Ditadura dos exames
“Devemos conseguir que os alunos aprendam e não apenas prepará-los para exame"
Para o professor César Bona os conhecimentos não são
tudo. O importante é educar os alunos para a vida e estimular a sua criatividade.
Só assim, e sentindo-se felizes, aprenderão de verdade.
Uma escola que, mais do que ensinar, educa.
Professores que falam e deixam falar. Questionam, desafiam, confiam,
responsabilizam e dão liberdade aos alunos para que estes possam dar asas à
imaginação. Para o espanhol César Bona é este o ideal de ensino. Este professor
do 1.º e 2.º ciclos defende e pratica, dentro da sala de aula, um modelo em que
se “educa na felicidade”. Pois acredita que só assim os alunos se transformam
em seres íntegros repletos de conhecimentos.
César Bona acredita que tão importante quanto
transmitir conhecimentos aos alunos, é conseguir que eles os aprendam e que os
saibam usar no dia-a-dia, ajudando-os assim a desenvolver outras competências.
Se mandasse, não havia horas dedicadas a cada
disciplina, porque o que faz sentido são os projetos que envolvem múltiplas
matérias. Faz testes, mas diz que é triste que se viva a cultura da nota. E
envia trabalhos para casa, mas poucos. O paradigma do ensino tem de mudar e os
professores têm de estar dispostos a isso e a aprender.
Em 2016 foi considerado um dos 50 melhores professores
do Mundo, segundo o Global Teacher Prize, uma espécie de
Prémio Nobel dos professores, pelas iniciativas que tem levado a cabo nas
várias escolas por onde já passou. Destas, destacou, em entrevista ao
Observador, o filme mudo protagonizado pelas seis crianças de uma escola numa
pequena localidade, que permitiu aproximar os alunos que não se falavam, por
zangas entre as famílias. Esse filme venceu um prémio num festival de cinema na
Índia e recebeu um prémio do Ministério da Educação espanhol.
O livro da autoria de César Bona chegou às livrarias a
4 de janeiro
Qual a importância do professor no percurso escolar e
na vida do aluno?
É vital. Nós vamos marcar a vida dos rapazes e das raparigas. Costumo dizer que
a escola, a sociedade ou a vida não têm um muro. Temos de educar para a vida
porque vamos influenciá-los. Vamos ser os seus modelos.
Mas entende que os professores estão muito fixados em
ensinar, quando deviam estar preocupados com a aprendizagem das crianças e
disponíveis para aprender com elas. Porque diz isto?
Obviamente, quando escolhemos uma profissão, temos de dar o máximo. Supõe-se
que estamos preparados para ensinar, mas não podemos esquecer que temos de
estar sempre a aprender: com os nossos colegas, com a nossa família, e
sobretudo com as nossas crianças. Além disso, quando dizemos às crianças que
aprendemos com elas, estamos a promover a auto-estima. É importante que eles
sintam que podem dar algo à turma, aos colegas e à sociedade. A essência de uma
criança é composta por criatividade, imaginação e esperança. Então, se não
tivermos isso em conta estaremos a perder uma grande oportunidade para que eles
aprendam e para tirar deles o máximo partido.
"A essência de uma criança é composta por
criatividade, imaginação e esperança. Então, se não tivermos isso em conta
estaremos a perder uma grande oportunidade para que elas aprendam e para
sacar-lhes o máximo partido."
Criatividade. É um ponto em que insiste bastante. Como
se pode estimular a criatividade dos alunos?
Sobretudo escutando, deixando-os falar. Não temos que ver as crianças como um
recipiente que temos de encher de conhecimento.
E porque é que há professores que não estimulam essa
criatividade? Dá mais trabalho? Falta tempo?
Não creio que seja uma questão de trabalho. Acho que quando nos tornamos
adultos, esquecemo-nos de que fomos crianças. E quando trabalhamos com crianças
devemos sempre lembrar-nos da criança que fomos. Assim vamos entendê-los melhor
e eles entendem-nos melhor também.
