Subjectismo, Objectivismo e Relativismo moral: Exercícios
A. Analise o seguinte texto e responda às questões:
"Se o subjectivismo ético [ou moral] não é verdadeiro, porque razão se sentem algumas pessoas atraídas por ele? Uma das razões tem que ver com o facto de a ciência fornecer o nosso paradigma de objectividade, e quando comparamos a ética à ciência, à ética parecem faltar as características que tornam a ciência tão irresistível. Por exemplo: a inexistência de provas em ética parece uma grande deficiência. Podemos provar que o mundo é redondo, que não existe o maior número primo e que os dinossauros viveram antes dos seres humanos. Mas poderemos provar que o aborto é certo ou errado?
A ideia geral de que os juízos morais não se podem provar é apelativa. Qualquer pessoa que já tenha debatido um tema como o aborto sabe como pode ser frustrante tentar “provar” que o seu ponto de vista é correcto. No entanto, se examinarmos esta ideia mais de perto, revela-se dúbia (…).
É fácil imaginar (…) exemplos:
João é um adolescente desonesto.
Tem o hábito de mentir; manipula as pessoas; engana-as quando pensa poder fazê-lo sem ser descoberto; é cruel com os outros e assim por diante;
Uma determinada vendedora de automóveis é desonesta.
Esconde defeitos dos automóveis; aproveita-se de pessoas sem recursos pressionando-as a pagar preços exorbitantes por automóveis que sabe terem problemas; coloca anúncios publicitários enganadores em qualquer jornal que aceite publicá-los e assim por diante.
(…) Se uma das nossas razões para afirmar que Jones é um homem mau é ele mentir habitualmente, podemos prosseguir e explicar porque motivo mentir é mau. Mentir é mau, primeiro porque prejudica as pessoas. Se alguém dá uma falsa informação a outra pessoa e essa pessoa confiar nela, as coisas podem correr mal de diversas maneiras. Segundo, mentir é mau por ser uma violação da confiança. Confiar noutra pessoa significa ficarmos vulneráveis e desprotegidos. Quando se confia em alguém, acredita-se simplesmente no que essa pessoa diz, sem tomar precauções; e quando uma pessoa mente aproveita-se da nossa confiança. É por isso que ser enganado constitui uma ofensa tão íntima e pessoal. Por fim, a regra exigindo que não se minta é necessária para a sociedade poder existir - se não pudéssemos partir do princípio que as outras pessoas dirão a verdade, a comunicação tornar-se-ia impossível e, se a comunicação fosse impossível, a sociedade seria impossível.
Portanto, podemos apoiar os nossos juízos em boas razões, e podemos oferecer explicações do porquê de essas razões terem importância. Se podemos fazer tudo isto, (…) que mais “provas” poderia alguém desejar? É absurdo afirmar que os juízos éticos não podem ser mais do que “meras opiniões” (…).
Por fim, é fácil misturar duas coisas que são na realidade muito diferentes:
1. Provar a correcção de uma ideia;
2. Persuadir alguém a aceitar as nossas provas.
Podemos ter um argumento exemplar que alguém recusa a aceitar. Mas isso não significa que tenha de estar alguma coisa errada com o argumento ou que a “prova” seja, de alguma forma, inatingível. Pode apenas significar que alguém está a ser teimoso. Quando isto acontece não devemos surpreender-nos. Em ética é de esperar que as pessoas por vezes se recusem a dar ouvidos à razão. Afinal de contas, a ética pode exigir a realização de coisas que não queremos fazer, sendo, pois, muito previsível que tentemos evitar ouvir as suas exigências."
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral.
a. Um juízo ético é uma mera opinião? Justifique a posição do autor.
b. Ética e razão serão incompatíveis? Justifique.
c. Verdade e Ética- será possível uma relação?
B. Analise o seguinte texto e responda às questões:
A teoria que estou a defender é uma forma daquela que é conhecida por
doutrina da "subjetividade" dos valores. Esta doutrina consiste em
sustentar que, se dois homens discordam quanto a valores, há uma diferença de
gosto, mas não um desacordo quanto a qualquer género de verdade. Quando um
homem diz "As ostras são boas" e outro diz "Eu acho que são
más" , reconhecemos que nada há para discutir. A teoria em questão
sustenta que todas as divergências de valores são deste género, embora pensemos
naturalmente que não o são quando estamos a lidar com questões que nos parecem
mais importantes que as das ostras. A razão principal para adotar esta
perspetiva é a completa impossibilidade de encontrar quaisquer argumentos que
provem que isto ou aquilo tem valor intrínseco. Se estivéssemos de acordo a
este respeito, poderíamos defender que conhecemos os valores por intuição. Não
podemos provar a um daltónico que a relva é verde e não vermelha, mas há várias
maneiras de lhe provar que ele não tem um poder de discriminação que a maior
parte dos homens tem. No entanto, no caso dos valores não há qualquer maneira
de fazer isso, e aí os desacordos são muito mais frequentes que no caso das
cores. Como não se pode sequer imaginar uma maneira de resolver uma divergência
a respeito de valores, temos de chegar à conclusão de que a divergência é
apenas de gostos e não se dá ao nível de qualquer verdade objetiva.
Bertrand Russell, Ciência e Ética, 1935.
Tradução de
Paula Mateus
a. Que perspetiva defende o autor?
b. Como justifica o autor a sua posição?
c. Será possível resolver divergências a respeito de valores? Justifique.
c. ....há uma diferença de gosto, mas não um desacordo quanto a qualquer género de verdade". Conteste esta ideia do autor.
C. Analise o seguinte texto e responda às questões:
Numa aldeia paquistanesa, um
rapaz de doze anos foi acusado de ter uma relação amorosa com uma mulher de
vinte e dois anos que pertencia a uma classe social superior. Negou a acusação,
mas os anciãos não acreditaram nele. Como castigo, decretaram que a irmã
adolescente do rapaz – que nada fizera de errado – fosse violada publicamente.
O seu nome é Mukhtar Mai. Quatro homens executaram a sentença enquanto os
habitantes da aldeia assistiam. Os observadores disseram que isto nada tinha de
invulgar, mas com tantos estrageiros na região, o incidente foi noticiado e
descrito na Newsweek.
a. Como entende esta situação o relativista moral.
J.Rachels
Lola
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