quinta-feira, 3 de fevereiro de 2022

Ciência e método




A ciência e o método


 Antes de mais....

 

É, sem dúvida, o método que confere credibilidade e objectividade ao conhecimento científico, mas a escolha de um método, isto é, dos meios (tecnologias, teorias, instrumentos) orientados por regras que estabelecem a ordem das operações, no sentido de se alcançar um determinado resultado, está dependente do tipo de objecto que se tem em vista.

 É o método, também, que permite distinguir os conhecimentos científicos dos que não o são, isto é, permite demarcar a ciência do senso comum e da metafísica.

A filosofia da ciência (epistemologia) sistematizou dois grandes modelos metodológicos: o indutivo e o hipotético-dedutivo (conjectural).


A - O método indutivo

Chamamos método indutivo aos procedimentos metodológicos que formulam hipóteses a partir de dados de observações, isto é, partindo dos factos. 

O método indutivo começou a ser usado por Francis Bacon (século XVII) e foi, depois, defendido por Stuart Mill, Comte e pelos filósofos do Círculo de Viena (Mach, Schlick, Carnap). 

O indutivismo assenta em duas crenças:

1. O raciocínio indutivo é um raciocínio científico;

2. A experimentação é critério de confirmação empírica das teorias científicas.

O modelo indutivo parte da observação, analisa os dados para estabelecer relações entre eles e submete as relações (hipóteses) à experimentação. Se a hipótese se confirmar, será generalizada e transformar-se-á em lei aplicável a todos os fenómenos do mesmo tipo.


Criticas ao método indutivo.

O método indutivo tem sido alvo de inúmeras críticas. Porque?  Quais as criticas?

Uma delas foi formulada de modo radical por David Hume e que podemos designar por problema da indução, por estar relacionada com a legitimidade racional da indução. Segundo Hume, a relação causal que se estabelece entre os fenómenos decorre do hábito. É após a conjugação constante de dois fenómenos que somos determinados pelo costume a esperar um a partir do aparecimento do outro. Assim, a generalização indutiva não é mais do que uma crença psicológica de que os fenómenos se repetirão do mesmo modo, tal como sempre aconteceu. Assim, a tentativa de justificar a indução por meio da experiência é circular porque implica um raciocínio indutivo que carece de justificação. Para Hume, a repetição e o hábito não são garantia racional ou lógica da indução, antes partem da crença na uniformidade da natureza.

A crítica de Hume permanece viva e levanta, pelo menos, três dificuldades ao uso da metodologia indutivista na investigação científica.

1. Em primeiro lugar, o problema da legitimidade lógica da indução, ou seja, o problema da justificação lógica da passagem de enunciados particulares para enunciados gerais (da verdade de uma proposição particular não se pode inferir a verdade da proposição universal correspondente), o mesmo é dizer, o problema da legitimidade das leis científicas.

2 .Em segundo lugar, o problema da validade dos juízos acerca do futuro ou de casos desconhecidos, o mesmo é dizer, o problema da legitimidade das previsões científicas. As previsões pertencem àquilo que ainda não foi observado e não podem ser inferidas logicamente daquilo que já foi observado, porque o que aconteceu não impõe restrições lógicas àquilo que acontecerá.

3. Em terceiro lugar,  o problema da causalidade, ou seja, o problema da legitimidade da conexão causal entre acontecimentos. A ilusão da causalidade provém, segundo Hume, da confusão entre conjunção ou sequência de acontecimentos com a sua conexão causal. Na verdade, «p e q» não é o mesmo que «p implica q». Segundo Hume, a ideia de conexão necessária resulta de um sentimento interno adquirido pelo hábito.


B - O método hipotético-dedutivo


Podemos dizer que foi Karl Popper  o grande teórico do método conjectural, também chamado de método crítico, mas o método hipotético-dedutivo tinha sido já teorizado, como metodologia da investigação científica, por Galileu e Descartes, criadores da ciência moderna. 

Também Popper foi um crítico do raciocínio indutivo, ainda que com argumentos diferentes daqueles que foram usados por Hume. 

O Modelo hipotético-dedutivo sustenta a tese de que as hipóteses são criações do espírito humano, propostas como conjecturas que respondem a um facto-problema/fenómeno. 

O conjecturismo assenta em duas crenças:

1. O raciocínio indutivo não é um raciocínio científico, o  raciocínio científico é dedutivo;

2. É impossível demonstrar através da experimentação a verdade empírica de uma teoria científica, a experiência apenas a pode refutar/falsificar;

 


                                                 Lola

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