Argumentação
O discurso racional pode orientar-se numa dupla dimensão: a da demonstração ou a da argumentação, consoante se visa uma verdade universal e necessária ou uma verdade relativa e plausível. A primeira via é a da lógica; a segunda é a da retórica!
"O domínio da argumentação é o do verosímil, do plausível, do provável, (...)"
C. Perelman e L. Olbrechts-Tyteca
"A argumentação define-se como um conjunto de processos oratórios realizados para fazer admitir uma tese. Visa obter a adesão dos espíritos daqueles a quem se dirige. Enquanto que a demonstração possui em si mesma evidência e necessidade, a argumentação refere-se ao verosímil e opera tendo em vista um auditório."
J. Russ
"(...) nos domínios em que se trata de estabelecer aquilo que é preferível, o que é aceitável e razoável, os raciocínios não são nem deduções correctas nem induções do particular para o geral, mas argumentações de toda a espécie, visando ganhar a adesão dos espíritos às teses que se apresentam ao seu assentimento. "
C. Perelman
"Enquanto um sistema dedutivo se apresenta como isolado de todo o contexto, uma argumentação é necessariamente situada. Para ser eficaz, esta exige um contacto entre sujeitos. É necessário que o orador (aquele que apresenta a argumentação oralmente ou por escrito) queira exercer mediante o seu discurso uma acção sobre o auditório, isto é, sobre o conjunto daqueles que se propõe influenciar. Por outro lado, é necessário que os auditores estejam dispostos a sofrer a acção do orador, e isto a propósito de uma questão determinada."
C. Perelman
"O homem eloquente deve sobretudo fazer prova de sagacidade que lhe permita adaptar-se às circunstâncias particulares do momento e às pessoas. Penso, com efeito, que não devemos falar sempre, diante de todos, contra todos, a favor de todos, nem a todos da mesma maneira. Só será eloquente quem for capaz de adaptar a linguagem ao que convém em cada caso."
Cícero
A argumentação "é uma técnica da discussão com vista a convencer um adversário ou a refutá-lo e a estabelecer com ele um acordo sobre a legitimidade da discussão"
P. Ricoeur
"Querer persuadir um auditório significa, antes de mais, reconhecer-lhe as capacidades e as qualidades de um ser com o qual a comunicação é possível e, em seguida, renunciar a dar-lhe ordens que exprimam uma simples relação de força, mas sim procurar ganhar a sua adesão intelectual. (...) O discurso argumentativo não é um monólogo onde não existe qualquer preocupação em relação aos outros. O que vaticina sem se preocupar com o auditório assemelha-se a um alienado, estranho ao mundo e à sociedade (...). De facto, querer persuadir alguém é, à partida, não partir do princípio que tudo o que irá dizer é aceite como a "palavra do Evangelho".
A argumentação é essencialmente comunicação, diálogo, discussão. A argumentação necessita que se estabeleça um contacto entre o orador que deseja convencer e o auditório disposto a escutar. E isto é verdadeiro, mesmo no caso de uma deliberação íntima, de que não se pode compreender o desenvolvimento senão desdobrando a pessoa que delibera em orador e auditório."
C. Perelman
- O processo argumentativo é também um processo racional; a Lógica não possui a exclusividade da racionalidade. O acto de argumentar é também um acto de razão, de pensamento e de discurso.
- Auditório: conjunto daqueles a quem se dirige a argumentação e que se pretende influenciar. É em função do auditório que se desenvolve toda a argumentação. A retórica coloca-se no ponto de vista do auditório e do efeito do discurso. Interessa a empatia do orador com o auditório, a comunicação, obter a adesão. Para a retórica, o auditório é tido em conta pelo orador na escolha do tema, na selecção dos argumentos, no estilo do próprio discurso.
- Refutação: consiste em infirmar a tese do adversário a partir do recurso a contra-exemplos, mostrando que dessa tese se podem concluir resultados falsos ou absurdos ou que ela contraria princípios estabelecidos e admitidos por todos.
Lola
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