Ensaio Filosófico - exemplos
Estes são alguns dos Ensaios Filosóficos elaborados, este ano lectivo, pelos meus alunos do 11º Ano.
Ensaio A
Ensaio
Filosófico 2021/22
Tema: A “Filosofia
da educação” subjacente ao Opus Dei
Problema: Será que o Opus Dei respeita as liberdades dos seus membros?
Opus Dei: a liberdade baseada na “obediência
inteligente”
Apresentação
O Opus Dei (Obra de
Deus) é a única Prelazia Pessoal da Igreja Católica, fundada por São Josemaria
Escrivá e tem como objetivo difundir a vida cristã no mundo, no e na
família, a chamada universal à santidade e o valor santificador do trabalho quotidiano
trabalho (“Santificar o trabalho, santificar-se no trabalho, santificar
com o trabalho”).
Trata-se de uma “sociedade” religiosa, discreta e restrita dentro da própria
sociedade, pelo que é de grande importância, por vezes, pararmos para
investigar um pouco sobre o que se passa à nossa volta e que nem sempre
percebemos. Neste ensaio, iremos, então, refletir acerca do método que
esta instituição utiliza na educação dos seus associados, colocando-se a
seguinte questão: Será que o Opus Dei respeita as
liberdades dos seus membros?
Desenvolvimento
Advém da definição de
Filosofia que esta é um sistema aberto, porém a ideologia do Opus Dei é um
sistema definitivo e acabado, como diz o próprio Escrivá: “O espírito Opus Dei
foi esculpido”, ou seja, não são permitidos questionamentos acerca das suas
premissas fundamentais. Sendo assim, muito dificilmente enquadrado na categoria
de filosofia, daí a utilização de aspas na expressão “Filosofia da Educação”
quando falamos da doutrinação do Opus Dei.
O discurso do Opus
Dei é um discurso cujo objetivo é “acertar sempre”, criando proposições P
invulneráveis aos testes de verificação. Popper criou o método perfeito para
atingir o objetivo do Opus Dei, a imunização. Karl Popper explica o
funcionamento desta “linguagem manipuladora”, dizendo que consiste em incluir
na proposição P, uma alternativa, de tal forma que qualquer evento decorrente, seja
X, seja o oposto de X, esteja pressuposto pela proposição amplificada. Funciona
como uma carta na manga, porque qualquer consequência Q que suceda será
verdadeira. Se ocorreu X, a proposição inicial P é valida, se ocorreu o oposto
de X, recorre-se à parcela alternativa de P, a parcela imunizadora.
No Opus, quando uma
pessoa é submetida ao processo de “educação”, irá acabar por memorizar e
assimilar as máximas opusianas e os ideias do criador da Prelazia e é também
natural que comece a tentar organizar e sintetizar, de uma forma logicamente
válida, todos esses conceitos na sua mente, mas sempre que o tentar fazer e
conseguir, os diretores irão dar-lhe indicações contraditórias para que isso
não seja possível. A pessoa irá entender que o único comportamento aceitável na
instituição é seguir rigorosamente as indicações dos diretores espirituais, em
cada momento. Sendo assim, o indivíduo acaba por desenvolver um medo do que
sucederia se não cumprisse as normas que lhe foram impostas, ou seja, fica
refém deste medo, trocando a sua liberdade pela submissão, fica impossibilitado
de desenvolver a virtude da prudência (prudentia) referida por S.Tomás
de Aquino. Tomás define prudência como a razão reta do agir, é própria da razão
prática, um indivíduo prudente é aquele que tem a capacidade de deliberar bem
em vista de certo fim. É próprio da prudência comandar, uma vez que ela é a
razão reta do que deve ser feito. Esse fazer, no sentido de agir, desdobra-se
em três operações: deliberar, julgar e comandar, todas elas envolvidas na
prudência. Como não existe virtude moral sem a prudência e no Opus Dei esta é
suprimida, está a ser posta em causa a liberdade dos seus membros, uma vez que
a tese defendida por eles de que a submissão/obediência (falta de prudência)
faz parte do caminho para a santidade pessoal cai por terra, tendo em conta que
a prática de qualquer outra virtude está maculada por vício irreparável.
O “aconselhamento
espiritual” acontece semanalmente na “conversa fraterna”, que é um encontro
individual e obrigatório que cada membro tem, a portas fechadas, com o seu
superior, no qual deve contar detalhadamente tudo o que acontece na sua vida
com a dita “sinceridade selvagem” e receber ordens do mesmo. Trata-se de um
instrumento poderoso na manipulação de vontades.
