terça-feira, 17 de outubro de 2023

Filosofia - 11ºAno: RESUMO





 FILOSOFIA- 11º ANO

RESUMO


TIPOS DE CONHECIMENTO

 

   - O conhecimento por contacto refere-se ao conhecimento direto de alguma realidade, seja de pessoas ou lugares. Por exemplo, conhecer pessoalmente determinado indivíduo ou ter visitado determinado lugar. 

O saber-fazer refere-se ao conhecimento prático, a uma atividade, à capacidade, aptidão ou competência para fazer alguma coisa. Por exemplo, saber pintar uma casa. 

- O saber que refere-se ao conhecimento proposicional ou conhecimento de verdades. Por exemplo, saber que Portugal é um país europeu. 


Conhecimento como crença racional justificada


No diálogo “Teeteto”, Platão pergunta pela Natureza do conhecimento. Segundo o seu ponto de vista, os sentidos não conseguematingir nem o ser, nem a verdade, nem o saber. Platão vai distinguir aquilo que entende por doxa (opinião ou crença), aletheia (verdade), logos (justificação) e episteme (conhecimento), considerando esta como uma crença verdadeira justificada. 

Assim, quem chega à crença verdadeira sobre algo, mas sem ser capaz de dar uma justificação sobre isso,não conhece; sóquem é capaz de dar uma explicação tem o saber. Dito de outro modo: todas as três condições referidas – crença, verdade e justificação – são necessárias para que haja conhecimento. 

Consideradas isoladamente, nenhuma delas é condição suficiente. 

 

Resumindo:

S sabe que p se, e apenas se, (1) S acredita que p, (2) p é verdadeira; (3) S tem uma justificação para acreditar que p. 

Por exemplo: se uma pessoa sabe que Marte é um planeta, então tem a crença verdadeira justificada de que Marte é um planeta, e, se tem essa crença verdadeira justificada, então sabe tal coisa.

 

Críticas à definição tradicional 

 

Edmund Gettier contestou a definição tradicional de conhecimento, apresentando contraexemplos que nos revelam a possibilidade de termos uma crença verdadeira justificada sem que tal crença equivalha a um efetivo conhecimento.

 

Segundo Gettier, ainda que se verifiquem as três condições (crença, verdade e justificação), o sujeito pode não possuir o conhecimento.

 

Os contraexemplos apresentados por este pensador colocam o chamado problema de Gettier. Consideremos um dos contraexemplos que ilustra esta possibilidade.

 

Imaginemos que Pedro tem boas razões para acreditar que quem vai conseguir um certo emprego não é ele, mas Tomás, e que viu há pouco que Tomás tem dez moedas no bolso. Deste modo, Pedro tem uma crença justificada na seguinte proposição: A. Tomás vai conseguir o emprego e Tomás tem dez moedas no bolso. Tomando A como premissa, Pedro deduz a seguinte conclusão: B. O homem que vai conseguir o emprego tem dez moedas no bolso. Dado que Pedro acredita justificadamente em A e infere corretamente B a partir de A, podemos dizer que tem também uma crença justificada em B. Mas imaginemos agora que Tomás acabará por não conseguir o emprego e que, na verdade, é o próprio Pedro que ficará com ele – isto significa que a proposição A é falsa. E suponhamos também que Pedro, ainda que não o saiba, também tem dez moedas no bolso. Concentremo-nos na proposição B. Pedro acredita justificadamente nesta proposição – e, afinal, B é uma proposição verdadeira. Portanto, Pedro tem uma crença verdadeira justificada em B. Mas, apesar de as três condições da análise platónica serem satisfeitas neste caso, a verdade é que Pedro não sabe que o homem que vai conseguiro emprego tem dez moedas no bolso. Afinal, aquilo que torna B verdadeira são os factos de ele (e não Tomás) vir a conseguiro emprego e de ele (e não Tomás) ter dez moedas no bolso,e Pedro ignora completamente estes factos.

É por mero acaso que Pedro acaba por ter uma crença verdadeira justificada em B. 

 

Acrescente-se um contra exemplo mais simples….

 

Imaginemos que Joana tem fortes razões para acreditar que um certo relógio público é altamente fiável. Certo dia, ela passa pelo relógio e vê que este indica que são oito horas da manhã. Joana forma então a crença de que são oito horas da manhã, e esta crença está justificada pelos dados que revelam a fiabilidade do relógio. Contudo, sem que Joana o saiba, o relógio está parado há algum tempo, mas, curiosamente, parou quando eram oito horas. Nestas circunstâncias, Joana acredita justificadamente que são oito horas da manhã e a sua crença é verdadeira, só que ela não sabe que são oito horas da manhã.

 Afinal, teve apenas a sorte de passar pelo relógio num momento em que este indicava a hora correta.

 

 EXERCICÍOS

 

1. Como se caracteriza, genericamente, o conhecimento?

Afirma-se, genericamente, que o conhecimento é uma relação entre um sujeito (aquele que conhece) e um objeto (aquele que é conhecido). O sujeito, ao apreender as características do objeto, constrói uma imagem ou representação mental do objeto, que corresponde ao conhecimento. O objeto é determinante para que haja conhecimento e o sujeito é determinado por esse conhecimento.

 2. Qual a definição tradicional de conhecimento?

Tradicionalmente, o conhecimento é definido como uma crença verdadeira justificada. A definição foi proposta por Platão há mais de dois milénios. Inicialmente, parece uma definição plausível. Vejamos. Primeiro, para saber é preciso acreditar, não há dúvida, pois, se nem sequer acreditar que tenho teste amanhã como posso saber que tenho teste? Depois, não faz sentido saber algo que é falso. Se sei que 2 X 2 são 22, então não sei, mesmo que acredite saber. Por fim, faz sentido defender que a crença verdadeira deve ser sustentada, ou justificada, para que possamos falar em conhecimento. Um simples palpite não é conhecimento. É fundamental saber explicar o que sabemos e como sabemos.

3. Que problemas levanta a definição tradicional de conhecimento?

O problema que a definição tripartida levanta, e que foi colocado por Gettier, relaciona-se com as condições que são exigidas para que o conhecimento seja definido desta forma. À primeira vista, crença, verdade e justificação parecem ser condições necessárias para definir o conhecimento. O problema reside em saber se, em conjunto, estas condições são suficientes para definir o conhecimento.

4. Como se distingue o conhecimento a priori do conhecimento a posteriori?

O conhecimento a priori é independente da experiência. Por exemplo, o triângulo é um polígono com três ângulos ou Descartes ou está vivo ou está morto são afirmações conhecidas a priori. Não precisamos de recorrer à observação ou à experiência para estabelecer a verdade destas afirmações. O conhecimento a posteriori depende da experiência. As afirmações existem elefantes em Lisboa e Descartes está morto, caso sejam verdadeiras, são verdades a posteriori, pois a sua comprovação depende da observação e da experiência.

 

René Descartes (1596-1650)

 

 

Quem foi René Descartes?


Descartes foi um filósofo, físico e matemático francês. É um dos pensadores tradicionalmente ligado ao racionalismo. Estabeleceu os fundamentos filosóficos do que hoje se denomina ciência moderna. 

Qual o seu objectivo?


No centro das suas preocupações estava:

- o combate ao ceticismo reinante na sua época e a reabilitação da razão;

- a criação de um método que conduzisse a razão à verdade;

- a construção de um sistema baseado em princípios firmes e indubitáveis.

 

Que método usou Descartes?


De modo a mostrar que os céticos estavam enganados e a construir uma base absolutamente segura para o conhecimento, Descartes institui a dúvida como método e rejeita como absolutamente falso tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, para ver se, depois disso, restava algo absolutamente indubitável.

 

Como se caracteriza a dúvida cartesiana?

 

A dúvida cartesiana é metódica (é o meio utilizado para descobrir o absolutamente certo, a ferramenta da razão que permite evitar o erro), provisória (o objetivo é encontrar certezas e reconstruir o edifício do saber), universal (nada pode escapar à dúvida) e hiperbólica (a dúvida estende-se, inclusivamente, à existência do mundo físico).

 

  DA DUVIDA AO COGITO

 

Como chega Descartes à sua primeira verdade indubitável?


Ao exercer metodicamente a dúvida, Descartes percebe que existem boas razões para duvidar das crenças estabelecidas. 

A maioria das nossas crenças não é indubitável, pois:

- as informações com origem nos sentidos não merecem confiança, pois os sentidos são enganadores.

-  a crença nas verdades racionais (como as matemáticas) pode ser falsa, pois toda a gente se pode enganar.

- todas as crenças que possuímos acerca do mundo físico podem ser falsas     (argumento dos sonhos).  

Causa repugnância, diz Descartes, imaginar que quem duvida possa não existir, pois para duvidar é preciso pensar e para pensar é preciso existir: penso, logo existo
Assim, há razões para duvidar de tudo (incluindo da existência do mundo físico), menos do sujeito pensante que tudo pôs em dúvida.

 

Qual é, para Descartes, o critério de verdade?

Para Descartes, as coisas que concebemos muito clara e distintamente são todas verdadeiras. Ou, dito de outro modo, clareza distinção são o critério de verdade.

 

 

O que caracteriza a primeira verdade inabalável?  

 

cogito (nome por que é conhecida a afirmação «Penso, logo existo») é uma evidência que se impõe ao espírito humano de forma absolutamente clara e distinta. Enquanto verdade primeira e exclusivamente a priori, oferece um ponto de partida seguro para o conhecimento.

 

Qual é a função do génio maligno no sistema cartesiano?

 

A hipótese do génio maligno é a hipótese de existir um Deus enganador, extremamente poderoso e astuto, que pusesse toda a sua indústria em enganar, fazendo-nos crer em falsidades. Esta hipótese faz Descartes chegar à conclusão de que por mais que fosse possível essa entidade existir e enganá-lo, há algo sobre o qual esse ser nunca o poderia enganar: o cogito (se penso, existo). 
Assim, a possibilidade de um génio maligno o enganar reforça a indubitabilidade do primeiro princípio, permitindo concluir a verdade da sua existência enquanto ser pensante.

 

 DO COGITO A DEUS

 

Como chega Descartes à existência de Deus?   

 

Provada a existência do cogito, o sistema cartesiano afirma a existência de um sujeito pensante e das suas ideias e nada mais. Permanecem dois problemas sem solução: primeiro, a hipótese da existência  de um génio maligno; segundo, consequência do primeiro, a hipótese de o mundo físico não existir. Para poder prosseguir, Descartes tem de resolver este impasse e ultrapassar o solipsismo. Para tal, Descartes tentar provar a existência de um Deus sumamente bom. O raciocínio que nos propõe é o seguinte:

Eu, sujeito pensante, erro e duvido. Errar e duvidar são sinais de imperfeição. Saber que sou imperfeito implica ter em mim a ideia de um ser perfeito. De onde me terá vindo a ideia de um ser mais perfeito do que eu? A causa desta ideia ou está em mim ou em algo distinto de mim. Sei que a imperfeição não pode ser causa da perfeição. Assim, a causa da ideia de um ser perfeito não posso ser eu, sujeito pensante, pois sou imperfeito; a causa da ideia de ser perfeito tem, pois, de proceder de algo absolutamente perfeito e exterior a mim – Deus.

Se Deus é perfeito, então não pode ser enganador (um ser perfeito que fosse maldoso não seria perfeito) e tem de, forçosamente, existir (um ser perfeito que não existisse não seria perfeito).

 

Qual é o papel de Deus no sistema cartesiano?

 

Como Deus é perfeito e, por essa razão, não é enganador, podemos confiar na nossa razão quando esta pensa ter descoberto ideias claras e distintas. Deus é assim a garantia de que aquilo que conhecemos clara e distintamente é verdadeiro. 

 

DE DEUS AO MUNDO

Como chega Descartes à existência do Mundo?   


Com Deus como garantia, Descartes pode deduzir outras verdades – a existência do seu corpo e do mundo físico, por exemplo – e construir, com toda segurança, o edifício do conhecimento verdadeiro.

