domingo, 16 de maio de 2021

A ética de Stuart Mill





A ética  de Stuart Mill


Antes de mais...

O que é que faz com que uma acção seja boa?

Uma acção é boa quando promove a felicidade. A felicidade é “única coisa desejável como fim” e, por isso, boa em si mesma. A felicidade é um estado de bem-estar, de prazer e ausência de dor ou sofrimento.

 

O que é que, segundo Stuart Mill, torna as acções boas ou más?

É boa a acção que trouxer maior felicidade para o maior número de pessoas.  A felicidade é o prazer e a ausência de dor, os únicos fins desejáveis

 

Qual o critério para  avaliar as acções?

O critério de moralidade, segundo Stuart Mill, são as consequências previsíveis da acção. Por isso, a Acção Moral ou boa é aquela que traz mais felicidade ao maior número de pessoas

 

Será que uma acção é boa porque, uma vez realizada, promove o bem de alguém?

Devemos procurar agir de forma a promover a felicidade de todos os que são afetados pela ação (incluindo a felicidade do próprio agente).

A minha ação é correta se promover de forma imparcial (ou seja, sem distinções) os interesses de todas e cada uma das pessoas implicadas pela ação, sendo o interesse de cada pessoa a obtenção da felicidade.

 

Qual a finalidade da moralidade, segundo Stuart Mill?

A finalidade da moralidade é a felicidade

O critério de moralidade das acções (o que torna uma acção boa) é a sua utilidade, o seu contributo para criar a maior felicidade

Fazer uma opção moral exige inventariação e avaliação das consequências possíveis para se poder escolher a que previsivelmente produzirá mais felicidade ou bem-estar

 

O que é uma acção moralmente correcta?

Para o utilitarista as acções são moralmente correctas ou incorrectas conforme as consequências: se promovem imparcialmente o bem-estar são boas. Isto quer dizer que não há acções intrinsecamente boas. Só as consequências as tornam boas ou más. 

Assim sendo, não há, para o utilitarista, deveres que devam ser respeitados sempre e em todas as circunstâncias. 

Se para a ética kantiana, alguns actos como matar, roubar ou mentir são absolutamente proibidos mesmo que as consequências sejam boas, para Mill justifica-se, por vezes, matar, deixar morrer, roubar ou mentir.

 

 

John Stuart Mill (1806-1873)

Filósofo e economista britânico

Defende o Utilitarismo ou consequencialismo

A teoria utilitarista foi explicitamente desenvolvida a partir do século XVIII por Jeremy Bentham.

Mas foi no século XIX que John Stuart Mill lhe deu nova vida, sendo hoje uma das teorias éticas mais estudadas.

A tese principal defendida pelo utilitarismo é o Princípio da Maior Felicidade.

     O  Utilitarismo é uma ética consequencialista e é uma teoria hedonista.

 

Stuart Mill e Kant

 

“O motivo nada tem a ver com a moralidade da ação, embora tenha muito a ver com o valor do agente. Quem salva um semelhante de se afogar faz o que está moralmente correto, quer o seu motivo seja o dever, ou a esperança de ser pago pelo seu incómodo; quem trai a confiança de um amigo, é culpado de um crime, ainda que o seu objetivo seja servir outro amigo para com o qual tem deveres ainda maiores”. 

Stuart Mill, Utilitarismo

 

Para o utilitarista as acções são moralmente correctas ou incorrectas conforme as consequências: se promovem imparcialmente o bem-estar são boas. Isto quer dizer que não há acções intrinsecamente boas. Só as consequências as tornam boas ou más. Assim sendo, não há, para o utilitarista, deveres que devam ser respeitados sempre e em todas as circunstâncias. 

Se para a ética kantiana, alguns actos como matar, roubar ou mentir são absolutamente proibidos mesmo que as consequências sejam boas, para Mill justifica-se, por vezes, matar, deixar morrer, roubar ou mentir.

 

 Ética Consequencialista

 

Considera–se que a ética de Mill é consequencialista porque defende que o valor moral de uma ação depende das suas consequências.

É boa a ação que tem boas consequências ou dadas as circunstâncias melhores consequências do que ações alternativas.

A ação é avaliada pelas suas consequências e o motivo ou a intenção não são decisivos porque se referem ao carácter do agente e não à ação em si mesma.

Não há ações particularmente boas.

