sábado, 4 de fevereiro de 2017

Aristóteles e a Zoologia



 Aristóteles e a Zoologia

Contribuições de Aristóteles na Zoologia ainda permanecem atuais

Filósofo estudou mais de 500 espécies criando métodos utilizados até hoje





Doutor em paleontologia, Jorge Ferigolo é pesquisador da Zoologia de Aristóteles (Foto: Divulgação)

Considerado o Pai da Zoologia, Aristóteles foi um profundo pesquisador do reino animal, chegando a estudar, com grande riqueza de detalhes, as estruturas anatômicas de mais de 500 espécies. Dentre suas contribuições, além de ter sido pioneiro na classificação de diferentes tipos de animais, o filósofo grego criou eficientes métodos de análises comparativas, adotados até os dias de hoje na biologia, como o conceito de anatomia comparada. Para entender um pouco mais sobre como seus estudos influenciaram outros pesquisadores, o site do Globo Ciência conversou com o doutor em paleontologia Jorge Ferigolo, do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica de Porto Alegre. Especialista no assunto, Ferigolo, que aborda em nova tese de doutorado o tema “Filosofia na Biologia de Aristóteles”, é enfático ao afirmar que os estudos do filósofo, realizados no século IV a. C., ainda permanecem mais do que atuais no campo da Zoologia.

O que, especificamente, Aristóteles estudou no ramo da Zoologia?
- Foi Aristóteles quem, praticamente, iniciou as pesquisas no ramo da Zoologia. Antes dele, alguns autores esporádicos se referiram aos estudos da anatomia dos animais. Entretanto, com um interesse voltado para a medicina, com aplicação no homem. No texto de Hipócrates, por exemplo, havia estudos dos animais, mas direcionados para o homem, sempre comparados com a anatomia humana. Ou seja, o interesse era médico, se tornando Hipócrates o Pai da Medicina.

Aristóteles estudou anatomicamente mais de 500 espécies, dissecando um grande número de animais e descrevendo, nos vertebrados, todos os órgãos internos. Essas descrições ainda continuam atuais, sendo melhores, até mesmo, do que as publicadas em livros científicos de hoje. A classificação feita por ele foi baseada na comparação das estruturas desses animais, divididos por Aristóteles em dois grupos: sanguíneos e não sanguíneos, ou seja, espécies com ou sem sangue vermelho.

No grupo dos vertebrados, o filósofo observou peixes; aves; quadrúpedes ovíparos, incluindo répteis e anfíbios; e quadrúpedes vivíparos, abrangendo os mamíferos aquáticos, como as baleias. Ele identificou várias características dos cetáceos, admitindo na época que os golfinhos não eram peixes, pois respiravam e tinham pulmões. Já no grupo dos sem sangue, Aristóteles observou espécies de moluscos, crustáceos e insetos, dentre outros.

Além disso, ele foi o primeiro a descrever o desenvolvimento do embrião da galinha, observando a olho nu todas as suas fases. O filósofo propôs, ainda, a primeira classificação dos animais, melhor em muitos sentidos do que a criada no século XVIII pelo biólogo sueco Lineu, que propôs a classificação binominal de gênero e espécie.

Como surgiu o interesse de Aristóteles pela Zoologia?
- Isso é um mistério, pois não existem evidências claras que datem esse fato. Entretanto, o pai de Aristóteles era médico, e é bem possível que isso tenha influenciado o seu interesse pela anatomia dos animais logo cedo. Pela profundidade da sua pesquisa, os especialistas supõem que ele tenha começado esse trabalho de pesquisa enquanto criança, ou muito jovem.

Quais métodos Aristóteles usava para pesquisar os animais?
- Existe muita discussão em torno de qual método Aristóteles utilizava, mas ele observava em primeiro lugar, tecia hipóteses e as testava, adotando o método dialético, mas que não é a mesma dialética de Platão. Ele partia dos dados que já existiam, das opiniões confiáveis de especialistas como Empédocles e Demócrito, e confrontava essas ideias, fazendo suas próprias observações.

