1) Qualquer problema em que a moralidade seja relevante.
Este uso lato inclui não apenas conflitos entre razões morais,
mas também conflitos entre razões morais e razões legais, religiosas ou
relacionadas com o interesse próprio. Neste sentido, Abraão encontra-se num
dilema moral quando Deus lhe ordena que sacrifique o seu filho, ainda que ele
não tenha qualquer razão moral para obedecer. Analogamente, encontro-me num
dilema moral se não puder ajudar um amigo que esteja com problemas sem
renunciar a uma lucrativa mas moralmente neutra oportunidade de negócio.
“Dilema moral” refere-se também muitas vezes ao seguinte:
2) Qualquer área temática em que não se sabe o
que é moralmente bom ou certo, se é que algo o é.
Por exemplo, quando se pergunta se o aborto é de algum modo
imoral, podemos chamar ao tópico “o dilema moral do aborto”. Este uso
epistémico não implica que algo seja realmente de todo em todo imoral.
Recentemente, os filósofos morais têm vindo a discutir como
“dilemas morais” um conjunto muito mais limitado de situações, definindo
habitualmente “dilema moral” como se segue:
3) Uma situação em que um agente tem o dever moral
de fazer duas acções, mas não pode fazer as duas.
O exemplo mais conhecido é o estudante de Sartre que tinha o
dever moral de cuidar da sua mãe em Paris, mas que ao mesmo tempo tinha o dever
moral de ir para Inglaterra para entrar para a França Livre e lutar contra os
nazis.
Contudo, “dever” abrange acções ideais que não são moralmente
exigidas, como quando alguém ter o dever de dar dinheiro para uma caridade, mas
tal não lhe é exigido. Dado que a maior parte dos exemplos habituais de dilemas
morais incluem obrigações ou exigências morais, é mais rigoroso definir “dilema
moral” de forma mais restrita:
4) Uma situação em que um agente tem uma obrigação ou exigência moral de fazer duas acções, mas
não pode fazer as duas.
Alguns filósofos recusam também chamar “dilema moral” a uma
situação quando uma das exigências em conflito é claramente derrotada, como
quando tenho de quebrar uma promessa trivial para salvar uma vida.
Para excluir
este tipo de conflitos resolúveis, podemos definir “dilema moral” da seguinte
maneira:
5) Uma situação em que um agente tem uma exigência moral
de adoptar ambas as alternativas e nenhuma exigência é derrotada, mas o agente não pode
cumprir as duas.
Outra jogada habitual é definir “dilema moral” da seguinte
maneira:
6) Uma situação em que todas as alternativas são
moralmente erradas.
Isto é equivalente a 4 ou 5, respectivamente, se um acto for
moralmente errado sempre que viola uma exigência moral ou qualquer exigência
moral não derrotada. Contudo, não dizemos habitualmente que uma acção está
errada por violar uma exigência moral derrotada, pelo que 6 exclui por
definição dilemas morais, dado que exigências morais derrotadas não podem
obviamente estar em conflito.
Apesar de 5 parecer preferível, algumas pessoas objectarão que 5
inclui exigências e conflitos triviais, como conflitos entre promessas
triviais.
Para incluir apenas situações trágicas podemos definir “dilema moral”
da seguinte maneira:
7) Uma situação em que um agente tem uma forte obrigação
ou exigência moral de adoptar duas alternativas, sendo que nenhuma das duas
está derrotada, mas o agente não pode adoptar ambas as alternativas.
Esta definição é suficientemente forte para levantar as
importantes controvérsias sobre dilemas morais sem ser tão forte que exclua por
definição a sua possibilidade.
Walter Sinnott-Armstrong
Tradução de Desidério Murcho
Extraído
de Cambridge Dictionary of
Philosophy,
org. por Robert Audi.
Sem comentários:
Enviar um comentário