segunda-feira, 22 de março de 2021

Relativismo Moral e Cultural




Relativismo Moral e Cultural


Tal como o subjectivismo moral, o relativismo moral cultural baseia-se no facto de não haver acordo sobre as questões morais para concluir que não há verdades morais objectivas, aceites por todas as sociedades e culturas, assim como defende que os juízos morais tem valor de verdade, isto é, podem ser verdadeiros ou falsos.

 

O que é o Relativismo Moral e Cultural?

 

O relativismo moral cultural (R.M.C.) é a teoria segundo a qual o valor de verdade dos juízos morais é sempre relativo ao que cada sociedade acredita ser verdadeiro ou falso.

 

Para o relativismo moral cultural devemos julgar as acções dos membros de uma sociedade pelas normas morais estabelecidas no interior dessa sociedade e não mediante as crenças morais de outras sociedades.

 

Cumprir essas normas é agir bem, não as respeitar é agir imoralmente.

 

O relativismo moral nega que haja princípios morais universais, que haja padrões de avaliação moral transculturais (comuns a todas as culturas), independentes e aplicáveis ao juízo moral que faríamos sobre as diversas práticas culturais.

 

Os factos morais são relativos às sociedades, sendo diferentes consoante as diferentes culturas.

O bem e o mal morais são convenções estabelecidas em cada sociedade.

 

Na ética não verdades universais; o certo e o errado variam de sociedade para sociedade

 

Assim, formulando o argumento:

 

  Premissa: O que é considerado moramente correcto ou incorrecto varia de sociedade para sociedade.

Premissa: O que é moralmente correcto ou incorrecto depende do que cada sociedade acredita ser moralmente correcto ou incorrecto.

Conclusão: Logo, não há juízos morais objectivos (aceites independentemente do contexto cultural).

 

·        A diversidade de crenças e práticas morais é um facto que pode ser constatado.

·        As sociedades discordam acerca do que é certo ou errado.

·        O certo e o errado em termos morais depende da aprovação cultural.

·       Se uma dada sociedade aceita como «válidos» ou correctos determinados princípios e normas morais, então esses princípios e normas serão correctos para os membros dessa cultura.

·        Se não aceita tais princípios e normas estes serão incorrectos para os membros dessa sociedade, pelo menos para a maioria.

·        É a aprovação social e cultural que determina que juízos morais são correctos ou não.

·        O que uma sociedade acredita ser correcto ou incorrecto constitui o critério último do que é moralmente certo ou errado.

·        Não há verdades morais objectivas. - em assuntos morais cada sociedade tem a sua verdade.

 

Argumentos a favor do Relativismo Moral Cultural

 

Uma das principais razões da popularidade do R.M.C. é a ideia de que promove o respeito pela diversidade cultural e a Tolerancia.

 

1.   Argumento da diversidade cultural

 

Diferentes sociedades têm padrões e códigos morais completamente diferentes.

Se culturas diferentes têm códigos morais diferentes, então não uma verdade moral objetiva (pois, a verdade dos juízos morais é sempre relativa à cultura ou grupo social)

Logo, não há uma verdade moral objectiva.

Para o R.M.C. cada cultura tem a sua própria perspectiva sobre o que é moralmente certo ou errado.

Nenhuma cultura é autoridade incontestável em assuntos morais. A tolerância significa, para o relativista, que temos de aceitar o que os membros de outras culturas pensam e fazem sem tentar corrigi- los.

Para o R.M.C. os juízos morais sobre a correcção moral das acções não são independentes do contexto cultural.

Julgamos sempre a partir do que é socialmente aprovado na cultura a que pertencemos.

O modo como olhamos para as crenças e práticas de outras culturas é habitualmente condicionado pelo nosso modo de ver.

 Ora, devemos evitar a falsa e intolerante convicção de que o nosso modo de ver é a única forma de ver.

Se os valores não fossem relativos às sociedades, não existiria diversidade cultural.

 

Objeção ao argumento da diversidade cultural:

·        algumas regras morais que todas as sociedades têm em, por exemplo regras contra o incesto.

·        O facto de haver culturas com códigos morais diferentes não é uma condição suficiente para que não haja uma verdade moral objetiva.

·        Pode suceder que haja culturas com códigos morais errados

 

 

2.   Argumento da Tolerância

 

O R.M.C. parece favorecer a tolerância entre sociedades e grupos.

Durante muitos séculos, a maioria das sociedades humanas viveram isoladas uma das outras, desconhecendo-se. Informações de terras distantes eram escassas. Em tais condições, parecia razoável pensar que as crenças e as práticas morais da nossa cultura eram a forma correcta de pensar e de agir. Hoje em dia, na época da comunicação global, não é razoável pensar que as nossas crenças e práticas são as únicas práticas culturais correctas. Significa isto que temos de ser relativistas?

A tese da tolerância que o relativismo diz promover é geralmente assim defendida:

 

Premissa – As diversas culturas tem concepções diferentes sobre o que é moralmente bom ou mau.ü

Premissa – Se diferentes sociedades tem crenças morais diversas, não há verdades morais objectivas e universais.

 Conclusão – Logo, devemos adoptar uma atitude de tolerância face às crenças morais de outras culturas (devemos aceitar o que é aceite em outras sociedades).

 

 

Objeção ao argumento da Tolerância

 

O relativismo moral pode promover a intolerância.

 

O R.M.C. afirma que aquilo que uma sociedade pensa ser moralmente correcto é moralmente correcto para ela. Se moralmente correcto é igual a cultural e socialmente aprovado, então essa atitude intolerante é moralmente correcta.

 

Assim, apesar de pretender promover o diálogo entre culturas, o R.M.C. não poderá promover o conflito e a agressão entre culturas?