 

Existem objeções ao racionalismo cartesiano?

 

Sim. Entre as mais comuns encontra-se uma que se designa por círculo cartesiano: as ideias claras e distintas são verdadeiras, pois Deus existe e é perfeito; Deus existe e é perfeito porque concebemos clara e distintamente a sua perfeição. Por este motivo, Descartes é, frequentemente, acusado de incorrer numa petição de princípio.

 



 

 EXERCICÍOS


1. O que é o racionalismo?

Chamamos racionalismo às teorias epistemológicas que veem no pensamento ou razão a principal fonte de conhecimento e a sua justificação. Os racionalistas desprezam o papel dos sentidos e defendem que um conhecimento para poder merecer esse nome deve satisfazer dois critérios: necessidade lógica e universalidade. O racionalismo opõe-se ao empirismo.

2. Quem foi René Descartes e qual o seu objectivo filosófico?

Descartes foi um filósofo, físico e matemático francês. É um dos pensadores tradicionalmente ligado ao racionalismo. Estabeleceu os fundamentos filosóficos do que hoje se denomina ciência moderna. 

No centro das suas preocupações estava: - o combate ao ceticismo reinante na sua época e a reabilitação da razão; - a criação de um método que conduzisse a razão à verdade; - a construção de um sistema baseado em princípios firmes e indubitáveis.

3. Que método usou Descartes? 

De modo a mostrar que os céticos estavam enganados e a construir uma base absolutamente segura para o conhecimento, Descartes institui a dúvida como método e rejeita como absolutamente falso tudo aquilo em que pudesse imaginar a menor dúvida, para ver se restava algo absolutamente indubitável.

 4. Como se caracteriza a dúvida cartesiana? 

A dúvida cartesiana é metódica (é o meio utilizado para descobrir o absolutamente certo, a ferramenta da razão que permite evitar o erro), provisória (o objetivo é encontrar certezas e reconstruir o edifício do saber), universal (nada pode escapar à dúvida) e hiperbólica (a dúvida estende-se, inclusivamente, à existência do mundo físico).

5. Como chega Descartes à sua primeira verdade indubitável?

Ao exercer metodicamente a dúvida, Descartes percebe que existem boas razões para duvidar das crenças estabelecidas. A maioria das nossas crenças não é indubitável, pois: - as informações com origem nos sentidos não merecem confiança, pois os sentidos são enganadores. - a crença nas verdades racionais (como as matemáticas) pode ser falsa, pois toda a gente se pode enganar. - todas as crenças que possuímos acerca do mundo físico podem ser falsas (argumento dos sonhos). O exercício da dúvida faz surgir uma primeira certeza indubitável: a existência do sujeito que duvida. Causa repugnância, diz Descartes, imaginar que quem duvida possa não existir, pois para duvidar é preciso pensar e para pensar é preciso existir: penso, logo existo. Assim, há razões para duvidar de tudo (incluindo da existência do mundo físico), menos do sujeito pensante que tudo pôs em dúvida.

6. Qual é, para Descartes, o critério de verdade?

Para Descartes, as coisas que concebemos muito clara e distintamente são todas verdadeiras. Ou, dito de outro modo, clareza e distinção são o critério de verdade.

7. O que caracteriza a primeira verdade inabalável?

 O cogito (nome por que é conhecida a afirmação «Penso, logo existo») é uma evidência que se impõe ao espírito humano de forma absolutamente clara e distinta. Enquanto verdade primeira e exclusivamente a priori, oferece um ponto de partida seguro para o conhecimento.

8. Qual é a função do génio maligno no sistema cartesiano?

A hipótese do génio maligno é a hipótese de existir um Deus enganador, extremamente poderoso e astuto, que pusesse toda a sua indústria em enganar, fazendo-nos crer em falsidades. Esta hipótese faz Descartes chegar à conclusão de que por mais que fosse possível essa entidade existir e enganá-lo, há algo sobre o qual esse ser nunca o poderia enganar: o cogito (se penso, existo). Assim, a possibilidade de um génio maligno o enganar reforça a indubitabilidade do primeiro princípio, permitindo concluir a verdade da sua existência enquanto ser pensante.

9. Como chega Descartes à existência de Deus?

Provada a existência do cogito, o sistema cartesiano afirma a existência de um sujeito pensante e das suas ideias e nada mais. Permanecem dois problemas sem solução: primeiro, a hipótese da existência de um génio maligno; segundo, consequência do primeiro, a hipótese de o mundo físico não existir. Para poder prosseguir, Descartes tem de resolver este impasse e ultrapassar o solipsismo. Para tal, Descartes tentar provar a existência de um Deus sumamente bom. O raciocínio que nos propõe é o seguinte: Eu, sujeito pensante, erro e duvido. Errar e duvidar são sinais de imperfeição. Saber que sou imperfeito implica ter em mim a ideia de um ser perfeito. De onde me terá vindo a ideia de um ser mais perfeito do que eu? A causa desta ideia ou está em mim ou em algo distinto de mim. Sei que a imperfeição não pode ser causa da perfeição. Assim, a causa da ideia de um ser perfeito não posso ser eu, sujeito pensante, pois sou imperfeito; a causa da ideia de ser perfeito tem, pois, de proceder de algo absolutamente perfeito e exterior a mim – Deus. Se Deus é perfeito, então não pode ser enganador (um ser perfeito que fosse maldoso não seria perfeito) e tem de, forçosamente, existir (um ser perfeito que não existisse não seria perfeito).

10. Qual é o papel de Deus no sistema cartesiano?

Como Deus é perfeito e, por essa razão, não é enganador, podemos confiar na nossa razão quando esta pensa ter descoberto ideias claras e distintas. Deus é assim a garantia de que aquilo que conhecemos clara e distintamente é verdadeiro. Com Deus como garantia, Descartes pode deduzir outras verdades – a existência do seu corpo e do mundo físico, por exemplo – e construir, com toda segurança, o edifício do conhecimento verdadeiro.

11. Existem objeções ao racionalismo cartesiano?

Sim. Entre as mais comuns encontra-se uma que se designa por círculo cartesiano: as ideias claras e distintas são verdadeiras, pois Deus existe e é perfeito; Deus existe e é perfeito porque concebemos clara e distintamente a sua perfeição. Por este motivo, Descartes é, frequentemente, acusado de incorrer numa petição de princípio. 16. Quais são as principais teses empiristas?

Todo o conhecimento deriva da experiência. A mente é, à partida, uma tábua rasa. Não existem ideias inatas.

 

 

David Hume (1711-1776)

 

1. Qual a origem do Conhecimento?

 

· O entendimento humano é limitado para conhecer;

·         Não há fundamento metafísico para o conhecimento;

·         O conhecimento tem origem na experiência - valoriza o que é conhecido;

·         Crenças e ideias vêm da experiência, até as ideias mais complexas.

 

2. O que se capta pela experiência?

 

· Da realidade o Homem tem percepções - as mais importantes são as impressões;

·         Impressões são: Sensações, emoções, amor, ódio, revolta, paixão e desejo;

·         As impressões representam-se em ideias ou pensamentos;

·         As ideias derivam das impressões;

·         Não há ideias sem impressões prévias;

·         Exemplo: A cor do carro é uma impressão sensorial;

·         A memória da cor do carro é uma ideia (que deriva da impressão);

 Hume afirma a sua tese empirista fundamental: todo o conhecimento acerca do mundo tem origem na experiência e é limitado àquilo de que temos experiência.

 

3. O que temos na mente?

 

·         Temos impressões e ideias;

·         As impressões distinguem-se das ideias pelo grau de força e vivacidade com que as aprendemos;

·         As impressões são mais fortes e violentas do que as ideias;

·         Por impressões, David Hume entende as sensações, emoções, paixões, como quando vemos, ouvimos, desejamos, queremos, amamos ou odiamos; 

·         Para encontrar a diferença entre impressões e ideias basta comparar a impressão visual que temos, por exemplo, da nossa escola com a ideia que formamos dela quando não está presente aos nossos sentidos;

·         A ideia da nossa escola é mais fraca e menos viva do que a impressão;

·         Passa-se o mesmo com todas as impressões e ideias;

·         Para distinguir duas percepções basta comparar os respectivos graus de força e vivacidade para sabermos qual é a impressão e qual é a ideia. 

·         As percepções são mais fortes e mais vivas do que as ideias.




Primeiro uma impressão atinge os nossos sentidos e faz-nos perceber calor ou frio, sede ou fome, prazer ou dor de qualquer espécie. Desta impressão a mente tira uma cópia, a qual permanece depois de desaparecer a impressão: é o que denominamos ideia. Esta ideia de prazer ou de dor, quando regressa à alma, produz novas impressões de desejo e aversão, de esperança e medo, que podem propriamente chamar-se impressões de reflexão, porque derivam dela.

 ( Tratado da Natureza Humana)

 

4. Quais os elementos do conhecimento?




·     Para David Hume, há dois elementos no conhecimento: impressões e ideias;

·    Todo o conhecimento deriva da experiência e não de um fundamento metafísico como defendia Descartes.

     Hume pensa que  as ideias são causadas por impressões que copiam e 

     que representam exatamente.

  As ideias simples são cópias e representam exatamente as impressões correspondentes. 

   Esta ideia é tão importante, que Hume faz dela o primeiro princípio da sua filosofia e é costume chamar-lhe Princípio da Cópia.

 

 

Todas as nossas ideias simples no seu primeiro aparecimento derivam de impressões simples que lhes correspondem e que elas representam exatamente. (Tratado da Natureza Humana)

 

5. Como se distingue uma ideia de uma ficção?




·         Pela existência ou não de uma impressão;

·         Não há ideias abstratas mas sim particulares com as quais relacionamos outras semelhantes através do hábito.




   "Podemos dizer que a ideia que temos de centauro é uma representação exata de um centauro? Não, porque nunca ninguém teve uma impressão de centauro. Podemos afirmar que a nossa ideia de Lisboa é uma representação exata da capital de Portugal? Também não, porque muitos detalhes que percepcionámos não foram incluídos na ideia que temos de Lisboa. Não é verdade, portanto, que todas as ideias tenham origem em impressões que representam exatamente. Há ideias que não derivam de qualquer impressão correspondente (o caso da ideia de centauro); e outras que, embora tenham origem em impressões, não constituem uma representação exata dessas impressões (como é o caso da ideia de Lisboa). No entanto, isto acontece, pensa Hume, apenas com as ideias complexas. As ideias simples são cópias e representam exatamente as impressões correspondentes. 

   Hume pensa que, embora a mente, graças à imaginação, seja capaz de associar ideias e pensamentos muito distintos, como quando pensamos numa montanha de ouro ou num cavalo virtuoso, e assim produzir ideias que não têm correspondência na realidade. " (In critica)

 

6. Que tipos ou modos de conhecimento defende David Hume?

 

·    Hume defende dois tipos de conhecimento:

· Relação de Ideias: está presente na ciência como a geometria, álgebra e matemática; Todos os conhecimentos da lógica e da matemática apresentam-se como evidentes, analíticos, necessários e baseiam-se no principio da não contradição. - VERDADE NECESSÀRIA

 

·    Questões de facto: não são objecto da razão humana; Não têm a mesma natureza da Relação de Ideias; Não se baseiam no principio da não contradição; Justificam-se pela experiência sensível e são proposições contingentes pois é sempre possível afirmar o princípio contrário de um facto - VERDADE CONTINGENTE.




Qual é a natureza daquela evidência que nos assegura de qualquer existência real e questão de facto, além do testemunho presente dos nossos sentidos ou dos registos da nossa memória.

(Investigação sobre o Entendimento Humano, p. 42.)

