais, sociais, morais, estéticas(ex.:
apreciar um pôr do sol, uma obra de arte, descobrir e criar, partilhar afetos
ou conhecimentos, ajudar os outros)
Refutação das críticas: o
Utilitarismo
a) Propõe um ideal moral: a felicidade de todos
os Homens, e não apenas a própria
b) Identifica o imperativo moral utilitarista
com o mandamento cristão não faças aos outros o que não gostarias que te
fizessem a ti e ama o teu próximo como a ti mesmo
c) Indica um ideal jurídico-político: o bem comum
ou a felicidade global
d) Sugere um ideal pedagógico: a formação de
indivíduos solidários,
empenhados
em promover o
bem comum e a felicidade de todos
Imperativo moral age sempre de modo a produzir a
maior felicidade para o maior número de pessoas.
Critério de moralidade as consequências
previsíveis da ação.
Ação moral ou boa é a ação que traz mais
felicidade ao maior número de pessoas.
-Conclusão do utilitarismo de Stuart Mill
A finalidade da moralidade é a felicidade
• O critério de moralidade das ações (o
que torna uma ação boa) é a sua utilidade, o seu contributo para criar a
maior felicidade
• Fazer uma opção moral exige inventariação e
avaliação das consequências possíveis para se poder escolher a que
previsivelmente produzirá mais felicidade ou bem-estar.
O utilitarismo e as democracias liberais
O utilitarismo foi a tentativa mais coerente de
traduzir racionalmente o mandamento ama o próximo como a ti mesmo,
a tentativa mais forte de dar uma definição racional de altruísmo e continua a
ser um dos modelos fundamentais na construção do moderno estado do bem-estar.
Relações entre Ética, Direito e Política
• Ética,
direito e política são conceitos diferentes, mas que se relacionam e completam.
O direito faz apelo à ética: uma das funções do direito é
a realização de uma sociedade justa, mas é à ética que cabe definir
em que consiste a justiça. Ética e direito mantêm também
relações com a política. É que, neste contexto, quando se referem normas éticas
para a regulação das condutas, não se trata da ação de um homem isolado, mas de
uma ação extensiva a todos os homens que integram uma sociedade politicamente
organizada, ou seja, um Estado.
• Na
realidade, ao viver em sociedade, o homem tem que respeitar os códigos morais
vigentes e a sociedade tem que possuir, obrigatoriamente uma forma de
organização política. Por isso, sempre que falamos de homem referimo-nos a um
cidadão que faz parte de um Estado e que se sujeita à autoridade de um Governo.
Este pode ser justo ou injusto – questão ética – e as leis que
formula – questão jurídica – serem aceitáveis ou inaceitáveis
pela maioria da população – questão sociológica. O cidadão pode ser
alguém chamado a participar na gerência dos assuntos do estado –
política democrática – ou apenas um súbdito a quem cabe aceitar as
ordens de quem governa – política ditatorial.
-Necessidade do Direito e da Política (o Estado)
A dimensão ético-moral não é a única dimensão do ser
humano.
Podemos analisá-lo enquanto indivíduo, enquanto pessoa
e enquanto cidadão
-Dimensões
da existência humana
Indivíduo
|
Pessoa
|
Cidadão
|
Dimensão
bio-social
|
Dimensão
moral
|
dimensão
política
|
O Ser Humano realiza-se
através das relações de convívio social
|
O indivíduo torna-se
pessoa ao tomar consciência de si mesmo, do outro e do mundo e do sentido da
existência
|
A pessoa torna-se cidadão
ao intervir/interagir com a realidade social
em que vive
|
Quem garante os direitos
individuais? A Declaração Universal dos Direitos Humanos
|
Quem garante os direitos
da pessoa? Os códigos morais e a própria pessoa (amor próprio e autoestima)
|
Quem garante os direitos
do cidadão?
A Constituição e as leis
regulamentares
|
A
POLÍTICA E O DIREITO
Para gerir os conflitos sociais e garantir o bem
comum, precisamos de normas coercivas – as leis jurídicas - e
instituições com poder e meios para impor o cumprimento dessas leis (Estado)
O que é o Direito?
• Direito é
o conjunto de normas que regulam as relações entre os cidadãos, estabelecendo
também as formas de punição para a violação dessas normas.
