A ética de Stuart Mill
Antes de mais...
O que é que faz com que uma acção seja boa?
Uma acção é boa quando promove a felicidade. A felicidade é “única coisa
desejável como fim” e, por isso, boa em si mesma. A felicidade é um estado de
bem-estar, de prazer e ausência de dor ou sofrimento.
O que é que, segundo Stuart Mill, torna as acções boas ou más?
É boa a acção que trouxer maior felicidade para o maior número de
pessoas. A felicidade é o prazer e a ausência de dor, os únicos fins
desejáveis
Qual o critério para avaliar as acções?
O critério de moralidade, segundo Stuart Mill, são as consequências
previsíveis da acção. Por isso, a Acção Moral ou boa é aquela que traz mais
felicidade ao maior número de pessoas
Será que uma acção é boa porque, uma vez realizada, promove o bem de
alguém?
Devemos procurar agir de forma a promover a felicidade de todos os que são
afetados pela ação (incluindo a felicidade do próprio agente).
A minha ação é correta se promover de forma imparcial (ou seja, sem
distinções) os interesses de todas e cada uma das pessoas implicadas pela ação,
sendo o interesse de cada pessoa a obtenção da felicidade.
Qual a finalidade da moralidade, segundo Stuart Mill?
A finalidade da moralidade é a felicidade
O critério de moralidade das acções (o que torna uma acção boa) é a sua
utilidade, o seu contributo para criar a maior felicidade
Fazer uma opção moral exige inventariação e avaliação das consequências
possíveis para se poder escolher a que previsivelmente produzirá mais
felicidade ou bem-estar
O que é uma acção moralmente correcta?
Para o utilitarista as acções são moralmente correctas ou incorrectas
conforme as consequências: se promovem imparcialmente o bem-estar são boas.
Isto quer dizer que não há acções intrinsecamente boas. Só as
consequências as tornam boas ou más.
Assim sendo, não há, para o utilitarista, deveres que devam ser respeitados
sempre e em todas as circunstâncias.
Se para a ética kantiana, alguns actos como matar, roubar ou mentir são
absolutamente proibidos mesmo que as consequências sejam boas, para Mill
justifica-se, por vezes, matar, deixar morrer, roubar ou mentir.
John
Stuart Mill (1806-1873)
Filósofo e economista
britânico
Defende o Utilitarismo
ou consequencialismo
A teoria utilitarista
foi explicitamente desenvolvida a partir do século XVIII por Jeremy Bentham.
Mas foi no século XIX
que John Stuart Mill lhe deu nova vida, sendo hoje uma das teorias éticas mais
estudadas.
A tese principal
defendida pelo utilitarismo é o Princípio da Maior Felicidade.
O Utilitarismo é uma ética
consequencialista e é uma teoria hedonista.
Stuart
Mill e Kant
“O motivo nada tem a
ver com a moralidade da ação, embora tenha muito a ver com o valor do agente.
Quem salva um semelhante de se afogar faz o que está moralmente correto, quer o
seu motivo seja o dever, ou a esperança de ser pago pelo seu incómodo; quem trai
a confiança de um amigo, é culpado de um crime, ainda que o seu objetivo seja
servir outro amigo para com o qual tem deveres ainda maiores”.
Stuart Mill, Utilitarismo
Para o utilitarista as
acções são moralmente correctas ou incorrectas conforme as consequências: se
promovem imparcialmente o bem-estar são boas. Isto quer dizer que não há
acções intrinsecamente boas. Só as consequências as tornam boas ou
más. Assim sendo, não há, para o utilitarista, deveres que devam ser
respeitados sempre e em todas as circunstâncias.
Se para a ética kantiana,
alguns actos como matar, roubar ou mentir são absolutamente proibidos mesmo que
as consequências sejam boas, para Mill justifica-se, por vezes, matar, deixar
morrer, roubar ou mentir.
Ética Consequencialista
Considera–se que a ética de Mill é consequencialista porque defende que o
valor moral de uma ação depende das suas consequências.
É boa a ação que tem boas consequências ou dadas as circunstâncias melhores
consequências do que ações alternativas.
A ação é avaliada pelas suas consequências e o motivo ou a intenção não são
decisivos porque se referem ao carácter do agente e não à ação em si mesma.
Não há ações particularmente boas.