Qual legado Aristóteles deixou com as suas pesquisas dos animais?
- Foi ele quem criou a anatomia comparada para estudar os animais e compreendê-los por meio da distinção. O método comparativo aparece pela primeira vez em Aristóteles e é utilizado até hoje, sendo a anatomia comparada a base de estudo da biologia atual. Além disso, ele criou o método de introdução, ou histórico, que consiste em referenciar o acervo de pesquisadores anteriores. Isso consiste em compilar os dados de outros autores para compará-los e discuti-los. Ou seja, ele  fazia longas citações de pesquisas anteriores, interpretando-as e descrevendo o que faltava com relação à função das estruturas, que o filósofo chamava de causa final, o fim para o qual as coisas existem. Na filosofia de Aristóteles, todas as estruturas deveriam ter uma finalidade, um objetivo final, que nos animais é exatamente a função da estrutura. Nesse sentido, ele passa a ser o criador da fisiologia, que é área da ciência que estuda a função das estruturas.

Que técnicas de anatomia Aristóteles utilizava para suas pesquisas?
- Não se sabe especificamente quais técnicas utilizava, mas sabemos que dissecava os animais e descrevia os seus órgãos internos. Possivelmente, ele deve ter utilizado os instrumentos da medicina da época do Império Romano, que são, basicamente, os mesmos empregados hoje, como pinça e bisturi, dentre outros.

Quais as principais obras escritas pelo filósofo sobre os animais?
- Aristóteles escreveu duas obras importantes, incluindo “A história dos animais”, principal estudo de Zoologia da antiguidade, abordando a anatomia comparada dos animais, e “Fisiologia e morfologia dos animais”, que além de tratar da anatomia comparada, destaca a fisiologia, pois explica as funções das partes dos animais.

Como fazer um paralelo entre a filosofia e as pesquisas científicas de Aristóteles?
- Nesse sentido, a biologia de Aristóteles tem sido considerada desde o começo do século passado, principalmente a partir da década de 80, como importante para a compreensão da sua filosofia. Muitos dos conceitos que aparecem na biologia também surgem na filosofia. Por exemplo, “forma”, “matéria” e “espécie” são termos claramente biológicos, mas fundamentais na filosofia de Aristóteles. “Forma” e “matéria” na biologia de Aristóteles esclarecem o significado nem tão claro desses termos na sua filosofia.

  
Aristóteles não raro é apontado como o "pai" da biologia e, em especial, da zoologia - tendo desenvolvido métodos de classificação e de estudo que persistem até hoje, como de anatomia comparada, por exemplo.
Contam os biógrafos, que Aristóteles pedia para que seus conhecidos lhe trouxessem exemplares de plantas quando voltassem de viagens distantes para que pudesse classificá-las. É o processo indutivo, do particular para o universal. Assim fazia com as plantas, assim também fazia com os animais. Seguindo sempre conforme sua visão teleológica - ou seja, que o movimento caminha para um fim determinado, um objetivo último -, Aristóteles acreditava que podemos conhecer a essência das coisas abstraindo aquilo que é mais evidente e acessível para nós e ascendendo a um grau mais elevado e universal do conhecimento.
Nesta entrevista o paleontólogo Jorge Ferigolo, que também é pesquisador da biologia e da filosofia de Aristóteles, comenta a importância e a permanência das ideias do estagirita.
"Aristóteles estudou anatomicamente mais de 500 espécies, dissecando um grande número de animais e descrevendo, nos vertebrados, todos os órgãos internos. Essas descrições ainda continuam atuais. [...] A classificação feita por ele foi baseada na comparação das estruturas desses animais, divididos por Aristóteles em dois grupos: sanguíneos e não sanguíneos, ou seja, espécies com ou sem sangue vermelho. [...] Ele identificou várias características dos cetáceos, admitindo na época que os golfinhos não eram peixes, pois respiravam e tinham pulmões. [...] Nesse sentido, a biologia de Aristóteles tem sido considerada desde o começo do século passado [...] como importante para a compreensão da sua filosofia."
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Professor de Filosofia - Pense fora da caixa!
  
08/10/2011 06h17 - Atualizado em 08/10/2011 09h01




                                                Lola


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