domingo, 3 de junho de 2018

Karl Popper





Karl Popper


«Um homem empurra uma criança para a água com a intenção de a afogar; e outro homem sacrifica a vida numa tentativa de salvar a criança. Cada um destes casos radicalmente diferentes de comportamentos pode-se facilmente explicar em termos freudianos – e, por acaso, em termos Adlerianos também. Segundo Freud, o primeiro dos dois homens sofria de recalcamento […] ao passo que o segundo atingira a sublimação […]. Segundo Adler, o primeiro sofria de sentimentos de inferioridade (que talvez produzissem a necessidade de provar a si mesmo que era capaz de ter a audácia de cometer um crime); e o mesmo para o segundo homem (cuja necessidade era a de provar a si mesmo que era capaz de ter a audácia de arriscar a vida).
Não consigo pensar em nenhum caso concebível de comportamento humano que não pudesse ser interpretado em termos quer de uma quer de outra teoria e que não pudesse ser reivindicado, por cada uma das teorias, como “verificação” […].
perspectiva verificacionista da ciência é, de certo modo, algo como isto: de um modo ideal, a ciência consta de todos os enunciados verdadeiros. Como nós não os conhecemos a todos, tem, pelo menos, de constar de todos os que nós tenhamos verificado […].
A atitude falsificacionista é diferente. Para ela, a ciência consiste em arriscarem-se hipóteses explicativas – “arriscar” no sentido em que essas hipóteses afirmam tanto que facilmente se podem revelar como falsas. E dá o seu melhor para as criticar, esperando detectar e eliminar candidatos defeituosos ao estatuto de teoria explicativa, esperando também, através disso, alcançar mais compreensão.»

K. Popper, “A demarcação entre ciência e metafísica”,
In M. M. Carrilho (org.) 
Epistemologia: Posições e Críticas, FCG, Lisboa.




                                           Lola


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