Para o utilitarista, as ações são moralmente corretas ou incorretas conforme
as consequências: se promovem imparcialmente o bem-estar, são boas. Só as
consequências as tornam boas ou más. Assim sendo, não há, para o utilitarista,
deveres que devam ser respeitados em todas as circunstâncias.
Não há deveres morais absolutos.
O utilitarista defende uma perspetiva consequencialista – são as
consequências de um ato que determinam se este é certo ou errado.
Concepção ética de índole utilitarista que considera que a moralidade de
uma acção depende unicamente das suas consequências.
Defende que devemos escolher a acção que tem as melhores consequências
globais.
Utilitarismo - Teoria que propõe o Princípio da Maior Felicidade como
único critério de moralidade.
Ética Hedonista
O princípio moral em que se baseia o utilitarismo é o
princípio da Utilidade ou da Maior Felicidade.
Chama-se hedonismo (grego hédonê, prazer) a este tipo de concepção (prazer
entendido como felicidade para o maior número de pessoas).
Todas as atividades humanas têm um objetivo último, isto é, são meios para
uma finalidade que é o ponto de convergência de todas.
Esse fim é a chamada felicidade ou bem-estar.
Procuramos em todas as atividades a que nos dedicamos viver experiências
aprazíveis e evitar experiências dolorosas ou desagradáveis.
Esta perspectiva que identifica a felicidade com o prazer ou o bem-estar
tem o nome de hedonismo.
O
principio da Utilidade ou da Maior Felicidade
“A
doutrina que aceita como fundamento da moral a utilidade, ou princípio da maior
felicidade, defende que as ações são corretas na medida em que tendem a
promover a felicidade, e incorretas na medida em que tendem a gerar o contrário
da felicidade".
Stuart Mill,
Utilitarismo
A tese principal
defendida pelo utilitarismo é o Princípio da Maior Felicidade.
O Principio da Maior
felicidade ou Principio da Utilidade diz-nos que devemos agir de modo a que da
nossa acção resulte a maior felicidade ou bem-estar possível para as pessoas
por ela afectadas.
Uma acção boa é aquela
que é mais útil, ou seja, a que produz mais felicidade para o maior número de
pessoas.
Quando não é possível
produzir felicidade ou prazer devemos tentar reduzir a infelicidade.
O principio da Utilidade
é, para Stuart Mill, o Principio da Maior Felicidade.
“Por princípio da utilidade, entendemos o princípio
segundo o qual toda a ação, qualquer que seja, deve ser aprovada ou rejeitada
em função da sua tendência de aumentar ou reduzir o bem-estar das partes
afetadas pela ação. (...) Designamos por utilidade a tendência de alguma coisa
em alcançar o bem-estar, o bem, o belo, a felicidade, as vantagens, etc. O
conceito de utilidade não deve ser reduzido ao sentido corrente de modo de vida
com um fim imediato."
Stuart Mill, Utilitarismo
Stuart Mill entende por
utilidade a tendência de alguma coisa em
alcançar o bem-estar,
o bem, o belo, a felicidade e as vantagens.
"O credo que aceita a Utilidade ou o Princípio da Maior Felicidade
como fundamento da moral sustenta que: As acções são justas na proporção em que
tendem a promover a felicidade e injustas enquanto tendem a produzir o
contrário da felicidade. Entende-se por felicidade o prazer e a ausência de
dor; por infelicidade a dor e a ausência do prazer. O prazer e a ausência de
dor são as únicas coisas desejáveis como fins; e todas as coisas desejáveis
são-no pelo prazer inerente a elas mesmas, ou como meios para a promoção do
prazer e a prevenção da dor."
Stuart Mill,
Utilitarismo
O que é a Felicidade?
A Felicidade é o grande fim da vida humana e a sua
promoção é uma forma de avaliar a acção humana..
A felicidade é o critério da moralidade.
Para Stuart Mill a felicidade é o prazer e a ausência de dor.
Para o utilitarista a felicidade não é a própria felicidade do agente, mas
a felicidade de todos os envolvidos na acção.
Para o utilitarismo o agente da acção deve ser
estreitamente imparcial entre a sua própria
felicidade e a dos outros assumindo-se como um espectador
desinteressado e benevolente.
Devemos procurar agir de
forma a promover a felicidade de todos os que são afetados pela ação (incluindo
a felicidade do próprio agente).