Moral e Direito
• Genericamente,
Moral e Direito têm os mesmos objetivos: estabelecer e fundamentar um
conjunto de princípios e normas que permitam resolver os conflitos entre os
cidadãos. Mas têm meios diferentes
Normas morais |
Normas
jurídicas
|
• Não estão
necessariamente codificadas (escritas)
• A aceitação e
cumprimento resultam da decisão individual
• A transgressão é punida
com o remorso, culpa, reprovação social e marginalização do indivíduo
|
• Apresentam-se sob a
forma de códigos, leis e regulamentos
• A aceitação e o
cumprimento são impostos pelo Estado
• As pessoas têm que
cumprir as normas mesmo
que não lhes pareçam
justa
• A transgressão é punida
com multa, prisão (ou
mesmo pena de morte)
|
Política
A finalidade da Política é a gestão dos assuntos da
comunidade (polis ) garantindo as condições para a satisfação das necessidades
humanas. É a ciência (vertente teórica) e a arte (vertente
prática) de realização dos fins de uma comunidade, da procura dos meios
para alcançar esses fins, da harmonização dos conflitos entre interesses
particulares e coletivos, e da gestão das relações com comunidades externas
Ciência
(vertente teórica)
|
Arte
(vertente prática)
|
• Dos princípios da arte de governar
• Das constituições políticas
• Dos fundamentos filosóficos da vida em comunidade
• Dos princípios e dos fins que devem orientar as
relações da comunidade internacional
• Das estratégias e táticas para a realização dos fins
definidos
|
• De realizar os fins que uma dada comunidade definiu como bons
• Dos meios adequados para alcançar esses fins
• Da harmonização dos conflitos entre interesses
particulares e coletivos
• Da gestão das relações externas com outras
comunidades
|
O Estado
Foi para cumprir as complexas funções de gestor da
coisa pública (a res publica dos romanos) que as comunidades se organizaram sob
a forma de Estado. Estado é a institucionalização do exercício do
poder político e da autoridade, para a concretização dos fins que a comunidade
definiu como bons.
Instrumentos
do Estado
Para realizar os fins o Estado dispõe dos seguintes
meios:
. Sistema jurídico (constituição
política e códigos diversos – civil, penal, comercial, etc.)
. Governo - exercer o Poder executivo
gerir os conflitos propor ações para a realização dos fins da comunidade
. Tribunais - julgar as ações
individuais e coletivas, verificando o seu acordo com as leis sancionar e repor
a Legalidade.
. Polícia - zelar pela segurança
Interna proceder à aplicação das decisões dos tribunais
. Forças Armadas - zelar pela
segurança externa no quadro dos Tratados Internacionais
Tripartidação
do Poder do Estado
Poder
Legislativo
|
Poder
Executivo
|
Poder
Judicial
|
Função produzir as normas: leis, códigos e regulamentos |
Função governar, exercer o poder, gerir os conflitos e Propor ações para a realização dos fins definidos pela comunidade |
Função vigiar e punir, zelar pelo cumprimento das leis elaboradas pelo poder legislativo, punir os infratores; repor a legalidade |
Órgão: Parlamento
|
Órgão: Governo
|
Órgão: Tribunais
|
• A Filosofia
Política reflete sobre os problemas que dizem respeito à constituição,
função e sentido do Estado e da sociedade.
• A Filosofia
do Direito analisa e propõe princípios e respetivos fundamentos para uma
boa organização social.
As relações Homem/Estado-Aristóteles
-A insuficiência da Ética e
a necessidade da Política
As reflexões sobre política são antigas
• Aristóteles (séc. IV a. C.) escreveu o
tratado Ética a Nicómaco reconhecendo que a existência de regras morais não
basta para que os seres humanos as cumpram. Não basta conhecer teoricamente o
que é a virtude. É necessário esforço para nos tornarmos pessoas de bem e para
melhorarmos a nossa natureza, dado que ela nos produziu incompletos.
•Diz Aristóteles que a maioria das pessoas
vive dominada por paixões naturais e só age moralmente por medo de
castigos
Pergunta: Como transformar essa natureza?
Duas soluções:
1. Pelo hábito
2. Pela educação
Mas mesmo os melhores educadores têm dificuldade em
levar a maioria dos indivíduos a uma vida nobre e honesta. Concluiu: precisamos
de leis durante toda a vida
-A política como ética social
• Para Aristóteles o fim último (telos) da política é
formação moral dos cidadãos (a virtude).
