Filosofia: quem precisa dela?
AYN RAND
Nova York, 6 de março de 1974.
Já que sou uma escritora de ficção, comecemos com uma
pequena estória. Suponha que você é um astronauta cuja espaçonave perde o
controle e se choca com um planeta desconhecido. Quando você retoma a
consciência e descobre que não está gravemente ferido, as três primeiras
questões que viriam à sua mente seriam: onde estou? Como posso descobrir isso?
O que devo fazer?
Você observa vegetação não familiar lá fora e percebe
que existe ar para respirar; a luz do sol parece mais pálida do que você se
recorda e também mais fria. Você se vira para olhar o céu, mas para. É
acometido por um sentimento repentino: caso não olhe, não terá de saber que,
talvez, você esteja longe demais da Terra e que retornar não é possível;
enquanto você não souber disso, estará livre para acreditar naquilo que desejar
– e você, então, experimenta um tipo de esperança nebuloso e prazeroso, ainda
que, um tanto cheio de culpa.
Você se volta para os seus instrumentos: eles podem
estar danificados, você não sabe o quão seriamente. Mas você para, acometido
por um medo repentino: como confiar nesses instrumentos? Como ter certeza de
que eles não o enganarão? Como saber se funcionarão num mundo diferente? Você
se afasta dos instrumentos.
Agora você começa a refletir por que não tem vontade
de fazer nada. Parece tão mais seguro apenas esperar que algo simplesmente
aconteça; é melhor, você diz a si mesmo, não mexer na espaçonave. Bem adiante,
você vê algum tipo de criaturas vivas se aproximando: você não sabe se são
humanos, mas vê que são bípedes. Eles, você decide, dirão a você o
que fazer.
Nunca mais ouvem falar de você.
Vocês diriam que isso é fantasia? Que vocês não
agiriam dessa forma assim como nenhum astronauta? Talvez não agissem. Mas é
essa a maneira como a maioria dos homens vive suas vidas aqui na Terra.
A maioria dos homens gasta seus dias lutando para
evitar três questões, cujas respostas subjazem a todo pensamento, sentimento e
ação do homem, quer esteja consciente disso ou não: Onde estou? Como posso
saber disso? O que devo fazer?
Quando os homens estão velhos o suficiente para
entender essas questões, julgam saber as respostas. Onde estou? Digamos, na
cidade de Nova York. Como sei disso? É autoevidente. O que devo fazer? Aqui,
eles não estão muito certos – mas a resposta comum é: o que quer que todos
façam. O único problema parece ser que eles não são muito ativos, nem muito
confiantes, nem muito felizes – e eles experimentam, às vezes, um medo sem
causa e uma culpa indefinida, que não conseguem explicar ou se livrar.
Eles nunca descobriram que o problema vem das três
questões que não respondidas – e que há apenas uma ciência capaz de
respondê-las: a filosofia.
A filosofia estuda a natureza fundamental da
existência, do homem e da relação do homem com a existência. Diferente das
ciências especiais, que lidam apenas com aspectos particulares, a filosofia
lida com aqueles aspectos do universo que pertencem a tudo que existe. No reino
da cognição, as ciências especiais são as árvores, mas a filosofia é o solo que
torna a floresta possível.
A filosofia não lhe diria, por exemplo, se você está
em Nova York ou em Zanzibar (embora ela pudesse lhe fornecer os meios para
descobrir). Mas eis o que ela de fato lhediria: você está num universo
que é dirigido por leis naturais e que, portanto, é estável, firme, absoluto –
e inteligível? Ou está num caos incompreensível, um reino de milagres
inexplicáveis, um fluxo imprevisível e ininteligível, o qual sua mente é
incapaz de compreender? As coisas que estão ao seu redor são reais - ou são
apenas ilusões? Elas existem independentemente de qualquer observador – ou são
criadas pelo observador? Elas são o objeto ou o sujeito da consciência do
homem? Elas são o que são - ou podem ser alteradas por um mero ato de
consciência, tal como um desejo?
A natureza das suas ações – e da sua ambição – será
diferente, de acordo com o conjunto de respostas que você vier a aceitar. Estas
respostas constituem a província dametafísica – o estudo da
existência enquanto tal, ou, nas palavras de Aristóteles, do “ser enquanto ser”
– o ramo básico da filosofia.
