Falácias Informais - exercícios
Identifique as falácias cometidas nos seguintes diálogos:
Texto 1
‒ Obrigada por nos teres guardado lugar ‒ diz Joana ao seu amigo Francisco, quando com a sua amiga Luísa se senta numa esplanada cheia de gente.
‒ Tudo bem ‒ diz Francisco.
‒ Demorámos por causa da aula do professor Lúcio acerca dos problemas sociais ‒ diz Joana com ar enfastiado. ‒ É um snob arrogante como nunca conheci.
– De que tratou a aula?
– De assédio sexual no local de trabalho, o que, sem dúvida, é um grave problema hoje em dia.
– Não me digas.
– Olha, a minha amiga Amélia é despachante numa empresa de camiões e disse-me que já foi objeto de assédio sexual dezenas de vezes. Os camionistas têm posters da Playboy colados por todo o lado e estão sempre a meter-se com ela, a «mandar bocas» e a convidá-la para aquilo que sabes. Um deles deu-lhe umas palmadas no traseiro.
– Olha, há uma coisa chamada liberdade de expressão. ‒ Disse Francisco rindo ‒ Queres negar a esses tipos liberdade de expressão?
– Liberdade de expressão, uma ova! ‒ responde Joana, furiosa. ‒ Palmadinhas no traseiro não é liberdade de expressão, é contacto físico abusivo! Homens! O teu problema, Francisco, é que és homem! Se fosses mulher verias as coisas como elas realmente são.
(AD HOMINEM FALACIOSO)
Luísa acenava a cabeça aprovando-a. Francisco continuava a rir, divertido com a indignação de Joana. Mas esta voltou ao ataque.
Joana: – O problema, o vosso problema, homens, é que olham para as mulheres sempre como objetos sexuais. Isso torna o assédio sexual inevitável.(GENERALIZAÇÃO PRECIPITADA)
Francisco (protestando) : – São vocês que nos tratam como objetos sexuais! Vestem-se todas provocantes e exibicionistas porque julgam que os homens são todos uns animais, que são só instinto e só pensam em sexo. É ou não assim que nos veem?
Joana: – A tua resposta é tão digna que nem vou gastar palavras. Só quem não quer ver os factos é que nega que a Amélia seja uma vítima daqueles camionistas.
Francisco: — Calma! Está tudo a olhar para nós! Pronto! Admitamos que a Amélia é uma vítima de assédio sexual no trabalho! O que fazer acerca da sua situação?
Francisco: – Está bem. Mas como defines assédio sexual? É que, se não se consegue definir, toda e qualquer proibição é inútil.
Joana: – Bem, não sei exatamente, tenho de pensar nisso.
Francisco (triunfante) : – Eu sabia! Não consegues defini-lo, o que significa que nem sabes se existe! Se não fosses uma feminista tão radical admitirias que essa conversa do assédio sexual é uma treta.
Joana (explodindo de fúria) : – Eu, radical? A verdade é que tu é que és um sexista radical. O que estás a dizer é que as mulheres devem continuar a ser o que eram há séculos atrás: objetos decorativos e seres dóceis, mansos, dos quais os machos fazem o que querem! Não é, Luísa? (AD HOMINEM FALACIOSO E, EM CERTA MEDIDA, FALÁCIA DA DERRAPAGEM)
Luísa: – Exatamente.
Francisco: – Mas que argumento sem pés nem cabeça! O que estás a dizer é que devíamos abolir qualquer diferença entre homens e mulheres e criar uma sociedade unissexual em que todos agiríamos como robôs. Não é, Luísa?(FALÁCIA DA DERRAPAGEM)
Luísa: – De modo algum, ela está a tentar. . .
Joana (interrompendo-a) : – Não estás bom da cabeça. Os teus argumentos são para atrasados.
Furiosa, atira o resto do café contra Francisco.
Outras pessoas que ouviram o explosivo debate levantam-se e aplaudem Joana. Algumas começam a gritar: «Fim ao assédio sexual! Fim ao assédio sexual!». Começam a rodear Francisco e a gesticular de forma ameaçadora. Irritado e humilhado, este levanta-se e abandona o local.
HURLEY, A Concise Introduction to Logic,
Wadsworth, Califórnia, pp. 132-134.(adaptado)
Texto 2
«Obrigado pela boleia», diz Paulo ao seu amigo Carlos. enquanto rumam em direção à autoestrada. «Tudo bem, fica no caminho», diz Carlos.
Paulo: – Olha, a polícia mandou parar aquele condutor!
Carlos: – Espero bem que não comecem a espancá-lo!
Paulo: – Achas! Não acredito!
Carlos: – És um ingénuo otimista! A maior parte dos polícias são uns animais. Batem em quem lhes apetece e quando lhes dá vontade. Lembras-te do caso Rodney King, não lembras? Aqueles polícias de Los Angeles mandaram-no para o hospital todo escaqueirado sem motivo algum. Isso prova que tenho razão!(GENERALIZAÇÃO PRECIPITADA)~
Paulo: – Estás a exagerar! Daryl Gates, o então chefe da polícia de LA, disse que o incidente com Rodney King foi uma exceção, uma aberração. Dada a sua posição de chefe, devemos dar-lhe crédito. (APELO A AUTORIDADE NÃO QUALIFICADA)
Carlos: – Mas Gates era um lunático que recusou reconhecer mesmo os nossos direitos mais básicos. (Insistindo:) Além disso, foi forçado a demitir-se depois do incidente Rodney King. Sei que nenhum de nós vive em LA, mas o nosso departamento de polícia é tão mau como o deles. Por isso podes apostar em como aquele tipo que eles mandaram parar vai passar um mau bocado. Lá, tal como aqui, são todos iguais. (FALSA ANALOGIA)
Paulo: – Calma aí! Tanto quanto sei, ninguém ainda provou que os polícias da nossa região são violentos. As tuas conclusões não fazem sentido! Aliás, tens uma maneira de ver as coisas que é muito limitada. Pareces paranoico. (APELO À IGNORÂNCIA)
Carlos (rindo) – Pois! Pois! O problema é que tu e eu somos brancos. Se fossemos negros veríamos as coisas de modo diferente. A brutalidade da polícia para com os negros é inacreditável, completamente descontrolada.
Paulo: – Mas um estudo recente de uma empresa conhecida pela sua objetividade e independência mostra que por cada negro que é objeto de violência policial há um branco que também é vítima disso. Isso prova que a polícia não trata os negros pior do que os brancos.
Carlos: – Nunca ouvi falar desse estudo, mas deve haver algo de errado nele.
Paulo: – Bom, a minha experiência pessoal confirma esses resultados. Nos últimos anos, fui mandado parar umas quatro vezes e os polícias trataram-me de forma educada e civilizada. Só posso concluir que a esmagadora maioria dessas alegações de violência e brutalidade policial são produto de imaginação fértil. (GENERALIZAÇÃO PRECIPITADA)
Carlos: – Mais uma vez a tua ingenuidade é surpreendente. Esqueces-te de que és branco e que conduzes um Mercedes topo de gama? Não achas que isso faz muita diferença? De facto, o problema de todos os argumentos que dizem que a brutalidade policial é invenção de mentes imaginativas é que todos eles são defendidos por brancos. (AD HOMINEM)
HURLEY, A Concise Introduction to Logic,
Wadsworth, Califórnia, pp. 135-136. (adaptado)
Lola
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