Tomás de Aquino
esclarece que a liberdade da consciência não se exerce necessariamente na
elaboração da lei, mas na sua ponderação e aplicação a situações concretas.
Nesse momento, ou seja, no momento de sua ponderação íntima, se a consciência,
com boa disposição, não consegue admitir o teor da lei e submeter-se a ele,
fica desobrigada de obedecer-lhe. A primeira obrigação da consciência consiste
em manter-se fiel a si mesma, pois, segundo Tomás de Aquino, ela segue a luz da
sua razão para gerar o agir, se ela perde essa luz, não pode mover-se. Portanto,
diz-nos que se, em algum momento, a pessoa não se sentisse confortável com
algum ritual do Opus Dei poderia não segui-lo, como por exemplo a conversa
fraterna, a aceitação das indicações do Índex (onde são classificados de 0-6 os
livros, mostrando se a sua leitura é permitida ou proibida) ou a prática da
mortificação corporal (com o cilício e as disciplinas), porém, na realidade
isso não é possível, logo podemos afirmar que a instituição põe em causa a
liberdade de consciência dos seus membros - Liberdade
"de consciência", não! Quantos males trouxe aos povos e às pessoas
este erro lamentável, que permite actuar contra os próprios imperativos da
consciência! Liberdade "das consciências", sim, pois significa o
dever de seguir esse imperativo interior... Ah!, mas depois de se ter recebido
uma formação séria! (Sulco, 389). (retirado do site opus dei)
O surgimento de
doenças mentais tem sido algo frequente em numerários do Opus Dei. Erich Fromm,
um filósofo humanista alemão, diz que fatores sociológicos podem ser causadores
de neuroses, entendendo que a condição humana impõe, além da satisfação das
necessidades fisiológicas, a satisfação das seguintes necessidades:
relacionar-se com o seu semelhante; separar-se dos laços de sangue e do solo;
superar a condição de criatura passiva e ter capacidade de criar; ter um
sentido de identidade independente de uma tribo, classe ou família. A falta de
satisfação destas necessidades, que nos dias de hoje, podem até ser
consideradas liberdades essenciais para a maioria de nós, determinará o
surgimento de neuroses e psicoses. Fromm refere a necessidade de nos
relacionarmos com os nossos semelhantes, ora, os numerários, entre si, estão
proibidos de se relacionarem a um nível humanamente mais profundo, pois, no
Opus Dei, estão proibidas as “amizades particulares” e as relações que têm com
os seus superiores são de dominação. Mesmo entre numerários e não-numerários as
relações permitidas são aquelas que trarão vantagens ao grupo, sem qualquer
espontaneidade. Fromm fala, também, do “ser capaz de criar” e de superar a
condição de criatura passiva, talvez com exceção de um arquiteto que projetou
centros do Opus Dei, é difícil criar algo na condição de numerário, a não ser
que isso seja a forma específica de proselitismo do numerário - “no caso com que eu contactei, penso que se ele servia da
escrita como meio de proselitismo.” - “Nunca te esqueças que és
apenas um executor”, diz o ponto 619 do livro Caminho. Fala, ainda,
da necessidade de ter um sentido de identidade independente e, neste caso, a
doutrinação dos numerários tenta destruir qualquer sentido de identidade para
além do grupo. Tendo tudo isto em conta, concluímos que o surgimento de doenças
mentais entre os numerários pode ser explicado pela ideia de que o sofrimento
(isolamento, frustração de diversos desejos, etc.) a que são expostos é
superior à sua capacidade de suportá-lo e também devido à falta das
necessidades e, mais do que isso, das liberdades humanas referidas
anteriormente.