 

Todos os raciocínios relativos a questões de facto parecem assentar na relação de causa e efeito. Somente por meio dessa relação podemos ir além da evidência da nossa memória e dos nossos sentidos. Se perguntássemos a alguém por que acredita em alguma questão de facto que esteja ausente — por exemplo, que um amigo se encontra no campo, ou em França, ele apresentar-nos-ia alguma razão, e essa razão seria algum outro facto, como uma carta recebida desse amigo, ou o conhecimento das suas decisões e promessas anteriores. Alguém que ache um relógio ou qualquer outra máquina numa ilha deserta concluirá que alguma vez estiveram homens nessa ilha. Todos os nossos raciocínios relativos a questões de facto são da mesma natureza. E aqui supõe-se sempre que há uma conexão entre o facto presente e aquele que dele é inferido. 

David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano.

 

 

 

Tipos de conhecimento

Relações de Ideias

Questões de facto

 

São conhecimentos a priori.

São verdades a priori, isto é, independentes da experiência, conhecidas por intuição e por demonstração

A verdade das proposições e a validade dos argumentos não dependem da experiência




RACIOCINIO DEDUTIVO

 

São conhecimentos a posteriori

A verdade das proposições que se referem a factos depende do exame empírico










RACIOCÍNIO INDUTIVO

 

As relações de ideias são verdades necessárias

É logicamente impossível a sua negação

 

A verdade das proposições de facto é contingente - verdades contingentes

 

As proposições que exprimem e combinam relações de ideias não nos dão conhecimento sobre o que se passa no mundo – circunscrevem-se ao domínio das entidades abstratas

 

As proposições que se referem a factos visam descobrir coisas sobre o mundo e dar conhecimento sobre o que nele existe ou acontece

Exemplos

 

 

O quadrado da hipotenusa é igual à soma dos quadrados dos dois lados

 

Três vezes cinco é igual à metade de trinta

 

 

Exemplos

 

 

Que o Sol não se há-de levantar amanhã não é uma proposição menos inteligível e não implica maior contradição do que a afirmação de que ele se levantará.

 

 

7. Distinga verdades necessárias e verdades contingentes

 

·         A negação de uma afirmação acerca de questões de facto não implica contradição alguma;

·         A negação de uma afirmação acerca de relações de ideias implica contradição.

 

       Exemplifique verdade contingente e verdade necessária.

 

      VERDADE CONTINGENTE: 

      - Fernando Pessoa nasceu em Lisboa (poderia ter nascido no Porto)

      -  Um pedaço de metal dilatou ao ser aquecido

 

       VERDADE NECESSÀRIA: 

      - Nenhum solteiro é casado.

     - O triângulo tem três lados (é impossível que um triângulo tenha outro número de lados)

 

 

8. Distinga Conhecimento apriori e Conhecimento a posteriori


·  As verdades contingentes só podem ser conhecidas recorrendo à experiência - são conhecidas a posteriori;

·   As verdades necessárias não dependem de como é o mundo pois mesmo que o mundo fosse diferente em muitos aspectos, continuariam a ser verdades. Nem sequer precisamos de olhar para o mundo para as descobrirmos: são conhecidas a priori.

·    As verdades matemáticas são relações de ideias e não questões de facto pois podem ser demonstradas apenas pelo raciocínio dedutivo, o qual se limita a tirar conclusões a partir de ideias que já temos.

·  O raciocínio usado nas questões de facto é diferente pois trata-se do raciocínio indutivo: observo pegadas na areia e infiro que passou por lá algum ser.

·         Assim, o conhecimento a priori, apesar de absolutamente certo, não é acerca do mundo pois nem precisamos de olhar para ele.

·         Segundo Hume, há conhecimento a priori mas este nada nos diz acerca de como são as coisas do mundo, nem o que existe fora do pensamento - algo que só poderemos saber a posteriori.

·         Todo o conhecimento acerca do mundo (conhecimento substancial) tem nos sentidos a sua justificação.

 

 

9. O que distingue as impressões e as ideias simples e complexas?


·         David Hume divide as impressões e as ideias em simples e complexas.

·         As impressões e as ideias simples são indivisíveis, isto é, não podem ser decompostas em mais simples e são, por isso, as unidades cognitivas mais básicas com que a mente trabalha.

·         As ideias e as impressões complexas, pelo contrário, podem ser decompostas em ideias simples e impressões.

·         Por exemplo: a impressão e a ideia de Serra da Freita nevada são complexas, uma vez que podem ser decompostas num conjunto de impressões e ideias simples.

·         A impressão e a ideia de vermelho são simples porque não podem ser decompostas em outras ideias mais simples.




10. Como se associam as ideias?


·   David Hume defende que existem princípios que regulam a forma como as nossas ideias se associam entre si. Estes principios  regulam a forma como as nossas ideias se unem entre si

Estes princípios são 3:

·         Semelhança- Exemplo: uma pintura e o original (Uma foto leva-nos a pensar no original);

·         Contiguidade no espaço e no tempo - Exemplo: uma mesa de sala de aula lembra-nos outras da mesma sala ; (tal como um apartament leva-nos a pensar nos demais apartamentos de um prédio);

·         Relação de causa-efeito - Exemplo: uma queda/um ferimento origina dor.




 

11. David Hume e o princípio da causalidade


Se quisermos nos satisfazer a respeito da natureza dessa evidência que nos assegura das questões de facto, precisaremos de investigar como chegamos ao conhecimento das causas e efeitos. 

Investigação sobre o Entendimento Humano.




 "Se afirmamos ter a ideia de ligação necessária devemos encontrar alguma impressão que esteja na origem desta ideia"




 David Hume, Ensaio sobre o Entendimento Humano;




·  Para Hume, como para outros filósofos, a ideia de causalidade não é uma conexão necessária, nem um principio objectivo das coisas, mas sim subjectivo pois é fruto do hábito ou costume de associarmos continuamente certos factos a outros e de acreditarmos que o futuro será semelhante ao passado, ou seja, há uma crença na regularidade da natureza;

·   Afirmar “Esta barra de metal dilatou por causa do calor” significa que os nossos sentidos nos mostram que a barra de metal dilatou, mas não que dilatou por causa do calor. Através dos sentidos vemos a barra de metal dilatada e descobrimos que está quente – mas os sentidos não nos mostram que uma coisa aconteceu (dilatação) por causa de outra (calor).

·  A conexão que estabelecemos entre dois acontecimentos é de natureza subjectiva - trata-se de uma projecção do ser humano sobre a natureza. A ideia de causa efeito  não é uma conexão necessária entre acontecimentos e resulta da observação da sua frequente conjunção.

·  A explicação da causalidade não pode ser encontrada na razão, nem nas próprias coisas, mas sim na experiência humana. Não se trata de uma conexão necessária, mas apenas de uma conjunção constante entre eles.

·  As relações causais estabelecem relações de necessidade entre a causa e o efeito  de tal modo que quando a causa ocorre o efeito tem de seguir-se. Por exemplo: O apito do árbitro e o fim do jogo.

·   Prevemos que isto vai acontecer em situações futuras;

·  O princípio da causalidade é o fundamento de toda a investigação científica;

·   É o hábito que fundamenta a causalidade - pois leva a nossa mente a projetar no mundo a ideia de conexão necessária entre acontecimentos.

·  Há uma conexão necessária entre dois acontecimentos quando um não pode ocorrer sem o outro.

 

12. Como podemos conhecer as conexões necessárias entre diferentes acontecimentos?

 

 " Atrever-me-ei a afirmar, a título de proposta geral que não admite excepções, que o conhecimento dessa relação em nenhum caso é alcançado por meio de raciocínios a priori mas deriva inteiramente da experiência, ou seja a posteriori, ao descobrirmos que certos objectos particulares se acham, constantemente, conjugados entre si". 

                                               David Hume - Ensaio sobre o entendimento Humano;




·   Há dois tipos de conhecimento: apriori - aquele que deriva da razão e a posteriori - aquele que deriva da experiência.

·  Não podemos dizer que tenhamos conhecimento a priori de causa de um acontecimento ou de um facto;

·   Embora Hume tivesse consciência da importância que o Princípio da Causalidade teve na história da humanidade, o filósofo vai submetê-lo a uma crítica rigorosa;

·    Segundo Hume, o nosso conhecimento dos factos restringe-se às impressões actuais e às recordações de impressões passadas;

·    Se não dispomos de impressões relativas ao que acontecerá no futuro, também não possuímos o conhecimento de factos futuros;

·    Não podemos dizer o que acontece no futuro porque um facto futuro ainda não aconteceu;

·   Exemplo: Esperamos que um papel, em contacto com o fogo, se queime. Esta certeza que julgamos ter  (que o papel se queime) tem por base a noção de causa, ou seja, atribuímos ao fogo a causa do papel se queimar.

 

13. Poderemos conhecer a ideia de causalidade?


Adão, ainda que supuséssemos que as suas faculdades racionais fossem inteiramente perfeitas desde o início, seria incapaz de inferir da fluidez e transparência da água que ela o sufocaria, nem da luminosidade e calor do fogo que este o poderia consumir. Nenhum objeto jamais revela, pelas qualidades que aparecem aos sentidos, nem as causas que o produziram nem os efeitos que dele provirão; e tampouco a nossa razão é capaz, sem a ajuda da experiência, de fazer qualquer inferência a respeito de questões de facto e existência real.

 David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano.

 

·   Segundo Hume, não dispomos de qualquer impressão da ideia de causalidade entre os fenómenos;

·    Só a partir da experiência é que se poderá conhecer a relação causa-efeito;

·    As causas e efeitos não podem ser conhecidos pela razão;

·    É um conhecimento a posteriori e não à priori;

·    Para o filósofo escocês não se pode ultrapassar o que a experiência permite;

·   A experiência é, pois, a única fonte de validade do conhecimento dos factos.

·   Só podemos ter conhecimento a posteriori;

·   A única coisa que sabemos é que entre dois fenómenos se verificou, no passado, uma conjunção constante, ou seja, que a seguir a um determinado facto (A) ocorreu sempre outro facto (B);

·    Exemplo: sempre que a bola de bilhar colide com outra, vemos que a segunda se põe em movimento – temos tendência para concluir que o movimento da primeira bola causou o movimento da segunda, ou seja, concluímos que há uma relação de causalidade entre o primeiro acontecimento e o segundo, com base na conjunção constante entre um e outro;

·  O que nos garante que a conjunção constante observada no passado entre certos acontecimentos se venha a verificar, também, no futuro (por exemplo: que o metal dilate sempre que houver calor), tradicionalmente (antes de Hume) defendia-se que há uma conexão necessária entre causa e efeito, mas uma conexão necessária é algo mais que uma mera conjunção constante.

·    Uma conexão necessária entre dois acontecimentos existe quando um não pode ocorrer sem o outro;

· Acerca do conhecimento de factos futuros possuímos uma crença, uma probabilidade baseada no hábito ou costume.

 

Mesmo depois de termos experiência das operações de causa e efeito, as conclusões que tiramos dessa experiência não estão fundadas no raciocínio ou em qualquer processo do entendimento. 

David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano.

 

Mesmo que os nossos raciocínios acerca de acontecimentos futuros tenham por ponto de partida premissas empíricas nunca é possível justificar racionalmente as conclusões a que chegamos por seu intermédio. 

 

Descartes, acreditavam que as relações causais eram conhecidas usando exclusivamente a razão. A análise de Hume revela que não é pela razão mas pela experiência que conhecemos as relações causais entre acontecimentos.

 

14. Qual o papel do hábito para David Hume?

·  O hábito leva-nos a inferir uma relação de causa-efeito entre dois fenómenos;

·  Se no passado ocorreu sempre um determinado facto a seguir a outro, então nós esperamos que no presente e no futuro também ocorra assim.

·  O hábito ou costume permite-nos, a partir de experiências passadas e presentes, dirigirmo-nos ao futuro.

·  O nosso conhecimento de factos futuros não é um conhecimento rigoroso, é apenas uma convicção que se baseia num princípio psicológico/subjectivo: o hábito ocostume.

· O hábito é um guia importante para o nosso dia a dia.

