Filosofia e Musica
Trecho retirado da obra
"Crítica do Juízo", obra de Immanuel Kant em que o alemão trata das
questões ligadas a percepção estética.
Neste trecho em especial, Kant fala
sobre a nossa relação com as diferentes formas de arte e comenta sobre a inconveniência
de ter alguém ouvindo uma música alta perto de você de modo que você não tem
escolha em ouvir ou não.
Pobre Kant, sofreria horrores nos dias de hoje.
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Professor de Filosofia - Pense fora da caixa!
Professor de Filosofia - Pense fora da caixa!
Extracto da obra Crítica do
Juízo de Immanuel Kant . Königsberg, 1790 d.C.
"Depois da poesia, se nosso
propósito é lidar com o encanto e o movimento mental, eu colocaria aquela arte
que se aproxima mais da arte do discurso e pode ser naturalmente unida a ele, a
saber, a arte do tom. Sendo a melodia, por assim dizer, a linguagem
universal das sensações inteligível a todo homem, a arte do tom a emprega por
si mesma, singular em toda a sua força, isto é, como uma linguagem dos afetos,
e assim comunica universalmente, de acordo com as leis da associação, as ideias
estéticas naturalmente referentes a eles. Isto pode ser traduzido
matematicamente sob certas regras, porque tal linguagem se baseia, no caso dos
tons, nas relações entre os números de vibrações do ar num mesmo intervalo de
tempo, na medida em que estes tons são combinados simultaneamente ou
sucessivamente. Mas no encanto e no movimento mental produzido pela música, a
matemática certamente não tem qualquer parte. É somente a condição
indispensável daquela proporção de impressões na sua combinação e na sua
alternância através das quais se torna possível coordená-las e impedir que se
destruam umas às outras, e harmonizá-las a fim de produzir uma animação e um
movimento contínuo da mente através dos afetos consonantes em cada caso,
resultando daí um delicioso gozo pessoal.
Se, por outro lado, estimamos o
valor das belas-artes pela cultura que elas fornecem ao espírito e as tomamos
como padrão da expansão das faculdades que devem concorrer para o juízo da
cognição, a música terá o lugar mais baixo entre elas (assim como tem, talvez,
o mais alto entre aquelas artes que são valorizadas pela sua capacidade de
deleitar), porque tudo o que ela faz é jogar com as sensações.
De resto, isto confere à música
uma certa falta de civilidade, pelo fato de que, fundamentalmente em razão do
caráter de seus instrumentos, ela estende a sua influência além do que seria
desejado (nos arredores), e assim ela se intromete e agride a liberdade dos
outros que não fazem parte da companhia musical. As artes que apelam ao olho
não fazem isso, pois se quisermos evitar que elas nos afetem basta virar nossos
olhos para outro lado. O caso da música é quase como aquele do prazer derivado
de um aroma que se difunde avidamente. O homem que puxa do bolso seu lencinho
perfumado atrai a atenção de todos ao seu redor, mesmo contra a vontade deles,
e portanto os força, ao menos aos que quiserem respirar, a sentir aquele
perfume; por isso este hábito saiu de moda. Aqueles que recomendam o canto de
canções espirituais em orações de família não consideram que eles infligem uma
grande agrura sobre o público com devoções tão barulhentas (e
portanto de um modo geral farisaicas), pois eles forçam os vizinhos ou a cantar
com eles ou a abandonar suas meditações."
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