Não importa as conclusões que você alcançará, você
será confrontado pela necessidade de responder outra questão corolária:
Como eu sei? Já que o homem não é onisciente ou infalível, você tem de
descobrir o que você pode afirmar ser conhecimento e como provar a
validade das suas conclusões. O homem adquire conhecimento por um processo
racional – ou por revelação repentina de um poder sobrenatural? A razão é uma
faculdade que identifica e integra o material fornecido pelos sentidos do homem
– ou é preenchida por ideias inatas, implantadas na mente do homem antes do seu
nascimento? A razão é competente para perceber a realidade – ou o homem possui
alguma outra faculdade cognitiva que seja superior à razão? O homem pode
alcançar a certeza – ou ele está condenado à dúvida perpétua?
A dimensão da sua autoconfiança – e do seu sucesso –
será diferente, de acordo com o conjunto de respostas que você aceita. Essas
respostas constituem a província daepistemologia, a teoria do
conhecimento, que estuda os meios de cognição do homem.
Estes dois ramos da filosofia constituem a fundação
teórica da filosofia. O terceiro ramo – a ética – pode ser
considerado a sua tecnologia. A ética não se aplica a tudo que existe, apenas
ao homem, porém se aplica a todos os aspectos da vida do homem: seu caráter,
suas ações, seus valores, sua relação com toda existência. A ética, ou a
moralidade, define um código de valores para guiar as escolhas e ações do homem
– as escolhas e ações que determinam o curso de sua vida.
Da mesma forma que o astronauta da minha estória não
sabia o que deveria fazer, porque se recusava a saber onde ele estava e como
descobrir isso, você também não pode saber o que deve fazer até que você
conheça a natureza do universo com que está lidando, a natureza de seus meios
de cognição – bem como sua própria natureza. Antes de chegar à ética, você deve
responder as questões postas pela metafísica e pela epistemologia: o homem é um
ser racional, capaz de lidar com a realidade – ou é um desajustado impotente e
cego, uma migalha empurrada pelo fluxo universal? Realização e satisfação são
possíveis ao homem na terra – ou ele está condenado ao fracasso e desgosto? A
depender das respostas, você pode prosseguir e considerar as questões postas
pela ética: o que é o bem ou o mal para o homem – e por quê? A preocupação
primeira do homem deve ser uma busca pela alegria – ou uma fuga do sofrimento?
Ele deve manter a autorrealização – ou a autodestruição como meta em sua vida?
O homem deve perseguir seus valores – ou deve colocar os interesses de outras
pessoas acima dos seus próprios? Deve buscar a felicidade – ou o
autossacrifício?
Não preciso apontar as diferentes consequências desses
dois conjuntos de respostas. Você pode observá-las em toda parte - em vocês e
ao redor de vocês.
As respostas dadas pela ética determinam como o homem deve tratar os outros homens, o que vai determinar o quarto ramo da filosofia: a política, que define os princípios de um sistema social adequado. Como um exemplo da função da filosofia, a filosofia política não lhe dirá a quantidade de gasolina racionada que deve ser dada a você, nem qual o dia da semana – o que ela dirá é se o governo tem qualquer direito de impor racionamento sobre algo.
O quinto e último ramo da filosofia é a estética,
o estudo da arte, o qual se baseia na metafísica, na epistemologia e na ética.
A arte lida com as necessidades - o reabastecimento - da consciência do homem.
Agora, alguns de vocês podem dizer, como muitas pessoas dizem: "Ah, eu nunca penso em termos tão abstratos - Eu quero lidar com os problemas concretos, particulares, da vida real – para que eu preciso de filosofia?" A minha resposta é: para ser capaz de lidar com os problemas concretos, particulares, da vida real – i.e. para ser capaz de viver na terra.
Agora, alguns de vocês podem dizer, como muitas pessoas dizem: "Ah, eu nunca penso em termos tão abstratos - Eu quero lidar com os problemas concretos, particulares, da vida real – para que eu preciso de filosofia?" A minha resposta é: para ser capaz de lidar com os problemas concretos, particulares, da vida real – i.e. para ser capaz de viver na terra.
Você pode afirmar - como a maioria das pessoas afirma
- que vocês nunca se influenciaram por filosofia. Vou lhes pedir para checar
essa afirmação. Alguma vez vocês pensaram ou disseram o seguinte? "Não
tenha tanta certeza - ninguém pode ter certeza de nada." Vocês tomaram
essa noção de David Hume (e de muitos e muitos outros), mesmo que vocês nunca
tenham ouvido falar dele. Ou: "Isso pode ser bom na teoria, mas não
funciona na prática." Vocês tomaram de Platão. Ou: "Isso foi uma
péssima coisa de se fazer, mas foi apenas humano, ninguém é perfeito neste
mundo." Vocês tomaram de Agostinho. Ou: "Pode ser verdade para você,
mas não é verdade para mim." Vocês tomaram de William James. Ou: "Eu
não pude evitar. Ninguém pode evitar aquilo que faz!". Vocês tomaram de
Hegel. Ou: "Eu não posso provar, mas eu sinto que é
verdade." Vocês tomaram de Kant. Ou: "É lógico, mas a lógica não tem
nada a ver com a realidade." Vocês tomaram de Kant. Ou: "É mau,
porque é egoísta." Vocês tomaram de Kant. Vocês já ouviram os ativistas
modernos dizerem "Primeiro agir, depois pensar"? Eles tomaram de John
Dewey.