A minha ação é correta se promover de forma imparcial (ou seja, sem distinções)
os interesses de todas e cada uma das pessoas implicadas pela ação, sendo o
interesse de cada pessoa a obtenção da felicidade.
A felicidade é o maior bem ou o bem ultimo e é a única coisa desejável como
fim.
Todos os outros bens apenas são bons e desejáveis enquanto meios para
aquele que é considerado o único propósito da acção - o prazer e ausência de
dor.
Por exemplo: ouvir música ou ver um filme em boa companhia são bens
desejáveis, mas só o são na medida em que são meios para um fim, o maior bem -
a FELICIDADE.
A moralidade reside no esforço para maximizar a felicidade ou prazer e para
alcançar tanta felicidade quanta nos for possível.
Temos de fazer escolhas que originem a maior
felicidade para todos, considerando imparcialmente o
bem estar de todos aqueles que são afectados pelas nossas acções.
“Se a natureza humana é constituída de forma a nada
desejar que não seja ou parte da felicidade ou um meio para a felicidade, não
podemos ter outra prova, e não precisamos de outra, de que estas são as únicas
coisas desejáveis. A ser assim, a felicidade é o único fim da ação humana, e a
sua promoção o teste por meio do qual se avalia toda a conduta humana; de onde
necessariamente se segue que tem de ser o critério da moralidade”.
Stuart Mill, Utilitarismo.
"Por felicidade entendemos o prazer, e a ausência de dor; por
infelicidade, a dor, e a privação de prazer”.
Stuart
Mill, Utilitarismo
“Tenho de repetir, uma vez mais, que a felicidade que
constitui o padrão utilitarista do que está correto na conduta não é a própria
felicidade do agente, mas a de todos os envolvidos [. . . ]. O utilitarismo
exige que o agente seja tão estreitamente imparcial entre a sua própria
felicidade e a dos outros como um espectador desinteressado e benevolente.”
Stuart Mill, Utilitarismo.
“A única prova de que um som é audível é que as
pessoas o ouvem. (. . . ) Penso que, de modo semelhante, a única prova que é
possível apresentar de algo é desejável, é as pessoas desejarem-no de facto. (.
. . ) Nenhuma razão pode ser avançada para explicar por que razão a felicidade
geral é desejável, excepto que cada pessoa, na medida em que pensa poder
alcançar a sua própria felicidade, deseja-a. (. . . ) [Assim,] a felicidade de
cada pessoa é desejável para essa pessoa e, a felicidade geral é, portanto,
desejável para o conjunto de todas as pessoas (. . . ) e, consequentemente, um
dos critérios da moralidade”.
Stuart Mill, Utilitarismo.
Felicidade Geral ou Felicidade Individual?
“Esse padrão [utilitarista] não é a maior
felicidade do próprio agente, mas a maior porção de felicidade no todo. [. . .
] Pode ser, na sua máxima extensão, garantida a toda a humanidade; e, não
apenas à humanidade, mas na medida em que a natureza das coisas o permitir, a
todas as criaturas sencientes.”
Stuart Mill, Utilitarismo
A minha felicidade não é mais importante do que a
felicidade dos outros.
O utilitarismo de Stuart Mill não defende que tenhamos
de renunciar à nossa felicidade, a uma vida pessoal em nome da felicidade
do maior número.
Trata-se através da educação segundo o Princípio de
Utilidade de abrir um espaço amplo para que a inclinação para o bem geral se
sobreponha, com frequência cada vez maior, ao egoísmo.
O Princípio da Maior Felicidade em Stuart Mill exige
que cada indivíduo se habitue a não separar a sua felicidade da felicidade
geral sem deixar de ter projectos, interesses e vida pessoal.
Alguns críticos argumentaram que a teoria utilitarista é uma teoria que
defende o egoísmo ético que só procurava a felicidade do próprio
sujeito.
A felicidade de que fala o utilitarismo não é simplesmente a felicidade
individual. Mas também não é a felicidade geral à custa da felicidade do
agente.
A procura da felicidade tem um sentido
altruísta e voltado para os outros.
Ao defender como única regra directiva da conduta da
humanidade o princípio da máxima felicidade, recusa toda a actuação que se exerce
em função exclusivamente das disposições e interesses individuais (egoísmo
ético)
“A moralidade utilitarista reconhece, de facto, nos
seres humanos o poder de sacrificarem o seu maior bem em prol do bem dos
outros. Apenas recusa admitir que o sacrifício é, em si, um bem. A moralidade
utilitarista considera desperdiçado qualquer sacrifício que não aumente, ou
tenda a aumentar, a quantidade total de felicidade.”
