segunda-feira, 25 de maio de 2020

Filosofia da Religião: Argumento do Mal - objeções

Terço feito com fardos de palha, em memórias das vitimas do covid 19.
Mansores, Arouca, Portugal.


O Argumento do Mal: objeções

1. Teísmo cético


Nega que possamos conhecer as razões que Deus possa ter para fazer algo, caso Deus exista.
Assim,
A inferência de 1 para 2 não é uma boa inferência indutiva.

1. Pelo menos alguns dos males do nosso mundo parecem gratuitos (Exemplo: o sofrimento do veado)
2. Logo, provavelmente, alguns dos males do nosso mundo são gratuitos (De 1 por indução)
Porquê?
O teísmo cético alega que somos ignorantes acerca das razões totais de Deus e, por isso mesmo, não se pode fazer uma inferência indutiva de 1 para 2, ou seja, pelo facto de nos parecer, ponto de vista subjectivo que existem males gratuitos não se segue que estes males gratuitos e injustificados existam de um ponto de vista objectivo.
Michael Bergmann (1964) sustentou esta ideia baseando-se numa analogia: não podemos usar a nossa incapacidade para ver qualquer insecto na garagem (quando estamos a olhar para a rua) para concluir que é improvável  que haja  qualquer razão que justifique  que Deus permite o mal. (Tal como não podes negar que existe um insecto na garagem só porque não consegues vê-lo. também não podes concluir que não haja uma justificação para que Deus permita a existência do mal só porque a desconheces).

2. A teodiceia de Leibniz 

Uma das teodiceias mais importantes foi desenvolvida por Leibniz (1646-1716)
A teodiceia é uma resposta à questão de saber por que motivo Deus permite o mal, mostrando-se, dessa forma, que nenhum mal é injustificável.
A teodiceia mostra que a premissa 2 é falsa (porque não existem males gratuitos e injustificados).

2. Logo, provavelmente, alguns dos males do nosso mundo são gratuitos (De 1 por indução)

A estrutura argumentativa é a seguinte:

1. Deus criou o melhor de todos os mundos possíveis
2. O melhor de todos os mundos possíveis tem partes indesejáveis, ou seja, males
3. Se 1 e 2 são verdadeiras, então Deus permite o mal
4. Logo, Deus permite o mal.

Com este tipo de raciocínio constata-se que Deus permite o mal, precisamente porque o melhor de todos os mundos possíveis não implica um mundo sem males.

  Analisando cada uma das premissas:
 


Premissa 1:  de acordo com Leibniz, Deus criou o melhor de todos os mundos possíveis o que decorre da definição do Deus teísta - sendo Deus omnipotente  e omnisciente, nada há que o possa impedir de criar o melhor mundo e a sua perfeição moral obriga-o a criar o melhor mundo possível. Se Deus existe, o nosso mundo é o melhor mundo, mas será que existe, realmente, o melhor mundo? Para cada mundo que se conceba, não será possível pensar num mundo ainda melhor e assim sucessivamente até ao infinito, sendo que dessa forma não há "o melhor mundo"?

Isso é implausível, segundo Leibniz. Se fosse verdade que não há o melhor dos mundos possíveis, não haveria uma razão suficiente para explicar por que razão Deus criaria o nosso mundo e não um outro qualquer. Portanto, nesta premissa, Leibniz defende que o mundo como um todo é o melhor mundo possível.

Premissa 2: Leibniz salienta que um mundo sem qualquer mal não seria o melhor mundo possível porque algumas partes do mundo  são tais que se Deus as eliminasse, estaria a eliminar partes boas e valiosas do mundo  que superam esses males. Por exemplo: a acto de perdoar que é importante para fortalecer as relações sociais surge porque existiu algum tipo de ofensa, ou seja, algum tipo de mal. Leibniz dá o exemplo de um general de um exército que prefere uma vitória com alguns feridos do que uma situação em que não há qualquer ferimento nem qualquer vitória.
Assim,  haver partes indesejáveis pode ser necessário para uma maior perfeição do mundo como um todo.

  Mas não seria possível pensar num mundo com menos mal?


Segundo Leibniz, considerando todas as coisas, não temos justificação para afirmar isso.
E porquê?
É que não podemos saber se é possível criar um mundo melhor sem esses aspectos negativos, dado que não sabemos quais as conexões entre estes aspectos e os outros aspectos do mundo.
Se pudéssemos eliminar o sofrimento do veado, sem que com isso se alterasse o mundo, teríamos um mundo melhor. O problema é que não temos forma de saber se essa mudança deixaria o mundo inalterado ou se, em vez disso, tornaria as coisas piores.
Portanto, o caso do veado não parece permitir rejeitar a premissa 2 do argumento de Leibniz.
Aceitando as premissas 1 e 2 de Leibniz, estamos a aceitar que Deus tem razões para permitir a existência do mal no mundo, não existindo, por isso mesmo, males gratuitos ou injustificados.

Terá Leibniz razão?



Texto elaborado com base no livro Filosofia, exame 11, 
Domingos Faria e Luis Veríssimo, Leya Educação, 2020


Veja este video....

https://www.youtube.com/watch?v=4cLY7xpZfYE



Será que Archie Williams concorda com Leibniz de que não existem males gratuitos e injustificados?


Terço feito com fardos de palha, em memórias das vitimas do covid 19.
Mansores, Arouca, Portugal.
                                                Lola

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