Algumas pessoas poderiam responder: "Tudo bem, eu disse essas coisas em momentos diferentes, mas eu não tenho que acreditar em todas elas ao mesmo tempo. Pode ter sido verdade ontem, mas não é verdade hoje". Elas tomaram de Hegel. Elas poderiam dizer: "Consistência é a fantasia das mentes pequenas." Eles tomaram de uma mente muito pequena, Emerson. Eles poderiam dizer: "Mas não podemos conciliar e tomar emprestado ideias diferentes de filosofias diferentes de acordo com a conveniência do momento?" Eles tomaram de Richard Nixon - que tomou de William James.
Agora, perguntem-se: se você não está interessado em ideias abstratas, por que você (e todos os homens) sente-se compelido a usá-las? O fato é que ideias abstratas são integrações conceituais que abrangem um número incalculável de concretos - e que sem idéias abstratas você não seria capaz de lidar com os problemas concretos, particulares, da vida real. Você estaria na posição de um bebê recém-nascido, para quem todo objeto é um fenômeno único, sem precedentes. A diferença entre o seu estado mental e o dele está no número de integrações conceituais realizadas pela sua mente.
Você não tem escolha sobre a necessidade de integrar suas observações, suas experiências, seu conhecimento em idéias abstratas, i.e., em princípios. Sua única escolha é se esses princípios são verdadeiros ou falsos, se representaram suas convicções racionais conscientes - ou um emaranhado de noções arrebatadas ao acaso, cujas fontes, validade, contexto e conseqüências você desconhece, noções que, mais normalmente do que não, você jogaria fora como uma batata quente se soubesse.
Mas os princípios que você aceita (consciente ou subconscientemente) podem colidir com ou contradizer uns aos outros; eles também têm de ser integrados. O que os integra? A Filosofia. Um sistema filosófico é uma visão integrada da existência. Como um ser humano, você não tem escolha sobre o fato de que precisa de uma filosofia. Sua única escolha é se você define sua filosofia por um processo consciente, racional e disciplinado de pensamento e deliberação escrupulosamente lógico - ou se você permite que o seu subconsciente acumule uma pilha inútil de conclusões injustificadas, falsas generalizações, contradições indefinidas, slogans não digeridos, desejos, dúvidas e medos não identificados, jogados juntos ao acaso, mas integrados pelo seu subconsciente como uma espécie de filosofia mal formada e fundida por um único peso firme: a autodúvida, semelhante a uma corrente e uma bola de ferro no lugar onde as asas da sua mente deveriam ter crescido.
Você poderia dizer, como muitas pessoas dizem, que nem sempre é fácil agir por princípios abstratos. Não, não é fácil. Mas o quão mais difícil é ter de agir de acordo com eles sem saber quais são eles?
Seu subconsciente é como um computador – um computador mais complexo do que os homens poderiam construir - e sua principal função é integrar suas idéias. Quem o programa? A sua mente consciente. Se você se omite, se não chega a quaisquer convicções firmes, seu subconsciente é programado por acaso - e você se entrega ao poder de ideias que você não sabe que aceitou. Mas de um jeito ou de outro, a cada dia e a cada hora, o computador imprime o resultado do seu funcionamento, na forma deemoções - que são rápidas estimativas das coisas ao seu redor, calculadas de acordo com os seus valores. Se você programou seu computador com pensamento consciente, você conhece a natureza dos seus valores e emoções. Se você não o programou, não sabe.
Muitas pessoas, particularmente hoje, afirmam que o homem não pode viver só pela lógica, que há o elemento emocional da sua natureza a considerar, e que elas dependem da orientação das suas emoções. Bem, o mesmo pode ser dito do astronauta da minha estória. A peça foi pregada contra ele - e contra todos: os valores e emoções do homem são determinados por sua visão fundamental da vida. O programador principal do seu subconsciente é a filosofia - a ciência que, de acordo com os emotivistas, é impotente para afetar ou penetrar os mistérios obscuros dos seus sentimentos.