Mas optar por um método de ensino em que se deixa a
criança falar e em que se estimula a criatividade exige mais trabalho e
disponibilidade da parte do professor do que uma aula expositiva. Ou não?
Não creio que dê realmente mais trabalho. Diz isso porque, por norma, a
educação tem sido assim, expositiva. Temos vindo a criar metas individuais
quando somos seres sociais. Em muitas aulas as mesas e as cadeiras estão
voltadas para o quadro. Isso significa que o tipo de interação que queremos é
que nos escutem e que repitam. Mas se vamos educar para a sociedade, temos de
estimular o diálogo, a reflexão, o respeito.
Como organiza os seus alunos na sala de aula?
Os alunos estão organizados em grupos, formados ao calhas. E vão mudando de
grupo ao longo do ano. Quando estás com uma pessoa diferente de ti por perto
vais aprendendo mais.
Como é que consegue garantir que as crianças, no meio
da criatividade, e desta liberdade que lhes é dada, conseguem aprender o currículo
imposto centralmente?
As editoras têm um grande peso. A informação que está num livro, está em todos.
Se queremos educar para as competências devemos esquecer um pouco as
disciplinas – a matemática, as línguas. Pode-se aprender muito mais coisas do
currículo simplesmente fazendo-lhes perguntas ou permitindo-lhes fazerem
perguntas.
"Se queremos educar para as competências devemos
esquecer um pouco as disciplinas - a matemática, as línguas. Pode-se aprender
muito mais coisas do currículo simplesmente fazendo perguntas ou
permitindo-lhes fazerem perguntas."
Mas há exames e os professores têm de preparar os
alunos para esses exames.
Para mim não. A educação associou-se de maneira muito forte aos exames, quando
se devia associar à aprendizagem. Devemos conseguir que os alunos aprendam e
não prepará-los para os exames. O exame é a prova que mostra que eles estão a
aprender. Os exames existem e têm muito peso, mas temos apenas em conta a
resposta e esquecemos todo o processo. Esquecemo-nos de convidar os alunos a
pensar, a questionar, a partilhar e a perceber porque chegaram àquele
resultado. Muitas vezes o que fazemos é: damos-lhes a resposta e exigimos-lhe a
resposta tal e qual como a pedimos. E isso está longe do que é educar.
A verdade é que todo o sistema está focado nos exames.
Existe a chamada ‘cultura da nota’. Para progredir nos estudos e entrar na
universidade é preciso ter uma boa média. As crianças vão crescendo com essa
pressão.
E isso é triste. É triste pensar que a educação se resume a uma nota. Há gente
que pensa que a escola só serve para preparar as crianças para passarem nos
exames. Há gente que pensa que a escola serve para educar seres empregáveis. E
não. Serve para educar seres íntegros, que têm muitos conhecimentos, e que
sabem como aplicá-los. Não só para melhorar a nível individual, mas também
coletivamente. Se os ensinas a investigar, a partilhar, a falar em público,
eles chegarão a um exame e passarão sem nenhum problema. É preciso incidir no
processo. Eles devem sentir-se implicados na aprendizagem. Em 30 dias
aproximadamente 90% do que aprendemos numa aula apaga-se, porque falta todo
este processo.
"Há gente que pensa que a escola só serve para
preparar as crianças para passarem nos exames. Há gente que pensa que a escola
serve para educar seres empregáveis. E não. Serve para educar seres íntegros,
que têm muitos conhecimentos e que sabem como aplicá-los."
E o professor foca-se nesse processo. É isso? Mas tem
de articular isso com o currículo, certo?
Pôr o currículo no centro de tudo, para mim, é um
horror. No centro de tudo devia estar a criança. Não o professor, não a escola,
não o currículo. Uma pessoa é muito mais do que conhecimento. O conhecimento é
muito importante, mas há outras coisas que devemos ter em conta também. E como é
que se consegue educar seres íntegros ao mesmo tempo que aprendem coisas?
Devemos perguntar-nos isto: o que ensino, como ensino e para quê? Não nos
devemos esquecer para que é que ensinamos. E se ensinamos para a vida devemos
adequar os conteúdos aos alunos para que saibam usá-los.
