Thomas Kuhn e as
Revoluções Científicas
- Thomas Kuhn foi um pensador
norte-americano e um dos filósofos contemporâneos mais importantes, cujas
ideias marcaram a reflexão sobre a ciência na segunda metade do séc. XX.
- Kuhn apresenta
uma concepção diferente de ciência relativamente
à objectividade e progresso na ciência.
-Enquanto Karl Popper
apresenta uma concepção lógica de ciência (procura
caracterizar o tipo de raciocínio no qual se baseia o conhecimento cientifico);
Kuhn apresenta uma concepção histórica
e sociológica da ciência (pretende
saber o modo como os cientistas se comportam no seio da comunidade cientifica).
- Segundo Kuhn, a
abordagem que Popper faz da ciência não traduz o que se passa na ciência pois
este não olha para a comunidade científica. Popper constrói uma perspectiva idealizada da ciência -
apenas valoriza momentos raros e extraordinários da ciência e não aquilo que se
passa regularmente.
- Para Kuhn, a história
da ciência mostra-nos que esta se desenvolve entre duas situações: ciência normal (prática diária dos
cientistas) e a ciência
extraordinária (momentos curtos e turbulentos da ciência) em
que ocorrem revoluções científicas,
com cientistas excepcionais como Galileu, Darwin e Einstein.
- Longos períodos de ciência normal são
intercalados com curtos períodos de
ciência extraordinária.
- Os cientistas
trabalham no interior de um paradigma. Um paradigma é uma teoria modelo que se impõem e é
tomado como referência numa dada área devido aos seus resultados exemplares.
- Alguns exemplos de paradigmas são: o
geocentrismo de Aristóteles e Ptolomeu, o heliocentrismo de Copérnico e
Galileu, a física relativista de Einstein e a Biologia evolucionista de Darwin.
- Sem
paradigma não há comunidade científica pois é
o paradigma que une todos os praticantes de uma determinada área
cientifica nos mesmos objectivos, valores, regras e metodologias.
- Sem
paradigma não há ciência pois
todas as tentativas avulsas de explicar e resolver problemas acerca da natureza
são características dos períodos de
pré-ciência.
-
Durante o período de Ciência Normal, o
cientista procura defender o paradigma e não detecta falhas (segundo Popper
seria falsificar hipóteses). Nestes períodos há um progresso cientifico
pois ao resolver enigmas há
progresso cientifico e acrescenta novo conhecimento.
- Podem
surgir, também, anomalias que são
casos difíceis observados que não se deixam explicar pelo paradigma
existente.
-
Quando isto acontece dá-se início a uma crise científica que
são períodos de desorientação pois o paradigma já não tem solução para explicar
os fenómenos - alguns cientistas, menos ligados ao paradigma, propõem ideias
complementares, novas e inovadoras. Estas ideias começam a competir entre si,
até que alguns cientistas aderem a uma delas e esta acaba por impor-se às
outras e torna-se num novo paradigma.
- Este
é um período excepcional de Revolução Cientifica em
que uma determinada forma de ver e explicar o mundo é
substituída por outra completamente diferente -
há uma mudança de paradigma.
- A
mudança de paradigma acontece quando ocorre uma revolução científica. As
revoluções científicas são curtas, mas alteram
profundamente o modo como se faz a ciência.
- O
conceito de Revolução Cientifica significa que
há uma mudança radical como se fosse uma
conversão religiosa, pois nada continua a ser como antes.
- Que
relação existe entre o "velho" paradigma e o "novo"
paradigma? Segundo Kuhn os paradigmas são incomensuráveis -
não há pontos comuns entre eles que permita a sua comparação.
- Mas o que leva os cientistas, nos momentos de mudança de paradigma, a optar por uma dada teoria em vez de uma outra rival? Segundo Kuhn não há critérios fixos pois estão envolvidos todo o tipo de motivações pessoais, sociais, políticas, religiosas e outras como conservar o emprego, necessidade de pertença a um grupo ou a uma determinada comunidade , procura de reconhecimento e outras.
-
Diferentes cientistas podem ter diferentes motivações quando optam por uma
teoria e aderem a um novo paradigma. Será, então, a ciência objectiva? (não
totalmente). Haverá progresso na ciência? (sem
um fim definido).
- Como
se escolhem as teorias cientificas? Que critérios presidem a esta escolha?