• O fim do Estado é proporcionar os meios para essa
formação: logo, o direito, a política e a moral são inseparáveis.
•Estado - É o conjunto das instituições que exercem o
poder político, impondo o cumprimento das leis por via coerciva e punitiva.
Condições da realização humana: comunicação,
amizade e justiça
Segundo Aristóteles o ser humano é, por natureza, um
ser vivo político
Para desenvolvermos o que é peculiar ao ser humano – a
razão (logos) - necessitamos da comunicação que só acontece numa comunidade
dialógica.
Só a convivência social possibilita ao ser vivo social
nascido de humanos tornar-se um ser verdadeiramente humano.
A legitimação da Autoridade do Estado “o
ser humano é, por natureza, um ser vivo político”
ÉTICA
|
POLÍTICA
|
-Visa um indivíduo
-Usa leis morais
-Regula a vida na esfera
privada
|
-Visa a comunidade
-Usa códigos jurídicos
-Legitima o poder na esfera pública
|
Ambas visam alcançar o fim
último (o bem) da cidade
A cidade (polis)
possibilita a realização da natureza humana
Essa realização exige uma
cidade harmoniosa e consolidada
Tal cidade só existe se
houver amizade e justiça
A amizade depende dos laços
afetivos entre as pessoas
A justiça depende da
aplicação de boas leis (a política)
A institucionalização da
política (o Estado) exige poder
O Estado recebe o poder
político dos cidadãos
O que legitima a autoridade
do Estado são as potencialidades oferecidas pela vida em comunidade organizada
As
relações Homem/Estado -John Locke
-A secularização- é a progressiva
diminuição da importância da religião na vida comum das sociedades.
Fatores que contribuíram para a secularização:
• Os
movimentos da Reforma/Contra-Reforma e a guerra civil inglesa
• O
fim da crença no direito divino dos reis (o exercício do poder e da autoridade
do Estado em nome de Deus)
• Obras
dos filósofos Thomas Hobbes, John Locke, Rousseau e Kant.
-Vida sem Estado ou Estado
de Natureza
Estado de Natureza é uma situação imaginária onde
os seres humanos viveriam sem leis e sem submissão a ninguém, regendo-se apenas
pela lei natural.
Lei natural: conjunto de leis estabelecidas por Deus e
inscritas na consciência de todos os Homens
Características do Estado de
Natureza
1. Os Homens são livres e iguais, por isso
têm os mesmos direitos, não há qualquer hierarquia entre eles, não há
autoridade superior à vontade individual, ninguém tem o direito de subordinar
outrem, somente o consentimento voluntário legitima que um indivíduo submeta
alguém à sua autoridade.
2. Todos os indivíduos têm direito à vida, à liberdade
e à propriedade
3. O Estado de Natureza é um estado de Liberdade, mas
não é um estado de ausência de leis, pois os homens devem reger-se pela Lei
Natural, instituída por Deus, ninguém deve prejudicar a saúde, a liberdade e a
propriedade de outrem, os homens estão obrigados a preservar a sua vida e a dos
outros.
Do
Estado de Natureza à Sociedade Civil
Se no Estado de Natureza os indivíduos são
livres, por que razões decidem abdicar dessa liberdade e constituir a Sociedade
Civil e o Estado?
Sociedade Civil é uma comunidade organizada
politicamente, visando a realização de valores e fins comuns.
Contrato
social
Assim, uma vez que no Estado de Natureza ninguém
tinha poder para garantir o cumprimento da lei natural, os indivíduos
decidiram abdicar de certas liberdades e celebrar um Contrato Social. Por
esse Contrato cedem o seu poder ao Estado, incumbindo-o de fazer e executar as
leis necessárias à preservação dos direitos de todos, constituindo assim a Sociedade
Civil e o Estado.
Contrato Social é o acordo pressuposto entre
indivíduos que, livremente e de mútuo consentimento, prescindem de certas
liberdades em troca da proteção do Estado.