Algumas pessoas poderiam responder: "Tudo bem, eu disse essas coisas em momentos diferentes, mas eu não tenho que acreditar em todas elas ao mesmo tempo. Pode ter sido verdade ontem, mas não é verdade hoje". Elas tomaram de Hegel. Elas poderiam dizer: "Consistência é a fantasia das mentes pequenas." Eles tomaram de uma mente muito pequena, Emerson. Eles poderiam dizer: "Mas não podemos conciliar e tomar emprestado ideias diferentes de filosofias diferentes de acordo com a conveniência do momento?" Eles tomaram de Richard Nixon - que tomou de William James.
Agora, perguntem-se: se você não está interessado em ideias abstratas, por que você (e todos os homens) sente-se compelido a usá-las? O fato é que ideias abstratas são integrações conceituais que abrangem um número incalculável de concretos - e que sem idéias abstratas você não seria capaz de lidar com os problemas concretos, particulares, da vida real. Você estaria na posição de um bebê recém-nascido, para quem todo objeto é um fenômeno único, sem precedentes. A diferença entre o seu estado mental e o dele está no número de integrações conceituais realizadas pela sua mente.
Você não tem escolha sobre a necessidade de integrar suas observações, suas experiências, seu conhecimento em idéias abstratas, i.e., em princípios. Sua única escolha é se esses princípios são verdadeiros ou falsos, se representaram suas convicções racionais conscientes - ou um emaranhado de noções arrebatadas ao acaso, cujas fontes, validade, contexto e conseqüências você desconhece, noções que, mais normalmente do que não, você jogaria fora como uma batata quente se soubesse.
Mas os princípios que você aceita (consciente ou subconscientemente) podem colidir com ou contradizer uns aos outros; eles também têm de ser integrados. O que os integra? A Filosofia. Um sistema filosófico é uma visão integrada da existência. Como um ser humano, você não tem escolha sobre o fato de que precisa de uma filosofia. Sua única escolha é se você define sua filosofia por um processo consciente, racional e disciplinado de pensamento e deliberação escrupulosamente lógico - ou se você permite que o seu subconsciente acumule uma pilha inútil de conclusões injustificadas, falsas generalizações, contradições indefinidas, slogans não digeridos, desejos, dúvidas e medos não identificados, jogados juntos ao acaso, mas integrados pelo seu subconsciente como uma espécie de filosofia mal formada e fundida por um único peso firme: a autodúvida, semelhante a uma corrente e uma bola de ferro no lugar onde as asas da sua mente deveriam ter crescido.
Você poderia dizer, como muitas pessoas dizem, que nem sempre é fácil agir por princípios abstratos. Não, não é fácil. Mas o quão mais difícil é ter de agir de acordo com eles sem saber quais são eles?
Seu subconsciente é como um computador – um computador mais complexo do que os homens poderiam construir - e sua principal função é integrar suas idéias. Quem o programa? A sua mente consciente. Se você se omite, se não chega a quaisquer convicções firmes, seu subconsciente é programado por acaso - e você se entrega ao poder de ideias que você não sabe que aceitou. Mas de um jeito ou de outro, a cada dia e a cada hora, o computador imprime o resultado do seu funcionamento, na forma deemoções - que são rápidas estimativas das coisas ao seu redor, calculadas de acordo com os seus valores. Se você programou seu computador com pensamento consciente, você conhece a natureza dos seus valores e emoções. Se você não o programou, não sabe.
Muitas pessoas, particularmente hoje, afirmam que o homem não pode viver só pela lógica, que há o elemento emocional da sua natureza a considerar, e que elas dependem da orientação das suas emoções. Bem, o mesmo pode ser dito do astronauta da minha estória. A peça foi pregada contra ele - e contra todos: os valores e emoções do homem são determinados por sua visão fundamental da vida. O programador principal do seu subconsciente é a filosofia - a ciência que, de acordo com os emotivistas, é impotente para afetar ou penetrar os mistérios obscuros dos seus sentimentos.
A qualidade da informação de saída de um computador é
determinada pela qualidade da informação de entrada. Caso seu subconsciente
seja programado pelo acaso, sua informação de saída terá um caráter
correspondente. Você provavelmente ouviu o eloquente termo criado pelos
operadores de computador, “gigo” – que significa “lixo entra, lixo sai” [garbage
in, garbage out]. O mesmo raciocínio se aplica à relação entre o pensamento
e as emoções de um homem.
