A ciência e o método
Antes de mais....
É, sem dúvida, o método que confere credibilidade e objectividade ao conhecimento científico, mas a escolha de um método, isto é, dos meios (tecnologias, teorias, instrumentos) orientados por regras que estabelecem a ordem das operações, no sentido de se alcançar um determinado resultado, está dependente do tipo de objecto que se tem em vista.
É o método, também, que permite distinguir os conhecimentos
científicos dos que não o são, isto é, permite demarcar a ciência do senso
comum e da metafísica.
A filosofia da ciência
(epistemologia) sistematizou dois grandes modelos metodológicos: o indutivo e o
hipotético-dedutivo (conjectural).
A - O método indutivo
Chamamos método indutivo aos procedimentos metodológicos que formulam hipóteses a partir de dados de observações, isto é, partindo dos factos.
O método indutivo começou a ser usado por Francis Bacon (século XVII) e foi, depois, defendido por Stuart Mill, Comte e pelos filósofos do Círculo de Viena (Mach, Schlick, Carnap).
O indutivismo
assenta em duas crenças:
1. O raciocínio indutivo
é um raciocínio científico;
2. A experimentação é critério de confirmação empírica das teorias científicas.
O modelo indutivo parte
da observação, analisa os dados para estabelecer relações entre eles e submete
as relações (hipóteses) à experimentação. Se a hipótese se confirmar, será
generalizada e transformar-se-á em lei aplicável a todos os fenómenos do mesmo
tipo.
Criticas ao método indutivo.
O método indutivo tem sido alvo de inúmeras críticas. Porque? Quais as criticas?
Uma delas foi formulada de modo
radical por David Hume e que podemos designar por problema da indução, por
estar relacionada com a legitimidade racional da indução. Segundo Hume, a
relação causal que se estabelece entre os fenómenos decorre do hábito. É após a
conjugação constante de dois fenómenos que somos determinados pelo costume a
esperar um a partir do aparecimento do outro. Assim, a generalização indutiva
não é mais do que uma crença psicológica de que os fenómenos se repetirão do
mesmo modo, tal como sempre aconteceu. Assim, a tentativa de
justificar a indução por meio da experiência é circular porque implica um
raciocínio indutivo que carece de justificação. Para Hume, a repetição e o
hábito não são garantia racional ou lógica da indução, antes partem da crença
na uniformidade da natureza.
A crítica de Hume
permanece viva e levanta, pelo menos, três dificuldades ao uso da metodologia
indutivista na investigação científica.
1. Em primeiro
lugar, o problema da legitimidade lógica da indução, ou seja, o problema da
justificação lógica da passagem de enunciados particulares para enunciados
gerais (da verdade de uma proposição particular não se pode inferir a verdade
da proposição universal correspondente), o mesmo é dizer, o problema da
legitimidade das leis científicas.
2 .Em segundo
lugar, o problema da validade dos juízos acerca do futuro ou de casos
desconhecidos, o mesmo é dizer, o problema da legitimidade das previsões
científicas. As previsões pertencem àquilo que ainda não foi observado e não
podem ser inferidas logicamente daquilo que já foi observado, porque o que
aconteceu não impõe restrições lógicas àquilo que acontecerá.
3. Em terceiro lugar, o
problema da causalidade, ou seja, o problema da legitimidade da conexão causal
entre acontecimentos. A ilusão da causalidade provém, segundo Hume, da confusão
entre conjunção ou sequência de acontecimentos com a sua conexão causal. Na
verdade, «p e q» não é o mesmo que «p implica q». Segundo Hume, a ideia de
conexão necessária resulta de um sentimento interno adquirido pelo hábito.
B - O
método hipotético-dedutivo
Podemos dizer que foi Karl Popper o grande teórico do método conjectural, também chamado de método crítico, mas o método hipotético-dedutivo tinha sido já teorizado, como metodologia da investigação científica, por Galileu e Descartes, criadores da ciência moderna.
Também Popper foi um crítico do raciocínio indutivo, ainda que com argumentos diferentes daqueles que foram usados por Hume.
O Modelo hipotético-dedutivo sustenta a tese de que as hipóteses são criações do espírito humano, propostas como conjecturas que respondem a um facto-problema/fenómeno.
O
conjecturismo assenta em duas crenças:
1. O raciocínio indutivo
não é um raciocínio científico, o raciocínio científico é
dedutivo;
2. É impossível
demonstrar através da experimentação a verdade empírica de uma teoria
científica, a experiência apenas a pode refutar/falsificar;
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