O Estado assume as seguintes
obrigações:
• Assegurar o respeito pela lei natural
• Repor a ordem infringida, punindo os infratores
• Fazer as leis necessárias para garantir o bem comum
• Impor o cumprimento das leis
• Proteger os direitos individuais
• Governar segundo as leis estabelecidas
• Julgar e fazer reinar a justiça
• Defender a paz, a segurança e o bem comum
• Respeitar a finalidade para que foi instituído
• Não exercer o poder de modo absoluto e
discricionário
A justiça
social: liberdade, igualdade e direito à diferença
-John
Rawls
• Os
homens vivem em comunidade mas têm interesses antagónicos: de um lado, os
direitos que são inerentes ao indivíduo, do outro, a necessidade de cooperar
para fins sociais
• Este
conflito é central na filosofia política moderna, desde John Locke (1632
-1704) até Stuart Mill (1806 -1873), que revolucionaram os conceitos
de liberdade e igualdade política.
-Liberdade e Igualdade
• A liberdade consiste
em poder fazer aquilo que não prejudica o outro; este é visto como o limite à
minha liberdade, mas igualmente como a sua garantia (princípio da
reciprocidade).
• A igualdade
política traduz-se no direito de voto, de participação cívica, de
igualdade de acesso ao desempenho de cargos políticos, é reconhecida nos textos
constitucionais e nas leis democráticos. A igualdade económica e social é
ainda um objetivo por realizar.
“Os Homens nascem livres e iguais”
Pertence a Locke a ideia de que os “homens
nascem livres e iguais”; foi retomada por outros pensadores modernos e levou ao
reconhecimento do valor e da dignidade humanos, que, todavia, já se encontram
no pensamento cristão. Foi a partir destes ideais políticos libertários que se
desencadeou a Revolução Francesa, cuja divisa Liberdade, Igualdade e
Fraternidade se tornou um ideal a realizar.
-A Teoria da Justiça de John Rawls:
• Rawls
publicou Uma Teoria da Justiça (1971), onde analisou a questão
da justiça social numa perspetiva democrática e liberal, apresentando
uma conceção de sociedade justa, com base no desenvolvimento do modelo teórico
do Contrato Social
• É
uma das mais importantes filosofias políticas do século XX >>>Tem
influências da filosofia moral de Kant e das teorias contratualistas; o autor
pretendeu apresentar uma teoria que pudesse ser considerada alternativa às
conceções utilitaristas em voga, conciliando direitos iguais e sociedade
desigual, sem limitar a liberdade individual
-Teoria
da Justiça e o Utilitarismo
Rawls (como Kant) considera toda a pessoa humana como
um ser simultaneamente livre, igual e fim em si mesmo, recusando a sua
instrumentalização Partindo deste pressuposto, discorda do Utilitarismo,
alegando:
• A falta de um princípio absoluto que sirva
de critério universal para decidir o que é justo ou injusto
• A subordinação do indivíduo a interesses
sociais, não lhe reconhecendo direitos fundamentais invioláveis
• Que, ao subordinar a política à felicidade global,
não fosse tomada em consideração a forma justa ou injusta como ela é
distribuída
-A escolha racional dos Princípios da justiça social
Rawls parte do facto de a vida em sociedade
oferecer vantagens mútuas, mas também criar conflitos de interesses; reconhece,
pois, a necessidade de Princípios
a) Que sirvam de critério para a atribuição de
direitos e de deveres
b) Que definam a distribuição adequada dos encargos e
dos benefícios da cooperação social
-Quais os princípios mais
adequados?
Com o intuito de obter uma organização político-social
justa, Rawls pergunta:
1. Como chegar a um acordo unânime sobre os princípios
que devem organizar as sociedade e acabar com o conflito de interesses,
garantindo uma distribuição equitativa das riquezas?
2. Que tipos de princípios serão?
3. Como formulá-los de modo a garantir a sua
imparcialidade e universalidade?
Rawls responde: São os princípios que seriam
aceites por pessoas livres e racionais, colocadas numa situação hipotética
inicial de igualdade, e interessadas em prosseguir os seus próprios objetivos - Chamou
a essa situação Posição Original
• A Posição
Original é uma situação imaginária em que os parceiros são sujeitos
racionais/morais livres e iguais, colocados sob o efeito de um véu de
ignorância.
• Véu
de ignorância é a situação em que todos os parceiros imaginários se encontram
por não conhecerem nem as características pessoais, nem o estatuto social, nem
os interesses e objetivos particulares, seus ou dos outros.
-Desobediência civil e objeção de
consciência
Desobediência civil é um ato público, de natureza
política e não violento, decidido em consciência e contrário à lei, praticado
com o objetivo de provocar uma mudança nas leis ou na política seguida pelo
governo.