Para o utilitarista, as ações são moralmente corretas ou incorretas conforme as consequências: se promovem imparcialmente o bem-estar, são boas. Só as consequências as tornam boas ou más. Assim sendo, não há, para o utilitarista, deveres que devam ser respeitados em todas as circunstâncias.

Não há deveres morais absolutos.

O utilitarista defende uma perspetiva consequencialista – são as consequências de um ato que determinam se este é certo ou errado.

Concepção ética de índole utilitarista que considera que a moralidade de uma acção depende unicamente das suas consequências.

Defende que devemos escolher a acção que tem as melhores consequências globais. 

Utilitarismo - Teoria que propõe o Princípio da Maior Felicidade como único critério de moralidade.

 

Ética Hedonista

 

O princípio moral em que se baseia o utilitarismo é o princípio da Utilidade ou da Maior Felicidade.

Chama-se hedonismo (grego hédonê, prazer) a este tipo de concepção (prazer entendido como felicidade para o maior número de pessoas).

Todas as atividades humanas têm um objetivo último, isto é, são meios para uma finalidade que é o ponto de convergência de todas. 

Esse fim é a chamada felicidade ou bem-estar.

Procuramos em todas as atividades a que nos dedicamos viver experiências aprazíveis e evitar experiências dolorosas ou desagradáveis. 

Esta perspectiva que identifica a felicidade com o prazer ou o bem-estar tem o nome de hedonismo.

 

O principio da Utilidade ou da Maior Felicidade

 

“A doutrina que aceita como fundamento da moral a utilidade, ou princípio da maior felicidade, defende que as ações são corretas na medida em que tendem a promover a felicidade, e incorretas na medida em que tendem a gerar o contrário da felicidade". 

                                                                                   Stuart Mill, Utilitarismo

 

A tese principal defendida pelo utilitarismo é o Princípio da Maior Felicidade. 

O Principio da Maior felicidade ou Principio da Utilidade diz-nos que devemos agir de modo a que da nossa acção resulte a maior felicidade ou bem-estar possível para as pessoas por ela afectadas.

Uma acção boa é aquela que é mais útil, ou seja, a que produz mais felicidade para o maior número de pessoas.

Quando não é possível produzir felicidade ou prazer devemos tentar reduzir a infelicidade.

O principio da Utilidade é, para Stuart Mill, o Principio da Maior Felicidade.

 

Por princípio da utilidade, entendemos o princípio segundo o qual toda a ação, qualquer que seja, deve ser aprovada ou rejeitada em função da sua tendência de aumentar ou reduzir o bem-estar das partes afetadas pela ação. (...) Designamos por utilidade a tendência de alguma coisa em alcançar o bem-estar, o bem, o belo, a felicidade, as vantagens, etc. O conceito de utilidade não deve ser reduzido ao sentido corrente de modo de vida com um fim imediato."

 Stuart Mill, Utilitarismo

 

Stuart Mill entende por  utilidade a tendência de alguma coisa em

alcançar o bem-estar, o bem, o belo, a felicidade e as vantagens.

 

"O credo que aceita a Utilidade ou o Princípio da Maior Felicidade como fundamento da moral sustenta que: As acções são justas na proporção em que tendem a promover a felicidade e injustas enquanto tendem a produzir o contrário da felicidade. Entende-se por felicidade o prazer e a ausência de dor; por infelicidade a dor e a ausência do prazer. O prazer e a ausência de dor são as únicas coisas desejáveis como fins; e todas as coisas desejáveis são-no pelo prazer inerente a elas mesmas, ou como meios para a promoção do prazer e a prevenção da dor." 

                                                                                   Stuart Mill, Utilitarismo

 

 

O que é a Felicidade?

 

A Felicidade é o grande fim da vida humana e a sua promoção  é uma forma de avaliar a acção humana..

A felicidade é o critério da moralidade.

Para Stuart Mill a felicidade é o prazer e a ausência de dor.

Para o utilitarista a felicidade não é a própria felicidade do agente, mas a felicidade de todos os envolvidos na acção.

Para o  utilitarismo o agente da acção deve ser  estreitamente imparcial entre a sua própria felicidade e a dos outros assumindo-se como  um espectador desinteressado e benevolente.

 Devemos procurar agir de forma a promover a felicidade de todos os que são afetados pela ação (incluindo a felicidade do próprio agente).

