quarta-feira, 28 de junho de 2017

Arte e Pornografia





Arte e Pornografia

Acho que não chega a ser um tabu discutir pornografia, mas o ponto aqui não é exatamente a representação sexual com a finalidade de excitar, e sim pensar a pornografia sob uma perspectiva estética.
Pode haver arte na pornografia?
 Porque toleramos representações sexuais dentro de algumas obras de arte e não fora delas?
 Qual a diferença entre pornografia e erotismo? 
Estas e outras questões são apresentadas rapidamente neste pequeno texto.
"Do mesmo modo, não é pornográfico um filme em que haja a representação explícita de atos sexuais com a finalidade de provocar qualquer efeito estético ou de transmitir, através dessa representação, qualquer ideia ou mensagem. Este é outro dos aspectos que leva muitos a fazer a distinção entre pornografia e erotismo, defendendo que o erotismo visa sempre qualquer efeito estético ou artístico. Neste caso, não há, por definição, pornografia na arte."

Professor de Filosofia -
 Pense fora da caixa!



Estive arredado da discussão, que eu próprio iniciei, sobre a pornografia. Como diria um amigo meu, vai contra a minha religião intervir numa discussão que eu próprio iniciei. Uma vez que terminou, aqui estou para a relançar.

Agora a sério, não gostaria de deixar de dar o meu contributo para a animada discussão que dura há alguns dias. Daí (ou "donde"?) esta minha posta, insistindo no assunto. A esclarecedora imagem é um pormenor de um dos templos Kajuraho (Índia), classificado pela UNESCO como património mundial. 

Será esta imagem pornográfica?

A pornografia não é uma espécie natural, como água, ouro ou cisne. Para sabermos o que significa a palavra “pornografia”, temos de estar atentos ao modo como ela é usada, sendo certo que não é usada sempre da mesma maneira: as pessoas costumam divergir acerca do que é ou não é pornográfico. Isto significa que qualquer definição de pornografia é altamente discutível.

Mesmo assim, talvez haja algumas características necessárias para que algo seja classificado como pornográfico. De um modo geral, o uso do termo “pornografia” costuma aplicar-se aos casos em que:

1) há representação explícita de actos ou órgãos sexuais;
2) essa representação tem exclusivamente em vista provocar excitação sexual no observador.

Vale a pena dizer mais alguma coisa sobre cada uma das condições anteriores. 
Em 1) diz-se, por um lado, que é a representação do acto sexual que é pornográfica e não o próprio acto sexual. Neste caso, não há pornografia quando duas pessoas têm simplesmente relações sexuais, mas haverá pornografia se filmarem ou fotografarem a sua sessão sexual. A ideia que parece estar subjacente a isto é a de que é a exibição do acto sexual que é pornográfica e não o acto em si. Por outro lado, são excluídas do âmbito da pornografia a mera sugestão e a representação indirecta e não explícita do acto ou dos órgãos sexuais. Este é um dos aspectos (há outros, como se verá adiante) que leva muitas pessoas a traçar a distinção entre a pornografia e o erotismo.

Por sua vez 2) indica que se a representação tem outra finalidade além da excitação sexual do observador, então ela não é pornográfica. Por exemplo, representações de órgãos ou actos sexuais com fins educativos ou científicos (aulas de anatomia e medicina, por exemplo) não são pornográficas, ainda que possam excitar quem as observa. Do mesmo modo, não é pornográfico um filme em que haja a representação explícita de actos sexuais com a finalidade de provocar qualquer efeito estético ou de transmitir, através dessa representação, qualquer ideia ou mensagem. Este é outro dos aspectos que leva muitos a fazer a distinção entre pornografia e erotismo, defendendo que o erotismo visa sempre qualquer efeito estético ou artístico. Neste caso, não há, por definição, pornografia na arte.

 A imagem acima não é, neste sentido, pornográfica.

Claro que isso não significa que não se possa discutir se uma dada obra (filme, fotografia, pintura, etc.) é ou não pornográfica e, portanto, se pode ou não ser arte. Pense-se na discussão acerca das fotografias de Robert Mapplethorpe: é arte ou simplesmente pornografia? Se as fotos de Mapplethorpe tiverem como finalidade chocar o observador, fazendo-o reflectir sobre o que vê, então não são pornográficas. Podem, então, ser arte. Ou nem uma coisa nem outra. Ou má arte, etc.

Esta caracterização da pornografia pode não ser inteiramente satisfatória, mas está de acordo com um uso generalizado do termo e permite compreender a distinção tão frequente entre pornografia e erotismo. Permite ainda perceber por que razão tantas pessoas toleram em obras de arte certas representações sexuais que não toleram fora dela, ainda que sejam exactamente iguais.

Dito isto, cabe perguntar: o que há de errado na pornografia?
 Na posta seguinte apresentarei alguns dos principais argumentos contra a pornografia e tentarei mostrar que são todos muito fracos.


Para ler mais sobre o tema





                                               Lola

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