Ato
político
|
Ato
Público
|
Ato
não
Violento
|
Dirige-se a quem detém o
poder político é guiado e justificado por princípios de justiça
|
Apela a princípios e é
praticado em público
|
Evita o uso da violência
|
O papel da desobediência civil
•Serve para impedir a violação sistemática dos
princípios da justiça ou para os corrigir
• Numa sociedade “quase justa” (democrática) é um
fator de estabilidade se utilizada de forma moderada e ponderada
• Ajuda a manter e a fortalecer as instituições
justas, (juntamente com eleições livres e com um poder judicial independente e
competente)
Os conteúdos seguintes integram o programa actual do 11º Ano!
-A dimensão estética
Experiência estética - É um estado afetivo de
agrado e de prazer suscitado pela apropriação subjetiva de um objeto, seja a
contemplação da natureza, seja a criação ou a contemplação de uma obra de arte.
Objeto estético - O termo usa-se em dois
sentidos:
• Em sentido objetivo designa as
obras de arte ou elementos da natureza capazes de provocarem uma experiência
estética
• Em sentido subjetivo (no contexto
da linguagem estética), designa as representações mentais dessas obras de arte
ou desses objetos naturais
-Tipos de Atitudes
Quando nos colocamos perante os objetos podemos
assumir:
• Uma atitude técnica, quando os “olhamos”
como algo útil
• Uma atitude teórica, quando procuramos
compreender
• Uma atitude religiosa quando os
“olhamos” como sinais ou símbolos de uma outra realidade
• Uma atitude estética, quando os
“olhamos” para sentir simplesmente o prazer do ato de observar sem qualquer
outra finalidade
Atitude estética é a atitude desinteressada,
fixada apenas no sentimento de prazer proporcionado pela perceção do objeto.
Uma experiência estética pode ser
suscitada
• Pela contemplação da natureza, da sua beleza, do seu
poder, grandiosidade e magnificência
• Pela contemplação de objetos estéticos,
especialmente pela contemplação da arte
A Pietá é um objeto estético porque a sua contemplação
provoca uma emoção estética: um sentimento de prazer que pode fazer-nos
esquecer o dramatismo da situação retratada na obra.
Sensibilidade estética é a capacidade de perceber
e apreciar as formas, em termos de um sentimento de agrado ou desagrado. Embora
seja uma capacidade natural, a sensibilidade estética precisa de ser educada e
desenvolvida através do contacto frequente com obras de arte e de aquisição de
conhecimentos sobre o autor e a obra.
Juízo estético é a expressão da apreciação dos
objetos em termos beleza
Subjetivismo estético - Os juízos estéticos são
subjetivos. A beleza depende dos sentimentos de prazer provocados pela
contemplação desinteressada do objeto estético
Objetivismo estético- Os juízos estéticos são
objetivos. A beleza depende das propriedades dos objetos independentemente
do que sente o observador
Belo é o sentimento de comprazimento suscitado
pela contemplação da forma do objeto.
Sublime significa elevado, superior, grandioso, e
a experiência do sublime refere-se a um “sentir-se superado “por algo que nos
ultrapassa ilimitadamente (Kant) Sublime é aquilo em comparação com o qual tudo
o mais é pequeno. O sublime pode ser aquilo que é grande para além de toda a
comparação, ou seja, o infinitamente grande (sublime matemático) ou aquilo que
excede infinitamente as nossas próprias forças (sublime dinâmico)
-Como identificar o que é arte? Como distinguir a boa
da má?
R: O valor de uma obra de arte depende da sua
capacidade de produzir experiências estéticas
-Pluralidade das formas de arte
Há imensas formas de arte (escultura, música, pintura,
literatura, teatro, ópera, dança, fotografia, arquitetura, e cinema) O que é
que todas têm em comum? Um dos objetivos fundamentais da Estética é responder à
pergunta:
O que faz com que um objeto possa ser considerado obra
de arte?
Estética é a área de investigação que analisa a
experiência estética em geral, discutindo problemas relativos à beleza (teoria
do belo), ao gosto (teoria do gosto) e à natureza da arte (filosofia da arte).
-Teorias sobre a natureza da arte
1. A
arte como imitação (mimesis)
- uma obra é arte quando é produzida pelo Homem como imitação da Natureza e da ação.