A minha ação é correta se promover de forma imparcial (ou seja, sem distinções) os interesses de todas e cada uma das pessoas implicadas pela ação, sendo o interesse de cada pessoa a obtenção da felicidade.

A felicidade é o maior bem ou o bem ultimo e é a única coisa desejável como fim.

Todos os outros bens apenas são bons e desejáveis enquanto meios para aquele que é considerado o único propósito da acção - o prazer e ausência de dor.

Por exemplo: ouvir música ou ver um filme em boa companhia são bens desejáveis, mas só o são na medida em que são meios para um fim, o maior bem - a FELICIDADE.

A moralidade reside no esforço para maximizar a felicidade ou prazer e para alcançar tanta felicidade quanta nos for possível.

Temos de fazer escolhas que originem a maior felicidade para todos, considerando imparcialmente o bem estar de todos aqueles que são afectados pelas nossas acções.

 

“Se a natureza humana é constituída de forma a nada desejar que não seja ou parte da felicidade ou um meio para a felicidade, não podemos ter outra prova, e não precisamos de outra, de que estas são as únicas coisas desejáveis. A ser assim, a felicidade é o único fim da ação humana, e a sua promoção o teste por meio do qual se avalia toda a conduta humana; de onde necessariamente se segue que tem de ser o critério da moralidade”. 

Stuart Mill, Utilitarismo.

 

"Por felicidade entendemos o prazer, e a ausência de dor; por infelicidade, a dor, e a privação de prazer”. 

                                                                                   Stuart Mill, Utilitarismo

 

“Tenho de repetir, uma vez mais, que a felicidade que constitui o padrão utilitarista do que está correto na conduta não é a própria felicidade do agente, mas a de todos os envolvidos [. . . ]. O utilitarismo exige que o agente seja tão estreitamente imparcial entre a sua própria felicidade e a dos outros como um espectador desinteressado e benevolente.”

 Stuart Mill, Utilitarismo.

 

“A única prova de que um som é audível é que as pessoas o ouvem. (. . . ) Penso que, de modo semelhante, a única prova que é possível apresentar de algo é desejável, é as pessoas desejarem-no de facto. (. . . ) Nenhuma razão pode ser avançada para explicar por que razão a felicidade geral é desejável, excepto que cada pessoa, na medida em que pensa poder alcançar a sua própria felicidade, deseja-a. (. . . ) [Assim,] a felicidade de cada pessoa é desejável para essa pessoa e, a felicidade geral é, portanto, desejável para o conjunto de todas as pessoas (. . . ) e, consequentemente, um dos critérios da moralidade”. 

Stuart Mill, Utilitarismo.

 

 

Felicidade Geral ou Felicidade Individual?

 

Esse padrão [utilitarista] não é a maior felicidade do próprio agente, mas a maior porção de felicidade no todo. [. . . ] Pode ser, na sua máxima extensão, garantida a toda a humanidade; e, não apenas à humanidade, mas na medida em que a natureza das coisas o permitir, a todas as criaturas sencientes.”

                                                                                   Stuart Mill, Utilitarismo

 

A minha felicidade não é mais importante do que a felicidade dos outros.

O utilitarismo de Stuart Mill não defende que tenhamos de renunciar à nossa felicidade, a uma vida pessoal em nome da felicidade do maior número. 

Trata-se através da educação segundo o Princípio de Utilidade de abrir um espaço amplo para que a inclinação para o bem geral se sobreponha, com frequência cada vez maior, ao egoísmo.

O Princípio da Maior Felicidade em Stuart Mill exige que cada indivíduo se habitue a não separar a sua felicidade da felicidade geral sem deixar de ter projectos, interesses e vida pessoal.

Alguns críticos argumentaram que a teoria utilitarista é uma teoria que defende o egoísmo ético que só procurava a felicidade do próprio sujeito.

A felicidade de que fala o utilitarismo não é simplesmente a felicidade individual. Mas também não é a felicidade geral à custa da felicidade do agente.

A procura da felicidade tem um sentido altruísta e voltado para os outros.

Ao defender como única regra directiva da conduta da humanidade o princípio da máxima felicidade, recusa toda a actuação que se exerce em função exclusivamente das disposições e interesses individuais (egoísmo ético)

 

 

“A moralidade utilitarista reconhece, de facto, nos seres humanos o poder de sacrificarem o seu maior bem em prol do bem dos outros. Apenas recusa admitir que o sacrifício é, em si, um bem. A moralidade utilitarista considera desperdiçado qualquer sacrifício que não aumente, ou tenda a aumentar, a quantidade total de felicidade.” 