Recorrendo, novamente
à Filosofia de Erich Fromm, pensemos agora que nesta busca pelo sentido de
identidade será necessário superar o vínculo com a família (a mãe), pelo que o
indivíduo se depara com uma situação de isolamento e desamparo psicológico e,
muitas vezes a solução está na procura de apoio num grupo estruturado -
sensação de “belonging”. Para Fromm, o indivíduo abdica da sua liberdade, numa
tentativa de superar o seu estado de impotência e solidão, passando a integrar
o tal grupo. No caso Opus Dei, esta situação é extremamente recorrente, pois a
maioria dos membros pedem a sua admissão entre os 14 e os 25 anos, idades de
instabilidade emocional e desejo de independência. Abdicam assim da sua
liberdade, fazem votos de obediência - “Eles são
marionetas”; “Eles são comandados, são peões” – são convencidos de que o
espírito da obra é a sua vocação- “Dizem-te: tu
nasceste para isto, a Obra precisa de ti”. O grupo oferece o tal apoio emocional e para
fazer parte dele é exigido uma aceitação da conduta definida por este, o que,
na realidade resulta no abrir mão, em maior ou menor grau, da liberdade
individual – “Com delicadeza, atacam nas fraquezas
humanas, são pessoas com paciência para nos ouvir”.
Conclusão
Ser livre é um enorme
desafio, que tem um preço que nem sempre estamos dispostos a pagar. É
necessário fazer escolhas e assumir a responsabilidade das consequências que
advêm delas. Para algumas pessoas livrar-se deste “peso” é mais confortável, um
grupo estruturado como o Opus Dei disponibiliza uma forma de viver o mundo já
pronta e precisa, pelo que poupa às pessoas a necessidade de observá-lo com um
olhar crítico e de tomar decisões.
Escolher seguir “este guia do mundo” que o Opus
Dei oferece não é, nada mais, nada menos, do que escolher não ter escolha!
Citações bibliográficas
Entrevista
a alguém que vivenciou de perto o que é a vida no mundo Opus Dei (citações a
vermelho são retiradas do testemunho que obtive).
O dia-a-dia
nas sociedades secretas: como se vive na Maçonaria e na Opus Dei – Observador
“Grito o meu
amor à liberdade pessoal” - Opus Dei
Proselitismo?
Liberdade e proposta vocacional - Opus Dei
Chamados a ser santos - Opus Dei
O Opus Dei e a
mortificação corporal - Opus Dei
Microsoft Word
- capa doutorado final.doc (mackenzie.br)
Microsoft Word
- Submissao.doc (usp.br)
Glossário
Numerário: aqueles fiéis que, em celibato
apostólico, têm uma máxima disponibilidade pessoal para os trabalhos
apostólicos peculiares da Prelazia; podem residir na sede dos Centros da
Prelazia, para se ocuparem desses trabalhos apostólicos e da formação dos
outros membros do Opus Dei.
Caminho:
livro mais popular de São Josemaria, consta de
999 pontos para a meditação espiritual pessoal.
Cilício: Trata-se
duma pequena cadeia de metal leve, com pontas, que se usa à volta da coxa
Disciplina: pequeno chicote de cordas com nós
cegos nas pontas
Proselitismo: atividade ou esforço de fazer prosélitos; catequese,
apostolado
Prelazia: estrutura institucional da Igreja Católica Romana que
compreende um prelado, clérigos e leigos que se dedicam a atividades pastorais
específicas
Ensaio
Filosófico 2021/2022
Tema:
Corporeidade
Problema:
Será o corpo uma clausura à existência?
Introdução
Um dos principais temas do
pensamento contemporâneo é o da corporeidade. Pensar o Homem implica prestar
atenção à realidade do seu ser como ser corporal, inserido no mundo. O tema da
corporeidade, contudo, não é uma novidade na filosofia, pensando, nomeadamente
em Platão. Atualmente, assistimos a uma verdadeira metamorfose relativamente à
conceção do corpo, tanto no domínio filosófico, como no científico (nas
ciências exatas, assim como nas ciências humanas).
Nas últimas décadas, têm
sido conduzidos novos interesses para o tema do corpo, a que se associa a mente
e a alma; o que nos leva a pensar se o Homem será mais do que o seu corpo, a
punição do mesmo, em que consiste a alma, a imortalidade da mesma, culminando
no essencial deste trabalho que será a seguinte reflexão: Será o corpo uma
clausura à nossa existência?
Abordaremos, assim, várias
perspetivas filosóficas, nomeadamente de Platão e Michel Foucault, remetendo às
obras Fédon e Vigiar e Punir, respetivamente.
Desenvolvimento
Platão é um dos pensadores
mais importantes para a filosofia, com teoria e os respetivos argumentos que
transcorreram séculos e influenciaram inúmeras correntes de pensamento. A sua
conceção dualista da realidade e do Homem foi fonte para diversas pesquisas,
gerando, ainda, discussões nos debates filosóficos. A partir de Homero existiu
uma conceção diferenciada de alma em relação ao corpo, e passando pelas religiões
gregas até à filosofia iniciada por Tales de Mileto, sendo este tema
fundamental para as primeiras teorias do pensar humano.