Stuart Mill, Utilitarismo.
Stuart Mill e os prazeres
Mas o que é que causa
maior felicidade ou prazer?
Jeremy Benthan, filósofo inglês considerado o fundador
do utilitarismo, defende um hedonismo quantitativo em
que todas as fontes de prazer são equivalentes.
Por exemplo, a felicidade de amar alguém não é, em si mesma, superior ou
inferior ao prazer que se obtém ao saborear uma boa refeição.
Tudo depende do grau de prazer, ou seja, da intensidade e da duração que se
experimenta em cada situação - se a refeição provocar mais prazer, será mais
valiosa.
Todos prazeres (e dores) são comensuráveis, ou seja, podemos fazer um
cálculo da felicidade: • valor(p) = Intensidade(p) × Duração(p)
A melhor vida é aquela que, depois de considerados todos os prazeres
e dores que a constituem, apresenta o saldo mais positivo.
“Seria absurdo que a avaliação dos prazeres dependesse apenas da
quantidade, dado que ao avaliar todas as outras coisas consideramos a qualidade
a par da quantidade. (. . . ) É um facto inquestionável que aqueles que estão
igualmente familiarizados com [dois prazeres], e são igualmente capazes de os
apreciar e gozar, dão uma acentuada preferência ao modo de vida no qual se faz
uso das faculdades superiores. Poucas criaturas humanas consentiriam em ser
transformadas em qualquer um dos animais inferiores, a troco da máxima
quantidade dos prazeres de um animal”.
Stuart Mill, Utilitarismo.
Stuart Mill defende um hedonismo
qualitativo
Mill defende que alguns tipos de prazeres são qualitativamente superiores a
outros - ou seja, há prazeres intrinsecamente melhores do que outros.
Os Prazeres Inferiores correspondem
aos prazeres corpóreos, ou seja, dizem respeito à satisfação das necessidades
físicas (comer, dormir, beber, sexo)
Os Prazeres Superiores
correspondem aos prazeres intelectuais e emocionais, ou seja, dizem respeito à
satisfação das necessidades mentais/espirituais (como a fruição da beleza, do
conhecimento, da amizade e do amor, apreciar a beleza,
a verdade, o amor, a liberdade, o conhecimento, a criação artística. ).
Mas como sabemos que os
prazeres intelectuais são superiores aos corporais?
Stuart Mill argumenta que um juiz competente, o qual tem experiência dos
dois tipos de prazeres (intelectuais e corporais), não trocaria a oportunidade
de fruir dos prazeres superiores por nenhuma quantidade de prazeres
inferiores.
Um juiz competente é aquele que tendo sido educado para a fruição de um vasto leque de prazeres, está familiarizado com ambos e consegue decidir qual dos 2 prazeres é o mais desejável – se houver divergência, deverá prevalecer a opinião da maioria.
Por exemplo, ainda que os prazeres de um porco fossem mais intensos e
duradouros do que os de um ser humano, os de um ser humano seriam preferíveis
aos de um porco, pois o porco apenas pode ter prazeres inferiores.
Stuart Mill dá preferência aos prazeres intelectuais (prazeres
superiores) – prazeres que resultam do exercício das nossas capacidades
intelectuais – sobre os prazeres sensíveis (prazeres inferiores), querendo com
isso dizer que não troca uma vida de prazeres intelectuais por outra vida com
um maior número de prazeres sensíveis.
Para testemunhar isso mesmo, Stuart Mill exemplifica dizendo que preferia
ser um «Sócrates insatisfeito» do que um «porco satisfeito», ou seja, é
preferível uma vida fraca em prazeres intelectuais a uma vida cheia de prazeres
sensíveis, porque os prazeres intelectuais são qualitativamente superiores aos
prazeres sensíveis.
O prazer pode ser mais ou menos intenso e mais ou menos duradouro. Mas a
novidade de Stuart Mill está em dizer que há prazeres superiores e inferiores,
o que significa que há prazeres intrinsecamente melhores do que outros.
Mas o que quer isto dizer?
Simplesmente que há prazeres que têm mais valor do que outros devido à sua
natureza. Stuart Mill defende que os tipos de prazer que têm mais valor são os
prazeres do pensamento, sentimento e imaginação;
Qualquer prazer destes terá mais valor e fará as pessoas mais felizes do
que a maior quantidade imaginável de prazeres inferiores.