· Como ainda não vivemos o futuro, o hábito permite-nos esperar o que poderá acontecer e leva-nos a ter prudência, cuidado ou boas expectativas.

· Como seres humanos, temos vontade, criando a ideia de que o futuro seja previsível e, portanto, controlável.

 

15. O que é o princípio da regularidade da natureza?

· Segundo Hume, a mente associa um fenómeno a outro através do hábito.

· O que nos leva a pensar que o futuro se pareça ao passado é o Princípio da Regularidade da Natureza.

· O que é?

· Não é uma lei objectiva que esteja na própria natureza mas, tal como a causalidade, é algo que o ser humano projecta na natureza com base numa regularidade que é sentida por ele.

· Um exemplo: Se até hoje a água ferveu a 100ºC, é natural que no futuro tal venha a acontecer.

· Toda a inferência causal assenta na crença de que a natureza se comporta de modo uniforme pois a não existir esta crença a vida seria um caos.

· A correspondência ou harmonia entre a mente e o mundo deriva do hábito ou costume que é necessário à vida humana.

· A experiência é mais confiável que o raciocínio dedutivo.

· David Hume recusa a dedução, valorizando a indução como único processo para conhecer os fenómenos cujo ponto de partida são as impressões.

· Este conhecimento – a indução -  não é absolutamente certo mas apenas provável - pois é uma generalização de casos particulares.

 

16.David Hume e o problema da Indução.

Mas, afinal, o que é o problema da Indução?

Quando se pergunta Qual é a natureza de todos os nossos raciocínios acerca de questões de facto? a resposta adequada parece ser que eles assentam na relação de causa e efeito. Quando em seguida se pergunta Qual é o fundamento de todos os nossos raciocínios e conclusões acerca dessa relação? pode-se dar a resposta numa palavra: experiência. Mas se ainda continuarmos com o nosso espírito inquiridor e perguntarmos Qual é o fundamento de todos os nossos raciocínios a partir da experiência? Isto implica uma nova questão, que pode ser de ainda mais difícil solução e esclarecimento.

 David Hume. Investigação sobre o Entendimento Humano.

 

A indução consiste numa inferência que decorre da observação de um ou vários casos e das respectivas generalizações e previsões.

Apesar da base da indução ser a causalidade, esta baseia-se numa mera repetição de eventos o que não significa que tal relação seja necessária e, por isso, é difícil de prever que tal ocorra no futuro.

Esse é problema da indução.

 

 

O princípio da indução:         

· Não é a priori (não é uma verdade necessária e nenhum argumento dedutivo pode justificar as crenças indutivas

· Não é a posteriori (consistiria num argumento indutivo). 

· Afirmar que a crença na uniformidade da natureza é justificada pela experiência implicaria observar toda a natureza, sempre e em qualquer lugar.

· A crença na uniformidade da natureza justificava-se de forma indutiva afirmando que: se até agora a natureza se tem comportado de determinado modo, acreditamos que ela se irá comportar, no futuro, sempre do mesmo modo.

·Justificar a indução com um raciocínio indutivo é um argumento falacioso ( petição de princípio).

·A indução não tem justificação racional nem empírica.

 

 O raciocínio indutivo não é justificável

                                     ↓

- Raciocinando indutivamente, geralmente tem-se chegado a conclusões corretas

- Mas continuará a indução a ser fiável?

- Acreditamos que sim mas não podemos justificar - não é possível justificá-la a priori (não é uma verdade necessária)

· Se não é possível justificar o Princípio da Uniformidade da Natureza também não temos razão para pensar que as nossas crenças acerca de acontecimentos futuros são verdadeiras.

· Este é o famoso problema da indução, de que Hume foi o primeiro a dar conta.

· Até Hume, os filósofos e os cientistas pensavam que o nosso conhecimento do mundo estava racionalmente justificado, ou por raciocínios a priori, como os racionalistas pensavam, ou por raciocínios com base na experiência, como os empiristas anteriores a Hume pensavam. 

·Hume mostrou que tanto os racionalistas como os empiristas estavam enganados e que não podemos justificar racionalmente, nem a priori nem a posteriori, os princípios que estão na base das nossas crenças acerca do mundo. 

· Portanto, as nossas crenças sobre o mundo não constituem conhecimento.

·Significa isto que estas nossas crenças sejam totalmente injustificadas? 

· Hume não o pensa, embora a justificação que encontra para elas não tenha origem na razão, mas na natureza humana.




17. Poderemos considerar David Hume um céptico moderado?

·  Sim, porque defende que a nossa razão é incapaz de formular leis da natureza de que é exemplo a Ideia de Causalidade.

· Não é possível alcançarmos a certeza acerca do mundo pois o conhecimento de factos, com base em raciocínios indutivos e em crenças, apenas permite um conhecimento provável.

· O cepticismo moderado é, segundo Hume,  útil e aceitável pois prepara o estudo da Filosofia.

 

18. Que críticas se podem apresentar a David Hume ?

- Hume tem sido frequentemente acusado de ceticismo e de irracionalismo.

- Em primeiro lugar, o facto de Hume ter mostrado que não existe uma justificação racional para as nossas inferências causais.  - muitos filósofos pensam que Hume provou não haver razão para preferir a ciência à superstição.

- Em segundo lugar, ter substituído a justificação racional pelo hábito, uma espécie de instinto natural sobre o qual a razão não tem poder ou seja, ter substituído a razão pelos instintos.

- No entanto, Hume pensa que existem razões para preferir a ciência à superstição -  As teorias da ciência são suportadas pela observação e pela experiência, pela uniformidade da natureza, ao contrário do que acontece com as crenças supersticiosas.

- Hume não considera, por isso, a sua filosofia uma forma de irracionalismo, mas sim daquilo a que chamamos hoje naturalismo, e não duvida de que estabelecemos relações causais e raciocínios indutivos e de que devemos confiar nas suas conclusões. Mas pensa que a causa para essa confiança não é a razão mas sim a natureza.

- Hume vê nesta necessidade natural a justificação adequada e suficiente das nossas crenças sobre o mundo.

- Embora não possamos justificar racionalmente essas crenças, a natureza fez-nos de modo a termos uma propensão para que certas experiências passadas nos levem inevitavelmente a ter certas crenças sobre o futuro.

Isto é tudo o que precisamos para confiarmos na verdade destas crenças e para demarcar a ciência da superstição.

- O  resultado último da filosofia de Hume foi ter mostrado que, ao contrário do que acreditamos, não temos conhecimento do mundo, seja no sentido de verdade indubitável seja no sentido de crença racionalmente justificada.

- Hume chamou à atenção para o problema da indução, problema este que está na base do debate filosófico contemporâneo, em particular, na Filosofia da Ciência.

 

·   A experiência é mais confiável que o raciocínio dedutivo.

·   David Hume recusa a dedução, valorizando a indução como único processo para conhecer os fenómenos cujo ponto de partida são as impressões.

·   Este conhecimento não é absolutamente certo mas apenas provável - pois é uma generalização de casos particulares.

   Os nossos raciocínios acerca de questões de facto baseiam-se na relação de causa e efeito. A relação de causa e efeito, por sua vez, baseia-se na experiência

 

Assim....


....não há fundamento racional para afirmarmos, como os empiristas faziam, que podemos ter crenças razoáveis acerca de acontecimentos futuros!



E David Hume exemplifica: 

 

O pão que antes comi alimentou-me, isto é, um corpo com determinadas qualidades sensíveis estava, naquele momento, dotado de determinados poderes secretos. Mas segue-se daí que outro pão deva igualmente alimentar-me em outra ocasião, e que qualidades sensíveis idênticas devam estar sempre acompanhadas de idênticos poderes secretos? É uma consequência que de modo algum parece necessária. É preciso, pelo menos, reconhecer que aqui houve uma consequência tirada pela mente, que se deu um certo passo: um processo de pensamento e uma inferência que estão a exigir uma explicação.

 David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano

 

Será que é possivel afirmar. se....

Sempre que no passado comi pão ele alimentou-me.

Portanto, da próxima vez que comer pão ele alimentar-me-á -  poderá não ser verdade!.

 

 

EXERCICÍOS

 

 

Segundo David Hume, o que temos na mente?

Na mente, temos Impressões e Ideias

– Impressões, percepções que apresentam maior grau de força e vivacidade.
• Nas Impressões estão incluídas as sensações, as emoções e as paixões, enquanto experiências vividas pelo sujeito.
• A percepção de algo presente aos sentidos é sempre mais viva do que a sua representação.

– Ideias, representações das impressões, ou seja, são as imagens enfraquecidas das impressões, nunca alcançando vivacidade, intensidade e força iguais às destas últimas.

As ideias derivam das impressões –  Princípio da Cópia. Não só cada ideia deriva de determinada impressão, como não podem existir ideias das quais não tenha havido uma impressão prévia. As ideias são cópias das impressões e, por isso não existem ideias inatas.

– Exemplo:
• Impressão: Cor de uma flor que os olhos veem; Dor de dentes vivida.
• Ideia: Memória dessa cor; Lembrança da dor de dentes.

 

Em que consiste o problema da causalidade, segundo Hume?

 

Ao raciocinarmos sobre questões de facto estabelecemos relações de causalidade. A ideia de causalidade como conexão necessária é, assim, a base dos nossos conhecimentos sobre o mundo. Acontece que esta ideia não pode ser justificada a priori (não pode ser inferida apenas com base na razão, independentemente da experiência), nem tão pouco a posteriori (pois isso implicaria que tivéssemos a impressão correspondente, o que não acontece). A causalidade resulta de uma tendência psicológica, não existe nos objetos. Forma-se na nossa mente em virtude do costume ou do hábito de observarmos repetidamente que dois fenómenos ocorrem conjunta e sucessivamente. Porque o passado me mostrou existir uma conjunção constante entre A e B, tendo a imaginar que existe uma conexão necessária, uma relação de causalidade, isto é, que um é necessária e inevitavelmente a causa do outro. Contudo, esta crença não está justificada. Nunca observamos qualquer conexão necessária, apenas conjunções constantes, que podem ser arbitrárias e casuais. Nisto consiste o problema da causalidade.

 

Em que consiste o problema da indução, segundo Hume?

 

O problema da causalidade cruza-se, na proposta de Hume, com um outro problema, o da indução. As inferências indutivas são a base do nosso conhecimento sobre o mundo. Estarão elas justificadas? Segundo Hume, não. Só poderíamos confiar na indução se partíssemos do princípio de que a natureza é uniforme e regular, sem lugar para imprevistos. Acontece que a nossa crença na regularidade da natureza é ela própria fundada na indução. Estamos, pois, encerrados numa petição de princípio, numa justificação circular que nada justifica: todos os nossos argumentos indutivos pressupõe a crença de que a natureza é regular, crença esta que, por sua vez, foi construída com base em inferências indutivas. A ideia de que a natureza é uniforme é uma verdade contingente, pois é perfeitamente possível que a natureza não seja uniforme e que o futuro não repita o passado. O exemplo do ornitorrinco é revelador de que o número de observações que serve de base a uma indução é logicamente independente da verdade da conclusão.