Contudo, o grande auge do
desenvolvimento conceitual da alma foi trazido por Sócrates e sistematicamente
desenvolvido por Platão. Para isto, Platão usa de alguns mitos que visam
explicar que as almas conhecem fora do corpo ao contemplar os modelos
perfeitos, as Ideias. Este formula a tese central da sua teoria de que conhecer
é, para a alma, uma reminiscência das Ideias, ( as ideias de Platão foram
entendidas pelo mesmo como reais; assim como Deus é entendido como uma espécie
de ideia real, Platão concebeu todas as ideias como reais, com a diferença que
elas são muitas, ainda que tendo uma hierarquia) e intencionais já conhecidas
antes de encarnar o corpo. É, deste modo, percetível, que o Homem é muito para
além do seu corpo, sendo constituído primordialmente pela alma. A alma existe
em si e por si - esta é a crença do filosofo. A morte afligi-lo-ia se não
acreditasse que a alma sobrevive ao corpo. Depois da morte, a alma continua a
existir separada do corpo, contemplando, então, eternamente.
Platão apresenta, então,
dois importantes argumentos, visando defender a imortalidade da alma, a Teoria
dos Contrários e A Reminiscência. Segundo o filosofo, a lei geral do universo
mostra que todo o contrário surge no seu contrário, por exemplo, o feio nasce
do belo, o grande do pequeno, e vice-versa. Assim, também morte advém da vida e
esta da morte, caso contrário , segundo a lei geral da natureza, o universo
imobilizar-se[1]ia
e as manifestações vitais terminariam.
Neste sentido, os mortos
advêm dos vivos, e estes dos mortos, e que as almas destes subsistem e existem
algures donde regressam à vida, tornando a alma o princípio da vida. Contudo,
alguns filósofos acreditam que a alma, depois de se separar do corpo é
destruída e perece com ele. A estrutura do segundo argumento consiste em
admitir que a alma contemplou as essências noutra vida ideal e que, depois da
sua ligação ao corpo, é necessário recordar o que se encontra num estado
latente. Existe a possibilidade de as almas encarnarem, de forma que se esquece
o que foi contemplado no mundo ideal, o que torna o conhecimento humano uma
busca interior pelo saber, uma tentativa de lembrar o que já fora contemplado.
“A nossa instrução não é mais do que a reminiscência – segundo esse princípio,
é também indispensável que nós, num tempo anterior, tenhamos aprendido algures
aquilo de que nos recordamos no presente.
Ora isto seria impossível se
a nossa alma não existisse, nalgum lugar, antes de resistir esta forma humana.
Portanto, parece concluir-se também daqui que a alma é imortal”. Ainda assim,
considero que não existam possíveis argumentos racionais que possam comprovar
que a alma é imortal. A imortalidade da alma trata-se de uma crença, tal como a
crença em Deus, que em parte, é influenciada e incutida pela religião. Apenas
pela fé se pode justificar que a mesma é imortal.
Com isto, é percetível que
há uma clara distinção entre corpo e alma, sendo a alma a essência da vida,
como já abordado. Assim, a nossa existência centra-se na nossa alma, na sua
capacidade de apreensão e desenvolvimento, sendo ela, ou não imortal. Platão
formula a necessidade de o Homem exercer um cuidado sobre a alma.
O corpo é um túmulo para a
alma, que prende aquela que não foi capaz de continuar na contemplação das
Ideias. O apego às coisas corpóreas faz com que o Homem se distancie da verdade
(que é a realidade ideal, segundo Platão) e sofra, tanto na vida carnal, quanto
na vida espiritual.
Partindo de uma hierarquia,
a alma é mais valorosa do que o corpo. Há, em todo o ser racional, um princípio
superior à estrutura corporal e, consequentemente, capaz de lhe sobreviver. A
alma é a essência da vida e garante a nossa existência. Se a alma está
aprisionada no nosso corpo.
Então a nossa existência
está aprisionada no corpo. Tendo em mente o Deus teísta, sumamente prefeito,
omnisciente, omnipotente e omnipresente, e a sua eternidade, podemos fazer um
paralelismo com o Homem. Deus não tem a sua representação corpórea, o que
possibilita a sua imortalidade e eternidade, através da liberdade da sua alma.