Consegue adequar os conteúdos a cada um dos seus
alunos?
Há ferramentas que devíamos ter sempre em conta e que servem para todas as
crianças: seja menino ou menina, de uma religião ou outra e de qualquer que
seja o nível social. O respeito por nós mesmos, o respeito pelos outros, pelas
diferenças e a responsabilidade social, o compromisso social. Todas estas
ferramentas servem para todas as pessoas no mundo. E é preciso termos
consciência da importância da autoestima.
Em Portugal os professores dizem que não têm tempo
para fazer esse trabalho mais dirigido a cada aluno.
Em Espanha também dizem o mesmo, porque o currículo é
muito extenso. Mas se tivermos de cortar o currículo, corte-se então. Para mim
há coisas mais importantes na vida do que tentar dar o que decidiram quatro
pessoas, que provavelmente nem pisaram uma aula.
"Pôr o currículo no centro de tudo, para mim, é
um horror. No centro de tudo devia estar a criança. Não o professor, não a
escola, não o currículo. Uma pessoa é muito mais do
que conhecimento."
Os professores podem fazer isso? Podem cortar o
currículo?
Temos de priorizar. É impossível tentar educar se tivermos de encaixar tudo num
ano letivo.
Todo este foco no processo, de que temos vindo a
falar, implica uma mudança muito grande no paradigma do ensino. E há
professores que resistem. Por que acha que isso acontece?
A medicina evolui, as comunicações evoluem, a educação
deve evoluir. E isso não significa esquecer a escola tradicional. No sentido em
que coisas que funcionavam há 40 anos, funcionarão agora e nos próximos 40. Mas
temos de estar conscientes de que não podemos continuar a educar os nossos
alunos como nós fomos educados. Por isso, a mente dos professores deve ser
sempre flexível e adaptar-se aos novos tempos. Haverá pessoas que não aceitam
isto [diz, apontando para o telemóvel], mas terão de mudar. Porque o telemóvel
associa-se à vida normal de um adolescente.
Mas introduzir novas tecnologias na sala de aula
apenas não basta para levar a cabo a tal mudança. Ou basta?
Não. A tecnologia é uma ferramenta. Nada mais. É importante porque podes
partilhar, pesquisar, comunicar.
E como é que se consegue, numa turma com crianças
pequenas, com telemóveis na mão, que eles não se distraiam?
Não digo que têm de estar sempre com o telemóvel na mão. Há momentos para tudo:
para uma aula expositiva, para trabalho em grupo e para a tecnologia. É como em
casa: os pais têm de saber que as crianças não têm de estar todo o dia com o
telemóvel.
Aproveitando a deixa dos pais. Costuma dizer-se, em
Portugal, que os pais educam e os professores ensinam. Concorda com esta
filosofia?
Em Espanha também se diz isso. Mas há frases que temos de apagar e esta é uma
delas. Um pai e uma mãe fazem o que podem para educar os filhos, mas quando
eles saem de casa e entram na escola entram numa microsociedade. Para mim, a
escola é o melhor sítio para ajudar os pais a educar. Ensina-se em casa e na
escola, educa-se em casa e na escola. É um compromisso social. O que queremos
para sociedade devemos promover na escola, em conjunto com as famílias. O
primeiro lugar educativo é a família, a seguir a escola e a seguir a sociedade.
O diálogo entre famílias e professores é essencial. É a chave que abre tudo.
Em Portugal há aulas de 90 minutos. Acha possível ter
as crianças 90 minutos numa sala a aprender?
Se fosse eu a mandar, acabaria com os horários, tal
como existem. Diria para trabalharmos juntos: professor de história e de
línguas, por exemplo, na mesma sala. Conseguiríamos que se ensinasse de forma
global e por projetos. E se quisermos ensinar por projetos uma hora é muito
pouco, mas claro que será muito se quisermos os alunos 1h30 sentados, numa aula
expositiva. Sentados, vendo e ouvindo, nem nós [adultos] aguentamos.
"Se fosse eu a mandar, acabaria com os horários.