“É indiscutível que o ser cujas capacidades de prazer
são baixas tem uma maior possibilidade de vê-las inteiramente satisfeitas; e um
ser superiormente dotado sentirá sempre que qualquer felicidade que possa
procurar é imperfeita, tendo em conta a maneira como o mundo é constituído. Mas
ele pode aprender a suportar as imperfeições da sua felicidade. (. . . ) É
melhor ser um ser humano insatisfeito do que um porco satisfeito; um Sócrates
insatisfeito do que um idiota satisfeito. E se o idiota, ou
o porco, têm opiniões diferente, é porque apenas conhecem o seu lado da
questão. A outra parte da comparação conhece ambos os lados”.
Stuart Mill, Utilitarismo.
Sintese
A felicidade ou bem-estar de um indivíduo consiste unicamente no prazer e
na ausência de dor ou sofrimento.
Assim, a felicidade consiste apenas em experiências aprazíveis (e a
ausência de experiências dolorosas).
Nem todos os prazeres têm o mesmo valor: alguns são melhores que outros.
Mas porquê?
Duas teorias que respondem a essa questão:
A - Hedonismo quantitativo: O valor
intrínseco de um prazer depende apenas da sua duração e intensidade.
B - Hedonismo qualitativo: O
valor intrínseco de um prazer depende sobretudo da sua qualidade.
EXERCÍCIOS
1 O que é o hedonismo?
2 Como difere o hedonismo de Bentham do hedonismo de Mill?
3 Como distingue Stuart Mill os prazeres inferiores dos superiores?
4 Segundo Stuart Mill, que prazeres são inferiores e que prazeres são
superiores?
5 "O ser mais feliz é aquele que se sente mais satisfeito". Será
que Stuart Mill concorda com esta perspectiva? Porquê?
EXERCÍCIOS
Considere-se duas vidas possíveis:
(1) a vida de uma ostra, que contém apenas prazer físico ténue, mas que se
estenderá por um milhão de anos;
(2) a vida feliz de um cientista que inventou a vacina para o
covid-19, que terá a duração normal da vida humana.
1 Segundo o hedonismo quantitativo, que vida será melhor? Porquê?
2 Segundo o hedonismo qualitativo, que vida será melhor? Porquê?
3 Que vida será melhor? Porquê?
Os Fins e os Meios
Para Stuart Mill, o fim – a felicidade geral – justifica frequentemente os
meios. Na teoria utilitarista, há uma prioridade dos fins da ação em relação
aos meios.
Para ele, é suficiente que a felicidade produzida com a ação seja superior
ao sofrimento eventualmente provocado com a sua realização para que a ação
tenha valor moral.
É neste sentido que há uma prioridade dos fins da ação, da maximização da
felicidade para o maior número, sobre os meios, mesmo que a ação produza
sofrimento a algumas pessoas.
Sintese
- O
utilitarismo defende o Princípio da Maior Felicidade
- De
acordo com este princípio, uma ação é correta quando produz a maior
felicidade para o maior número. Ou seja, quando maximiza imparcialmente o
bem.
- Aquilo
que importa promover não é a felicidade do próprio agente (egoísmo ético),
mas a felicidade geral ou bem-estar agregado (sendo indiferente a forma
como o bem-estar está distribuído).
- A
melhor escolha será aquela que, de um ponto de vista imparcial, promove a
maior felicidade geral. Ou seja, aquela que mais felicidade trouxer a um
maior número de agentes morais.
- Na
avaliação de um ato, o que interessa são as melhores consequências (o que
resultará desse ato); sendo irrelevante o motivo ou intenção do agente (a
razão pela qual queremos fazer algo).
- Assim,
o utilitarista defende uma perspetiva consequencialista – são as
consequências de um ato que determinam se este é certo ou errado.
- Não há
regras morais absolutas ou invioláveis.