Considera-se, assim, que a o corpo é uma clausura à nossa existência, sendo o
corpo considerado um túmulo para a mesma.
A punição do corpo
refletir-se-á numa punição da alma?
Tendo por base a obra “Vigiar
e Punir” de Michel Foucault, existem duas formas de punição, tendo como base os
condenados ou prisioneiros., uma relativa ao final do século XVIII, e outra
relativa ao início do século XIX. A primeira é o martírio público, nomeadamente
banho de óleo a ferver, considerado punição física ao condenado e exemplo para
os demais. A primeira grande mudança no campo penal é o desaparecimento dos
suplícios físicos, do corpo marcado, do espetáculo cênico em praça pública. “No
final do século XVIII e começo do XIX, a despeito de algumas grandes fogueiras,
a melancólica festa de punição vai-se extinguindo”.
Tanto no ponto de vista da
sua natureza pedagógica, como no ponto de vista de quem a impõe, a punição
tornar-se-á “limpa”, pura, atuando na alma e mente dos criminosos, e dos
juízes. “É indecoroso ser passível de punição, mas pouco glorioso punir. (…) O
essencial é procurar corrigir, reeducar; uma técnica de aperfeiçoamento
recalca, na pena, a estrita expiação do mal, e liberta os magistrados do vil
ofício de castigadores”.
Houve então um deslocamento
do objeto da ação punitiva, esta que vai lentamente passando a ser exercida não
mais sobre o corpo, mas sobre a alma. Estando o corpo intrinsecamente associado
à alma, e a punição do Homem interligada ao suplício do seu corpo; então essa
mesma reflete-se num abalo da alma, ainda que tentando instruir o ser racional.
Neste campo, não é possível
uma dissociação entre a punição do corpo e da alma. Assim, uma punição do
corpo, refletir-se-á numa punição da alma.
Conclusão
Com isto, a alma é o que
nossa garantia de vida, sendo a sua essência. Se a alma está aprisionada no
nosso corpo, então a nossa existência está aprisionada no nosso corpo.
Constituindo o corpo como um túmulo e uma clausura à nossa existência. Se não
fosse o mesmo, a nossa existência seria eterna, justificada pela imortalidade
da alma, tendo como exemplo Deus. Do mesmo modo, a alma e o corpo interligam-se
sendo o segundo intrínseco à primeira, o que implica que uma punição ou tortura
do mesmo refletir-se-á num abalo ou enfraquecimento da alma.
Bibliografia
https://www.revistamirabilia.com/sites/default/files/pdfs/2010_02_02.pdf
https://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/16973/1/V02401-095-117.pdf
http://www.joaquimdecarvalho.org/artigos/artigo/80-Introducao-ao-Fedon-de-Platao
https://www.webartigos.com/artigos/analise-do-fedon/5630
Ana – 11º Ano
Ensaio C
Ensaio
Filosófico 2021/2022
Tema:
Viver numa Sociedade do Cansaço
Problema:
O que é que criou a Sociedade do Cansaço?
Introdução
Hoje em dia deparamo-nos com
diversos problemas na sociedade. O mundo vai evoluindo, os costumes vão mudando
e as mentalidades que constituem a sociedade? Essas também mudam, mas nem
sempre evoluem, ou melhor, não evoluem para melhor, se calhar prendem-se a algo
que as mantém longe do que poderiam ser, mas não são. Em que sociedade vivemos
agora?
Às vezes perguntamo-nos
isso, ou porque não nos sentimos enquadrados, ou porque estamos perdidos, ou
talvez com essas mesmas perguntas estejamos a representar exatamente a
sociedade em que vivemos, que é uma sociedade esgotada psicologicamente e nós é
que a tornamos assim.
Desenvolvimento
Byung Chul Han, autor do
livro “Sociedade do Cansaço” afirma que “O cansaço aparece como uma maneira de
existir”
As pessoas andam, portanto,
cansadas, deprimidas e com cada vez mais transtornos psicológicos, algumas
pessoas sentem-se mesmo cansadas de viver, ou se pensarmos melhor, será que
elas estão a viver? Como Han afirma “Estão por demais vivos, para morrer, e por
demais mortos para viver”.
A maioria das pessoas
simplesmente existe, é como se estivessem dentro do seu próprio mundo que é tão
vazio, agitado, melancólico. Um mundo que se está a transformar num mundo de
todos, em que cada vez mais indivíduos entram nele.
