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Foto João Martins |
Nos e os animais
"Nossa relação com os animais é esquizofrénica", diz filósofo
Em Berlim, chegada de dois ursos panda ao
zoológico da cidade provoca burburinho. Ao mesmo tempo, come-se carne e
criam-se animais em massa. Para Richard David Precht, humanidade precisa
repensar trato com os bichos.
"Quanto mais poder se possui sobre as coisas,
menos respeito se tem por elas", afirma o filósofo, jornalista e autor
Richard David Precht, comentando a atitude dos seres humanos perante os
animais, como no caso da pecuária industrial.
"E agora gastamos milhões com uma casa
de pandas", diz Precht sobre a chegada de dois ursos da China ao Jardim
Zoológico de Berlim. "De fato, trata-se de uma grande esquizofrenia
social!" Por outro lado, o número crescente de veganos e vegetarianos
denota uma nova reflexão profunda sobre a relação com os animais.
A Deutsche Welle entrevistou Richard David
Precht. Nascido em 1964, ele é um dos intelectuais mais renomados nos países de
idioma alemão, com livros traduzidos em mais de 40 idiomas.
Deutsche Welle: Você está antecipando com
alegria a vinda do casal de pandas Meng Meng e Jiao Qing para Berlim? Trata-se
de uma visita rara.
Richard David Precht: Alegria talvez não seja
a expressão certa. Mas acho que é muito bom para o Jardim Zoológico de Berlim
ter ganhado a licitação para abrigar esses ursos, que só podem ser vistos em
poucos zoos fora da China.
Em Berlim, o zoológico está instalando
ar-condicionado, áreas sombreadas, riacho artificial, espaços de retiro, etc.
Afinal de contas, os ursos devem passar bem. Mas é certo transportar para lá e
para cá animais ameaçados de extinção?
Este não é o problema. Existe um grande
número de animais ameaçados de extinção cuja população só consegue sobreviver
graças aos jardins zoológicos. Isso não se aplica em primeira linha aos pandas,
mas os zoos prestam atualmente uma contribuição, depois de ter desempenhado um
papel nefasto ao longo da história. Existem mais tigres siberianos em
zoológicos do que na taiga.
E agora esses pandas também atuam como embaixadores
políticos...
A chamada "política do panda"
existe há bastante tempo. Isso já remonta a Deng Xiaoping [governante da China
entre 1979 e 1997]. O Zoológico de Berlim já recebeu uma vez dois ursos panda
de presente, melhor dizendo: [o então chanceler federal] Helmut Schmidt os
ganhou de presente. Isso não é novidade. E não há nada a dizer contra a China
mostrar seu lado simpático dessa forma.
Você escreveu o livro sobre ética animal
Tiere denken - vom Recht der Tiere und den Grenzen des Menschen (Bichos pensam
- sobre o direito dos animais e as fronteiras do ser humano). Por um lado,
exploramos os animais, como na pecuária industrial. Pelo outro, veneramos
nossos bichos de estimação. Como uma coisa se coaduna com a outra?
E agora gastamos milhões com uma casa de
pandas. De fato, trata-se de uma grande esquizofrenia social! Algo que não vou
me cansar de denunciar. Mas isso não é um argumento contra os ursos panda, vai
muito contra a pecuária industrial.
Antigamente, quando éramos caçadores e
coletores e nos víamos como parte da natureza, tínhamos mais respeito pelos
animais?
Sim, a partir do que podemos perceber de
culturas indígenas, ou seja, de povos que vivem, por exemplo, na Floresta
Amazônica, ou do que podemos deduzir da religião do Antigo Egito: ali, antes de
iniciar a criação sistemática de animais, as pessoas tinham uma relação muito
mais respeitosa com os bichos, por não os verem como meros elementos do meio
ambiente, mas como parte de um mundo comum.
E agora dominamos a natureza, também graças à
tecnologia. Azar dos animais?
Sim, os animais tiveram muito azar mesmo. Mas
quando uma instalação cultural recente como o jardim zoológico burguês
contribui para que determinados animais sejam mantidos em reservas, não posso
ver nada de errado nisso.
Certa vez você disse: "Quanto mais o
homem domina a natureza, mais desalmado lhe parece o objeto dominado."
Assim é, de fato. Quanto mais poder se possui
sobre as coisas, menos respeito se tem por elas. Em certo sentido, isso é uma
corrida de longa duração na evolução da história da humanidade.
E aí, nem as religiões monoteístas ajudam?
Não, as religiões monoteístas como o
cristianismo, o islamismo ou o judaísmo contribuíram significativamente para a
objetificação dos animais.
Nelas, o homem se torna a medida de todas as
coisas. E os bichos viram objetos?
Exatamente: os seres humanos como criaturas
com status exclusivo. A história cristã de salvação não gira em torno de
animais, só se ocupa das pessoas.
Acredita que deveríamos finalmente esclarecer
nossa relação com os animais?
Sim, e o estamos fazendo. Observando que na
Alemanha existem 1 milhão de veganos, assim como 7,8 milhões de vegetarianos,
pode-se deduzir que um profundo repensar está em andamento.
Em que direção?
Para mais sensibilidade no lidar com os animais
em relação ao que consideramos normal. Manter milhares de porcos num chiqueiro,
o ato de comer carne, em si... vejo como uma evolução ética o fato de que isso
seja cada vez menos óbvio.
Os animais sofrem, eles têm consciência, você
diz nos seus escritos. Isso é o que deveria orientar a nossa relação com os
bichos?
Sim, mas, do meu ponto de vista, também uma
fascinação fundamental pela natureza. Acredito que não fazemos um favor nem a
nós nem à natureza, quando objetificamos tão impiedosamente os animais.
O que vai pensar quando estiver em frente do
casal ideal Meng Meng e Jiao Qing?
Vou observar bem de perto o recinto onde
estão instalados, em termos estéticos e das condições de alojamento. O
Zoológico de Berlim está em boas mãos, por isso estou bastante otimista.
23 JUN2017
09h56
Será que quem diz "eu amo os animais" se importa com as condições em que uma vaca é abatida no frigorífico? (Veja bem, não estou nem questionando SE a vaca deve ser abatida mas COMO ela deve ser abatida). Ou pode ser moralmente incoerente defender a preservação das espécies ameaçadas de extinção e destinarmos milhões de $$$ para o mercado pet e nem um tostão para as espécies ameaçadas? Estas e outras questões são comentadas nesta entrevista com o filósofo alemão Richard David Precht sobre a relação humana com os outros animais.
"A partir do que podemos perceber de culturas indígenas, ou seja, de povos que vivem, por exemplo, na Floresta Amazônica, ou do que podemos deduzir da religião do Antigo Egito: ali, antes de iniciar a criação sistemática de animais, as pessoas tinham uma relação muito mais respeitosa com os bichos, por não os verem como meros elementos do meio ambiente, mas como parte de um mundo comum."
Professor de Filosofia -
Pense fora da caixa!
Lola
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