 

 

Identifique VERDADES NECESSÀRIAS e VERDADES CONTINGENTES

Amália nasceu em Lisboa Verdade Contingente
Nenhum preto é branco Verdade Necessária
Um pedaço de metal dilatou ao ser aquecido Verdade Contingente
Um triângulo tem três lados Verdade Necessária


Identifique QUESTÕES DE FACTO e RELACÕES DE IDEIAS:

Deus existe ou não existe RELAÇÃO DE IDEIAS
Deus existe QUESTÃO DE FACTO
Três morangos são mais que dois RELAÇÃO DE IDEIAS
O sol vai nascer amanhã QUESTÃO DE FACTO
As coisas velhas não são novas RELAÇÃO DE IDEIAS
Os planetas têm órbitas elípticas QUESTÃO DE FACTO
Pedro Abrunhosa é um musico português QUESTÃO DE FACTO



 

Complete de acordo com a filosofia de David Hume

A relação de causa e efeito é uma relação de CAUSALIDADE
Habitualmente concluímos que há uma relação de causa e efeito com base NUMA CONJUNÇÃO CONSTANTE
Há uma conexão necessária entre dois acontecimentos quando UM NÃO PODE OCORRER SEM O OUTRO
A conexão necessária entre dois acontecimentos é algo que não CONSEGUIMOS OBSERVAR
Conjunção constante e conexão necessária são COISAS DIFERENTES
A nossa convicção de que há uma conexão necessária entre acontecimentos é apenas fruto do HÁBITO

 

 

 Selecciona a alternativa correcta:

 

1. Hume defende que ...

A. as impressões são cópias menos vívidas de ideias.

B. as impressões são cópias mais vívidas de ideias.

C. as ideias são cópias mais vívidas de impressões.

D. as ideias são cópias menos vívidas de impressões.

 

2. Hume defende que ...

A. todas as nossas ideias têm origem empírica.

B. apenas as ideias simples têm origem empírica.

C. apenas as ideias complexas têm origem empírica.

D. nenhuma ideia tem origem empírica.

 

3. Hume defende que as afirmações sobre questões de facto …

A. exprimem verdades necessárias.

B. exprimem verdades contingentes.

C. não exprimem verdades.

D. não têm sentido.

 

4. Hume defende que as afirmações sobre relações de ideias …

A. exprimem verdades necessárias.

B. exprimem verdades contingentes.

C. não exprimem verdades.

D. não têm sentido.

 

5. Hume defende que as inferências causais …

A. baseiamse na observação de conjunções constantes.

B. não se baseiam na observação.

C. baseiamse na observação de conexões necessárias.

D. têm um carácter demonstrativo. 

 

6. Segundo Hume, a ideia de conexão necessária entre causa e efeito … 

A. resulta da observação. 

B. resulta de um sentimento interno. (O Hábito)

C. tem uma origem desconhecida.

D. não existe.

 

 

 

Karl Popper e o Falsificacionismo: (1902 – 1994) 


1. Karl Popper e a indução

 

Ø Segundo Popper, a ciência não se baseia na indução.

 

Ø Popper nega que os cientistas começam com observações e inferem depois uma teoria geral.

 

Ø Propõe uma teoria, apresentando-a como uma conjetura inicialmente não corroborada e depois comparam-se as suas previsões com observações para ver se ela resiste aos testes empíricos.

 

Ø Se esses testes se mostrarem negativos - a teoria será experimentalmente falsificada e os cientistas irão procurar uma nova alternativa.

 

Ø Se, pelo contrário, os testes estiverem de acordo com a teoria, então os cientistas continuarão a mantê-la não como uma verdade provada, é certo, mas ainda assim como uma conjetura não refutada.

 

Ø   Se olharmos para a ciência desta maneira, defende Popper, então veremos que ela não precisa da indução.

 

Ø   Segundo Popper, as inferências que interessam para a ciência são refutações, que tomam uma previsão falhada como premissa e concluem que a teoria que está por detrás da previsão é falsa.

 

Ø   As inferências que interessam à ciência não são indutivas, mas dedutivas.

 

Ø   Segundo Popper, é muito mais fácil refutar teorias do que prová-las - um único exemplo contrário é suficiente para uma refutação conclusiva, mas nenhum número de exemplos favoráveis constituirá uma prova conclusiva.

 

Ø   Exemplo: O facto de eu observar 5000 cisnes brancos não me poderá levar a concluir que “Todos os cisnes são brancos”, mas o facto de eu observar um único cisne preto, leva-me a concluir que “Nem todos os cisnes são brancos”.

 

 

2. O que é a Falsificabilidade? E a Falsificação?

 

Ø Segundo Popper, a ciência é uma sequência de conjeturas e refutações.

Ø As teorias científicas são propostas como hipóteses, e são substituídas por novas hipóteses quando são falsificadas.

Ø Karl Popper não nega a existência da verificação em ciência, mas diz que não é possível a verificação de enunciados universais. Só os enunciados particulares poderão ser verificados mas estes não têm grande interesse para ciência. – as teorias cientificas são constituídas por enunciados universais.

Ø Defende que uma teoria é cientifica só se for testável e que uma teoria só é testável se for empiricamente falsificável.

Ø Segundo Popper, temos de pensar casos possíveis que ao serem observados falsificariam uma teoria, ou seja temos de imaginar pelo menos um caso incompatível com a teoria em causa.

Ø   A ideia de que a teoria pode ser falsificável significa que esta revela em que circunstancias de observação  se torna falsa.

Ø   As teorias cientificas que são verdadeiras, são falsificáveis.

Ø   Exemplo: Todos os rubis são vermelhos - caso seja mesmo verdadeira, é falsificável pois é possível pensar que se encontrarmos um rubi branco, este seria refutado.

Ø   O facto de uma teoria ser falsificável não depende de esta ser falsa nem de vir a ser, efectivamente, falsificada.

Ø   Segundo Popper há graus de falsificação de uma teoria que dependem de do seguinte: 1. quanto mais coisas a teoria ou a proposição proibir, mais conteúdo empírico ela tem e maior é o grau de falsificabilidade; 2. O conteúdo empírico de uma teoria ou de uma proposição é a informação que ela dá sobre o mundo que observamos.

Ø   Não basta as teorias serem falsificáveis para serem científicas.

Ø   Por exemplo: Todos os portugueses fumam cachimbo é falsificável e não é cientifica.

 


3. O que é o problema da Demarcação?

- Segundo Popper, aqueles que defendem ser a indução aquilo que permite demarcar a ciência da não ciência acreditam que graças ao raciocínio indutivo se podem verificar empiricamente teorias universais

- Na sequência de David Hume, Popper defende que nenhuma teoria universal é empiricamente verificável

- Assim, a indução de nada serve pois recorrer à experiencia para verificar indutivamente hipóteses cientificas equivale a procurar algo que não existe nem pode existir.

- Segundo Popper nem a indução nem a verificabilidade funcionam como critério de demarcação entre teorias cientificas e teorias não cientificas.

- Uma teoria cientifica não é aquela que é empiricamente verificável, mas sim empiricamente testada – esta é a marca da cientificidade.

- Segundo Popper, recorrer à experiencia para testar as teorias é algo que está ao alcance dos cientistas mesmo sem indução.

- Testar teorias é tentar encontrar casos que sejam incompatíveis com essa teoria – isto é o oposto de verificá-las.

- O que os cientistas fazem, segundo Popper, é tentar falsificá-las.

- Uma teoria é cientifica se for testável e é testável se for empiricamente falsificável.

 

4. Qual é a diferença entre a ciência e outras formas de crença? 

A ciência, ao contrário da superstição, pelo menos é falsificável, mesmo que não possa ser provada. 

As teorias científicas estão formuladas em termos precisos, e por isso conduzem a previsões definidas.

- Teorias como a astrologia, a psicanálise e marxismo  auto denominam-se cientificas mas não o são pois não são falsificáveis – elas apresentam-se como irrefutáveis e não passam de pseudociências.

-  Uma pseudociência é aquela que, sendo vaga, se mostra irrefutável.



 

 


 

5. Em que consiste o método de Karl Popper?

 

- Se não é aceitável a indução na ciência e se os cientistas, em vez de verificarem as hipóteses, as devem falsificar - que método propõe Karl Popper para a ciência?

-   Popper propõe um método -  o método das conjeturas e refutações. 

- Ao contrário dos indutivistas não se parte da observação.

A.  A investigação científica começa com o problema  - qualquer teoria é sempre uma resposta ou tentativa de solução de um problema.

 

B.  Face ao problema, a imaginação do cientista cria uma hipótese ou conjetura para explicá-lo. A hipótese, porque se trata de uma suposição,  tem um caracter conjectural.

- Segundo Popper hipóteses, suposições ou teorias será o mesmo já que todas têm um caracter conjectural.

- Uma conjectura deverá ter um forte carácter previsivo.

 

C.hipótese terá de ser testada, ou seja, sujeita a tentativas de refutação.

- A hipótese é sujeita a testes empíricos rigorosos, que têm por objetivo falsificá-la ou refutá-la, isto é, mostrar que é falsa, e não verificar a sua verdade.

- Tentar refutar uma hipótese é tentar confrontá-la com potenciais casos que provem a sua falsidade.

- A observação e a experimentação desempenham um papel importante já que só elas permitem refutar as hipóteses.

- As hipóteses ou teorias têm de incluir algumas previsões pois quanto mais uma hipótese previr, mais ousada ela é.

- Os cientistas procuram fazer observações minuciosas e realizar experiencias rigorosas cujos resultados sejam incompatíveis com aquilo que a teoria prevê.

 

 

O que acontece se a hipótese for refutada?

 

- Ela terá de ser substituída por outra melhor, mais forte e mais resistente que responda ao mesmo problema mas que não enfrente as mesmas dificuldades que a anterior.

- Esta nova hipótese terá de ser submetida a testes severos e, assim sucessivamente, num processo de más teorias por novas e melhores teorias resistentes a testes de falsificação.

 

O que acontece se a hipótese não for refutada?

 

Segundo Popper terá de se continuar a tentar refutá-la com testes cada vez mais severos. Se a hipótese resistir aos testes, dizemos que se trata de uma explicação provisoriamente corroborada.

 

6.Que reflexão poderemos fazer sobre o método de Karl Popper?

 

1. O cientista não procura proteger as suas teorias de eventuais ataques – o método exige que o cientista seja crítico em relação às teorias.

 

2. O método não parte da observação, nem da experimentação, nem serve para verificar ou confirmar teorias. A observação surge depois da hipótese  e a sua finalidade é encontrar contra exemplos e não confirmá-la. A finalidade da experimentação é tentar mostrar que não ocorre aquilo que a hipótese prevê, visando a sua falsificação (e não a sua verificação).

 

3. O método de Karl Popper baseia-se no raciocínio dedutivo e não no indutivo. Popper refere que a lógica dos testes experimentais obedece à fórmula lógica da regra Modus Tollens.

 

Veja-se o seguinte exemplo:

 

Falsificar teorias,

segundo Popper

Verificar teorias, segundo o indutivismo

 

Se T (teoria) é verdadeira,

ocorre a aquilo que ela

prevê (P)

Aquilo que ela prevê

não ocorre

Logo, a teoria

não é verdadeira.

 

Se a teoria (T) é verdadeira, então ocorre aquilo que ela prevê (P)

Aquilo que ela prevê ocorre

Logo, a teoria é verdadeira.

 




7. Corroboração e verdade são sinónimos?

 

- Não, para Popper as hipóteses nunca perdem o seu carácter conjetural. Verdade e corroboração não são a mesma coisa. 

- A corroboração é um indicador temporal. 

- Uma teoria corroborada é uma teoria que resistiu aos testes a que foi sujeita num determinado momento, mas isto não faz dela uma verdade, apenas indica que, até ao momento, é a melhor teoria

- Nada garante, porém, que ela não venha a ser refutada, ou parcialmente refutada num próximo momento de falsificação.

- De acordo com Popper é errado afirmar que  há teorias ou hipóteses verdadeiras, pois elas nunca são verificadas - mesmo quando as teorias passam com sucesso testes severos para as falsificar, continua a ser errado afirmar que são verdadeiras - nem sequer poderemos afirmar que aumenta o seu grau de confirmação.

8. Criticas à teoria de Karl Popper.

 - A perspectiva de Popper não corresponde ao que realmente se passa na prática pois os cientistas que todos os dias fazem as suas investigações, não procuram refutar teorias mas tentam encontrar-lhes novas aplicações.

- Há muitos exemplos de teorias cujas previsões não se confirmaram e nem por isso foram abandonadas - os cientistas procederam a alguns ajustes na teoria conservando esta em vez de a considerarem falsificada.

- Mesmo que fosse desejável que os cientistas se comportassem como diz Popper, a história da ciência mostra-nos que isso raramente acontece.