E porquê? Porque é que nos
sentimos assim? De onde é que isto começou? Porque é que não mudamos?... estas
são as perguntas dais quais nos deparamos regularmente e que às vezes
perguntamos a nós próprios ou até aos outros, numa forma de tentar suavizar um
sofrimento que por vezes parece não ter motivos, mas é exatamente aí que começa
um dos problemas.
As pessoas desta sociedade
cobram-se muito por acharem que têm que estar sempre bem e prontas para dar o
melhor de si e quando isso não acontece entram em frustração e num sofrimento
por vezes contínuo, este é o principal problema em que se baseia o livro
“Sociedade do Cansaço” de Byung-Chul Han, que é o excesso de positivismo.
O excesso de positivismo é,
portanto, como defende Byung-Chul Han, um dos principais problemas nesta
sociedade e resume-se ao facto de os indivíduos acharem que têm capacidade para
tudo (fazer muitas coisas ao mesmo tempo, ter demasiado trabalho para fazer num
curto período de tempo e acharem que não é preciso descansar). Se pararmos em
qualquer rua que seja vemos pessoas a andar de um lado para o outro stressadas,
a fazer tudo com pressa e focadas nas suas próprias vidas, sem olharem para o
mundo à sua volta e a realidade é que não somos super-heróis e, por isso, toda
esta rotina nos esgota, a não ser mais pelo facto de ficarmos frustrados por
afinal não conseguirmos fazer tudo o queríamos, o que proporciona pensamentos
de invalidade, fracasso… e isto advém de algo que pensamos ser bom, que é o tal
positivismo.
Uma frase que encaixa
perfeitamente na sociedade de hoje é a seguinte: “Vivemos para trabalhar,
quando devíamos trabalhar para viver” e isto acontece porque somos muito
disciplinados a seguir a vida comum, mas a sermos o melhor que conseguirmos
nela e quando não o somos, (o que é normal), por estarmos tão disciplinados
ficamos frustrados e o facto de querermos ser os melhores não para nós, mas sim
para a sociedade piora a situação, pois proporciona a comparação.
O eu ideal entra numa busca
cujo resultado é inalcançável, o que leva a uma eterna corrida pelo impossível,
motivando o cansaço. Quando não somos o melhor que achamos que poderíamos ser
cubramo-nos por isso, quando devíamos simplesmente aceitar o facto de forma
bondosa para connosco.
Como Han afirma “O excesso
da elevação do desempenho leva a um infarto da alma”.
O facto de acharmos que não
necessitamos de descanso e sobrevalorizarmos o trabalho ao mesmo deixa a nossa
mente exausta e acabamos por não ter a produtividade que queríamos nesse mesmo
trabalho, ou seja, entra-se num ciclo que parece não ter fim. As nossas vidas
não são, ou não deviam ser dedicadas ao trabalho. Deste mesmo problema advém
também o isolamento provocado pela sociedade do desempenho, que provoca o
cansaço psicológico. Sobra pouco espaço para a socialização quando todos estão
a competir pelo mesmo espaço, por quererem ser os mais competentes no trabalho
ou até os mais saudáveis no ginásio e também os que parecem mais felizes nas
redes socias. Por termos todas estas informações e estímulos, que provêm
também, por exemplo, das redes sociais encontramos outro problema que provoca o
cansaço na sociedade.
É difícil manter um foco e
descanso quando podemos ter acesso a tudo o que se passa no mundo, ou seja,
quando sabemos que enquanto estamos a descansar, outros estão a trabalhar e
vice-versa. Quando temos tudo diante de nós e queremos estar enquadrados em
tudo, o que não é possível. Temos tanto por onde nos guiar, tanto que podemos
fazer, ouvir, ler… que entramos num desespero porque a nossa mente não é capaz
de, por vezes, focar numa e em apenas uma coisa.
Diante de todos os problemas
que provocam o cansaço desta sociedade temos também um que vivemos
regularmente, que é como diz a linguagem usual, estar em todo o lado menos no
presente. Revivemos o passado, pensamos no futuro, temos medo, um medo
provocado de toda uma pressão em nós
mesmos e por vezes imposta pela sociedade, que não nos deixa viver o hoje, o
agora e isso esgota-nos. Esgota-nos o facto de estarmos constantemente a pensar
em quem poderíamos ter sido e não fomos, em quem poderemos vir a ser, no que
podíamos ter ou não ter feito, de como vai ser a nossa vida futura… Nós não
estamos a viver, nós estamos apenas a vivenciar na nossa mente o que passou e o
que achamos ou queremos que venha.
