PERSUASÃO E
MANIPULAÇÃO
“Sobre a questão da
retórica é necessário fazer uma distinção: há oradores que falam tendo em vista
o interesse público e outros que tratando os cidadãos como crianças, tentam
agradar-lhes a todo o custo, sem tratar de saber se os tornam melhores ou piores.
A primeira visa a verdade e procura o bem do auditório, a segunda é pressão e
máscara de verdade”.
Górgias, Platão (adaptado)
PERSUASÃO
É o bom uso da retórica.
Tenta levar um auditório a aderir a uma tese que se defende.
Não se impõe nada, dá-se liberdade ao auditório para reflectir e decidir individualmente.
O orador procura ajudar a ultrapassar as limitações da racionalidade do auditório.
Há uma relação de igualdade entre orador e auditório, estes são respeitados por aquele.
Os objectivos da argumentação estão definidos e são claros, há transparência.
Há autores que chamam à persuasão "retórica branca" ou persuasão racional.
Fomenta-se o espírito crítico e a autonomia de cada um.
O orador vê o auditório como seres iguais a si e aceita a decisão deles.
A persuasão é moralmente aceitável porque há um uso racional da palavra e "o outro" é visto como um outro "eu".
1. Convenhamos
que não é a retórica que manipula, mas sim o manipulador. É que se este se
apodera do discurso e do debate para enganar ou prejudicar o seu interlocutor,
então é porque, certamente, já era um manipulador antes de recorrer à retórica.
A retórica não contamina ninguém. Nenhum homem é um, fora da retórica e outro,
quando recorre a ela”.
Américo de Sousa, A persuasão
MANIPULAÇÃO
É o mau uso da retórica.
É fazer com que outros aceitem ou realizem algo contra os seus melhores interesses.
Há uma imposição, tentando evitar a reflexão e a liberdade de decisão do auditório.
O manipulador procura usar a seu favor as limitações da racionalidade do auditório.
Há uma relação vertical, desigual, em que o auditório é usado como instrumento ao serviço do manipulador.
Os objectivos são escondidos ou apresentam-se de forma confusa para não suscitar reflexão, não há transparência.
Há autores que chamam à manipulação "retórica negra" ou persuasão irracional.
O manipulador tenta evitar o espírito crítico e procura desviar as atenções do próprio tema que se devia debater, anulando ao máximo a autonomia do auditório e a sua capacidade de avaliação da situação.
Na manipulação há um desprezo claro pela individualidade e liberdade de decisão do auditório .
O manipulador vê o auditório como um conjunto de seres inferiores, que ele usa em proveito próprio.
A manipulação é moralmente inaceitável porque há má fé e desrespeito pelos outros, os quais são considerados como meios ao serviço de alguém com objectivos ocultos
Lola
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