Diria para trabalharmos juntos: professor de história e de línguas, por
exemplo, na mesma sala. Conseguiríamos que se ensinasse de forma global e
por projetos."
O que pensa da competitividade dentro de sala de aula?
É importante para alcançar maior sucesso?
Digo sempre que devemos educar para sermos melhores do que antes. Não devemos
promover a competitividade entre as crianças. Que mundo queres criar? Um mundo
competitivo ou um mundo no qual toda agente colabora?
Mas é possível ter as duas coisas. Pensemos nos
desportos em equipa. Os jogadores da mesma equipa ajudam-se, mas competem com a
equipa adversária.
Eu fui futebolista e tentei dar o máximo de mim. Todos
os dias treinava duro para melhorar. E melhorando sabia que a equipa seguiria
em frente.
Dentro das salas , quando forma grupos, cria
competição entre eles?
Não. Eles colaboram. Estamos a falar de aprendizagem
em todos os sentidos. Aprendem também a respeitar e a partilhar.
E faz testes?
Sim.
E trabalhos para casa?
As crianças passam muitas horas na escola e não têm
culpa do currículo ser tão extenso. Ao fim de semana o que gostas de fazer?
Passear, desligar do que fazes, certo? As crianças têm mais tempo e
mandamos-lhes mais trabalhos para casa. Eu gosto de os pôr a investigar. Mas
gosto que tenham tempo para eles e para a família. Por isso, quando envio
trabalhos para casa são poucos e servem para complementar ou estimular a sua
curiosidade e criatividade.
Como é que se faz com que a criança goste da escola ?
Essa seria uma boa pergunta para ser colocada num
congresso de professores. Muitos regressariam à criança que foram. Se os
fazemos sentir-se parte da escola e da sociedade, se os fazemos falar e
partilhar as ideias e se eles se sentem escutados e úteis, no dia seguinte vão
com mais vontade para a escola.
Algumas pessoas criticam-no, dizendo que promove a
felicidade ignorante. Como responde a estas críticas?
É paradoxal, porque criticam o que não conhecem. Dizem
que não há conhecimento, mas também não conhecem. Antes de se abrir a boca deve-se
saber do que se fala. É por isso que eu não falo muito. Para mim, saber muitas
coisas é importantíssimo. Ter um bom domínio de linguagem e conhecimentos de
história. Mas tão importante quanto isto é que as crianças se sintam felizes. E
educar na felicidade não significa não ser exigente. Eu sou muito exigente. E
digo-lhes que a auto exigência é importantíssima. E quando estou a falar de
felicidade estou a falar de educar na resiliência, na frustração, no respeito.
Isto está na mesma linha do conhecimento.
"Educar na felicidade não significa não ser
exigente. Eu sou muito exigente. E quando estou a falar de felicidade estou a
falar de educar na resiliência, na frustração, no respeito. Isto está na mesma
linha do conhecimento."
Porque acha que o criticam?
Porque falta reflexão. E falta cada um olhar para si e
ver-se como um ser imperfeito. Nada é perfeito e estamos sempre a aprender. Se
és professor tens de estar sempre a aprender. Eu, quando era criança, sentia-me
bem quando me perguntavam o que tinha para dizer ou o que sugeria. Sentia-me
importante. Ou quando um professor me tratava com carinho. Eu tive professores
muito exigentes e nada carinhosos e sentia terror. Mas também não podemos dar
muito carinho sem exigir, porque senão não se aprende nada.
E sempre pensou assim?
Há 15 anos que dou aulas, mas nem sempre pensei assim.
Eu era um professor inflexível, mas percebi que tinha de mudar.
E acha que é melhor professor agora?
Sou melhor pessoa agora. Para mim ser professor e
pessoa é a mesma coisa.
Como é que lida com mau comportamento dentro da sala
de aula?
Ao longo dos anos, fui percebendo que todos os
castigos que apliquei nunca funcionaram e cheguei a uma conclusão mais
profunda: que esses castigos eram a projeção da minha frustração. Quando já não
sabia o que fazer, castigava-os. Só começou a funcionar quando comecei a
perguntar-lhes o que tinham para me ensinar a mim e aos colegas. Isso
transformou tudo.