E isto, porque somos uma
sociedade que tem medo do julgamento, uma sociedade que tem medo de ser o que
realmente é, ou seja, pensamos em todos os atos, pormenores, atitudes…, mas a
realidade é que os maiores julgadores que existem neste mundo somos nós mesmos
e exercemos esse tal julgamento não aos outros, mas normalmente, a nós próprios.
Nós não nos deixamos descansar, nós não nos deixamos ser o que queremos, não
nos deixamos viver o agora e ser felizes à maneira que achamos que devemos ser.
Se pensarmos em que indivíduos da sociedade se reflete mais este cansaço, por
incrível que pareça (ou não), somos logo direcionados aos jovens e porquê?
Faz todo o sentido, primeiro
porque nós somos os indivíduos que estamos a experienciar esta “nova” sociedade
e evolução de forma mais direta; já assistimos a várias atitudes de adultos no
que toca a diferentes assuntos desta sociedade; vivemos de internet,
informação, estímulos… e o principal motivo é que somos os adultos de amanhã.
Vivemos a pensar no que nos espera e do que será o futuro, com uma enorme
pressão para mudar o mundo. Sentimo-nos por vezes desenquadrados, tristes, sem
vontade de continuar a viver o que não somos, ou não queremos ser, mas não
consigamos mudar.
Todas estas situações nos
tornaram neste tipo de sociedade, ou seja, o facto de vivermos apenas num mundo
de evolução, de mudanças, mas de nós ficarmos travados nelas. Cada um de nós
evoluiu neste sentido para a sociedade, o que a tornou em geral assim. Vivemos
em comunidade, interagimos uns com os outros e vivemos em função dos outros,
algo que comece a estar enraizado numa grande parte da sociedade acaba por
influenciar a maioria. E a realidade é que este problema parece ser “tão”
simples quanto isso, mas no fundo não o é.
Não o é porque é difícil
mudar as mentalidades e pensamentos das pessoas, é difícil mudar algo que está
enquadrado com a evolução do mundo, com o querer ser mais, com a frustração,
com o desempenho, com questões financeiras, com o simples viver, com o simples
existir. Entrar neste mundo é um desafio e é como ter que levar um peso enorme
pelas costas, não é algo fácil de lidar e mudar. Apesar deste cansaço estar
enraizado e aparecer como forma de viver, ele pode vir a ser alterado, aos
poucos, com a mudança de comportamento, com novos hábitos e novas formas de ser
ou pensar, ou seja, a geração futura terá um papel importante no que toca à
mudança de sociedade, mas nós teremos que implementar primeiramente os hábitos.
Conclusão
Esta sociedade em que
vivemos, a Sociedade do Cansaço, uma sociedade completamente esgotada
psicologicamente, foi, portanto, criada por nós, por um excesso de positivismo,
por nos prendermos a algo que não faz parte do agora, por vivermos com um
exagero de estímulos e informação e por vivermos com medo do julgamento,
resumindo, por não estarmos a viver. Cabe a nós mudar esta Sociedade, cabe a
nós realmente VIVER com qualidade de vida, de nos consolarmos a nós mesmos e de
viver sem medo de ser o que somos.
Bibliografia
«A Sociedade do Cansaço - Livro - WOOK».
Acedido 21 de maio de 2022. https://www.wook.pt/livro/a-sociedade-do-cansaco-byung-chul-han/15951806.
Andrade, por Walmar. «Sociedade do Cansaço,
resumo do livro de Byung-Chul Han».
Walmar Andrade (blog), 11 de
outubro de 2020. https://walmarandrade.com.br/sociedade-do[1]cansaco/.
Razão Inadequada.
«Byung-Chul Han - Sociedade do Cansaço • Razão
Inadequada», 25 de junho de 2017.
https://razaoinadequada.com/2017/06/25/byung-chul-han-sociedade-do[1]cansaco/.
Corbanezi, Elton. «Sociedade
do cansaço». Tempo Social 30 (dezembro de 2018): 335–42. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2018.141124.
Faria, Marta Lince. «A
Sociedade do Cansaço». Observador. Acedido 21 de maio de 2022.
https://observador.pt/opiniao/a-sociedade-do-cansaco/.
Matilde - 11º Ano
Sem comentários:
Enviar um comentário