João Martins |
Proposições Condicionais
A negação de proposições condicionais
A frase “Se a
Yolanda estuda, então passa de ano” exprime uma proposição
condicional. Esta é uma proposição composta de duas proposições mais simples
ligadas pelo conector “Se… então” (ou outros equivalentes,
como por exemplo “Caso”). Costuma chamar-se a estas “antecedente” e
“consequente”. O que é dito na antecedente constitui uma condição suficiente
relativamente àquilo que é dito na consequente. No caso do exemplo, a expressão
“condição suficiente” significa que basta (= é suficiente) a Yolanda estudar
para conseguir passar de ano. Pode-se também dizer que a antecedente implica a
consequente.
Nega-se uma proposição
condicional afirmando a antecedente e negando a consequente: “Yolanda
estuda, mas não passa de ano”.
A negação de uma
condicional não é outra proposição condicional, mas sim uma conjunção. Em vez
de “mas” também se pode usar o conector “e”.
Porque é que uma
condicional se nega desse modo? Para responder a esta questão é preciso
perceber em que condições uma proposição condicional é verdadeira ou falsa.
Há quatro circunstâncias
possíveis, que no caso do exemplo dado são:
1. Yolanda estuda e passa
de ano.
2. Yolanda não estuda e
não passa de ano.
3. Yolanda não estuda e
passa de ano.
4. Yolanda estuda e não passa
de ano.
(Nos livros de Lógica
estas quatro circunstâncias não costumam ser apresentadas por esta ordem, mas
optei por ela por ser a mais intuitiva.)
Em 1. a antecedente e a
consequente são ambas verdadeiras. Nessa circunstância a condicional é obviamente
verdadeira: verificou-se aquilo que nela está enunciado – estudar levou a
Yolanda passar de ano. O facto da Yolanda ter estudado e o facto de ter passado
de ano confirmam a veracidade da relação enunciada na condicional.
Em 2. a antecedente e a
consequente são ambas falsas. Nessa circunstância a condicional continua a ser
verdadeira. O facto da Yolanda não ter estudado e o facto de não ter passado de
ano não anulam a veracidade da relação enunciada na condicional. Imagine que um
professor tinha dito a Yolanda “Se estudas, então passas de ano” e
que agora esta alegava que tinha sido enganada. O professor poderia
responder: “O que eu te disse é verdadeiro. Se tivesses estudado,
terias passado de ano.”
Em 3. a antecedente é
falsa e a consequente é verdadeira. Nessa circunstância a condicional continua
a ser verdadeira. Esta assegura que basta estudar para passar de ano, mas não
diz que essa é a única maneira de passar de ano, não diz que não há outros
factores que permitam passar (copiar ou ameaçar o professor, por exemplo). Por
isso, o facto da Yolanda não ter estudado e o facto de ter passado de ano não
anulam a veracidade da relação enunciada na condicional.
Em 4. a antecedente é
verdadeira e a consequente é falsa. Nessa circunstância a condicional é falsa.
Caso estude e não passe, a Yolanda já tem motivos para dizer ao tal professor
que este disse uma falsidade. Este tinha assegurado que estudar era uma
condição suficiente para a Yolanda passar, ou seja, que bastava ela estudar
para passar. E isso não se verificou: uma coisa não levou à outra. Daí que,
nessa circunstância, a condicional seja falsa.
Em síntese:
ANTECEDENTE
|
CONSEQUENTE
|
CONDICIONAL
|
Verdadeira
|
Verdadeira
|
Verdadeira
|
Falsa
|
Falsa
|
Verdadeira
|
Falsa
|
Verdadeira
|
Verdadeira
|
Verdadeira
|
Falsa
|
Falsa
|
Regressemos então à
negação. Ao negar uma certa proposição obtemos uma outra proposição que tem
necessariamente de possuir um valor de verdade diferente da proposição inicial.
Se a proposição inicial é falsa a sua negação tem de ser verdadeira. Se a
proposição inicial é verdadeira a sua negação tem de ser falsa. Não podem ser
ambas verdadeiras nem ambas falsas. Ou seja: a proposição inicial e a sua
negação têm de ser proposições contraditórias. Por exemplo: ao negarmos a
proposição verdadeira “Florença é uma
cidade italiana” obtemos a
proposição falsa “Florença não é uma cidade italiana”.
Ao negar uma proposição
condicional afirmamos a antecedente e negamos a consequente, pois isso equivale
a dizer que a antecedente é verdadeira e a consequente é falsa – que, como
vimos, é a única circunstância em que uma proposição condicional é falsa. Ao
fazer isso estamos a mostrar que, contrariamente ao que tinha sido dito nessa
proposição, a antecedente não é uma condição suficiente da consequente. Dito de
modo mais coloquial: estamos a mostrar que uma coisa não leva à outra e que a
relação enunciada na condicional não ocorre.
A conjunção entre a
afirmação da antecedente e a negação da consequente de uma condicional (ou
seja, a negação desta) constitui uma proposição que não pode ter o mesmo valor
de verdade dessa proposição condicional. Caso seja falso que “Se a
Yolanda estuda, então passa de ano” tem de ser verdadeiro que “Yolanda
estuda, mas não passa de ano”. E vice-versa: Caso seja verdadeiro que “Se
a Yolanda estuda, então passa de ano” tem de ser falso que “Yolanda
estuda, mas não passa de ano”.
Se tentássemos negar a
condicional de outro modo não conseguiríamos obter uma proposição contraditória
com ela e por isso não se trataria de uma autêntica negação. Por exemplo: “Se
a Yolanda estuda, então passa de ano” e “Yolanda não estuda e não passa de
ano” podem ser, em certas circunstâncias, ambas verdadeiras ou ambas
falsas.
João Martins |
Lola
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