Stuart Mill, Utilitarismo.

 

Stuart Mill e os prazeres

 

Mas o que é que causa maior felicidade ou prazer?

 

Jeremy Benthan, filósofo inglês considerado o fundador do utilitarismo, defende um hedonismo quantitativo em que todas as fontes de prazer são equivalentes.

Por exemplo, a felicidade de amar alguém não é, em si mesma, superior ou inferior ao prazer que se obtém ao saborear uma boa refeição.

Tudo depende do grau de prazer, ou seja, da intensidade e da duração que se experimenta em cada situação - se a refeição provocar mais prazer, será mais valiosa.

Todos prazeres (e dores) são comensuráveis, ou seja, podemos fazer um cálculo da felicidade: • valor(p) = Intensidade(p) × Duração(p)

 A melhor vida é aquela que, depois de considerados todos os prazeres e dores que a constituem, apresenta o saldo mais positivo.

 

“Seria absurdo que a avaliação dos prazeres dependesse apenas da quantidade, dado que ao avaliar todas as outras coisas consideramos a qualidade a par da quantidade. (. . . ) É um facto inquestionável que aqueles que estão igualmente familiarizados com [dois prazeres], e são igualmente capazes de os apreciar e gozar, dão uma acentuada preferência ao modo de vida no qual se faz uso das faculdades superiores. Poucas criaturas humanas consentiriam em ser transformadas em qualquer um dos animais inferiores, a troco da máxima quantidade dos prazeres de um animal”.

 Stuart Mill, Utilitarismo.

 

Stuart Mill defende um hedonismo qualitativo

Mill defende que alguns tipos de prazeres são qualitativamente superiores a outros - ou seja, há prazeres intrinsecamente melhores do que outros. 

 

Os Prazeres Inferiores correspondem aos prazeres corpóreos, ou seja, dizem respeito à satisfação das necessidades físicas (comer, dormir, beber, sexo) 

 

Os Prazeres Superiores  correspondem aos prazeres intelectuais e emocionais, ou seja, dizem respeito à satisfação das necessidades mentais/espirituais (como a fruição da beleza, do conhecimento, da amizade e do amor, apreciar a beleza, a verdade, o amor, a liberdade, o conhecimento, a criação artística. ). 

 

Mas como sabemos que os prazeres intelectuais são superiores aos corporais?

 

Stuart Mill argumenta que um juiz competente, o qual tem experiência dos dois tipos de prazeres (intelectuais e corporais), não trocaria a oportunidade de fruir dos prazeres superiores por nenhuma quantidade de prazeres inferiores. 

Um juiz competente é aquele que tendo sido educado para a fruição de um vasto leque de prazeres, está familiarizado com ambos e consegue decidir qual dos 2 prazeres é o mais desejável – se houver divergência, deverá prevalecer a opinião da maioria.

Por exemplo, ainda que os prazeres de um porco fossem mais intensos e duradouros do que os de um ser humano, os de um ser humano seriam preferíveis aos de um porco, pois o porco apenas pode ter prazeres inferiores.

Stuart Mill dá preferência aos prazeres intelectuais (prazeres superiores) – prazeres que resultam do exercício das nossas capacidades intelectuais – sobre os prazeres sensíveis (prazeres inferiores), querendo com isso dizer que não troca uma vida de prazeres intelectuais por outra vida com um maior número de prazeres sensíveis. 

Para testemunhar isso mesmo, Stuart Mill exemplifica dizendo que preferia ser um «Sócrates insatisfeito» do que um «porco satisfeito», ou seja, é preferível uma vida fraca em prazeres intelectuais a uma vida cheia de prazeres sensíveis, porque os prazeres intelectuais são qualitativamente superiores aos prazeres sensíveis.

O prazer pode ser mais ou menos intenso e mais ou menos duradouro. Mas a novidade de Stuart Mill está em dizer que há prazeres superiores e inferiores, o que significa que há prazeres intrinsecamente melhores do que outros.

 

Mas o que quer isto dizer?

Simplesmente que há prazeres que têm mais valor do que outros devido à sua natureza. Stuart Mill defende que os tipos de prazer que têm mais valor são os prazeres do pensamento, sentimento e imaginação; 

Qualquer prazer destes terá mais valor e fará as pessoas mais felizes do que a maior quantidade imaginável de prazeres inferiores.