- A teoria de Popper limita-se a dizer como é que os cientistas deveriam proceder - não é uma descritiva, mas sim normativa.

- Popper só dá conta do conhecimento cientifico em sentido negativo e não daquilo que devemos valorizar na ciência e que são os seus resultados positivos.

- O conhecimento da ciência tem um carácter positivo e, por isso mesmo, temos razões praticas para acreditar na ciência. Tomemos como exemplo a penicilina que funciona porque tem certos resultados e não porque foi falsificada.

-Segundo Popper não podemos proferir juízos sobre o futuro que sejam racionalmente justificados o que nos remete para o problema da indução de que nos falava David Hume.

- Mas nós sabemos que se nos atirarmos do cimo da Torre dos Clérigos as consequências serão graves e não flutuaremos do ar.

Popper concorda com Hume de que é errado basear-me na ideia de que o futuro será igual ao passado.

 

EXERCICÍOS

 

 1. Qual o método proposto por Karl Popper?

 

O método proposto por Karl Popper ficou conhecido por Método das Conjeturas e Refutações.

 

2. Quais as etapas desse método?

 

– Problema:
– O ponto de partida para a ciência, ao contrário do que pensavam os indutivistas não pode ser a observação pura e imparcial dos factos, mas sim um problema levantado por uma observação que entra em confronto com as teorias e expetativas de que já dispomos.

 

– Conjetura:
– Depois da formulação do problema compete ao cientista encontrar uma hipótese que seja uma possível resposta a esse problema.
– Essa hipótese pode ser uma suposição arrojada, imaginativa, mas
devidamente fundamentada, concebida para tentar explicar os factos.
– Popper chama conjeturas a este tipo de hipóteses.

 

– Refutação:
– Esta etapa corresponde à fase em que o cientista testa a hipótese.
– Testar a hipótese consiste em confrontá-la coma experiência.
– Basta encontrar na experiência um elemento que contrarie a hipótese para
que esta seja afastada (refutada pela experiência).
– Este teste refutador deve ser conclusivo.

 

3. Apresente algumas especificidades desse método?

 

Karl Popper considera que ....

–  A especificidade metodológica da ciência não pode assentar na indução.
– A construção do conhecimento científico faz-se através de conjeturas e refutações
– Rejeita o critério da verificabilidade e da confirmação das hipóteses e teorias científicas tal como proposto pelo positivismo lógico.
– O critério que garante a cientificidade das teorias é o da sua falsificabilidade.

 

4.           Porque é que a ciência não é indutiva? Justifique.

 

· Popper defende que a indução não é o método que permite a constituição das leis científicas. 

· Primeiro; porque nenhuma observação se faz sem antes ter um problema teórico e, segundo; porque as leis são universais e necessárias, enquanto a conclusão de um raciocínio indutivo é sempre provável.

·Embora seja um procedimento comum a algumas ciências como a Biologia, o método indutivo não permite a construção de leis universais e necessárias, só permite leis probabilísticas. 

· Se há leis universais e necessárias em ciência, então, das duas uma:

-  ou não são científicas, pois não são resultados de generalizações a partir de observações particulares,

ou são científicas mas não são indutivas, são antes resultado de um método diferente: Hipotético/Dedutivo.

 

 

5. O que é a Falsificabilidade? E a Falsificação?

 

Ø Segundo Popper, a ciência é uma sequência de conjeturas e refutações.

Ø As teorias científicas são propostas como hipóteses, e são substituídas por novas hipóteses quando são falsificadas.

Ø Karl Popper não nega a existência da verificação em ciência, mas diz que não é possível a verificação de enunciados universais. Só os enunciados particulares poderão ser verificados mas estes não têm grande interesse para ciência. – as teorias cientificas são constituídas por enunciados universais.

Ø Defende que uma teoria é cientifica só se for testável e que uma teoria só é testável se for empiricamente falsificável.

Ø Segundo Popper, temos de pensar casos possíveis que ao serem observados falsificariam uma teoria, ou seja temos de imaginar pelo menos um caso incompatível com a teoria em causa.

Ø   A ideia de que a teoria pode ser falsificável significa que esta revela em que circunstancias de observação  se torna falsa.

Ø   As teorias cientificas que são verdadeiras, são falsificáveis.

Ø   Exemplo: Todos os rubis são vermelhos - caso seja mesmo verdadeira, é falsificável pois é possível pensar que se encontrarmos um rubi branco, este seria refutado.

Ø   O facto de uma teoria ser falsificável não depende de esta ser falsa nem de vir a ser, efectivamente, falsificada.

Ø   Segundo Popper há graus de falsificação de uma teoria que dependem de do seguinte: 1. quanto mais coisas a teoria ou a proposição proibir, mais conteúdo empírico ela tem e maior é o grau de falsificabilidade; 2. O conteúdo empírico de uma teoria ou de uma proposição é a informação que ela dá sobre o mundo que observamos.

Ø   Não basta as teorias serem falsificáveis para serem científicas.

Ø   Por exemplo: Todos os portugueses fumam cachimbo é falsificável e não é cientifica.

 

6.  Que diferença existe entre uma teoria falsificável  e uma teoria falsificada?

 

Uma teoria falsificável ou refutável é uma teoria que tem a propriedade (uma importante propriedade, na perspetiva de Popper) de poder ser sujeita a testes empíricos que a possam refutar. Uma teoria falsificada ou refutada é uma teoria que já se provou ser falsa, isto é, que foi sujeita a testes e não resistiu. 

7. Complete os seguintes espaços:

1.   O método sugerido por Popper é o método_________________.

2. O método crítico parte sempre de _____________a que se responde __________ para depois ser _________no sentido de a _________/_________.

3. Se a teoria for _______, terá de ser substituída  por outra e submeter-se a novos ____________de ___________.

4.  Se uma teoria sobreviver aos ________de ________, não é verificada, mas sim CORROBORADA. (é uma teoria que passa ou resiste aos testes de falsificação)

5.  O papel da _________e  da_________é, segundo Popper, o de testar  ou por à prova as ___________,e não de apoia-las.

 


 

 

8. Qual o  método que, segundo Karl Popper,  melhor explica a lógica das teorias científicas?

 

· O método que se adequa à lógica científica é o de conjeturas e refutações.

· Cada teoria representa uma tentativa de resolução de um ou vários problemas

· Conjetura é uma suposição validada por experiências, não é uma certeza ou verdade. 

· As teorias científicas são hipóteses explicativas que foram provisoriamente corroboradas pela experiência, isto é, que ainda não foram falsificadas ou refutadas.

· Assim a ciência funciona com um conjunto de conjeturas, que podem ser futuramente refutadas. 

· Para Popper, a ciência evolui no sentido de uma aproximação à verdade na medida em que vai eliminando os erros das teorias, substituindo-as por outras mais abrangentes e consistentes com os factos observados.

 

 

9.  Indique os exemplos FALSIFICAVEIS e NÃO FALSIFICÁVEIS. 

Apresente um dos casos de maior grau de falsificabilidade.

 

1. As pessoas agem sempre motivadas por sentimentos obscuros e inconfessáveis

2. Um português de Arouca irá ganhar o primeiro prémio do euromilhões da próxima semana

3. Ninguém irá ganhar o primeiro premio do euromilhoes na próximas semana.

4. Ninguém ira ganhar o primeiro premio do euromilhoes nas próximas semanas

5. As pessoas que acreditam realmente na vitória, acabam sempre por vencer.

6. Todos os gatos miam.

7. As aves têm asas

8. Os pardais têm asas

9. Os rubis são vermelhos ou não são vermelhos

10. Há rubis vermelhos.

 

10. O que é o problema da Demarcação?

- Segundo Popper, aqueles que defendem ser a indução aquilo que permite demarcar a ciência da não ciência acreditam que graças ao raciocínio indutivo se podem verificar empiricamente teorias universais

- Na sequência de David Hume, Popper defende que nenhuma teoria universal é empiricamente verificável

- Assim, a indução de nada serve pois recorrer à experiencia para verificar indutivamente hipóteses cientificas equivale a procurar algo que não existe nem pode existir.

- Segundo Popper nem a indução nem a verificabilidade funcionam como critério de demarcação entre teorias cientificas e teorias não cientificas.

- Uma teoria cientifica não é aquela que é empiricamente verificável, mas sim empiricamente testada – esta é a marca da cientificidade.

- Segundo Popper, recorrer à experiencia para testar as teorias é algo que está ao alcance dos cientistas mesmo sem indução.

- Testar teorias é tentar encontrar casos que sejam incompatíveis com essa teoria – isto é o oposto de verificá-las.

- O que os cientistas fazem, segundo Popper, é tentar falsificá-las.

- Uma teoria é cientifica se for testável e é testável se for empiricamente falsificável.

 

11.           Qual é a diferença entre a ciência e outras formas de crença?

 A ciência, ao contrário da superstição, pelo menos é falsificável, mesmo que não possa ser provada. 

As teorias científicas estão formuladas em termos precisos, e por isso conduzem a previsões definidas.

- Teorias como a astrologia, a psicanálise e marxismo  auto denominam-se cientificas mas não o são pois não são falsificáveis – elas apresentam-se como irrefutáveis e não passam de pseudociências.

-  Uma pseudociência é aquela que, sendo vaga, se mostra irrefutável.

 

12. Assinale as afirmações V e F. Justifique as FALSAS.

 

a) Uma teoria é testável só se for falsificada.

b) Qualquer teoria falsificada é falsificável

c) Algumas teorias cientificas não são falsificáveis

d) Todas as teorias falsificáveis são cientificas.

 

13.Que diferença existe entre uma teoria falsificável  e uma teoria falsificada?

 

Uma teoria falsificável ou refutável é uma teoria que tem a propriedade (uma importante propriedade, na perspetiva de Popper) de poder ser sujeita a testes empíricos que a possam refutar. Uma teoria falsificada ou refutada é uma teoria que já se provou ser falsa, isto é, que foi sujeita a testes e não resistiu. 

 

 

 

14.    Qual o objectivo do criterio de Demarcação?

 

O critério de demarcação pretende distinguir as ciências das “pseudociências”. Se todo o nosso conhecimento, tanto o científico como os dogmas religiosos e os palpites astrológicos, são apenas conjeturas, isto é, hipóteses de explicação e compreensão do mundo, então qual a diferença entre o conhecimento científico e os dogmas religiosos ou as “pseudociências”? É que, contrariamente a estes conhecimentos, as teorias científicas estão abertas à refutação e à falsificação pela experiência podendo, por isso, ser modificadas e corrigidas; os dogmas, pelo contrário, são tomados como verdades eternas que não são discutíveis e as teorias astrológicas são tão vagas e imprecisas que seja qual for a previsão que façam nunca se veem obrigadas a modificar as teorias mesmo que as previsões se revelem falsas pois encontram sempre forma de as interpretar à luz das teorias, não podendo, por isso,  ser falsificadas pela experiência.

 

Thomas Kuhn e as Revoluções Científicas




 

Nota: no esquema onde está Khun deve ser KUHN.

  

Thomas Kuhn foi um pensador norte-americano e um dos filósofos contemporâneos mais importantes, cujas ideias marcaram a reflexão sobre a ciência na segunda metade do séc. XX.

- Kuhn apresenta uma concepção diferente de ciência relativamente à objectividade e progresso na ciência.

 

-Enquanto Karl Popper apresenta uma concepção lógica de ciência (procura caracterizar o tipo de raciocínio no qual se baseia o conhecimento cientifico); Kuhn apresenta uma concepção histórica e sociológica da ciência (pretende saber o modo como os cientistas se comportam no seio da comunidade cientifica).

 

- Segundo Kuhn, a abordagem que Popper faz da ciência não traduz o que se passa na ciência pois este não olha para a comunidade científica. Popper constrói uma perspectiva idealizada da ciência - apenas valoriza momentos raros e extraordinários da ciência e não aquilo que se passa regularmente.

