Especismo
"Especismo" é um termo
cunhado segundo a ética utilitarista e que denomina o preconceito moral em
relação a espécie de um outro ser, assim como racismo e sexismo sugerem uma
superioridade em relação a raça ou ao sexo.
A pergunta é a seguinte: é justo reivindicar
uma superioridade moral baseada em diferenças de ordem biológica? Quer dizer, o
que faz do seu cérebro humano super desenvolvido moralmente superior as asas
super desenvolvidas de um outro ser que pode voar? Ou aos super músculos que permitem outros animais correrem a
velocidades impensáveis para um ser humano bípede e limitado? Que diferença faz
ter unhas ou cascos nos pés? Ou o formato do focinho? Não são todas diferenças
apenas biológicas? Será que o fato de termos desenvolvido a matemática ou de
conseguirmos compreender textos complexos de filosofia nos permite cominar
qualquer tipo de sofrimento aos animais de outras espécies?
O filósofo britânico Jeremy
Bentham resumiu esse pensamento na seguinte frase: "Não importa que os
animais não possam pensar; importa que podem sofrer". O sofrimento, e não
a capacidade de pensar - segundo a ética utilitarista -, deveria ser o limite
para o agir moral e, sendo assim, os outros animais que podem sofrer também
deveriam ser levados em consideração no cálculo moral de nossas ações.
"Enquanto o racismo e o
sexismo são os tratamentos injustos de membros de certos grupos de seres
humanos, o especismo é o tratamento injusto de membros de certas espécies.
[...] Algumas pessoas dizem que não respeitamos plenamente os animais porque
eles são menos inteligentes que humanos. [...] Entretanto, existem humanos que
não têm a capacidade de raciocínio nem possuem qualquer tipo de cognição
complexa normalmente associada com humanos, como aqueles com diversidade
funcional e algumas pessoas idosas. É justo tirarmos vantagem desses humanos
simplesmente porque somos mais inteligentes? [...] Aqueles que querem usar a
inteligência como uma razão para não respeitar animais não humanos na verdade
teriam os mesmos motivos para discriminar muitos humanos também."
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Professor de Filosofia - Pense fora da caixa!
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Professor de Filosofia - Pense fora da caixa!
O especismo não tem justificativa
Como o sexismo e o racismo, o especismo é uma forma de discriminação.
Enquanto o racismo e o sexismo são os tratamentos injustos de membros de certos
grupos de seres humanos, o especismo é o tratamento injusto de membros de
certas espécies.
Às vezes é dito que não há razões moralmente convincentes para respeitar
animais não humanos. Mas, na verdade, há boas razões para concluir que a forma
em que a maioria dos animais sofre e morre é injusta, e que o especismo é
totalmente inaceitável. Algumas razões pelas quais o especismo não tem
justificativa são dadas a seguir.
Devemos discriminar aqueles que são menos inteligentes?
Algumas pessoas dizem que não respeitamos plenamente os animais porque eles
são menos inteligentes que humanos. É verdade que a maioria dos humanos tem
certas capacidades que outros animais não têm. Entretanto, existem humanos que
não têm a capacidade de raciocínio nem possuem qualquer tipo de cognição
complexa normalmente associada com humanos, como aqueles com diversidade
funcional e algumas pessoas idosas. É justo tirarmos vantagem desses humanos
simplesmente porque somos mais inteligentes? É claro que não. E não é nem um
pouco mais justo discriminar outros animais que não têm as mesmas capacidades
que nós temos.
Aqueles que querem usar a inteligência como uma razão para não respeitar
animais não humanos na verdade teriam os mesmos motivos para discriminar muitos
humanos também. Há capacidades que alguns animais não humanos possuem que
humanos não têm. Alguns animais são capazes de voar, possuem um sentido de
olfato aguçado, ou têm a capacidade de correr em velocidades muito altas.
Ter simpatia por alguns não justifica o abuso de outros
Algumas pessoas argumentariam que é aceitável discriminar animais de outras
espécies porque os humanos não têm relações próximas e afetuosas com eles.
Argumentariam que os humanos têm sim relações próximas e afetuosas com outros
humanos, e por essa razão não devemos discriminar outros humanos. Entretanto,
também existem humanos que não têm uma relação com ninguém. Existem pessoas
idosas e órfãos com quem ninguém se preocupa. Existem crianças cujas famílias
estão mortas, e que estão trabalhando como escravas. As pessoas que as
escravizam não se preocupam com elas. Mas isso não é uma justificativa para
explorá-las. Pensamos que essas pessoas devem ser respeitadas. Achamos injusta
a discriminação contra os outros que não têm nenhuma relação humana próxima. Se
isso é injusto, não pode ser usado como argumento para a discriminação contra
animais humanos ou não humanos.
Humanos são mais poderosos
Existem argumentos que dizem que humanos podem discriminar animais não humanos
simplesmente porque somos mais poderosos que eles. Esse é o mesmo raciocínio
usado para explorar e escravizar muitos humanos para o benefício dos poderosos.
Se nos opomos à frase “poder faz o direito” como uma justificativa para a
discriminação, então não podemos usar isso como uma razão para a discriminação
contra animais não humanos mais do que podemos para a discriminação contra
humanos.
Eles pertencem a uma espécie diferente
Algumas pessoas dizem que está bem discriminar outros animais simplesmente
porque pertencem a uma espécie diferente. Isso equivale a dizer que podemos
discriminar outros animais sem motivo algum. Pertencer a uma espécie por si só
não determina se alguém pode ser prejudicado ou beneficiado por nossas ações.
Isso é determinado pelo fato de os animais poderem sentir sofrimento e desfrute
ou não. Ignorar o fator mais relevante — a consciência — e usar uma
classificação baseada em outra coisa é como responder “porque sim.” Esse é um
tipo de raciocínio circular, também conhecido como petição de princípio. As
pessoas que usam esse argumento assumem desde o início o que eles deveriam
tentar provar, que como devemos tratar outros depende da espécie a que
pertencem.
Se aceitássemos que podemos discriminar animais de outras espécies “porque
sim”, então teríamos que aceitar qualquer outro tipo de injustiça ou
discriminação pela mesma razão. Alguém que queira defender o racismo poderia
também dizer que podemos discriminar humanos com diferentes cores de pele
“porque sim.” Mas isso não diz nada.
O especismo é uma injustiça
Para descobrir se uma situação é injusta, podemos tentar nos colocar na
situação dos envolvidos. Por exemplo, suponha que queremos descobrir se o
racismo é injusto. Teríamos que nos colocar no lugar dos indivíduos afetados
por ele. Teríamos que considerar não apenas as perspectivas daqueles que se
beneficiam do racismo, mas também as perspectivas daqueles que são prejudicados
por ele. Isso é o que a imparcialidade exige.
Se alguém que discrimina por razões racistas fosse levado a sofrer o que os
discriminados sofrem, certamente seria contra o racismo. E quanto ao especismo?
Devemos fazer a mesma coisa ao considerar o especismo. Devemos nos colocar no
lugar dos animais que são prejudicados por ele. Não é suficiente observá-lo
apenas através da nossa perspectiva. Temos que pensar sobre como é da
perspectiva dos animais.
Se fossemos nós quem tivesse que sofrer o que os animais não humanos sofrem
por causa do especismo, iríamos aceitá-lo?
É claro que não aceitaríamos. Nunca aceitaríamos isso se fossemos as
vítimas. Se acreditamos que a justiça exige imparcialidade, então não podemos
aceitar isso como algo justo. Portanto, o especismo é injusto.
Lola
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