 

“É indiscutível que o ser cujas capacidades de prazer são baixas tem uma maior possibilidade de vê-las inteiramente satisfeitas; e um ser superiormente dotado sentirá sempre que qualquer felicidade que possa procurar é imperfeita, tendo em conta a maneira como o mundo é constituído. Mas ele pode aprender a suportar as imperfeições da sua felicidade. (. . . ) É melhor ser um ser humano insatisfeito do que um porco satisfeito; um Sócrates insatisfeito do que um idiota satisfeito. E se o idiota, ou o porco, têm opiniões diferente, é porque apenas conhecem o seu lado da questão. A outra parte da comparação conhece ambos os lados”. 

Stuart Mill, Utilitarismo.

 

Sintese

A felicidade ou bem-estar de um indivíduo consiste unicamente no prazer e na ausência de dor ou sofrimento. 

Assim, a felicidade consiste apenas em experiências aprazíveis (e a ausência de experiências dolorosas). 

Nem todos os prazeres têm o mesmo valor: alguns são melhores que outros. Mas porquê? 

Duas teorias que respondem a essa questão: 

A - Hedonismo quantitativo: O valor intrínseco de um prazer depende apenas da sua duração e intensidade. 

B - Hedonismo qualitativo: O valor intrínseco de um prazer depende sobretudo da sua qualidade.

 

 

EXERCÍCIOS

 

1 O que é o hedonismo?

2 Como difere o hedonismo de Bentham do hedonismo de Mill?

3 Como distingue Stuart Mill os prazeres inferiores dos superiores?

4 Segundo Stuart Mill, que prazeres são inferiores e que prazeres são superiores?

5 "O ser mais feliz é aquele que se sente mais satisfeito". Será que Stuart Mill concorda com esta perspectiva? Porquê?

 

EXERCÍCIOS

 

Considere-se duas vidas possíveis: 

(1) a vida de uma ostra, que contém apenas prazer físico ténue, mas que se estenderá por um milhão de anos; 

(2) a vida feliz de um  cientista que inventou a vacina para o covid-19, que terá a duração normal da vida humana. 

 

1 Segundo o hedonismo quantitativo, que vida será melhor? Porquê? 

2 Segundo o hedonismo qualitativo, que vida será melhor? Porquê? 

3 Que vida será melhor? Porquê?

 

 

Os Fins e os Meios

 

Para Stuart Mill, o fim – a felicidade geral – justifica frequentemente os meios. Na teoria utilitarista, há uma prioridade dos fins da ação em relação aos meios.

Para ele, é suficiente que a felicidade produzida com a ação seja superior ao sofrimento eventualmente provocado com a sua realização para que a ação tenha valor moral.

É neste sentido que há uma prioridade dos fins da ação, da maximização da felicidade para o maior número, sobre os meios, mesmo que a ação produza sofrimento a algumas pessoas.

 

 

 

Sintese

  • O utilitarismo defende o Princípio da Maior Felicidade 
  • De acordo com este princípio, uma ação é correta quando produz a maior felicidade para o maior número. Ou seja, quando maximiza imparcialmente o bem.
  • Aquilo que importa promover não é a felicidade do próprio agente (egoísmo ético), mas a felicidade geral ou bem-estar agregado (sendo indiferente a forma como o bem-estar está distribuído).
  • A melhor escolha será aquela que, de um ponto de vista imparcial, promove a maior felicidade geral. Ou seja, aquela que mais felicidade trouxer a um maior número de agentes morais.
  • Na avaliação de um ato, o que interessa são as melhores consequências (o que resultará desse ato); sendo irrelevante o motivo ou intenção do agente (a razão pela qual queremos fazer algo).
  • Assim, o utilitarista defende uma perspetiva consequencialista – são as consequências de um ato que determinam se este é certo ou errado.
  • Não há regras morais absolutas ou invioláveis.