Um homem que é governado por suas emoções é como um
homem governado por um computador cujas informações de saída ele não pode
compreender. Ele não sabe se o que está sendo programado é verdadeiro ou falso,
certo ou errado, se o conduzirá ao sucesso ou à destruição, se está a serviço
dos seus propósitos ou àqueles de algum poder maléfico e desconhecido. Está
cego em duas frentes: cego para o mundo que o rodeia e para seu próprio mundo
interior, incapaz de compreender tanto a realidade como seus próprios motivos,
e se encontra numa condição de terror crônico de ambos. As emoções não são
ferramentas de cognição. Os homens que não estão interessados pela filosofia
precisam dela mais urgentemente: estão impotentes com relação ao poder que ela
tem.
Os homens que não se encontram interessados pela
filosofia absorvem seus princípios da atmosfera cultural que os circula – de
escolas, faculdades, livros, revistas, jornais, filmes, TV, etc. Quem determina
o tom de uma cultura? Um pequeno punhado de homens: os filósofos. Sua liderança
é seguida por alguns, seja por convicção seja por omissão. Por cerca de
duzentos anos, sob a influência de Immanuel Kant, a tendência dominante na
filosofia tem sido direcionada a um propósito único: a destruição da mente
humana, da sua confiança no poder da razão. Hoje, estamos vendo o clímax desse
padrão.
Quando os homens abandonam a razão, descobrem não
apenas que suas emoções não podem guia-los, mas que não podem experimentar
nenhuma emoção, exceto uma: o terror. A propagação da dependência de
drogas entre os jovens, trazida pelas modas intelectuais de hoje em dia,
demonstra o insuportável estado interior de homens que estão privados de seus
meios de cognição e que buscam fugir da realidade – do terror da sua impotência
para lidar com a existência. Observe o terror da independência que esses jovens
possuem e seu frenético desejo de “pertencer”, de anexarssem a algum grupo,
“panelinha” ou gangue. Muitos deles nunca ouviram falar da filosofia, mas
sentem que necessitam algumas respostas fundamentais para questões que não
ousaram perguntar – e esperam que a tribo lhes diga como viver.
Eles estão prontos para ser tomados por qualquer mago, médico, guru ou ditador.
Uma das coisas mais perigosas que um homem pode fazer é entregar sua autonomia
moral a outros: como o astronauta de minha estória, ele não sabe se são
humanos, embora sejam bípedes.
Agora você pode se perguntar: se a filosofia pode
causar este mal, por que alguém deveria estudá-la? Particularmente, por que
alguém deveria estudar as teorias filosóficas que são flagrantemente falsas,
não fazem sentido e não têm qualquer relação com a vida real?
Minha resposta é: autoproteção – e em defesa da
verdade, da justiça, da liberdade e qualquer outro valor que você tenha tido ou
possa ter.
Nem todas as filosofias são danosas, embora muitas
delas sejam, particularmente na história moderna. Por ourto lado, na raiz de
toda realização civilizada, como a ciência, a tecnologia, o progresso e a
liberdade – na raiz de todo valor que aproveitamos hoje em dia, inclusive o
nascimento deste país – você encontrará a realização de um homem,
que viveu há mais de dois mil anos atrás: Aristóteles.
Se você não sente nada além de tédio quando lê as
teorias virtualmente inteligíveis dealguns filósofos, você tem
minha profunda simpatia. Mas se você coloca-os de lado, dizendo: “por que eu
deveria estudar coisas que eu sei que são tolices?” – você
está errado. São tolices, mas você não sabe disso – não
enquanto você aceita todas as suas conclusões, todas as frases viciadas
produzidas por aqueles filósofos. E não enquanto você não for capaz de refutá-las.
Aquela tolice lida com a questão mais crucial, de vida
ou morte da existência humana. Na raiz de cada teoria filosófica significatica,
há uma questão legítima – no sentido que há uma necessidade autêntica da
consciência do homem, que algumas teorias lutam por esclarecer e outras por
obscurecer, corromper e privar o homem de cada descoberta. A batalha dos
filósofos é uma batalha pela mente do homem. Se você não entende suas teorias,
você está vulnerável ao pior que existe entre elas.
A melhor forma de estudar filosofia é abordá-la como
se aborda uma estória investigativa: siga cada trilha, pista e implicação, para
descobrir quem é o assassino e quem é o herói. O critério de detecção se
constitui de duas questões: Por quê? E como? Se uma determinada doutrina parece
ser verdade – por quê? Se outra parece ser falsa – por quê? E como ela está
sendo posta? Você não encontrará todas as respostas imediatamente, mas você irá
adquirir uma característica inestimável: a habilidade de pensar em termos de fundamentos.
Nada é dado ao homem automaticamente, nem o
conhecimento, tampouco a autoconfiança, a sinceridade interior ou a maneira
apropriada de usar sua mente. Todo valor que ele precisa ou quer tem de ser
descoberto, aprendido e adquirido – até mesmo a postura correta de seu corpo.