Para Aristóteles, todas as formas e obras de
arte são imitações, mas cada uma distingue-se de todas as outras por usar
• Meios diferentes: cores e figuras
(pintura), ritmo (dança), harmonia (música), palavras (literatura)
• Modos diferentes de usar os meios: os
meios referidos podem ser usados de modo vário: por exemplo, o ritmo na música,
na poesia ou na dança
• Imitar coisas diferentes: no teatro,
enquanto a tragédia imita as ações dos heróis, a comédia imita as ações dos Homens
comuns.
2.
Teoria da arte como expressão (expressivismo)-
uma obra é arte quando expressa e comunica intencionalmente um sentimento vivido pelo artista e quando provoca no público esse mesmo sentimento
• Só é arte, a obra que expressa uma emoção sentida
pelo artista que é partilhada pelo seu público
• Não há arte se o público não sente qualquer emoção
ou quando as emoções do artista e do público não são idênticas
3.
Teoria da arte como forma significante (formalismo)
Partiu de um pressuposto acerca da natureza da arte:
uma obra de arte é um objeto que provoca emoções estéticas no seu público. Para
tal, a obra tem de ter alguma característica especial. Clive Bell chama-lhe forma
significante.
A forma significante é uma característica da
estrutura da obra que decorre da relação estabelecida entre as partes que a
constituem.
-É possível definir a arte? Arte é um
conceito aberto
Conceito aberto é um conceito cujo significado
vai sendo alargado, integrando novas características de modo a incluir na sua
extensão novos objetos. Sendo assim, o conceito de arte terá de ajustar-se à
evolução da própria arte, e ir integrando continuamente novas significações.
-A multidimensionalidade da obra de arte. A arte como:
• Forma de revelação de «novos modos
de «ver» o sujeito e o mundo.
• Linguagem - pluralidade de sentidos
da obra de arte.
• Criação – o valor artístico das
imitações.
• Mercadoria e bem de consumo.
De que
resulta a dificuldade de definir a natureza da arte?
Resulta da sua complexidade:
sendo uma atividade humana presente em contextos, épocas e culturas muito
diferentes, apresenta uma multiplicidade de formas e funções.
A esta multiplicidade formal
e funcional corresponde uma pluralidade de perspetivas de abordagem.
É por isso que existem diferentes interpretações teóricas da natureza da arte
-A arte
como forma de revelação
A arte pode dar-nos um
outro entendimento da natureza e da condição humanas, levando-nos a olhar de
maneira diferente a realidade. A arte permite o reorientar o olhar,
levando-nos a descobrir aquilo a que habitualmente não presta-mos atenção - Na
literatura, numa peça de teatro ou num filme. Podemos constatar que a arte pode
ajudar-nos a compreender melhor quem somos e como devemos relacionar-nos com os
outros.
Cognitivismo
estético Afirma
que a arte pode alargar o nosso conhecimento, por representar a diversidade da
experiência e influenciar a maneira como olhamos o mundo
Arte e Ciência
As obras de arte não expõem teorias nem
descrevem factos (como faz a Ciência), fornecem imagens que podem
ajudar-nos a esclarecer a nossa experiência. Por isso, Arte e Ciência são modos
diferentes e complementares de aumentar o nosso conhecimento (ainda
que o conhecimento proporcionado pelas obras de arte não seja teórico e
descritivo, como o das teorias científicas).
-Arte
como linguagem: Pluralidade de sentidos da obra de arte
A arte pode ser abordada
como uma linguagem: ela traduz ou representa uma experiência, uma
impressão, ou uma conceção através de um conjunto de sinais, signos ou símbolos,
sejam sons, palavras, linhas, cores, volumes, movimentos...Estes elementos
representativos – símbolos – em que o artista materializa a sua
intenção, remetem para múltiplos referentes, pois podemos associá-los a objetos
ou situações muito diversos
-A linguagem polissémica da Arte
A linguagem científica ou
filosófica é rigorosa (os termos são etiquetas aplicados a um único
referente). Ao contrário, na arte os símbolos remetem para
múltiplos referentes.
A linguagem artística usa signos
abertos (sinais que não possuem um significado preciso e unívoco -
polissémicos), que convidam o recetor a recriar significados
Polissemia é a característica
dos signos (da arte) de terem múltiplos significados ou interpretações.
