quarta-feira, 16 de março de 2022

Thomas Kuhn e as Revoluções Científicas xxx

   


Thomas Kuhn e as 

Revoluções Científicas



Nota: no esquema onde está Khun deve ser KUHN.

  

Thomas Kuhn foi um pensador norte-americano e um dos filósofos contemporâneos mais importantes, cujas ideias marcaram a reflexão sobre a ciência na segunda metade do séc. XX.

- Kuhn apresenta uma concepção diferente de ciência relativamente à objectividade e progresso na ciência.

 

-Enquanto Karl Popper apresenta uma concepção lógica de ciência (procura caracterizar o tipo de raciocínio no qual se baseia o conhecimento cientifico); Kuhn apresenta uma concepção histórica e sociológica da ciência (pretende saber o modo como os cientistas se comportam no seio da comunidade cientifica).

 

- Segundo Kuhn, a abordagem que Popper faz da ciência não traduz o que se passa na ciência pois este não olha para a comunidade científica. Popper constrói uma perspectiva idealizada da ciência - apenas valoriza momentos raros e extraordinários da ciência e não aquilo que se passa regularmente.

 

- Para Kuhn, a história da ciência mostra-nos que esta se desenvolve entre duas situações: ciência normal (prática diária dos cientistas) e a ciência extraordinária (momentos curtos e turbulentos da ciência) em que ocorrem revoluções científicas, com cientistas excepcionais como Galileu, Darwin e Einstein.

 

Longos períodos de ciência normal são intercalados com curtos períodos de ciência extraordinária.

 

- Os cientistas trabalham no interior de um paradigmaUm paradigma é uma teoria modelo que se impõem e é tomado como referência numa dada área devido aos seus resultados exemplares.

 

- Alguns exemplos de paradigmas são: o geocentrismo de Aristóteles e Ptolomeu, o heliocentrismo de Copérnico e Galileu, a física relativista de Einstein e a Biologia evolucionista de Darwin.

  

- Sem paradigma não há comunidade científica pois é o paradigma que une todos os praticantes de uma determinada área cientifica  nos mesmos objectivos, valores, regras e metodologias.

 

Sem paradigma não há ciência pois todas as tentativas avulsas de explicar e resolver problemas acerca da natureza são características dos períodos de pré-ciência

 

- Durante o período de Ciência Normalo cientista procura defender o paradigma e não detecta falhas (segundo Popper seria falsificar hipóteses). Nestes períodos há um progresso cientifico pois ao resolver enigmas há progresso cientifico e acrescenta novo conhecimento.

 

- Podem surgir, tambémanomalias que são casos difíceis observados que não se deixam explicar pelo paradigma existente.

 

- Quando isto acontece dá-se início a uma crise científica que são períodos de desorientação pois o paradigma já não tem solução para explicar os fenómenos - alguns cientistas, menos ligados ao paradigma, propõem ideias complementares, novas e inovadoras. Estas ideias começam a competir entre si, até que alguns cientistas aderem a uma delas e esta acaba por impor-se às outras e torna-se num novo paradigma.

- Este é um período excepcional de Revolução Cientifica em que uma determinada forma de ver e explicar o mundo é substituída por outra completamente diferente - há uma mudança de paradigma.

 

- A mudança de paradigma acontece quando ocorre uma revolução científica. As revoluções científicas são curtas, mas alteram profundamente o modo como se faz a ciência.

 

- O conceito de Revolução Cientifica significa que há uma mudança radical como se fosse uma conversão religiosa, pois nada continua a ser como antes.

 

- Que relação existe entre o "velho" paradigma e o "novo" paradigma? Segundo Kuhn os paradigmas são incomensuráveis - não há pontos comuns entre eles que permita a sua comparação.

 

- Mas o que leva os cientistas, nos momentos de mudança de paradigma, a optar por uma dada teoria em vez de uma outra rival? Segundo Kuhn não há critérios fixos pois estão envolvidos todo o tipo de motivações pessoais, sociais, políticas, religiosas e outras como conservar o emprego, necessidade de pertença a um grupo ou a uma determinada comunidade , procura de reconhecimento e outras.

 

- Diferentes cientistas podem ter diferentes motivações quando optam por uma teoria e aderem a um novo paradigma. Será, então, a ciência objectiva? (não totalmente). Haverá progresso na ciência? (sem um fim definido).

 

- Como se escolhem as teorias cientificas? Que critérios presidem a esta escolha? Durante os períodos de ciência normal, os cientistas contribuem para o reforço do paradigma sem nunca o criticarem - há uma acumulação de conhecimentos. Há critérios objectivos que levam a um progresso cumulativo.

 

- Os períodos de revolução cientifica têm implicações relativamente às questões da objectividade e do progresso cientifico: a escolha entre teorias rivais e a incomensurabilidade dos paradigmas.

 

- Como se escolhem teorias rivais? Se, como defende Kuhn a escolha entre teorias propostas por paradigmas que competem entre si, depende , em grande parte, de critérios subjectivos, então a ciência não é objectiva.

 

- Kuhn reconhece existirem critérios objectivos mas considera que são insuficientes pois não conseguem explicar, por exemplo, porque é que há cientistas que aderem a uma teoria proposta por um paradigma e outros cientistas que aderem a teorias de paradigmas rivais.

 

- Os critérios objectivos , referidos por Kuhn são: 

 

Exactidão: diz respeito às previsões que uma teoria permite fazer e às suas aplicações práticas observáveis, ou seja, quanto mais exactas forem as suas previsões e quanto mais precisas as suas aplicações, melhor e a teoria.