Nesse contexto, quero dizer que sempre admirei a postura dos graduados de West
Point, uma postura que projeta o homem de maneira orgulhosa e com controle
disciplinado do corpo. Bem, o treino filosófico dá ao homem uma postura intelectual
própria – um controle disciplinado e orgulhoso da sua mente.
Em suas próprias profissões, a ciência militar, vocês
sabem a importância de manter o controle sobre as armas, estratégia e tática do
inimigo – e estar preparado a contra-atacá-los. O mesmo é verdade na filosofia:
você tem de compreender as ideias do inimigo e estar preparado para refutá-las,
você deve conhecer seus argumentos básicos e ser capaz de destruí-los.
Em caso de guerra física, vocês não enviariam seus
homens a uma armadilha: vocês fariam todo esforço possível para descobrir sua
localização. Bem, o sistema kantiano é a maior e mais intrincada armadilha da
história da filosofia – mas é tão cheio de buracos que, uma vez que você
compreenda suas artimanhas, você pode desarmá-lo sem muito problema e seguir
adiante de forma perfeitamente segura. E, uma vez desarmado, os kantianos
menores – os níveis mais baixos de seu exército, os sargentos filosóficos,
soldados e mercenários de hoje em dia – cairão pelo seu próprio vazio, por
reação em cadeia.
Há uma razão especial pela qual vocês, os futuros
líderes do Exército dos Estados Unidos, precisam estar filosoficamente armados
hoje. Vocês são o alvo de um ataque especial orquestrado pelo estabelecimento
Kantiano-Hegeliano-coletivista que domina nossas instituições culturais no
presente. Vocês são o exército do último país semilivre que restou na terra,
contudo, vocês são acusados de serem uma ferramenta do imperialismo - e
"imperialismo" é o nome dado à política externa deste país, o qual nunca
se engajou em conquistas militares e nunca lucrou com as duas guerras mundiais,
as quais não iniciou, mas entrou e venceu. (O que, aliás, foi uma política
incidentalmente ultragenerosa, que fez o país desperdiçar sua riqueza com ajuda
tanto para seus aliados quanto seus ex-inimigos.) Algo chamado o "complexo
industrial-militar" - que se trata de um mito ou coisa pior - está sendo
culpado por todos os problemas do país. Terríveis delinquentes universitários
exigem aos gritos que as unidades de capacitação de futuros oficiais militares
sejam banidas dos campus universitários. Nosso orçamento de defesa está sendo
atacado, denunciado e enfraquecido por pessoas que afirmam que a prioridade
financeira deve ser dada a jardins de rosas ecológicos e aulas de autoexpressão
estética para os moradores dos bairros pobres.
Alguns de vocês podem ficar perplexos por essa campanha e podem se perguntar, de boa fé, quais erros cometeram para ocasioná-la. Se esse for o caso, é urgentemente importante para vocês entender a natureza do inimigo. Vocês são atacados, não por seus erros ou falhas, mas por suas virtudes. Vocês são denunciados, não por alguma fraqueza, mas por sua força e competência. Vocês são penalizados por serem os protetores dos Estados Unidos. Em um nível mais baixo da mesma questão, um tipo similar de campanha é conduzida contra a força policial. Aqueles que buscam destruir o [este] país procuram desarmá-lo - intelectualmente e fisicamente. Mas não é uma mera questão política; política não é a causa, é a última consequência de idéias filosóficas. Não é uma conspiração comunista, embora alguns comunistas possam estar envolvidos – tal como vermes tirando proveito de um desastre que eles não tinham o poder de provocar. O motivo dos destruidores não é o amor pelo comunismo, mas o ódio pelos Estados Unidos. Por que ódio? Porque a América é a refutação viva de um universo kantiano.
A preocupação sentimental de hoje e compaixão pelo fraco, o imperfeito, o sofredor, o culpado é uma cobertura para o ódio profundamente Kantiano do [pelo] inocente, do forte, do capaz, do próspero, do virtuoso, do confiante, do feliz. Uma filosofia que intenciona destruir a mente do homem é necessariamente uma filosofia de ódio pelo homem, pela vida do homem, e por todo valor humano. O ódio do bem por ser o bem, é a marca registrada do século XX. Esse é o inimigo que vocês estão enfrentando.
Uma batalha desse tipo requer armas especiais. Ela tem de ser travada com um pleno entendimento da sua causa, uma plena confiança em si mesmo, e a mais plena certeza da retidão moral de ambos. Apenas a filosofia pode lhes fornecer essas armas.