 

 

Objeções à ética utilitarista de Mill:

 

  • Críticas ao hedonismo (máquina de experiências).Experiência Mental da máquina de experiências (de Robert Nozick) Imagine-se que vivemos num mundo em que todas as pessoas se encontram ligadas a sofisticadas máquinas que controlam os nossos pensamentos e sentimentos. Imagine-se também que as máquinas controlam as nossas experiências de forma a tornar as nossas vidas virtuais extremamente ricas em prazeres. Em tal mundo, temos uma vida repleta de sucesso e prazer, sem nunca termos de enfrentar obstáculos ou dissabores. Imagine-se ainda que este mundo seria pleno de todo o tipo de prazeres, superiores e inferiores. Seria uma boa ideia estar ligado à máquina de experiências? De acordo com Robert Nozick (1974): • Não é verdade que uma vida seja boa apenas devido às experiências agradáveis que a constituem. • A autenticidade das nossas experiências é algo intrinsecamente valioso. • Uma vida constituída por experiências ilusórias, ainda que que muito agradáveis, tem menos valor do que uma vida real.
  • O utilitarismo é uma ética demasiado exigente. Se um ato não contribui no máximo grau possível para a felicidade geral, então é errado. Assim, devemos fazer tudo o que está ao nosso alcance para contribuir para o bem-estar de todos. Utilitarismo é demasiado exigente. Mas, esta perspetiva não exigirá de nós um altruísmo extremo? Não nos obrigará a fazer sacrifícios excessivos para benefício dos outros?
  • Um exemplo: Imagina que tens 50 euros no banco e que estás a decidir como hás-de gastá-los. Como gostas muito de ver filmes, tencionas gastar esse dinheiro em bilhetes de cinema. Mas, como tu és um utilitarista, o que deves fazer: gastar esse dinheiro em bilhetes de cinema ou doá-lo a instituições de caridade para ajudar a combater a fome? Qual é a ação que maximiza o bem e contribui para o bem-estar geral? Um utilitarista diria que gastar esse dinheiro em bilhetes de cinema provavelmente não gerará um estado de coisas tão bom como dar esse dinheiro a instituições de caridade; logo, deve-se doar este dinheiro a uma instituição de caridade.

·       Se o utilitarismo fosse verdadeiro, então teríamos o dever de dedicar a nossa vida a gerar o melhor estado de coisas possível, e não teríamos muita oportunidade para tentar desenvolver os nossos projetos pessoais (como ir ao cinema, fazer um curso, comprar livros, etc. . . ). • Assim, se seguirmos o utilitarismo, parece que teremos que redefinir radicalmente a nossa vida, prescindindo de quase tudo o que apreciamos para benefício dos outros. • Teremos de sacrificar o nosso bem-estar até àquele ponto em que sacrificá-lo ainda mais não resultaria numa maior felicidade geral. a a

Uma resposta é dizer que o critério utilitarista de maximização imparcial do bem apenas nos dá um ideal orientador.

  • O utilitarismo é uma ética demasiado permissiva. A felicidade geral pode ser o melhor dos fins, mas nem sempre os fins justificam os meios; ou seja, existem certas formas de maximizar o bem que não são eticamente permissíveis. 
  • Um exemplo: A Sara é uma cirurgiã especializada na realização de transplantes. No hospital em que trabalha enfrenta uma terrível escassez de órgãos – cinco dos seus pacientes estão prestes a morrer devido a essa escassez. Onde poderá ela encontrar os órgãos necessários para salvá-los? O Jorge está no hospital a recuperar de uma operação. A Sara sabe que o Jorge é uma pessoa solitária – ninguém vai sentir a sua falta. Tem então a ideia de matar o Jorge e usar os seus órgãos para realizar os transplantes, sem os quais os seus pacientes morrerão.
  • Problemas do cálculo da utilidade: Segundo o utilitarismo dos atos temos de realizar o cálculo das consequências favoráveis e desfavoráveis de uma ação. Dificuldades de realizar o cálculo das consequências • Pressupõe que todos os prazeres e dores, de variáveis tipos e sentidos de diferentes formas por diversas pessoas, podem ser reduzidos a alguma escala puramente numérica. Mas isso é implausível. • O cálculo também pressupõe que podemos saber quais são as consequências prováveis das ações. Porém, não parece que se consiga prever com plausibilidade as consequências a longo prazo.
  • Será possível quantificar a felicidade?
  • Será possível prever todas as consequências possíveis de uma acção?
  • Não será uma exigência excessiva a obrigação da imparcialidade?
  • Será que o utilitarismo não nos poderá conduzir a consequências moralmente inaceitáveis pela excessiva  obrigação da imparcialidade?

 



 Lola

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