ConsistênciaDiz respeito à coerência interna da teoria e da sua compatibilidade com outras teorias aceites nesse período, ou seja, quanto mais uma teoria estiver de acordo com outras teorias amplamente aceites, melhor é.


- Simplicidade:    Diz respeito à quantidade de leis ou principios teoricos fundamentais de que a teoria necessita para explicar as coisas. Quanto menos aparatosa for a teoria mais simples e elegante ela é, o que a torna preferível a outras mais complexas.

- Alcance:  Diz respeito à quantidade e diversidade de coisas que ela consegue explicar. Quanto mais coisas uma teoria conseguir explicar, melhor ela é.

- FecundidadeDiz respeito à capacidade de uma teoria para gerar novas descobertas cientificas.

 - Apesar de estes critérios serem partilhados pela generalidade dos cientistas , frequentemente eles divergem na sua aplicação na medida em que um cientista pode dar mais valor a um critério e outro cientista valorizar um critério diferente.

- Os critérios não estabelecem com rigor o grau de simplicidade, de fecundidade apresentando-se, sob este aspecto, vagos. Diferentes cientistas podem interpreta-los de forma diferente e chegar a conclusões diferentes.

- Isto só acontece devido à interferência de factores subjectivos, pelo que a subjectividade é um aspecto importante na resolução de conflitos científicos.

- A ciência, não é totalmente objectiva, no entender de Thomas Kuhn.

 

A incomensurabilidade dos paradigmas: algumas reflexões

- A incomensurabilidade dos paradigmas diz-nos que estes não são, objectivamente, comparáveis

- Os paradigmas rompem, muitas vezes, com os paradigmas anteriores não havendo pontos em comum entre eles.

- Então não há continuidade entre os paradigmas - poder-se-á, deste modo, falar em progresso cientifico?

- A ideia de que as mudanças de paradigma são como revoluções politicas ou conversões religiosas parece mostrar que além de súbitas elas fazem tabua rasa de tudo o que foi alcançado durante décadas de ciência normal.

- Ver o mundo segundo o PARADIGMA 1 e ver o mundo segundo o PARADIGMA 2 é começar do zero e ver o mundo com outros olhos - mesmo quando os cientistas usam os mesmos termos e olham para os mesmos sítios , referem e veem coisas diferentes.

- Se a mudança de paradigma é um novo recomeço, será que Kuhn recusa a ideia de progresso cientifico.

- Segundo Kuhn a ciência não tem que progredir em relação a um fim previamente estabelecido pois a ciência não progride em relação à verdade.

- O novo paradigma deve representar algum progresso  uma vez que ele acaba por satisfazer a comunidade cientifica dando origem a uma maior especialização na sua tarefa de resolver problemas.

- Ainda que os problemas possam ser outros, o paradigma que em determinado momento nos permite resolve-los é aquele que mais adaptado está à nossa necessidade de compreensão.

- Tal como Popper, Kuhn refere a teoria evolucionista só que destaca um aspecto diferente: a ideia de Darwin de que a evolução não precisa de ter um fim determinado, a não ser a adaptação ao ambiente que nos rodeia.


 Criticas à teoria de Thomas Kuhn.

- Se a perspetiva de Popper acerca da ciência era claramente racionalista, Kuhn defende uma perspetiva historicista, defendendo que as teorias cientificas são fruto dos contextos históricos e sociais em que se desenvolvem.

- Kuhn é frequentemente acusado de relativismo  e Popper de defender uma concepção idealista de ciência uma vez que esta está desligada da realidade social.

As duas criticas mais fortes em relação à concepção de Thomas Khun são:

1. A ideia de que os paradigmas são incomensuráveis: 
- Esta ideia é, segundo alguns contrariada pela própria historiada ciência pois se tomarmos como exemplo a teoria heliocêntrica defendida por Copérnico, esta defendia os mesmos fenómenos explicados pela teoria geocêntrica, só que agora de uma forma mais simples, exacto e eficaz.
- As teorias actuais permitem fazer previsões mais rigorosas e exactas do que as do passado - são melhores e por isso o sucesso da ciência fica por explicar. Muitas teorias rivais não são incompatíveis 
- Exemplo: No séc. XIX houve confronto entre duas teorias ópticas:  A teoria de que a luz era constituída por ondas (teoria ondulatória) e a teoria de que a luz era constituída por fotões (teoria corpuscular). Ideias importantes das duas teorias rivais foram integradas, décadas mais tarde, na teoria da dualidade partícula-onda.


2. Kuhn propõe uma concepção relativista de ciência: 
- Isto significa que Kuhn coloca a ciência a par com outro tipo de explicações como os mitos e lendas que também oferecem respostas satisfatórias àqueles que a elas aderem.
- Se tudo não passar de concepções do mundo inconciliáveis às quais se adere pelas mais diversas razoes, incluindo motivações psicológicas, ideológicas, religiosas ou politicas, então elas não são directamente confrontadas com o mundo, sendo estas construções sociais tao justificáveis como os mitos ou lendas. 
- Como se poderia, então explicar o prestigio da ciência e o avanço do conhecimento?
- Kuhn entende que não defende o relativismo que alguns críticos lhe apontam por considerarem que a sua concepção de ciência é incapaz de explicar satisfatoriamente o progresso da ciência.

(Texto baseado no manual
50 Lições de Filosofia)



Lola

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