sexta-feira, 24 de março de 2017

Moral


Moral

“Quando as pessoas falam de ‘moral’ e sobretudo de ‘imoralidade’, oitenta por cento das vezes – e estou com toda a certeza a calcular por baixo – o sermão trata de alguma coisa que tem a ver com sexo. Tanto assim é que há quem julgue que a moral se dedica antes de mais a ajuizar o que as pessoas fazem com as suas partes sexuais. O disparate não podia ser maior (…). No sexo, por si próprio, nada há de mais ‘imoral’ do que comer ou passear no campo; claro que uma pessoa pode comportar-se imoralmente com o sexo (utilizando-o para prejudicar outra pessoa, por exemplo), do mesmo modo que há quem coma a parte do vizinho ou aproveite os seus passeios para planear atentados terroristas.”
Fernando Savater, Ética para um Jovem, 
14ª edição, Dom Quixote, 
Lisboa, 2007, pp. 115-116.



“Algumas pessoas pensam que a moral está ultrapassada nos dias que correm. Encaram a moral como um sistema de proibições puritanas descabidas que se destinam sobretudo a evitar que as pessoas se divirtam. Os moralistas tradicionais pretendem ser os defensores da moralidade em geral, mas o que defendem na realidade é um determinado código moral. Apropriaram-se desta área a tal ponto que, quando uma manchete de jornal insere o título BISPO ATACA A DECADÊNCIA DOS PADRÕES MORAIS, pensamos logo que se trata de mais um texto sobre promiscuidade, homossexualidade, pornografia, etc., e não sobre as verbas insignificantes que concedemos para a ajuda internacional às nações mais pobres nem sobre a nossa indiferença irresponsável para com o meio ambiente do nosso planeta.
Portanto, a primeira coisa a dizer da ética é que não se trata de um conjunto de proibições particularmente respeitantes ao sexo. Mesmo na época da Sida, o sexo não levanta nenhuma questão ética específica. As decisões sobre o sexo podem envolver considerações sobre a honestidade, o respeito pelos outros, a prudência, etc., mas não há nada disso nada de especial em relação ao sexo, pois o mesmo se poderia dizer de decisões respeitantes à condução de um automóvel.”

Peter Singer, Ética Prática, 
Gradiva, Lisboa, 2000, pág. 18.


Lola

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