Li no seu livro que uma das estratégias foi a criação
da “Ilha de Creta”. É uma espécie de castigo suave.
(Risos) É um convite à reflexão. E chamei-lhe “Ilha de
Creta” porque gosto muito de mitologia. Quando os alunos vão para essa mesa,
isolados do grupo, acabam por perceber que estão melhor em sociedade, no grupo.
E isso faz com que queiram voltar.
Inspirou-se em algo ou alguém?
Creio que tudo está inventado. Eu não criei nada. A
inspiração está em todos os sítios, num filme, num livro, numa pessoa que vejo
na rua, num amigo.
Esta maneira de dar aulas permitiu-lhe chegar aos 50
finalistas do Global Teacher Prize. Concorreram 5.000. Como viu esta distinção?
Com muita tranquilidade. Eu vejo a vida como uma
linha. Sei de onde venho e que sou professor. Tudo o que tem acontecido e a
exposição mediática são acidentes positivos. Quando isto passar eu voltarei à
aula. Tudo isto têm sido presentes. A gente que tenho conhecido, as viagens…
César Bona esteve em Portugal para participar num
debate sobre educação e falou com o Observador no Hotel Real Palácio, em
Lisboa.
Acha que esta exposição e o facto de as suas ideias
chegarem a mais gente, pode ajudar à mudança?
Pode estar a ajudar. A única diferença entre o
professor César e milhares de professores é o microfone. Há gente admirável e
que não servirá nunca de guia. Esta profissão é a mais bonita possível. E eu
estou aqui para falar por milhares de professores. Eu não invento nada. Falo de
coisas do senso comum e digo, sobretudo, que a criança tem de estar no centro
de tudo.
E parece que há cada vez mais professores a perceber
que o modelo está esgotado e o quer mudar.
Sim, é verdade. Mas os professores têm de perceber que têm de ser eles próprios
a dar o passo e têm de estar conscientes de que não são ilhas. Têm de
comunicar. E mudar não significa que haja uma luta entre inovação e escola
tradicional. Mudar ou inovar deveria significar estar consciente de que cada
passo que damos tem de ir no sentido do bem estar da criança. Tudo está
inventado. Temos de conseguir educar tendo em conta o fator humano e com a
consciência de que cada passo que damos ou cada palavra que dizemos vai
influenciar os demais. E por isso temos de tentar que essa influência seja
positiva.
Volto aos resultados. As notas dos alunos melhoram com
este método de ensino?
São, comprovadamente, melhores. Em questão de notas e
de compromisso social. As crianças nestas escolas sentem-se envolvidas e
escutadas. Em algumas escolas até fazem as normas da escola e são os primeiros
a cumpri-las.
De todos os projetos que levou a cabo até agora nas
escolas, qual o mais marcante?
É difícil porque têm todos contextos distintos.
Obviamente que o filme mudo foi muito especial. A escola só tinha seis
crianças. Dessas, duas não se falavam por motivos familiares. Eu não conseguia
suportar aquilo. A escola com seis crianças estava dividida. Então pensei fazer
o filme mudo e disse à menina e ao menino que não se falavam que eles seriam os
protagonistas e que se iriam amar. Vê-los a trabalhar juntos e ver como
finalmente as famílias e as pessoas daquela povoação se uniram foi incrível.
Em Portugal, os professores sentem-se pouco
respeitados. Porque é que acha que os professores foram perdendo o respeito dos
alunos e dos pais? De quem é a culpa?
Aplica-se o mesmo a Espanha. Mas eu não usaria a
palavra culpa. Se recuarmos, o respeito estava muitas vezes associado ao medo.
E foi-se de extremo a extremo. Temos de refletir, porque o respeito não é
sinónimo de medo. Não se pode exigir respeito. O respeito ganha-se. E sim, a
sociedade tem de começar a dar valor a esta profissão que é a mais importante
de todas.
in Observador
Marlene Carriço
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