 

- Para Kuhn, a história da ciência mostra-nos que esta se desenvolve entre duas situações: ciência normal (prática diária dos cientistas) e a ciência extraordinária (momentos curtos e turbulentos da ciência) em que ocorrem revoluções científicas, com cientistas excepcionais como Galileu, Darwin e Einstein.

 

Longos períodos de ciência normal são intercalados com curtos períodos de ciência extraordinária.

 

- Os cientistas trabalham no interior de um paradigmaUm paradigma é uma teoria modelo que se impõem e é tomado como referência numa dada área devido aos seus resultados exemplares.

 

- Alguns exemplos de paradigmas são: o geocentrismo de Aristóteles e Ptolomeu, o heliocentrismo de Copérnico e Galileu, a física relativista de Einstein e a Biologia evolucionista de Darwin.

  

- Sem paradigma não há comunidade científica pois é o paradigma que une todos os praticantes de uma determinada área cientifica  nos mesmos objectivos, valores, regras e metodologias.

 

Sem paradigma não há ciência pois todas as tentativas avulsas de explicar e resolver problemas acerca da natureza são características dos períodos de pré-ciência

 

- Durante o período de Ciência Normal, o cientista procura defender o paradigma e não detecta falhas (segundo Popper seria falsificar hipóteses). Nestes períodos há um progresso cientifico pois ao resolver enigmas há progresso cientifico e acrescenta novo conhecimento.

 

- Podem surgir, também, anomalias que são casos difíceis observados que não se deixam explicar pelo paradigma existente.

 

- Quando isto acontece dá-se início a uma crise científica que são períodos de desorientação pois o paradigma já não tem solução para explicar os fenómenos - alguns cientistas, menos ligados ao paradigma, propõem ideias complementares, novas e inovadoras. Estas ideias começam a competir entre si, até que alguns cientistas aderem a uma delas e esta acaba por impor-se às outras e torna-se num novo paradigma.

- Este é um período excepcional de Revolução Cientifica em que uma determinada forma de ver e explicar o mundo é substituída por outra completamente diferente - há uma mudança de paradigma.

 

- A mudança de paradigma acontece quando ocorre uma revolução científica. As revoluções científicas são curtas, mas alteram profundamente o modo como se faz a ciência.

 

- O conceito de Revolução Cientifica significa que há uma mudança radical como se fosse uma conversão religiosa, pois nada continua a ser como antes.

 

- Que relação existe entre o "velho" paradigma e o "novo" paradigma? Segundo Kuhn os paradigmas são incomensuráveis - não há pontos comuns entre eles que permita a sua comparação.

 

- Mas o que leva os cientistas, nos momentos de mudança de paradigma, a optar por uma dada teoria em vez de uma outra rival? Segundo Kuhn não há critérios fixos pois estão envolvidos todo o tipo de motivações pessoais, sociais, políticas, religiosas e outras como conservar o emprego, necessidade de pertença a um grupo ou a uma determinada comunidade , procura de reconhecimento e outras.

 

- Diferentes cientistas podem ter diferentes motivações quando optam por uma teoria e aderem a um novo paradigma. Será, então, a ciência objectiva? (não totalmente). Haverá progresso na ciência? (sem um fim definido).

 

- Como se escolhem as teorias cientificas? Que critérios presidem a esta escolha? Durante os períodos de ciência normal, os cientistas contribuem para o reforço do paradigma sem nunca o criticarem - há uma acumulação de conhecimentos. Há critérios objectivos que levam a um progresso cumulativo.

 

- Os períodos de revolução cientifica têm implicações relativamente às questões da objectividade e do progresso cientifico: a escolha entre teorias rivais e a incomensurabilidade dos paradigmas.

 

- Como se escolhem teorias rivais? Se, como defende Kuhn a escolha entre teorias propostas por paradigmas que competem entre si, depende , em grande parte, de critérios subjectivos, então a ciência não é objectiva.

 

- Kuhn reconhece existirem critérios objectivos mas considera que são insuficientes pois não conseguem explicar, por exemplo, porque é que há cientistas que aderem a uma teoria proposta por um paradigma e outros cientistas que aderem a teorias de paradigmas rivais.

 

- Os critérios objectivos , referidos por Kuhn são: 

 

- Exactidão: diz respeito às previsões que uma teoria permite fazer e às suas aplicações práticas observáveis, ou seja, quanto mais exactas forem as suas previsões e quanto mais precisas as suas aplicações, melhor e a teoria.

 

- Consistência: Diz respeito à coerência interna da teoria e da sua compatibilidade com outras teorias aceites nesse período, ou seja, quanto mais uma teoria estiver de acordo com outras teorias amplamente aceites, melhor é.

 

- Simplicidade:    Diz respeito à quantidade de leis ou principios teoricos fundamentais de que a teoria necessita para explicar as coisas. Quanto menos aparatosa for a teoria mais simples e elegante ela é, o que a torna preferível a outras mais complexas.

- Alcance:  Diz respeito à quantidade e diversidade de coisas que ela consegue explicar. Quanto mais coisas uma teoria conseguir explicar, melhor ela é.

- Fecundidade: Diz respeito à capacidade de uma teoria para gerar novas descobertas cientificas.

 - Apesar de estes critérios serem partilhados pela generalidade dos cientistas , frequentemente eles divergem na sua aplicação na medida em que um cientista pode dar mais valor a um critério e outro cientista valorizar um critério diferente.

- Os critérios não estabelecem com rigor o grau de simplicidade, de fecundidade apresentando-se, sob este aspecto, vagos. Diferentes cientistas podem interpreta-los de forma diferente e chegar a conclusões diferentes.

- Isto só acontece devido à interferência de factores subjectivos, pelo que a subjectividade é um aspecto importante na resolução de conflitos científicos.

- A ciência, não é totalmente objectiva, no entender de Thomas Kuhn.

 

A incomensurabilidade dos paradigmas: algumas reflexões

- A incomensurabilidade dos paradigmas diz-nos que estes não são, objectivamente, comparáveis

- Os paradigmas rompem, muitas vezes, com os paradigmas anteriores não havendo pontos em comum entre eles.

- Então não há continuidade entre os paradigmas - poder-se-á, deste modo, falar em progresso cientifico?

- A ideia de que as mudanças de paradigma são como revoluções politicas ou conversões religiosas parece mostrar que além de súbitas elas fazem tabua rasa de tudo o que foi alcançado durante décadas de ciência normal.

- Ver o mundo segundo o PARADIGMA 1 e ver o mundo segundo o PARADIGMA 2 é começar do zero e ver o mundo com outros olhos - mesmo quando os cientistas usam os mesmos termos e olham para os mesmos sítios , referem e veem coisas diferentes.

- Se a mudança de paradigma é um novo recomeço, será que Kuhn recusa a ideia de progresso cientifico.

- Segundo Kuhn a ciência não tem que progredir em relação a um fim previamente estabelecido pois a ciência não progride em relação à verdade.

- O novo paradigma deve representar algum progresso  uma vez que ele acaba por satisfazer a comunidade cientifica dando origem a uma maior especialização na sua tarefa de resolver problemas.

- Ainda que os problemas possam ser outros, o paradigma que em determinado momento nos permite resolve-los é aquele que mais adaptado está à nossa necessidade de compreensão.

- Tal como Popper, Kuhn refere a teoria evolucionista só que destaca um aspecto diferente: a ideia de Darwin de que a evolução não precisa de ter um fim determinado, a não ser a adaptação ao ambiente que nos rodeia.

 

 Criticas à teoria de Thomas Kuhn.

 

- Se a perspetiva de Popper acerca da ciência era claramente racionalista, Kuhn defende uma perspetiva historicista, defendendo que as teorias cientificas são fruto dos contextos históricos e sociais em que se desenvolvem.

 

- Kuhn é frequentemente acusado de relativismo  e Popper de defender uma concepção idealista de ciência uma vez que esta está desligada da realidade social.

 

As duas criticas mais fortes em relação à concepção de Thomas Khun são:

 

1. A ideia de que os paradigmas são incomensuráveis: 

- Esta ideia é, segundo alguns contrariada pela própria historiada ciência pois se tomarmos como exemplo a teoria heliocêntrica defendida por Copérnico, esta defendia os mesmos fenómenos explicados pela teoria geocêntrica, só que agora de uma forma mais simples, exacto e eficaz.

- As teorias actuais permitem fazer previsões mais rigorosas e exactas do que as do passado - são melhores e por isso o sucesso da ciência fica por explicar. Muitas teorias rivais não são incompatíveis 

- Exemplo: No séc. XIX houve confronto entre duas teorias ópticas:  A teoria de que a luz era constituída por ondas (teoria ondulatória) e a teoria de que a luz era constituída por fotões (teoria corpuscular). Ideias importantes das duas teorias rivais foram integradas, décadas mais tarde, na teoria da dualidade partícula-onda.

 

 

2. Kuhn propõe uma concepção relativista de ciência: 

- Isto significa que Kuhn coloca a ciência a par com outro tipo de explicações como os mitos e lendas que também oferecem respostas satisfatórias àqueles que a elas aderem.

- Se tudo não passar de concepções do mundo inconciliáveis às quais se adere pelas mais diversas razoes, incluindo motivações psicológicas, ideológicas, religiosas ou politicas, então elas não são directamente confrontadas com o mundo, sendo estas construções sociais tao justificáveis como os mitos ou lendas. 

- Como se poderia, então explicar o prestigio da ciência e o avanço do conhecimento?

- Kuhn entende que não defende o relativismo que alguns críticos lhe apontam por considerarem que a sua concepção de ciência é incapaz de explicar satisfatoriamente o progresso da ciência.

 

(Texto baseado no manual

50 Lições de Filosofia)

 

Popper e Kuhn: verdade e objectividade na ciência.

 

A finalidade do conhecimento científico é atingir o estatuto de conhecimento objectivo. O conhecimento objectivo é aquele que se refere exclusivamente ao objecto de estudo, independentemente do sujeito que realizou a investigação. 

Serà possivel afastar o cientista do objecto de estudo?

Para atingir o conhecimento objectivo, o cientista teria de se abstrair da sua subjectividade, isto é, da sua forma pessoal de entender o objecto, da sua afectividade, dos seus valores, dos seus interesses, das suas crenças ideológicas e políticas, dos seus gostos estéticos e outros.

 

A objectividade segundo o positivismo e o neopositivismo

 

As correntes positivista e neopositivista atribuem à ciência o estatuto de conhecimento verdadeiro e objectivo. Consideram que os factos são susceptíveis de uma descrição exacta e de uma explicação rigorosa.

A verdade da ciência parecia indubitável, visto que se baseava em verificações, em confirmações, numa multiplicação de observações, que confirmavam sempre os mesmos dados – teoria científica uma construção lógica que reflectia a própria coerência do universo.

 

A objectividade científica era assegurada pelo rigor da medição e da experimentação. A medida é um elemento poderoso de objectivação e por esse motivo se quantifica.

 

Paradigma da modernidade: pressupõe uma única forma de conhecimento válido; cuja validade reside na objectividade; reduz o universo dos observáveis ao universo dos quantificáveis; reduz o rigor do conhecimento ao rigor matemático.

 

Então, o conhecimento era entendido como objectivo, verdadeiro, imparcial e capaz de descrever ou explicar o mundo tal como ele é.

 

O conhecimento objectivo segundo Karl Popper

 

 Popper afasta da concepção que atribui à ciência o estatuto de conhecimento objectivo, certo e descritivo dos fenómenos tal como são

 

O cientista não é um observador indiferente ou descomprometido com o mundo, nem os factos são puros. O investigador é um sujeito ativo, comprometido com ideias, valores e princípios que funcionam como um quadro teórico de referência no seu trabalho.

 

Tendo por base a crítica e a criatividade, o cientista encontra, por vezes, falhas ou erros nas teorias já existentes e empenha-se na procura de novas respostas. O seu objectivo é encontrar a verdade, ainda que essa tarefa corresponda apenas a uma aproximação à verdade por intermédio de teóricas cada vez melhores.