A tarefa que me dei esta noite não foi vender para vocês a minha filosofia, mas vender a filosofia como tal. No entanto, eu estive implicitamente falando da minha filosofia em cada frase - uma vez que nenhum de nós e nenhuma afirmação pode fugir de premissas filosóficas. Qual é o meu interesse egoísta na questão? Eu tenho confiança o suficiente para pensar que se vocês aceitarem a importância da filosofia e a tarefa de examiná-la criticamente é a minha filosofia que vocês aceitarão. Formalmente, eu a chamo de Objetivismo, mas, informalmente, eu a chamo de uma filosofia para viver na Terra. Vocês encontrarão uma apresentação explícita dela em meus livros, particularmente em A Revolta de Atlas.
Em conclusão, permitam-me falar em termos pessoais. Essa noite significou muito para mim. Sinto-me profundamente honrada pela oportunidade de discursar para vocês. Eu posso dizer - não como um clichê patriota, mas com o pleno conhecimento das raízes metafísicas, epistemológicas, éticas, políticas e estéticas necessárias - que os Estados Unidos da América são o maior, o mais nobre e, em seus princípios fundadores originais, o único país moral na história mundial. Há uma espécie de calma luminosidade associada em minha mente ao nome West Point - porque vocês preservam o espírito desses princípios fundadores originais e vocês são o seu símbolo. Houve contradições e omissões nesses princípios, e pode haver nos seus - mas eu estou falando de fundamentos. Pode existir indivíduos em sua história que não viveram à altura dos seus mais elevados padrões - como existe em toda instituição – desde que nenhuma instituição e nenhum sistema social pode garantir a perfeição automática de todos os seus membros, isso depende do livre arbítrio de cada indivíduo. Eu estou falando de seus padrões. Vocês preservam três qualidades de caráter que eram típicas na época do nascimento da América, mas são virtualmente inexistentes hoje em dia: seriedade - dedicação - um senso de honra. A Honra é a autoestima tornada visível pela ação.
Vocês escolheram arriscar suas vidas pela defesa do país. Eu não os insultarei dizendo que vocês se dedicam a servir de forma abnegada – isso não é uma virtude em minhamoralidade. Em minha moralidade, a defesa de um país significa que um homem não está pessoalmente disposto a viver como o escravo dominado de qualquer inimigo, estrangeiro ou nacional. Esta é uma enorme virtude. Alguns de vocês podem não estar conscientes disso. Eu quero ajudá-los a se darem conta.
O exército de um país livre tem uma grande responsabilidade: o direito de usar a força, não como um instrumento de compulsão e conquista bruta – tal como os exércitos de outros países fizeram em suas histórias – mas apenas como um instrumento de autodefesa de uma nação livre, o que significa: a defesa dos direitos individuais de um homem. O princípio de usar a força apenas em retaliação contra aqueles que iniciaram seu uso, é o princípio de subordinar o poder ao direito. A mais alta integridade e senso de honra são necessários para tal tarefa. Nenhum outro exército do mundo conseguiu isso. Vocês conseguiram.
West Point deu à América uma longa linhagem de heróis, conhecidos e desconhecidos. Vocês, formandos deste ano, têm uma tradição gloriosa para continuar - o que eu admiro profundamente, não porque é uma tradição, mas porque é gloriosa.
Desde que vim de um país culpado pela pior tirania da terra, eu sou particularmente capaz de apreciar o significado, a grandeza e o valor supremo daquilo que vocês defendem. Assim, em meu próprio nome e em nome de muitas pessoas que pensam como eu, quero dizer, para todos os homens de West Point, do passado, do presente e do futuro: Obrigado.
Alguns de vocês podem ficar perplexos por essa campanha e podem se perguntar, de boa fé, quais erros cometeram para ocasioná-la. Se esse for o caso, é urgentemente importante para vocês entender a natureza do inimigo. Vocês são atacados, não por seus erros ou falhas, mas por suas virtudes. Vocês são denunciados, não por alguma fraqueza, mas por sua força e competência. Vocês são penalizados por serem os protetores dos Estados Unidos. Em um nível mais baixo da mesma questão, um tipo similar de campanha é conduzida contra a força policial. Aqueles que buscam destruir o [este] país procuram desarmá-lo - intelectualmente e fisicamente. Mas não é uma mera questão política; política não é a causa, é a última consequência de idéias filosóficas. Não é uma conspiração comunista, embora alguns comunistas possam estar envolvidos – tal como vermes tirando proveito de um desastre que eles não tinham o poder de provocar. O motivo dos destruidores não é o amor pelo comunismo, mas o ódio pelos Estados Unidos. Por que ódio? Porque a América é a refutação viva de um universo kantiano.
