Karl Popper
«Um homem empurra uma criança para a água com a
intenção de a afogar; e outro homem sacrifica a vida numa tentativa de salvar a
criança. Cada um destes casos radicalmente diferentes de comportamentos pode-se
facilmente explicar em termos freudianos – e, por acaso, em termos
Adlerianos também. Segundo Freud, o primeiro dos dois homens sofria
de recalcamento […] ao passo que o segundo atingira a sublimação […]. Segundo Adler, o primeiro sofria de
sentimentos de inferioridade (que talvez produzissem a necessidade de provar a
si mesmo que era capaz de ter a audácia de cometer um crime); e o mesmo para o
segundo homem (cuja necessidade era a de provar a si mesmo que era capaz de ter
a audácia de arriscar a vida).
Não consigo pensar em nenhum caso concebível de
comportamento humano que não pudesse ser interpretado em termos quer de uma
quer de outra teoria e que não pudesse ser reivindicado, por cada uma das
teorias, como “verificação” […].
A perspectiva verificacionista da ciência é, de certo modo, algo como isto: de
um modo ideal, a ciência consta de todos os enunciados verdadeiros. Como nós
não os conhecemos a todos, tem, pelo menos, de constar de todos os que nós
tenhamos verificado […].
A atitude falsificacionista é
diferente. Para ela, a ciência consiste em arriscarem-se hipóteses explicativas
– “arriscar” no sentido em que essas hipóteses afirmam tanto que facilmente se
podem revelar como falsas. E dá o seu melhor para as criticar, esperando
detectar e eliminar candidatos defeituosos ao estatuto de teoria explicativa,
esperando também, através disso, alcançar mais compreensão.»
K. Popper, “A demarcação
entre ciência e metafísica”,
In M. M. Carrilho
(org.)
Epistemologia: Posições e Críticas, FCG, Lisboa.
Epistemologia: Posições e Críticas, FCG, Lisboa.
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