Objeções à ética utilitarista de Mill:
- Críticas
ao hedonismo (máquina de experiências).Experiência Mental da máquina de
experiências (de Robert Nozick) Imagine-se que vivemos num mundo em que
todas as pessoas se encontram ligadas a sofisticadas máquinas que
controlam os nossos pensamentos e sentimentos. Imagine-se também que as
máquinas controlam as nossas experiências de forma a tornar as nossas
vidas virtuais extremamente ricas em prazeres. Em tal mundo, temos uma
vida repleta de sucesso e prazer, sem nunca termos de enfrentar obstáculos
ou dissabores. Imagine-se ainda que este mundo seria pleno de todo o tipo
de prazeres, superiores e inferiores. Seria uma boa ideia estar ligado à
máquina de experiências? De acordo com Robert Nozick (1974): • Não é
verdade que uma vida seja boa apenas devido às experiências agradáveis que
a constituem. • A autenticidade das nossas experiências é algo
intrinsecamente valioso. • Uma vida constituída por experiências
ilusórias, ainda que que muito agradáveis, tem menos valor do que uma vida
real.
- O
utilitarismo é uma ética demasiado exigente. Se um ato não
contribui no máximo grau possível para a felicidade geral, então é errado.
Assim, devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance para contribuir para
o bem-estar de todos. Utilitarismo é demasiado exigente. Mas, esta
perspetiva não exigirá de nós um altruísmo extremo? Não nos obrigará a
fazer sacrifícios excessivos para benefício dos outros?
- Um exemplo: Imagina que tens 50 euros no banco e
que estás a decidir como hás-de gastá-los. Como gostas muito de ver
filmes, tencionas gastar esse dinheiro em bilhetes de cinema. Mas, como tu
és um utilitarista, o que deves fazer: gastar esse dinheiro em bilhetes de
cinema ou doá-lo a instituições de caridade para ajudar a combater a fome?
Qual é a ação que maximiza o bem e contribui para o bem-estar geral? Um
utilitarista diria que gastar esse dinheiro em bilhetes de cinema
provavelmente não gerará um estado de coisas tão bom como dar esse
dinheiro a instituições de caridade; logo, deve-se doar este dinheiro a
uma instituição de caridade.
·
Se o utilitarismo fosse verdadeiro, então teríamos o dever de dedicar a
nossa vida a gerar o melhor estado de coisas possível, e não teríamos muita
oportunidade para tentar desenvolver os nossos projetos pessoais (como ir ao
cinema, fazer um curso, comprar livros, etc. . . ). • Assim, se seguirmos o
utilitarismo, parece que teremos que redefinir radicalmente a nossa vida,
prescindindo de quase tudo o que apreciamos para benefício dos outros. •
Teremos de sacrificar o nosso bem-estar até àquele ponto em que sacrificá-lo
ainda mais não resultaria numa maior felicidade geral. a a
Uma resposta é dizer que o critério utilitarista de maximização imparcial
do bem apenas nos dá um ideal orientador.
- O
utilitarismo é uma ética demasiado permissiva. A felicidade geral
pode ser o melhor dos fins, mas nem sempre os fins justificam os meios; ou
seja, existem certas formas de maximizar o bem que não são eticamente
permissíveis.
- Um exemplo: A Sara é uma cirurgiã especializada na
realização de transplantes. No hospital em que trabalha enfrenta uma
terrível escassez de órgãos – cinco dos seus pacientes estão prestes a
morrer devido a essa escassez. Onde poderá ela encontrar os órgãos
necessários para salvá-los? O Jorge está no hospital a recuperar de uma operação.
A Sara sabe que o Jorge é uma pessoa solitária – ninguém vai sentir a sua
falta. Tem então a ideia de matar o Jorge e usar os seus órgãos para
realizar os transplantes, sem os quais os seus pacientes morrerão.
- Problemas
do cálculo da utilidade: Segundo o utilitarismo dos atos temos
de realizar o cálculo das consequências favoráveis e desfavoráveis de uma
ação. Dificuldades de realizar o cálculo das consequências • Pressupõe que
todos os prazeres e dores, de variáveis tipos e sentidos de diferentes formas
por diversas pessoas, podem ser reduzidos a alguma escala puramente
numérica. Mas isso é implausível. • O cálculo também pressupõe que podemos
saber quais são as consequências prováveis das ações. Porém, não parece
que se consiga prever com plausibilidade as consequências a longo prazo.
- Será
possível quantificar a felicidade?
- Será
possível prever todas as consequências possíveis de uma acção?
- Não
será uma exigência excessiva a obrigação da imparcialidade?
- Será
que o utilitarismo não nos poderá conduzir a consequências moralmente
inaceitáveis pela excessiva obrigação da imparcialidade?
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