Moral
“Quando as pessoas falam de ‘moral’ e
sobretudo de ‘imoralidade’, oitenta por cento das vezes – e estou com toda a
certeza a calcular por baixo – o sermão trata de alguma coisa que tem a ver com
sexo. Tanto assim é que há quem julgue que a moral se dedica antes de mais a
ajuizar o que as pessoas fazem com as suas partes sexuais. O disparate não
podia ser maior (…). No sexo, por si próprio, nada há de mais ‘imoral’ do que
comer ou passear no campo; claro que uma pessoa pode comportar-se imoralmente
com o sexo (utilizando-o para prejudicar outra pessoa, por exemplo), do mesmo
modo que há quem coma a parte do vizinho ou aproveite os seus passeios para
planear atentados terroristas.”
Fernando Savater, Ética
para um Jovem,
14ª edição, Dom Quixote,
Lisboa, 2007, pp. 115-116.
“Algumas pessoas pensam que a moral está
ultrapassada nos dias que correm. Encaram a moral como um sistema de proibições
puritanas descabidas que se destinam sobretudo a evitar que as pessoas se
divirtam. Os moralistas tradicionais pretendem ser os defensores da moralidade
em geral, mas o que defendem na realidade é um determinado código moral.
Apropriaram-se desta área a tal ponto que, quando uma manchete de jornal insere
o título BISPO ATACA A DECADÊNCIA DOS PADRÕES MORAIS, pensamos logo que se
trata de mais um texto sobre promiscuidade, homossexualidade, pornografia,
etc., e não sobre as verbas insignificantes que concedemos para a ajuda
internacional às nações mais pobres nem sobre a nossa indiferença irresponsável
para com o meio ambiente do nosso planeta.
Portanto, a primeira coisa a dizer da ética
é que não se trata de um conjunto de proibições particularmente respeitantes ao
sexo. Mesmo na época da Sida, o sexo não levanta nenhuma questão ética
específica. As decisões sobre o sexo podem envolver considerações sobre a
honestidade, o respeito pelos outros, a prudência, etc., mas não há nada disso
nada de especial em relação ao sexo, pois o mesmo se poderia dizer de decisões
respeitantes à condução de um automóvel.”
Peter Singer, Ética
Prática,
Gradiva, Lisboa, 2000, pág. 18.
Lola
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