Durante os períodos de ciência normal, os cientistas contribuem para
o reforço do paradigma sem nunca o criticarem - há uma acumulação de
conhecimentos. Há critérios objectivos que levam a um progresso cumulativo.
- Os
períodos de revolução cientifica têm implicações relativamente às questões
da objectividade e do progresso cientifico: a escolha entre teorias rivais e
a incomensurabilidade dos paradigmas.
- Como
se escolhem teorias rivais? Se, como defende Kuhn a escolha entre teorias
propostas por paradigmas que competem entre si, depende , em grande parte, de
critérios subjectivos, então a ciência não é objectiva.
- Kuhn
reconhece existirem critérios objectivos mas considera
que são insuficientes pois não conseguem explicar, por exemplo, porque
é que há cientistas que aderem a uma teoria proposta por um paradigma e outros
cientistas que aderem a teorias de paradigmas rivais.
- Os critérios objectivos ,
referidos por Kuhn são:
- Exactidão: diz respeito às previsões que uma teoria permite fazer e às suas aplicações práticas observáveis, ou seja, quanto mais exactas forem as suas previsões e quanto mais precisas as suas aplicações, melhor e a teoria.
- Consistência: Diz respeito à coerência interna da teoria e da sua compatibilidade com outras teorias aceites nesse período, ou seja, quanto mais uma teoria estiver de acordo com outras teorias amplamente aceites, melhor é.
- Simplicidade: Diz respeito à quantidade de leis ou principios teoricos fundamentais de que a teoria necessita para explicar as coisas. Quanto menos aparatosa for a teoria mais simples e elegante ela é, o que a torna preferível a outras mais complexas.
- Alcance: Diz
respeito à quantidade e diversidade de coisas que ela consegue explicar. Quanto
mais coisas uma teoria conseguir explicar, melhor ela é.
-
Fecundidade: Diz respeito à capacidade
de uma teoria para gerar novas descobertas cientificas.
- Apesar de estes critérios serem partilhados pela generalidade dos cientistas , frequentemente eles divergem na sua aplicação na medida em que um cientista pode dar mais valor a um critério e outro cientista valorizar um critério diferente.
- Os critérios
não estabelecem com rigor o grau de simplicidade, de fecundidade apresentando-se,
sob este aspecto, vagos. Diferentes cientistas podem interpreta-los de forma
diferente e chegar a conclusões diferentes.
- Isto
só acontece devido à interferência de factores subjectivos, pelo que a
subjectividade é um aspecto importante na resolução de conflitos científicos.
- A ciência, não é totalmente objectiva, no entender de Thomas Kuhn.
A
incomensurabilidade dos paradigmas: algumas reflexões
- A incomensurabilidade
dos paradigmas diz-nos que estes não são, objectivamente, comparáveis
- Os paradigmas rompem,
muitas vezes, com os paradigmas anteriores não havendo pontos em comum entre
eles.
- Então não há
continuidade entre os paradigmas - poder-se-á, deste modo, falar em progresso
cientifico?
- A ideia de que as
mudanças de paradigma são como revoluções politicas ou conversões religiosas
parece mostrar que além de súbitas elas fazem tabua rasa de tudo o que foi
alcançado durante décadas de ciência normal.
- Ver o mundo segundo o
PARADIGMA 1 e ver o mundo segundo o PARADIGMA 2 é começar do zero e ver o mundo
com outros olhos - mesmo quando os cientistas usam os mesmos termos e olham
para os mesmos sítios , referem e veem coisas diferentes.
- Se a mudança de
paradigma é um novo recomeço, será que Kuhn recusa a ideia de progresso
cientifico.
- Segundo Kuhn a
ciência não tem que progredir em relação a um fim previamente estabelecido
pois a ciência não progride em relação à verdade.
- O novo paradigma deve
representar algum progresso uma vez que ele acaba por satisfazer a comunidade cientifica dando origem a uma maior especialização na sua tarefa de resolver problemas.
- Ainda que os problemas possam ser outros, o paradigma que em determinado momento nos permite resolve-los é aquele que mais adaptado está à nossa necessidade de compreensão.
- Tal como Popper, Kuhn refere a teoria evolucionista só que destaca um aspecto diferente: a ideia de Darwin de que a evolução não precisa de ter um fim determinado, a não ser a adaptação ao ambiente que nos rodeia.
(Texto baseado no manual
50 Lições de Filosofia)
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