A partir da sua própria
experiência e sensibilidade, o público constrói o significado da obra. Por
isso, cada obra contém um potencial de significação que confere à arte
vitalidade e atualidade, permitindo-nos admirar obras antigas, apesar das
diferenças entre as conceções estéticas e cânones de beleza.
-A arte como criação
Quais são os fatores
necessários para a criação artística?
O que é que de tornou
possível a criação de obras admiráveis como Pietá, Guernica ou Os Lusíadas? A
maioria dos especialistas concorda que a criação de uma obra de arte implica:
• Intencionalidade:
a(s) intenção(ões) do artista são muitas vezes, elementos importantes para a
compreensão da obra
• Talento e técnica:
conhecimento das diferentes possibilidades de realizar o objeto e domínio
exímio das técnicas
• Génio ou inspiração:
consiste na capacidade de inovação, ou originalidade, e na criação de novas
regras; é o que permite passar do domínio da técnica à arte.
-O problema da autenticidade da
obra de arte
A teoria clássica da
arte como imitação valoriza a capacidade de reprodução do modelo, não a
originalidade da obra de arte
A originalidade só
se tornou valor estético a partir do Renascimento: nessa época, a utilização da
perspetiva rompeu com a conceção clássica (mimesis), e criou novas formas de
representar.
Contudo, até ao século
XVIII não era valorizado o trabalho de um criador, mas da sua escola, pelo que
muitas pinturas dos séculos XV, XVI e XVII são identificadas como “pertence à
escola de…”Só a partir do Romantismo se começa a valorizar a relação entre o
artista e a obra, e a distinguir obra original, cópia e falsificação.
-Imitações e valor artístico
No mundo da arte é muito
importante distinguir o original das imitações: é o problema da autenticidade.
Isto é particularmente importante nas artes plásticas (desenho, pintura
escultura, gravura ou fotografia), embora também exista na literatura (imitação
ou falsificar originais). Distinguem-se dois tipos de imitações: a cópia de uma
obra ou a imitação de um estilo.
-Obras originais
São mais valorizadas
1. Razões económicas, sociais e psicológicas
• O valor nos mercados: o quadro original tem preço
mais elevado
• O gosto dos colecionadores, que preferem possuir
objetos únicos
•uma certa atitude de veneração do original (é uma
espécie de relíquia).
2. Razões estéticas
• A perceção do objeto pode ser modificada pelo
conhecimento do contexto e da intenção do artista
• O significado da obra original do artista: o pintor
anónimo que faz uma réplica perfeita de um quadro, ou que copia um estilo, não
tem o mesmo mérito, porque não é criador do quadro nem do estilo
• As réplicas mostram a habilidade técnica do
imitador, mas são indícios do génio do criador
-Impacto
da industrialização na arte
A arte é mercadoria e
bem de consumo?
Uma das consequências da industrialização e do
progresso tecnológico foi a tendência para a valorização dos bens materiais e
para a transformação dos bens culturais em bens de consumo.
-Arte e mercado
Nas sociedades
industrializadas, a arte tornou-se uma mercadoria e, como tal, objeto de
especulação económica e um indicador de estatuto social
A aquisição de
obras de arte pode ter duas motivações:
• Lucro: transacionar obras é uma forma rentável
de investimento
• Promoção social: a posse de obras de arte é um
indicador de estatuto social
Dado que o comércio de arte
obedece às leis do mercado, os galeristas e as multinacionais de arte,
servem-se da publicidade para divulgar a arte e condicionar os padrões de
gosto, inflacionando preços.
-Arte e consumo
Os progressos da técnica (facilidade
e a qualidade das reproduções) tornaram as obras de arte acessíveis. Esta acessibilidade tem
vantagens e desvantagens - O consumo massificado da arte leva ao esquecimento
da essência da arte, conduzindo à sua banalização.
A omnipresença e o consumo
da arte não substituem as condições interiores propícias à experiência
emocional: entrega, interesse e tempo para ver, dialogar e sentir a obra. Só
assim haverá fruição da experiência estética.
-O que é
importante?
Será que o valor económico pode
ser critério para aferir a qualidade estética de uma obra de arte?
Não deveria ser o inverso?
O que está na moda (é alvo
do interesse dos colecionadores e do mercado de arte) adquire o estatuto de
“melhor arte” e, por isso, tem mais valor económico.
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