domingo, 12 de fevereiro de 2017

Os valores não são...






Os valores não são...


“O homem percebe em torno de si uma multiplicidade de coisas boas e más, uma multiplicidade de objectos belos e feios, grandiosos e mesquinhos, nobres e vulgares. O nosso mundo não consta apenas, nem principalmente, das coisas, mas dessas atracções e repulsões que a realidade circundante exerce sobre a nossa alma. O mundo real e concreto, o mundo que efectivamente vivemos, não é o que a física, a química, a matemática, nos descrevem, mas um imenso arsenal de bens e de males, com os quais edificamos a vida.

A noção do valor tem sido objecto de muitos estudos na mais recente filosofia. Iremos, então, referir alguns aspectos que consideramos importantes.


  •  Os valores não são coisas. Não podem perceber‑se como se percebem as coisas, o modo de perceber os valores não consiste em os vermos com os olhos da cara ‑ o que não obsta a que os valores sejam tão clara e autenticamente vividos por nós como as coisas e os objectos matemáticos. Os valores, pois, são qualidades que atribuímos às coisas, mas que não estão nas coisas de modo real e sensível, como estão a figura, o peso, a cor, etc.


  •  O ser dos valores não é, portanto, o mesmo ser  da realidade material. Se quisermos ser rigorosos, devemos distinguir vários modos de ser; um deles é o ser sensível, outro o ser ideal (como, por exemplo, o dos objectos matemáticos) e um terceiro modo de ser é o valer, e é este que precisamente corresponde aos valores. Em sentido próprio, os valores não existem nem são, mas valem.


  •  Assim, os valores não são conhecidos, como são conhecidas as coisas físicas e os objectos ideais, mas são estimados. 


  •  O valor não se caracteriza pelo prazer que produz, se o produz. É erróneo dizer que as coisas são valiosas, porque nos produzem prazer. Na realidade, os valores valem independentemente do prazer que produzem. O prazer é valioso; é preferível à dor. Porém, do prazer ser um valor não se infere legitimamente que todo o valor seja prazer.


  •  O valor não se caracteriza também pelo desejo. Quando desejamos uma coisa é porque percebemos valor nela, o que, todavia não quer dizer que inversamente todo o valor seja desejado. Ocorre frequentemente percebermos um valor numa coisa e não a desejarmos.



  • Os valores têm matériapolaridade e hierarquia. 

A matéria do valor é o que distingue uns valores dos outros. Por directa apreensão do significado que damos às palavras, distinguimos a santidade da beleza, a elegância da justiça. Todos eles são valores; mas cada um distingue‑se do outro  pelo seu conteúdo próprio, pela sua própria consistência.

polaridade é a propriedade que têm todos os valores de se contraporem num pólo positivo e num pólo negativo. À beleza contrapõe‑se a fealdade, à generosidade a mesquinhez, à santidade a profanidade.

hierarquia é a propriedade que possuem os valores de se subordinarem uns aos outros, isto é, de serem uns mais valiosos que outros. A justiça é, em hierarquia, superior à elegância; e é‑o com a mesma evidência com que a soma dos dois lados do triângulo é maior que o terceiro lado. Poderíamos dizer que todos os valores valem, mas que uns valem mais que os outros.


  •  Os valores podem classificar‑se também em valores‑meio e valores‑fim. Os valores‑meio são aqueles cuja valia consiste em servir para a obtenção de outros valores; os valores‑fim são os que valem por si e sem necessidade de servirem à obtenção de outros valores.


  •  Não podem definir‑se os valores. Conhecê‑los é estimá‑los, e estimá‑los é percebê‑los, intuí‑los. Para revelar um valor cumpre colocá‑lo intuitivamente perante a pessoa; mas como os valores não são coisas, é preciso, para que se percebam estimativamente, perceber coisas e imaginar coisas (objectos, acções, etc.) em que os valores estejam realizados, efectivados. Para dar a conhecer uma cor, temos que a exibir; para dar a estimar um valor, temos que o apresentar numa coisa.”


Manuel Garcia Morente






Tarefa:

  • Qual a necessidade dos valores?
  • O que são os valores?
  • O que não são valores?
  • O que é a matéria dos valores?
  • O que é a polaridade dos valores?
  • O que é a hierarquia dos valores?
  • O que são valores-meio?
  • O que são valores-fim?

Comente as seguintes afirmações:

1 -  "O mundo real e concreto, o mundo que efectivamente vivemos, não é o que a física, a química, a matemática, nos descrevem, mas um imenso arsenal de bens e de males, com os quais edificamos a vida."

2 -  "Os valores, pois, são qualidades que atribuímos às coisas, mas que não estão nas coisas de modo real e sensível, como estão a figura, o peso, a cor, etc." 


                                                Lola

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