A preocupação sentimental de hoje e compaixão pelo fraco, o imperfeito, o sofredor, o culpado é uma cobertura para o ódio profundamente Kantiano do [pelo] inocente, do forte, do capaz, do próspero, do virtuoso, do confiante, do feliz. Uma filosofia que intenciona destruir a mente do homem é necessariamente uma filosofia de ódio pelo homem, pela vida do homem, e por todo valor humano. O ódio do bem por ser o bem, é a marca registrada do século XX. Esse é o inimigo que vocês estão enfrentando.
Uma batalha desse tipo requer armas especiais. Ela tem de ser travada com um pleno entendimento da sua causa, uma plena confiança em si mesmo, e a mais plena certeza da retidão moral de ambos. Apenas a filosofia pode lhes fornecer essas armas.
A tarefa que me dei esta noite não foi vender para vocês a minha filosofia, mas vender a filosofia como tal. No entanto, eu estive implicitamente falando da minha filosofia em cada frase - uma vez que nenhum de nós e nenhuma afirmação pode fugir de premissas filosóficas. Qual é o meu interesse egoísta na questão? Eu tenho confiança o suficiente para pensar que se vocês aceitarem a importância da filosofia e a tarefa de examiná-la criticamente é a minha filosofia que vocês aceitarão. Formalmente, eu a chamo de Objetivismo, mas, informalmente, eu a chamo de uma filosofia para viver na Terra. Vocês encontrarão uma apresentação explícita dela em meus livros, particularmente em A Revolta de Atlas.
Em conclusão, permitam-me falar em termos pessoais. Essa noite significou muito para mim. Sinto-me profundamente honrada pela oportunidade de discursar para vocês. Eu posso dizer - não como um clichê patriota, mas com o pleno conhecimento das raízes metafísicas, epistemológicas, éticas, políticas e estéticas necessárias - que os Estados Unidos da América são o maior, o mais nobre e, em seus princípios fundadores originais, o único país moral na história mundial. Há uma espécie de calma luminosidade associada em minha mente ao nome West Point - porque vocês preservam o espírito desses princípios fundadores originais e vocês são o seu símbolo. Houve contradições e omissões nesses princípios, e pode haver nos seus - mas eu estou falando de fundamentos. Pode existir indivíduos em sua história que não viveram à altura dos seus mais elevados padrões - como existe em toda instituição – desde que nenhuma instituição e nenhum sistema social pode garantir a perfeição automática de todos os seus membros, isso depende do livre arbítrio de cada indivíduo. Eu estou falando de seus padrões. Vocês preservam três qualidades de caráter que eram típicas na época do nascimento da América, mas são virtualmente inexistentes hoje em dia: seriedade - dedicação - um senso de honra. A Honra é a autoestima tornada visível pela ação.
Vocês escolheram arriscar suas vidas pela defesa do país. Eu não os insultarei dizendo que vocês se dedicam a servir de forma abnegada – isso não é uma virtude em minhamoralidade. Em minha moralidade, a defesa de um país significa que um homem não está pessoalmente disposto a viver como o escravo dominado de qualquer inimigo, estrangeiro ou nacional. Esta é uma enorme virtude. Alguns de vocês podem não estar conscientes disso. Eu quero ajudá-los a se darem conta.
O exército de um país livre tem uma grande responsabilidade: o direito de usar a força, não como um instrumento de compulsão e conquista bruta – tal como os exércitos de outros países fizeram em suas histórias – mas apenas como um instrumento de autodefesa de uma nação livre, o que significa: a defesa dos direitos individuais de um homem. O princípio de usar a força apenas em retaliação contra aqueles que iniciaram seu uso, é o princípio de subordinar o poder ao direito. A mais alta integridade e senso de honra são necessários para tal tarefa. Nenhum outro exército do mundo conseguiu isso. Vocês conseguiram.
West Point deu à América uma longa linhagem de heróis, conhecidos e desconhecidos. Vocês, formandos deste ano, têm uma tradição gloriosa para continuar - o que eu admiro profundamente, não porque é uma tradição, mas porque é gloriosa.
Desde que vim de um país culpado pela pior tirania da terra, eu sou particularmente capaz de apreciar o significado, a grandeza e o valor supremo daquilo que vocês defendem. Assim, em meu próprio nome e em nome de muitas pessoas que pensam como eu, quero dizer, para todos os homens de West Point, do passado, do presente e do futuro: Obrigado.
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Tradução de André Assis Barreto e Breno Barreto
Revisão de Matheus Pacini
Publicado originalmente em no Ayn Rand
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Lola
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