Objectividade dos valores e teoria objectivista dos valores
morais
Quando falamos de "objectividade" não falamos necessariamente de "objectivismo".Convém
distinguir entre "objectividade dos valores", que pode ser entendida
de diversas maneiras e uma teoria "objectivista" dos valores morais
(objectivismo moral).
O que é a teoria objectivista dos valores morais?
A teoria objectivista dos valores morais associa-se à
tese da sua universalidade. Seriam objectivos, segundo esta teoria, todos os
valores que seriam independentes dos interesses e perspectivas pessoais, da
diversidade das culturas, da História e do desenvolvimento humano. Dessa
maneira os valores, entendidos como objectivos, definiriam as coisas a que se
aplicam (coisas e actos concretos da relação entre os homens) como bons ou maus
a partir dos próprios valores entendidos como critérios absolutos que, digamos
assim, pairariam acima dos indivíduos para os julgar.
Exemplifique.
Por exemplo, dizer sempre
a verdade, independentemente das circunstâncias e das consequências. Os valores
fariam parte da Natureza das coisas, de como elas têm que ser pela sua própria
natureza, da natureza eterna do homem, das formas básicas e necessárias de
organização social ou do Espírito, divino ou não, do qual participaria a razão
humana e a que teria que obedecer.
Platão e o objectivismo.
A doutrina ética de Platão é um exemplo de
objectivismo ético. A justiça para ele é uma ideia que se aplica aos homens, à
qual eles têm que obedecer como à ordem social verdadeira sob a qual devem viver,
independente dos interesses e da consciência do indivíduo e à qual ele tem que
obedecer.
Kant e o objectivismo.
A deontologia de Kant é um caso mais subtil de objectivismo, na
medida em que concebe os princípios éticos como formas incondicionais e
originais inerentes ao espírito humano e que servem de critério de valor das
condutas concretas. Seria uma espécie de objectividade interior ao sujeito
humano, na medida em que consistiria num facto universal - a lei moral, o
imperativo categórico - da sua consciência.
O que é o subjectivismo dos valores morais?
Segundo este, o valor das acções, dos objectos e dos próprios
juízos morais depende da importância que cada indivíduo, por si próprio e
independentemente dos outros, lhes atribui. Os valores morais resultariam
de factores psicológicos, do que desejo, do que preciso, do que de algum modo
me agrada: o que prefiro é o melhor.
O subjectivismo ético está certo na medida em que não
há coisas nem acções que valham por si independentemente de um sujeito
valorizador, que ajuíze conscientemente do valor das coisas e das acções, assim
como dos próprios juízos morais. Não há verdades morais objectivas e universais.
O
subjectivismo ético é também atraente para o individualismo actual porque
parece respeitar a liberdade entendida como livre-arbítrio das pessoas, porque
parece mostrar que o progresso moral resulta de indivíduos reformadores que
romperam pela sua vontade com valores antigos de que já não gostamos e porque
parece promover a tolerância.
Que objecções ao subjectivismo?
Todavia,
tem os defeitos de ele consistir precisamente no relativismo ético:
a)
tornar moralmente indiferentes as mais contraditórias máximas de conduta;
b)
tornar inviável a discussão das questões morais;
O que é o Relativismo moral?
Quanto
ao relativismo moral cultural, ele
consiste na tese de que o valor ético dos juízos morais, das acções e dos
objectos é sempre relativo ao que cada cultura, etnia, sociedade acredita ser
correcto ou incorrecto, verdadeiro ou falso. Os valores do bem e do mal
ter-se-iam formado como resultado das circunstâncias de vida, dos laços sociais
específicos que os indivíduos foram construindo e das crenças associadas. O que
vale para uma cultura pode não valer para outra.
Subjectivismo e relativismo moral.
Tal
como para o subjectivismo ético, o relativismo ético não acredita na
objectividade e na universalidade dos valores morais. Estes não existem
independentemente do contexto cultural. O nazi-fascismo, o canibalismo e outras
condutas seriam perfeitamente aceitáveis.
Será que o Objectivismo e o subjectivismo "resolvem" o problema dos valores morais?
Ora,
nem o objectivismo nem o subjectivismo são capazes de explicar o facto da
moral.Por um lado os princípios éticos e os valores morais não se reduzem às
vivências do sujeito (subjectivismo) e, por outro, não existem em si e por si
mesmos e independentes da vida social dos indivíduos nem sequer consistem em
manifestações da natureza da sociedade que se impõem aos indivíduos de tal
maneira que a moral destes seria um mero da leis sociais independentes deles
(objectivismo).
Justifique.
É
na sociedade, nas relações sociais que os indivíduos estabelecem entre si, que
se formam valores morais e princípios éticos que, para valerem como tais,
passam a valer realmente como valores e princípios de conduta colectivos ou
sociais. Assim, os valores possuem uma objectividade peculiar que se distingue
da objectividade natural e física, de uma suposta objectividade ideal,
espiritual ou transcendente, da liberdade transcendental humana à maneira de
Kant. É uma objectividade que consiste no facto de serem valores normativos de
conduta sociais mas que, ao mesmo tempo, só existem na medida em que foram
interiorizadas subjectivamente, na convicção dos indivíduos que, assim, se
impõem a si mesmos o respeito por esses valores normativos. Os valores
consistem numa unidade dialéctica objectividade-subjectividade.
Ora,
este valores, como factos sociais, e não meramente psicológicos, têm uma
história. Depende da maneira como concebemos a História a nossa adesão à tese
do relativismo moral cultural ou, pelo contrário, à tese do progresso moral,
enquanto progresso universal da Humanidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário