domingo, 3 de julho de 2022

Ensaio Filosófico - exemplos



Ensaio Filosófico - exemplos

Estes são alguns dos Ensaios Filosóficos elaborados, este ano lectivo, pelos meus alunos do 11º Ano.


Ensaio A


Ensaio Filosófico 2021/22

Tema: A “Filosofia da educação” subjacente ao Opus Dei

Problema: Será que o Opus Dei respeita as liberdades dos seus membros?


Opus Dei: a liberdade baseada na “obediência inteligente”


Apresentação

O Opus Dei (Obra de Deus) é a única Prelazia Pessoal da Igreja Católica, fundada por São Josemaria Escrivá e tem como objetivo difundir a vida cristã no mundo, no e na família, a chamada universal à santidade e o valor santificador do trabalho quotidiano trabalho (“Santificar o trabalho, santificar-se no trabalho, santificar com o trabalho”). Trata-se de uma “sociedade” religiosa, discreta e restrita dentro da própria sociedade, pelo que é de grande importância, por vezes, pararmos para investigar um pouco sobre o que se passa à nossa volta e que nem sempre percebemos. Neste ensaio, iremos, então, refletir acerca do método que esta instituição utiliza na educação dos seus associados, colocando-se a seguinte questão: Será que o Opus Dei respeita as liberdades dos seus membros?

Desenvolvimento

Advém da definição de Filosofia que esta é um sistema aberto, porém a ideologia do Opus Dei é um sistema definitivo e acabado, como diz o próprio Escrivá: “O espírito Opus Dei foi esculpido”, ou seja, não são permitidos questionamentos acerca das suas premissas fundamentais. Sendo assim, muito dificilmente enquadrado na categoria de filosofia, daí a utilização de aspas na expressão “Filosofia da Educação” quando falamos da doutrinação do Opus Dei.

O discurso do Opus Dei é um discurso cujo objetivo é “acertar sempre”, criando proposições P invulneráveis aos testes de verificação. Popper criou o método perfeito para atingir o objetivo do Opus Dei, a imunização. Karl Popper explica o funcionamento desta “linguagem manipuladora”, dizendo que consiste em incluir na proposição P, uma alternativa, de tal forma que qualquer evento decorrente, seja X, seja o oposto de X, esteja pressuposto pela proposição amplificada. Funciona como uma carta na manga, porque qualquer consequência Q que suceda será verdadeira. Se ocorreu X, a proposição inicial P é valida, se ocorreu o oposto de X, recorre-se à parcela alternativa de P, a parcela imunizadora.

No Opus, quando uma pessoa é submetida ao processo de “educação”, irá acabar por memorizar e assimilar as máximas opusianas e os ideias do criador da Prelazia e é também natural que comece a tentar organizar e sintetizar, de uma forma logicamente válida, todos esses conceitos na sua mente, mas sempre que o tentar fazer e conseguir, os diretores irão dar-lhe indicações contraditórias para que isso não seja possível. A pessoa irá entender que o único comportamento aceitável na instituição é seguir rigorosamente as indicações dos diretores espirituais, em cada momento. Sendo assim, o indivíduo acaba por desenvolver um medo do que sucederia se não cumprisse as normas que lhe foram impostas, ou seja, fica refém deste medo, trocando a sua liberdade pela submissão, fica impossibilitado de desenvolver a virtude da prudência (prudentia) referida por S.Tomás de Aquino. Tomás define prudência como a razão reta do agir, é própria da razão prática, um indivíduo prudente é aquele que tem a capacidade de deliberar bem em vista de certo fim. É próprio da prudência comandar, uma vez que ela é a razão reta do que deve ser feito. Esse fazer, no sentido de agir, desdobra-se em três operações: deliberar, julgar e comandar, todas elas envolvidas na prudência. Como não existe virtude moral sem a prudência e no Opus Dei esta é suprimida, está a ser posta em causa a liberdade dos seus membros, uma vez que a tese defendida por eles de que a submissão/obediência (falta de prudência) faz parte do caminho para a santidade pessoal cai por terra, tendo em conta que a prática de qualquer outra virtude está maculada por vício irreparável.

O “aconselhamento espiritual” acontece semanalmente na “conversa fraterna”, que é um encontro individual e obrigatório que cada membro tem, a portas fechadas, com o seu superior, no qual deve contar detalhadamente tudo o que acontece na sua vida com a dita “sinceridade selvagem” e receber ordens do mesmo. Trata-se de um instrumento poderoso na manipulação de vontades.

Tomás de Aquino esclarece que a liberdade da consciência não se exerce necessariamente na elaboração da lei, mas na sua ponderação e aplicação a situações concretas. Nesse momento, ou seja, no momento de sua ponderação íntima, se a consciência, com boa disposição, não consegue admitir o teor da lei e submeter-se a ele, fica desobrigada de obedecer-lhe. A primeira obrigação da consciência consiste em manter-se fiel a si mesma, pois, segundo Tomás de Aquino, ela segue a luz da sua razão para gerar o agir, se ela perde essa luz, não pode mover-se. Portanto, diz-nos que se, em algum momento, a pessoa não se sentisse confortável com algum ritual do Opus Dei poderia não segui-lo, como por exemplo a conversa fraterna, a aceitação das indicações do Índex (onde são classificados de 0-6 os livros, mostrando se a sua leitura é permitida ou proibida) ou a prática da mortificação corporal (com o cilício e as disciplinas), porém, na realidade isso não é possível, logo podemos afirmar que a instituição põe em causa a liberdade de consciência dos seus membros - Liberdade "de consciência", não! Quantos males trouxe aos povos e às pessoas este erro lamentável, que permite actuar contra os próprios imperativos da consciência! Liberdade "das consciências", sim, pois significa o dever de seguir esse imperativo interior... Ah!, mas depois de se ter recebido uma formação séria! (Sulco, 389). (retirado do site opus dei)

O surgimento de doenças mentais tem sido algo frequente em numerários do Opus Dei. Erich Fromm, um filósofo humanista alemão, diz que fatores sociológicos podem ser causadores de neuroses, entendendo que a condição humana impõe, além da satisfação das necessidades fisiológicas, a satisfação das seguintes necessidades: relacionar-se com o seu semelhante; separar-se dos laços de sangue e do solo; superar a condição de criatura passiva e ter capacidade de criar; ter um sentido de identidade independente de uma tribo, classe ou família. A falta de satisfação destas necessidades, que nos dias de hoje, podem até ser consideradas liberdades essenciais para a maioria de nós, determinará o surgimento de neuroses e psicoses. Fromm refere a necessidade de nos relacionarmos com os nossos semelhantes, ora, os numerários, entre si, estão proibidos de se relacionarem a um nível humanamente mais profundo, pois, no Opus Dei, estão proibidas as “amizades particulares” e as relações que têm com os seus superiores são de dominação. Mesmo entre numerários e não-numerários as relações permitidas são aquelas que trarão vantagens ao grupo, sem qualquer espontaneidade. Fromm fala, também, do “ser capaz de criar” e de superar a condição de criatura passiva, talvez com exceção de um arquiteto que projetou centros do Opus Dei, é difícil criar algo na condição de numerário, a não ser que isso seja a forma específica de proselitismo do numerário - “no caso com que eu contactei, penso que se ele servia da escrita como meio de proselitismo.” - “Nunca te esqueças que és apenas um executor”, diz o ponto 619 do livro Caminho. Fala, ainda, da necessidade de ter um sentido de identidade independente e, neste caso, a doutrinação dos numerários tenta destruir qualquer sentido de identidade para além do grupo. Tendo tudo isto em conta, concluímos que o surgimento de doenças mentais entre os numerários pode ser explicado pela ideia de que o sofrimento (isolamento, frustração de diversos desejos, etc.) a que são expostos é superior à sua capacidade de suportá-lo e também devido à falta das necessidades e, mais do que isso, das liberdades humanas referidas anteriormente.

Recorrendo, novamente à Filosofia de Erich Fromm, pensemos agora que nesta busca pelo sentido de identidade será necessário superar o vínculo com a família (a mãe), pelo que o indivíduo se depara com uma situação de isolamento e desamparo psicológico e, muitas vezes a solução está na procura de apoio num grupo estruturado - sensação de “belonging”. Para Fromm, o indivíduo abdica da sua liberdade, numa tentativa de superar o seu estado de impotência e solidão, passando a integrar o tal grupo. No caso Opus Dei, esta situação é extremamente recorrente, pois a maioria dos membros pedem a sua admissão entre os 14 e os 25 anos, idades de instabilidade emocional e desejo de independência. Abdicam assim da sua liberdade, fazem votos de obediência - “Eles são marionetas”; “Eles são comandados, são peões” – são convencidos de que o espírito da obra é a sua vocação- “Dizem-te: tu nasceste para isto, a Obra precisa de ti”.  O grupo oferece o tal apoio emocional e para fazer parte dele é exigido uma aceitação da conduta definida por este, o que, na realidade resulta no abrir mão, em maior ou menor grau, da liberdade individual – “Com delicadeza, atacam nas fraquezas humanas, são pessoas com paciência para nos ouvir”.

Conclusão

Ser livre é um enorme desafio, que tem um preço que nem sempre estamos dispostos a pagar. É necessário fazer escolhas e assumir a responsabilidade das consequências que advêm delas. Para algumas pessoas livrar-se deste “peso” é mais confortável, um grupo estruturado como o Opus Dei disponibiliza uma forma de viver o mundo já pronta e precisa, pelo que poupa às pessoas a necessidade de observá-lo com um olhar crítico e de tomar decisões.

Escolher seguir “este guia do mundo” que o Opus Dei oferece não é, nada mais, nada menos, do que escolher não ter escolha!

 

Citações bibliográficas

Entrevista a alguém que vivenciou de perto o que é a vida no mundo Opus Dei (citações a vermelho são retiradas do testemunho que obtive).

O dia-a-dia nas sociedades secretas: como se vive na Maçonaria e na Opus Dei – Observador

“Grito o meu amor à liberdade pessoal” - Opus Dei

Proselitismo? Liberdade e proposta vocacional - Opus Dei

Chamados a ser santos - Opus Dei

O Opus Dei e a mortificação corporal - Opus Dei

Microsoft Word - capa doutorado final.doc (mackenzie.br)

177a184.pdf (saocamilo-sp.br)

Microsoft Word - Submissao.doc (usp.br)

6_eloimaia.pdf (unesp.br)

 

Glossário

Numerário: aqueles fiéis que, em celibato apostólico, têm uma máxima disponibilidade pessoal para os trabalhos apostólicos peculiares da Prelazia; podem residir na sede dos Centros da Prelazia, para se ocuparem desses trabalhos apostólicos e da formação dos outros membros do Opus Dei.

Caminho: livro mais popular de São Josemaria, consta de 999 pontos para a meditação espiritual pessoal.

Cilício: Trata-se duma pequena cadeia de metal leve, com pontas, que se usa à volta da coxa

Disciplina: pequeno chicote de cordas com nós cegos nas pontas

Proselitismo: atividade ou esforço de fazer prosélitos; catequese, apostolado

Prelazia: estrutura institucional da Igreja Católica Romana que compreende um prelado, clérigos e leigos que se dedicam a atividades pastorais específicas

 Nome: Bárbara  -  11º Ano

 

 Ensaio B


Ensaio Filosófico 2021/2022

Tema: Corporeidade

Problema: Será o corpo uma clausura à existência?

 

Introdução

Um dos principais temas do pensamento contemporâneo é o da corporeidade. Pensar o Homem implica prestar atenção à realidade do seu ser como ser corporal, inserido no mundo. O tema da corporeidade, contudo, não é uma novidade na filosofia, pensando, nomeadamente em Platão. Atualmente, assistimos a uma verdadeira metamorfose relativamente à conceção do corpo, tanto no domínio filosófico, como no científico (nas ciências exatas, assim como nas ciências humanas).

Nas últimas décadas, têm sido conduzidos novos interesses para o tema do corpo, a que se associa a mente e a alma; o que nos leva a pensar se o Homem será mais do que o seu corpo, a punição do mesmo, em que consiste a alma, a imortalidade da mesma, culminando no essencial deste trabalho que será a seguinte reflexão: Será o corpo uma clausura à nossa existência?

Abordaremos, assim, várias perspetivas filosóficas, nomeadamente de Platão e Michel Foucault, remetendo às obras Fédon e Vigiar e Punir, respetivamente.

 

Desenvolvimento

Platão é um dos pensadores mais importantes para a filosofia, com teoria e os respetivos argumentos que transcorreram séculos e influenciaram inúmeras correntes de pensamento. A sua conceção dualista da realidade e do Homem foi fonte para diversas pesquisas, gerando, ainda, discussões nos debates filosóficos. A partir de Homero existiu uma conceção diferenciada de alma em relação ao corpo, e passando pelas religiões gregas até à filosofia iniciada por Tales de Mileto, sendo este tema fundamental para as primeiras teorias do pensar humano.

Contudo, o grande auge do desenvolvimento conceitual da alma foi trazido por Sócrates e sistematicamente desenvolvido por Platão. Para isto, Platão usa de alguns mitos que visam explicar que as almas conhecem fora do corpo ao contemplar os modelos perfeitos, as Ideias. Este formula a tese central da sua teoria de que conhecer é, para a alma, uma reminiscência das Ideias, ( as ideias de Platão foram entendidas pelo mesmo como reais; assim como Deus é entendido como uma espécie de ideia real, Platão concebeu todas as ideias como reais, com a diferença que elas são muitas, ainda que tendo uma hierarquia) e intencionais já conhecidas antes de encarnar o corpo. É, deste modo, percetível, que o Homem é muito para além do seu corpo, sendo constituído primordialmente pela alma. A alma existe em si e por si - esta é a crença do filosofo. A morte afligi-lo-ia se não acreditasse que a alma sobrevive ao corpo. Depois da morte, a alma continua a existir separada do corpo, contemplando, então, eternamente.

Platão apresenta, então, dois importantes argumentos, visando defender a imortalidade da alma, a Teoria dos Contrários e A Reminiscência. Segundo o filosofo, a lei geral do universo mostra que todo o contrário surge no seu contrário, por exemplo, o feio nasce do belo, o grande do pequeno, e vice-versa. Assim, também morte advém da vida e esta da morte, caso contrário , segundo a lei geral da natureza, o universo imobilizar-se[1]ia e as manifestações vitais terminariam.

Neste sentido, os mortos advêm dos vivos, e estes dos mortos, e que as almas destes subsistem e existem algures donde regressam à vida, tornando a alma o princípio da vida. Contudo, alguns filósofos acreditam que a alma, depois de se separar do corpo é destruída e perece com ele. A estrutura do segundo argumento consiste em admitir que a alma contemplou as essências noutra vida ideal e que, depois da sua ligação ao corpo, é necessário recordar o que se encontra num estado latente. Existe a possibilidade de as almas encarnarem, de forma que se esquece o que foi contemplado no mundo ideal, o que torna o conhecimento humano uma busca interior pelo saber, uma tentativa de lembrar o que já fora contemplado. “A nossa instrução não é mais do que a reminiscência – segundo esse princípio, é também indispensável que nós, num tempo anterior, tenhamos aprendido algures aquilo de que nos recordamos no presente.

Ora isto seria impossível se a nossa alma não existisse, nalgum lugar, antes de resistir esta forma humana. Portanto, parece concluir-se também daqui que a alma é imortal”. Ainda assim, considero que não existam possíveis argumentos racionais que possam comprovar que a alma é imortal. A imortalidade da alma trata-se de uma crença, tal como a crença em Deus, que em parte, é influenciada e incutida pela religião. Apenas pela fé se pode justificar que a mesma é imortal.

Com isto, é percetível que há uma clara distinção entre corpo e alma, sendo a alma a essência da vida, como já abordado. Assim, a nossa existência centra-se na nossa alma, na sua capacidade de apreensão e desenvolvimento, sendo ela, ou não imortal. Platão formula a necessidade de o Homem exercer um cuidado sobre a alma.

O corpo é um túmulo para a alma, que prende aquela que não foi capaz de continuar na contemplação das Ideias. O apego às coisas corpóreas faz com que o Homem se distancie da verdade (que é a realidade ideal, segundo Platão) e sofra, tanto na vida carnal, quanto na vida espiritual.

Partindo de uma hierarquia, a alma é mais valorosa do que o corpo. Há, em todo o ser racional, um princípio superior à estrutura corporal e, consequentemente, capaz de lhe sobreviver. A alma é a essência da vida e garante a nossa existência. Se a alma está aprisionada no nosso corpo.

Então a nossa existência está aprisionada no corpo. Tendo em mente o Deus teísta, sumamente prefeito, omnisciente, omnipotente e omnipresente, e a sua eternidade, podemos fazer um paralelismo com o Homem. Deus não tem a sua representação corpórea, o que possibilita a sua imortalidade e eternidade, através da liberdade da sua alma. Considera-se, assim, que a o corpo é uma clausura à nossa existência, sendo o corpo considerado um túmulo para a mesma.

A punição do corpo refletir-se-á numa punição da alma?

Tendo por base a obra “Vigiar e Punir” de Michel Foucault, existem duas formas de punição, tendo como base os condenados ou prisioneiros., uma relativa ao final do século XVIII, e outra relativa ao início do século XIX. A primeira é o martírio público, nomeadamente banho de óleo a ferver, considerado punição física ao condenado e exemplo para os demais. A primeira grande mudança no campo penal é o desaparecimento dos suplícios físicos, do corpo marcado, do espetáculo cênico em praça pública. “No final do século XVIII e começo do XIX, a despeito de algumas grandes fogueiras, a melancólica festa de punição vai-se extinguindo”.

Tanto no ponto de vista da sua natureza pedagógica, como no ponto de vista de quem a impõe, a punição tornar-se-á “limpa”, pura, atuando na alma e mente dos criminosos, e dos juízes. “É indecoroso ser passível de punição, mas pouco glorioso punir. (…) O essencial é procurar corrigir, reeducar; uma técnica de aperfeiçoamento recalca, na pena, a estrita expiação do mal, e liberta os magistrados do vil ofício de castigadores”.

Houve então um deslocamento do objeto da ação punitiva, esta que vai lentamente passando a ser exercida não mais sobre o corpo, mas sobre a alma. Estando o corpo intrinsecamente associado à alma, e a punição do Homem interligada ao suplício do seu corpo; então essa mesma reflete-se num abalo da alma, ainda que tentando instruir o ser racional.

Neste campo, não é possível uma dissociação entre a punição do corpo e da alma. Assim, uma punição do corpo, refletir-se-á numa punição da alma.

 

Conclusão

Com isto, a alma é o que nossa garantia de vida, sendo a sua essência. Se a alma está aprisionada no nosso corpo, então a nossa existência está aprisionada no nosso corpo. Constituindo o corpo como um túmulo e uma clausura à nossa existência. Se não fosse o mesmo, a nossa existência seria eterna, justificada pela imortalidade da alma, tendo como exemplo Deus. Do mesmo modo, a alma e o corpo interligam-se sendo o segundo intrínseco à primeira, o que implica que uma punição ou tortura do mesmo refletir-se-á num abalo ou enfraquecimento da alma.

Bibliografia

https://www.revistamirabilia.com/sites/default/files/pdfs/2010_02_02.pdf

https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/16973/1/V02401-095-117.pdf

http://www.joaquimdecarvalho.org/artigos/artigo/80-Introducao-ao-Fedon-de-Platao

https://www.webartigos.com/artigos/analise-do-fedon/5630

Ana – 11º Ano



Ensaio C

Ensaio Filosófico 2021/2022

Tema: Viver numa Sociedade do Cansaço

Problema: O que é que criou a Sociedade do Cansaço?

 

Introdução

Hoje em dia deparamo-nos com diversos problemas na sociedade. O mundo vai evoluindo, os costumes vão mudando e as mentalidades que constituem a sociedade? Essas também mudam, mas nem sempre evoluem, ou melhor, não evoluem para melhor, se calhar prendem-se a algo que as mantém longe do que poderiam ser, mas não são. Em que sociedade vivemos agora?

Às vezes perguntamo-nos isso, ou porque não nos sentimos enquadrados, ou porque estamos perdidos, ou talvez com essas mesmas perguntas estejamos a representar exatamente a sociedade em que vivemos, que é uma sociedade esgotada psicologicamente e nós é que a tornamos assim.

 

Desenvolvimento

Byung Chul Han, autor do livro “Sociedade do Cansaço” afirma que “O cansaço aparece como uma maneira de existir”  

As pessoas andam, portanto, cansadas, deprimidas e com cada vez mais transtornos psicológicos, algumas pessoas sentem-se mesmo cansadas de viver, ou se pensarmos melhor, será que elas estão a viver? Como Han afirma “Estão por demais vivos, para morrer, e por demais mortos para viver”.

A maioria das pessoas simplesmente existe, é como se estivessem dentro do seu próprio mundo que é tão vazio, agitado, melancólico. Um mundo que se está a transformar num mundo de todos, em que cada vez mais indivíduos entram nele.

E porquê? Porque é que nos sentimos assim? De onde é que isto começou? Porque é que não mudamos?... estas são as perguntas dais quais nos deparamos regularmente e que às vezes perguntamos a nós próprios ou até aos outros, numa forma de tentar suavizar um sofrimento que por vezes parece não ter motivos, mas é exatamente aí que começa um dos problemas.

As pessoas desta sociedade cobram-se muito por acharem que têm que estar sempre bem e prontas para dar o melhor de si e quando isso não acontece entram em frustração e num sofrimento por vezes contínuo, este é o principal problema em que se baseia o livro “Sociedade do Cansaço” de Byung-Chul Han, que é o excesso de positivismo.

O excesso de positivismo é, portanto, como defende Byung-Chul Han, um dos principais problemas nesta sociedade e resume-se ao facto de os indivíduos acharem que têm capacidade para tudo (fazer muitas coisas ao mesmo tempo, ter demasiado trabalho para fazer num curto período de tempo e acharem que não é preciso descansar). Se pararmos em qualquer rua que seja vemos pessoas a andar de um lado para o outro stressadas, a fazer tudo com pressa e focadas nas suas próprias vidas, sem olharem para o mundo à sua volta e a realidade é que não somos super-heróis e, por isso, toda esta rotina nos esgota, a não ser mais pelo facto de ficarmos frustrados por afinal não conseguirmos fazer tudo o queríamos, o que proporciona pensamentos de invalidade, fracasso… e isto advém de algo que pensamos ser bom, que é o tal positivismo.

Uma frase que encaixa perfeitamente na sociedade de hoje é a seguinte: “Vivemos para trabalhar, quando devíamos trabalhar para viver” e isto acontece porque somos muito disciplinados a seguir a vida comum, mas a sermos o melhor que conseguirmos nela e quando não o somos, (o que é normal), por estarmos tão disciplinados ficamos frustrados e o facto de querermos ser os melhores não para nós, mas sim para a sociedade piora a situação, pois proporciona a comparação.

O eu ideal entra numa busca cujo resultado é inalcançável, o que leva a uma eterna corrida pelo impossível, motivando o cansaço. Quando não somos o melhor que achamos que poderíamos ser cubramo-nos por isso, quando devíamos simplesmente aceitar o facto de forma bondosa para connosco.

Como Han afirma “O excesso da elevação do desempenho leva a um infarto da alma”.

O facto de acharmos que não necessitamos de descanso e sobrevalorizarmos o trabalho ao mesmo deixa a nossa mente exausta e acabamos por não ter a produtividade que queríamos nesse mesmo trabalho, ou seja, entra-se num ciclo que parece não ter fim. As nossas vidas não são, ou não deviam ser dedicadas ao trabalho. Deste mesmo problema advém também o isolamento provocado pela sociedade do desempenho, que provoca o cansaço psicológico. Sobra pouco espaço para a socialização quando todos estão a competir pelo mesmo espaço, por quererem ser os mais competentes no trabalho ou até os mais saudáveis no ginásio e também os que parecem mais felizes nas redes socias. Por termos todas estas informações e estímulos, que provêm também, por exemplo, das redes sociais encontramos outro problema que provoca o cansaço na sociedade.

É difícil manter um foco e descanso quando podemos ter acesso a tudo o que se passa no mundo, ou seja, quando sabemos que enquanto estamos a descansar, outros estão a trabalhar e vice-versa. Quando temos tudo diante de nós e queremos estar enquadrados em tudo, o que não é possível. Temos tanto por onde nos guiar, tanto que podemos fazer, ouvir, ler… que entramos num desespero porque a nossa mente não é capaz de, por vezes, focar numa e em apenas uma coisa.

Diante de todos os problemas que provocam o cansaço desta sociedade temos também um que vivemos regularmente, que é como diz a linguagem usual, estar em todo o lado menos no presente. Revivemos o passado, pensamos no futuro, temos medo, um medo provocado de toda  uma pressão em nós mesmos e por vezes imposta pela sociedade, que não nos deixa viver o hoje, o agora e isso esgota-nos. Esgota-nos o facto de estarmos constantemente a pensar em quem poderíamos ter sido e não fomos, em quem poderemos vir a ser, no que podíamos ter ou não ter feito, de como vai ser a nossa vida futura… Nós não estamos a viver, nós estamos apenas a vivenciar na nossa mente o que passou e o que achamos ou queremos que venha.

E isto, porque somos uma sociedade que tem medo do julgamento, uma sociedade que tem medo de ser o que realmente é, ou seja, pensamos em todos os atos, pormenores, atitudes…, mas a realidade é que os maiores julgadores que existem neste mundo somos nós mesmos e exercemos esse tal julgamento não aos outros, mas normalmente, a nós próprios. Nós não nos deixamos descansar, nós não nos deixamos ser o que queremos, não nos deixamos viver o agora e ser felizes à maneira que achamos que devemos ser. Se pensarmos em que indivíduos da sociedade se reflete mais este cansaço, por incrível que pareça (ou não), somos logo direcionados aos jovens e porquê?

Faz todo o sentido, primeiro porque nós somos os indivíduos que estamos a experienciar esta “nova” sociedade e evolução de forma mais direta; já assistimos a várias atitudes de adultos no que toca a diferentes assuntos desta sociedade; vivemos de internet, informação, estímulos… e o principal motivo é que somos os adultos de amanhã. Vivemos a pensar no que nos espera e do que será o futuro, com uma enorme pressão para mudar o mundo. Sentimo-nos por vezes desenquadrados, tristes, sem vontade de continuar a viver o que não somos, ou não queremos ser, mas não consigamos mudar.

Todas estas situações nos tornaram neste tipo de sociedade, ou seja, o facto de vivermos apenas num mundo de evolução, de mudanças, mas de nós ficarmos travados nelas. Cada um de nós evoluiu neste sentido para a sociedade, o que a tornou em geral assim. Vivemos em comunidade, interagimos uns com os outros e vivemos em função dos outros, algo que comece a estar enraizado numa grande parte da sociedade acaba por influenciar a maioria. E a realidade é que este problema parece ser “tão” simples quanto isso, mas no fundo não o é.

Não o é porque é difícil mudar as mentalidades e pensamentos das pessoas, é difícil mudar algo que está enquadrado com a evolução do mundo, com o querer ser mais, com a frustração, com o desempenho, com questões financeiras, com o simples viver, com o simples existir. Entrar neste mundo é um desafio e é como ter que levar um peso enorme pelas costas, não é algo fácil de lidar e mudar. Apesar deste cansaço estar enraizado e aparecer como forma de viver, ele pode vir a ser alterado, aos poucos, com a mudança de comportamento, com novos hábitos e novas formas de ser ou pensar, ou seja, a geração futura terá um papel importante no que toca à mudança de sociedade, mas nós teremos que implementar primeiramente os hábitos.

Conclusão

Esta sociedade em que vivemos, a Sociedade do Cansaço, uma sociedade completamente esgotada psicologicamente, foi, portanto, criada por nós, por um excesso de positivismo, por nos prendermos a algo que não faz parte do agora, por vivermos com um exagero de estímulos e informação e por vivermos com medo do julgamento, resumindo, por não estarmos a viver. Cabe a nós mudar esta Sociedade, cabe a nós realmente VIVER com qualidade de vida, de nos consolarmos a nós mesmos e de viver sem medo de ser o que somos.

Bibliografia

 «A Sociedade do Cansaço - Livro - WOOK». Acedido 21 de maio de 2022. https://www.wook.pt/livro/a-sociedade-do-cansaco-byung-chul-han/15951806.

 Andrade, por Walmar. «Sociedade do Cansaço, resumo do livro de Byung-Chul Han».

Walmar Andrade (blog), 11 de outubro de 2020. https://walmarandrade.com.br/sociedade-do[1]cansaco/. Razão Inadequada.

 «Byung-Chul Han - Sociedade do Cansaço • Razão Inadequada», 25 de junho de 2017. https://razaoinadequada.com/2017/06/25/byung-chul-han-sociedade-do[1]cansaco/.

Corbanezi, Elton. «Sociedade do cansaço». Tempo Social 30 (dezembro de 2018): 335–42. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2018.141124.

Faria, Marta Lince. «A Sociedade do Cansaço». Observador. Acedido 21 de maio de 2022. https://observador.pt/opiniao/a-sociedade-do-cansaco/.

Matilde - 11º Ano




LOLA

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