quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Argumentos: o que são?



 Argumentos:

O que são?


1. Qual a relação entre a Filosofia, lógica e argumentos?

Os argumentos são os tijolos com que se constroem as teorias filosóficas; a lógica é a argamassa que une todos esses tijolos. As boas ideias de pouco valem a menos que sejam sustentadas por bons argumentos – têm de ser justificadas racionalmente, e isso não pode fazer-se devidamente sem uma firme e rigorosa sustentação lógica. Os argumentos apresentados com clareza estão sujeitos à avaliação e à crítica, e é esse contínuo processo de reação, revisão e rejeição que impulsiona o progresso filosófico.

 

B. Dupré, 50 Ideias – Filosofia que precisa mesmo de saber

Dom Quixote, 2011, p. 108.

2. Qual a necessidade dos argumentos?

Os argumentos são essenciais, em primeiro lugar, porque constituem uma forma de tentarmos descobrir quais os melhores pontos de vista. Nem todos os pontos de vista são iguais. Algumas conclusões podem ser defendidas com boas razões e outras com razões menos boas. No entanto, não sabemos na maioria das vezes quais são as melhores conclusões. Precisamos, por isso, de apresentar argumentos para sustentar diferentes conclusões e, depois, avaliar tais argumentos para ver se são realmente bons. Neste sentido, um argumento é uma forma de investigação. Alguns filósofos e ativistas argumentaram, por exemplo, que criar animais só para produzir carne causa um sofrimento imenso aos animais e que, portanto, é injustificado e imoral. Será que têm razão? Não podemos decidir consultando os nossos preconceitos. Estão envolvidas muitas questões. Por exemplo; temos obrigações morais para com outras espécies ou o sofrimento humano é o único realmente mau? Podem os seres humanos viver realmente bem sem carne? Alguns vegetarianos vivem até idades muito avançadas. Será que este fato mostra que as dietas vegetarianas são mais saudáveis? Ou será irrelevante, tendo em conta que alguns não vegetarianos também vivem até idades muito avançadas? (É melhor perguntarmos se há uma percentagem mais elevada de vegetarianos que vivem até idades avançadas.) Terão as pessoas mais saudáveis tendência para se tornarem vegetarianas, ao contrário das outras? Todas estas questões têm de ser apreciadas cuidadosamente, e as respostas não são, à partida óbvias. Os argumentos também são essenciais por outra razão. Uma vez chegados a uma conclusão baseada em boas razões, os argumentos são a forma pela qual a explicamos e defendemos. Um bom argumento não se limita a repetir as conclusões. Em vez disso, oferece razões e dados suficientes para que as outras pessoas possam formar a sua própria opinião. Se o leitor ficar convencido de que devemos realmente mudar a forma como criamos e usamos os animais, por exemplo, terá de usar argumentos para explicar como chegou a essa conclusão: é assim que convencerá as outras pessoas. Ofereça as razões e os dados que o convenceram a si. Ter opiniões fortes não é um erro. O erro é não ter mais nada.

Anthony Weston, A arte de argumentar


3. Como são constituídos os argumentos?

 “As partes relevantes de um argumento são, em primeiro lugar, as suas premissas. As premissas são o ponto de partida, ou o que se aceita ou presume, no que respeita ao argumento. Um argumento pode ter uma ou várias premissas. A partir das premissas, os argumentos derivam uma conclusão. Se estamos a refletir sobre um argumento talvez por termos relutância em aceitar a sua conclusão, temos duas opções. Em primeiro lugar, podemos rejeitar uma ou mais das suas premissas. Em segundo lugar, podemos rejeitar também o modo como a conclusão é extraída das premissas. A primeira reação é que uma das premissas não é verdadeira. A segunda é que o raciocínio não é válido. É claro que o mesmo argumento pode estar sujeito a ambas as críticas: as premissas não são verdadeiras e o raciocínio aplicado é inválido. Mas as duas críticas são distintas (e as duas expressões, ‘não é verdadeira’ e ‘não é válido’ marcam bem a diferença).

No dia a dia, os argumentos também são criticados noutros aspetos. As premissas podem não ser muito sensatas. (...) Mas ‘lógico’ não é um sinónimo de ‘sensato’. A lógica interessa-se em saber se os argumentos são válidos, e não se são sensatos. E vice-versa, muitas das pessoas a que chamamos ‘ilógicas’ podem até usar argumentos válidos, mas serão patetas por outros motivos. A lógica só tem uma preocupação: saber se não há maneira de as premissas serem verdadeiras e a conclusão falsa.

Simon Blackburn (2001). Pense. Uma introdução à filosofia.

Gradiva, pp 201-202.

4. Como analisar os argumentos?

«Compreender um argumento é mais uma arte do que uma ciência, mas é uma arte que qualquer pessoa pode aprender com um pouco de prática. A melhor forma de melhorar é praticar, encontrando argumentos simples e reescrevê-los como listas numeradas de afirmações. Este processo chama-se analisar argumentos. O objetivo de analisar um argumento não é determinar o quão forte o argumento é ou se concordas com sua conclusão. O objetivo é simplesmente entender o argumento – separar o argumento nas suas diferentes partes e descobrir como essas partes se devem encaixar. […] A primeira coisa a fazer ao tentar analisar um argumento é identificar a conclusão e a(s) premissa(s). Às vezes, as pessoas usam palavras específicas que apresentam a conclusão ou premissas de seus argumentos. Os lógicos (de maneira pouco criativa) chamam a essas palavras ou frases indicadores de conclusão e indicadores de premissa, respetivamente. Expressões como “então”, “é por isso”, “isto mostra que” ou (mais formalmente) “logo”, “portanto” e “assim” geralmente vêm antes da conclusão de um argumento. […]

Embora os indicadores de conclusão e de premissa sejam frequentemente pistas úteis ao analisar um argumento, deve sempre ter cuidado quando os encontra. Eles nem sempre introduzem conclusões ou premissas. […] Quando vê um indicador de conclusão ou um indicador de premissa, terá que pensar cuidadosamente sobre se ele realmente introduz uma conclusão ou uma premissa.

Em muitos casos, não encontra indicadores de conclusão ou indicadores de premissa para o orientar. Em vez disso, precisa ler ou ouvir com atenção para descobrir o ponto principal do autor ou palestrante; essa é a conclusão do argumento. As premissas são todas as razões que o autor ou orador dá para apoiar seu ponto principal. Às vezes, precisará experimentar possibilidades diferentes, perguntando-se se faz mais sentido ler um parágrafo como um argumento para uma afirmação ou outra. Pode demorar um pouco para apanhar o jeito, mas mesmo que tenha problemas no início, melhorará com a prática.

Finalmente, repare que um argumento às vezes é apresentado juntamente com várias afirmações que não são premissas nem conclusões. Elas estão lá apenas para o ajudar a entender o significado ou a importância do argumento. Então, mesmo se souber que determinado parágrafo contém um argumento, não pense que cada frase é necessariamente uma premissa ou a conclusão desse argumento.»

David R. Morrow, Moral reasoning, 

Oxford University Press, 2018, pp. 5-6


Lola

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