 

 

Outras Criticas ao Relativismo Moral e Cultural

 

1.   O relativismo moral pode promover a intolerância.

 

O R.M.C. afirma que aquilo que uma sociedade pensa ser moralmente correcto é moralmente correcto para ela. Se moralmente correcto é igual a cultural e socialmente aprovado, então essa atitude intolerante é moralmente correcta.

 

Assim, apesar de pretender promover o diálogo entre culturas, o R.M.C. não poderá promover o conflito e a agressão entre culturas?

 

 

2.   O relativismo moral é auto-refutante (refuta-se a si mesmo).

 

O Relativismo Moral Cultural afirma que não há verdades morais objectivas, ou seja, que todas as verdades morais são relativas. Deste modo, o relativismo parece refutar-se a si próprio. Porquê? É que segundo esta teoria tudo é relativo excepto o próprio relativismo.

 

3.   O relativismo moral torna incompreensível o progresso moral.

 

É verdade ou pelo menos parece que não há acordo entre os seres humanos sobre muitas questões morais mas também é verdade que a humanidade tem realizado progressos no plano moral.

Falar do progresso moral parece implicar que haja um padrão objectivo com o qual confrontamos as nossas acções.

Se esse padrão objectivo não existir, não temos fundamento para dizer que em termos morais estamos melhor agora do que antes.

Se para o R.M.C. nenhuma sociedade esteve ou está errada nas suas crenças e práticas morais, então torna-se difícil compreender a ideia do progresso moral.

 

4.   O Relativismo Moral Cultural reduz a verdade ao que a maioria julga ser verdadeiro.

 

Quase nenhuma sociedade é culturalmente homogénea. Actualmente, a maioria das sociedades é multicultural. No interior de uma cultura existe subculturas. Podem-se questionar e debater sobre posições que a nossa sociedade defende sobre temas tabu (por exemplo). Assim sendo, temos de concluir que, quando falamos do código moral ou das crenças morais de uma sociedade, estamos a falar das crenças da maioria dos seus membros.

De acordo com a R.M.C., é moralmente correcto o que é aprovado pela sociedade e isso dá a ideia de que então é moralmente correcto o que a maioria considera moralmente correcto.

 

Partindo do facto de que há discórdia entre as várias sociedades acerca do que é moralmente certo ou errado, o R.M.C. acaba por tornar impossível um real debate moral entre sociedades ou entre membros de sociedades diferentes.ü Imagina-se, que na sociedade A, é prática moralmente aceitável que as crianças brinquem com pássaros até os matarem. A cultura da sociedade a que pertence condena essa prática considerando-a cruel.

 

Para o relativista não podemos dizer que os membros da sociedade A estão errados, ou seja, que a acção das crianças é errada em si mesma. É errada segundo os nossos padrões, mas não é errada segundo os seus padrões. Se considerarmos que o relativismo moral é correcto, ninguém pode provar que a sociedade tem razão numa disputa moral. Não podemos dizer que uma delas está objectivamente errada e a outra certa.


5. O relativismo em si é auto-destrutivo. 


Logicamente, deve haver algum padrão pelo qual possamos comparar dois tipos de afirmações morais para determinar qual é a "mais correta". Obviamente, os relativistas morais negam que essa norma exista e assim dizem que tais comparações são impossíveis. Isso resulta no maior problema prático para o relativismo, como mencionado acima: é difícil, se não impossível, condenar quaisquer ações de um ponto de vista baseado no relativismo.


Será que não há algum padrão pelo qual possamos comparar dois tipos de afirmações morais para determinar qual é a "mais correta". Obviamente, os relativistas morais negam que essa norma exista e assim dizem que tais comparações são impossíveis. Isso resulta no maior problema prático para o relativismo, como mencionado acima: é difícil, se não impossível, condenar quaisquer ações de um ponto de vista baseado no relativismo.


6. O relativismo moral torna a sociedade (moral e legalmente) instável


E porquê?

Uma vez que os conceitos de certo e errado se tornam numa questão de uma opinião popular que está sempre a mudar. O pior resultado possível de tal condição é o ditador: um governante que se serve de uma mudança temporária na opinião popular para tomar o poder, mas não vê nenhuma autoridade como superior à sua, e não há leis mais restritivas do que as suas próprias leis. Durante os julgamentos de Nuremberga, após a Segunda Guerra Mundial, o problema lógico do relativismo tornou-se evidente. Os réus nazis continuamente reclamaram a  sua absolvição, dizendo que eles estavam apenas a seguir as leis do seu país. Farto dessa argumentação, finalmente, um juiz perguntou: "mas não existe lei maior que a nossa lei?" Um relativista moral seria forçado a responder "não".


Nota:


O relativismo cultural, para além de responder ao problema da natureza dos valores, também responde à questão relativa à diversidade cultural: 

Qual a posição que devo tomar perante a diversidade cultural? 

Que atitude nos poderá conduzir a um diálogo intercultural? 




Só para reflectir....


Numa aldeia paquistanesa, um rapaz de doze anos foi acusado de ter uma relação amorosa com uma mulher de vinte e dois anos que pertencia a uma classe social superior. Negou a acusação, mas os anciãos não acreditaram nele. Como castigo, decretaram que a irmã adolescente do rapaz – que nada fizera de errado – fosse violada publicamente. O seu nome é Mukhtar Mai. Quatro homens executaram a sentença enquanto os habitantes da aldeia assistiam. Os observadores disseram que isto nada tinha de invulgar, mas com tantos estrageiros na região, o incidente foi noticiado e descrito na Newsweek.

J.Rachels


 - O que diria o relativista moral de esta situação?

 

                                                 Lola

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