segunda-feira, 15 de março de 2021

Subjectismo, Objectivismo e Relativismo moral: Exercícios

 


Subjectismo, Objectivismo e Relativismo moral: Exercícios


 A. Analise o seguinte texto e responda às questões:

 

 

"Se o subjectivismo ético [ou moral] não é verdadeiro, porque razão se sentem algumas pessoas atraídas por ele? Uma das razões tem que ver com o facto de a ciência fornecer o nosso paradigma de objectividade, e quando comparamos a ética à ciência, à ética parecem faltar as características que tornam a ciência tão irresistível. Por exemplo: a inexistência de provas em ética parece uma grande deficiência. Podemos provar que o mundo é redondo, que não existe o maior número primo e que os dinossauros viveram antes dos seres humanos. Mas poderemos provar que o aborto é certo ou errado?

A ideia geral de que os juízos morais não se podem provar é apelativa. Qualquer pessoa que já tenha debatido um tema como o aborto sabe como pode ser frustrante tentar “provar” que o seu ponto de vista é correcto. No entanto, se examinarmos esta ideia mais de perto, revela-se dúbia (…).

É fácil imaginar (…) exemplos:

João é um adolescente desonesto. 

Tem o hábito de mentir; manipula as pessoas; engana-as quando pensa poder fazê-lo sem ser descoberto; é cruel com os outros e assim por diante;

Uma determinada vendedora de automóveis é desonesta. 

Esconde defeitos dos automóveis; aproveita-se de pessoas sem recursos pressionando-as a pagar preços exorbitantes por automóveis que sabe terem problemas; coloca anúncios publicitários enganadores em qualquer jornal que aceite publicá-los e assim por diante.

(…) Se uma das nossas razões para afirmar que Jones é um homem mau é ele mentir habitualmente, podemos prosseguir e explicar porque motivo mentir é mau. Mentir é mau, primeiro porque prejudica as pessoas. Se alguém dá uma falsa informação a outra pessoa e essa pessoa confiar nela, as coisas podem correr mal de diversas maneiras. Segundo, mentir é mau por ser uma violação da confiança. Confiar noutra pessoa significa ficarmos vulneráveis e desprotegidos. Quando se confia em alguém, acredita-se simplesmente no que essa pessoa diz, sem tomar precauções; e quando uma pessoa mente aproveita-se da nossa confiança. É por isso que ser enganado constitui uma ofensa tão íntima e pessoal. Por fim, a regra exigindo que não se minta é necessária para a sociedade poder existir - se não pudéssemos partir do princípio que as outras pessoas dirão a verdade, a comunicação tornar-se-ia impossível e, se a comunicação fosse impossível, a sociedade seria impossível.

Portanto, podemos apoiar os nossos juízos em boas razões, e podemos oferecer explicações do porquê de essas razões terem importância. Se podemos fazer tudo isto, (…) que mais “provas” poderia alguém desejar? É absurdo afirmar que os juízos éticos não podem ser mais do que “meras opiniões” (…).

Por fim, é fácil misturar duas coisas que são na realidade muito diferentes:

1. Provar a correcção de uma ideia;

2. Persuadir alguém a aceitar as nossas provas.

Podemos ter um argumento exemplar que alguém recusa a aceitar. Mas isso não significa que tenha de estar alguma coisa errada com o argumento ou que a “prova” seja, de alguma forma, inatingível. Pode apenas significar que alguém está a ser teimoso. Quando isto acontece não devemos surpreender-nos. Em ética é de esperar que as pessoas por vezes se recusem a dar ouvidos à razão. Afinal de contas, a ética pode exigir a realização de coisas que não queremos fazer, sendo, pois, muito previsível que tentemos evitar ouvir as suas exigências."

James Rachels, Elementos de Filosofia Moral.

 

a. Um juízo ético é uma mera opinião? Justifique a posição do autor.

b. Ética e razão serão incompatíveis? Justifique.

c. Verdade e Ética- será possível uma relação?


 B. Analise o seguinte texto e responda às questões:


A teoria que estou a defender é uma forma daquela que é conhecida por doutrina da "subjetividade" dos valores. Esta doutrina consiste em sustentar que, se dois homens discordam quanto a valores, há uma diferença de gosto, mas não um desacordo quanto a qualquer género de verdade. Quando um homem diz "As ostras são boas" e outro diz "Eu acho que são más" , reconhecemos que nada há para discutir. A teoria em questão sustenta que todas as divergências de valores são deste género, embora pensemos naturalmente que não o são quando estamos a lidar com questões que nos parecem mais importantes que as das ostras. A razão principal para adotar esta perspetiva é a completa impossibilidade de encontrar quaisquer argumentos que provem que isto ou aquilo tem valor intrínseco. Se estivéssemos de acordo a este respeito, poderíamos defender que conhecemos os valores por intuição. Não podemos provar a um daltónico que a relva é verde e não vermelha, mas há várias maneiras de lhe provar que ele não tem um poder de discriminação que a maior parte dos homens tem. No entanto, no caso dos valores não há qualquer maneira de fazer isso, e aí os desacordos são muito mais frequentes que no caso das cores. Como não se pode sequer imaginar uma maneira de resolver uma divergência a respeito de valores, temos de chegar à conclusão de que a divergência é apenas de gostos e não se dá ao nível de qualquer verdade objetiva.

 

Bertrand Russell, Ciência e Ética, 1935. 

Tradução de Paula Mateus

  a. Que perspetiva defende o autor? 

b. Como justifica o autor a sua posição?

c. Será possível resolver  divergências a respeito de valores? Justifique.

c. ....há uma diferença de gosto, mas não um desacordo quanto a qualquer género de verdade". Conteste esta ideia do autor.


 C. Analise o seguinte texto e responda às questões:

Numa aldeia paquistanesa, um rapaz de doze anos foi acusado de ter uma relação amorosa com uma mulher de vinte e dois anos que pertencia a uma classe social superior. Negou a acusação, mas os anciãos não acreditaram nele. Como castigo, decretaram que a irmã adolescente do rapaz – que nada fizera de errado – fosse violada publicamente. O seu nome é Mukhtar Mai. Quatro homens executaram a sentença enquanto os habitantes da aldeia assistiam. Os observadores disseram que isto nada tinha de invulgar, mas com tantos estrageiros na região, o incidente foi noticiado e descrito na Newsweek.

a. Como entende esta situação o relativista moral.

J.Rachels



                                                 Lola

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