A ciência não é um sistema de enunciados certos e irrevogavelmente verdadeiros. A ciência nunca alcança a verdade, mas aproxima-se dela propondo sistemas hipotéticos complexos que permitem explicar mais ou menos fenómenos empíricos. Nunca uma teoria científica surge por indução a partir de factos e observações simples.

 

Uma vez que a ciência é conjetural, ela não atinge a verdade, apenas se aproxima dela. De uma teoria nunca podemos afirmar que é verdadeira mas apenas que é verosímil. A verdade é um ideal regulador da ciência!

 

· Que contributos Popper apresenta para uma nova forma de entender a ciência?

- substituiu a actividade indutiva pela da conjeturação

- substituiu a verificabilidade pela falsificabilidade

- substituiu a verdade pela verosimilhança, probabilidade de ser verdadeiro

 

Qual, em seu entender, o Estatuto da ciência?

 

 As teorias científicas são meras conjeturas que devem ser constantemente postas à prova, isto é, falsificadas, pelo que não se atingem certezas. Nesse sentido, a objectividade e a verdade científicas são apenas aproximações

 

Uma teoria científica não é verdadeira mas mais ou menos verosímil.

 

A objectividade na ciência segundo Kuhn

 

 Para Thomas Kuhn, a evolução da ciência depende essencialmente do trabalho dos cientistas. Ele consida o processo de produção da ciência o ponto central da reflexão epistemológica.

 

Kuhn não vê o cientista como um investigador neutro, nem as teorias como construções resultantes da análise de factos em bruto depois de submetidos à experimentação e à matematização. 

 

O cientista não é um sujeito neutro nem isolado, mas condicionado e contextualizado. A construção de teorias científicas está sempre dependente do conjunto de factos, de conhecimentos, de regras e das técnicas vigentes em dada época e aceites pela maioria dos cientistas.

 

 A mudança de um paradigma para outro não é cumulativa, antes corresponde a um modo qualitativamente diferente de olhar o real. 

 

A verdade e a objectividade são relativas ao paradigma em que se inserem: aquilo que é verdadeiro num paradigma pode não ser noutro. 

Um novo modelo explicativo tem de ser aceite pela comunidade científica, pelo que o método científico não se reduz à experimentação, mas está dependente da argumentação. A escolha entre teorias rivais obedece a critérios de dois tipos: critérios partilhados por toda a comunidade científica, dependentes de factores objectivos, isto é, princípios, regras e até valores comummente adoptados; critérios individuais, dependentes de factores subjectivos, relativos ao que individualmente cada cientista sente e pensa – de acordo com a sua história de vida e a sua personalidade – em relação à teoria que elege.

 Para Kuhn, a subjectividade está presente não apenas no contexto de descoberta de novas teorias, mas também no contexto da sua justificação. Sujeito e objecto de conhecimento não são puros mas sempre contextualizados.  

 

EXERCICÍOS

 

A COMPLETAR.... 



 


A FILOSOFIA DA ARTE 


A COMPLETAR....


 



A FILOSOFIA DA RELIGIÃO 


1. O que é a Filosofia da Religião?

A filosofia da religião é uma área da filosofia que, através de processos estritamente racionais, investiga as crenças religiosas mais fundamentais, com o objectivo de determinar se são ou não justificadas.


2. A Filosofia da Religião não é:

História das religiões (A Filosofia não se reduz à história)

Teologia (nesta já se parte de um conjunto de doutrinas que não se colocam em causa, como por exemplo: a existência de Deus, a encarnação, a ressurreição).

A filosofia da Religião questiona: Será que há boas razões para aceitar a existência de Deus?

 

3. A Filosofia da Religião pretende:

- O exame critico das crenças e dos conceitos religiosos fundamentais 

- Pensar filosoficamente sobre tópicos que surgem, relativamente à religião.

 

4. O que é que a Filosofia da Religião examina criticamente?

1. Conceitos religiosos fundamentais como:

Conceito de Deus

Conceito de fé

Noção de milagre

Ideia de omnipotência

A (in) compatibilidade entre a existência do Mal e o amor de Deus pelas criaturas

 

2. Crenças religiosas fundamentais:

 - Crença de que Deus existe

 - Que há vida depois da morte

- Que Deus sabe, mesmo antes de nascermos, o que vamos fazer

- Que a existência do mal é consistente com o amor de Deus pelas suas criaturas.

 

No exame critico deverá ter-se como ideal uma argumentação que seja válida, sólida e cogente!

 

5. O conceito TEISTA de Deus.


"Teismo é a tese de que há uma pessoa sem um corpo (um espirito) que é eterno, livr, capaz de fazer qualquer coisa, conhecer tudo, é perfeitamente bom, é o objecto apropriado de adoração humana e obediência, o criador e o sustento do universo. Cristãos, judeus e muçulmanos são todos, neste sentido, teistas".

Richard Swinburne (1993)

A que se referem as principais religiões como o judaísmo, cristianismo e islamismo, quando falam de Deus?

Quando estas falam de Deus estão a referir-se ao Deus Teista que é um Deus com os seguintes predicados:

Omnipotente (pode fazer tudo)

Omnisciente (sabe tudo)

Sumamente bom (moralmente perfeito)

Criador

Pessoa (e não uma força da natureza).

Tanto o cristianismo, o judaísmo e o islamismo defendem a existência deste Deus teísta com estes predicados, ainda que lhe deem nomes diferentes.

 

6. A concepção teista de Deus distingue-se de outras, nomeadamente:

- Deismo (Deus é o criador mas não intervém nem se importa com a criação);

Panteismo (Deus não é distinto do mundo)

 

Mas será que o Deus Teista Existe?

Quais os argumentos?

Que falácias a favor e contra a existência de Deus?

 

7. Quais os principais argumentos acerca da existência de Deus?

 

A. Argumento Cosmológico (da causa primeira ou causal) - S. Tomás de Aquino


 - Parte da observação que tudo que existe tem uma causa

 - Baseia-se em alguma informação acerca do modo como o mundo é

- começa-se  com factos simples acerca do mundo, como o facto de nele haver coisas cuja existência é causada por outras coisas e daí concluir que tem de haver uma primeira causa, ou seja, Deus

- É um argumento a posteriori


Formulação: 

1.   Existem coisas no mundo

2.   Se existem coisas no mundo, então tais coisas foram causadas a existir por alguma outra coisa

3.   Se as coisas do mundo foram causadas a existir por alguma outra coisa, então ou há uma cadeia causal que regride infinitamente ou há apenas uma primeira causa que é a origem da cadeia causal

4.   Mas não há uma cadeia causal que regride infinitamente

5.   Logo, há apenas uma primeira causa (a que chamamos Deus) que é a origem da cadeia causal.


Objecções:

Falácia do Falso Dilema- Na premissa 3 há um falso dilema na medida em que apresenta apenas duas opções para explicar as coisas que existem no mundo quando podemos pensar em mais possibilidades, por exemplo, a opção de existirem primeiras várias causas diferentes e, deste modo, a conclusao não poderia ser a de que há apenas uma causa primeira. Porque é que a existencia de várias causas não é plausivel?

Poderá haver uma cadeia causal infinita - Em relação à premissa 4, poderemos dizer que S. Tomás de Aquino argumenta que se não existe uma primeira causa, também não existe qualquer cadeia causal e nada existiria, ou seja, deixaria de haver tudo o que é causado por essa causa primeira. Por isso, conclui que as cadeias causais não podem regredir infinitamente, como se lê na premissa 4. Porém há aqui um problema que é o da definição pois uma cadeia causal que regride infinitamente não tem uma primeira causa. Portanto, é falso que, se retirassemos a causa primeira (se ela não existir), a cadeia causal e tudo o que existe no mundo deixaria de existir.

Não implica o Deus Teista - Em relação à conclusão, mesmo que se possa concluir que existe uma causa primeira, nada garante que essa causa seja o Deus teista, ou seja, a primeira causa da cadeia causal não precisa de ter os atributos tradicionais do teismo, como a omnipotencia, a omnisciencia ou a suma bondade.

Qual foi a causa de Deus? - se tudo tem uma causa, Deus também a tem.

O universo poderá ser incriado e eterno - a possibilidade de que tudo o que existe tem uma causa é compativel com a possibilidade de um mundo sem um principio nem fim, um mundo que exista desde sempre (como as séries infinitas de númerosem qualquer das direcções)

Argumento Cosmológico - O que diz a Bíblia?

 A Bíblia diz-nos que foi Deus que criou os céus e a Terra, que é eterno e infinito, que governa eternamente, que é a primeira causa e que criou o universo apenas pela sua vontade.


A Bíblia  diz-nos, desde o primeiro versículo, que Deus criou o universo. “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1:1). “...o SENHOR, porém, fez os céus” (1 Crônicas 16:26). Sabemos que Deus não é em Si uma parte física do universo. 2 Crônicas 2:6 diz: “...visto que os céus e até os céus dos céus o não podem conter”. Sabemos também que o “SENHOR, Deus Eterno” (Gênesis 21:33) é eterno e infinito. “Ele, em seu poder, governa eternamente” (Salmo 66:7). A Bíblia ensina claramente que Deus é a Primeira Causa sem causa anterior e que Ele criou o universo apenas pela Sua vontade.


B. Argumento Teleológico (ou do Desígnio) - S. Tomás de Aquino


O argumento teleológico (do grego telos - "finalidade" ou "propósito") baseia-se numa analogia entre o universo e um artefacto humano como um relógio ou uma máquina.

Muitas das coisas que existem no universo provocam em nós sentimento de surpresa por manifestarem ordem e desígnio

Procura, então, mostrar-se que seja o que for que produziu o universo, tem de ser um ser inteligente

Podemos fazer uma comparação: durante um passeio encontramos um relógio no chão - esse relógio é composto por diferentes partes que, por estarem ajustadas, assinalam o dia e a hora e podemos questionar: ou o relógio foi concebido por um relojoeiro ou formou-se por acaso. Como o relógio tem uma função(assinalar a hora e o dia) seria surpreendente que este se tivesse auto-formado.

A hipótese que melhor explica os fenómenos observados é a hipótese do relojoeiro e não a hipótese do mero acaso.

 

Formalizando este raciocínio num silogismo disjuntivo:

1. As características especificas do relógio encontrado devem-se a um relojoeiro ou devem-se ao acaso

2. Mas tais características não se devem ao acaso

3. Logo, tais características devem-se a um relojoeiro. 

 

NOTA: é esta a estrutura que é utilizada nas várias versões do argumento teleológico! 

Agora, se em vez do relógio, partirmos de evidencias ou observações - as maravilhas da natureza:

Os seres vivos e os seus órgãos (por exemplo, o olho) exibem uma estrutura intrincada, com desempenho de funções complexas (como a visão).

Tendo em conta essas maravilhas da natureza, temos duas hipóteses para explicar esse fenómeno: ou os seres vivos foram criados por Deus ou formaram-se por acaso. Provavelmente, as maravilhas da natureza são menos surpreendentes se foram concebidas por Deus do que se foram concebidas por acaso. Assim, as maravilhas da natureza confirmam a hipótese de Deus em detrimento da hipótese do acaso. Podemos concluir, por isso mesmo, que os dados ou observações sobre as maravilhas da natureza confirmam a existência de Deus.

Formalizando este raciocínio num silogismo disjuntivo:

1. As maravilhas da natureza devem-se ou a uma concepção de Deus ou devem-se ao acaso

2. Mais tais maravilhas não se devem ao acaso

3. Logo, tais maravilhas devem-se a uma concepção de Deus.

 

Objecção: falácia do falso dilema

Na premissa 1 há uma falácia informal do falso dilema pois alem das hipóteses de Deus e do acaso, há uma terceira hipótese muito relevante:

Darwinismo 

Os seres vivos resultam de um processo de evolução por selecção natural.


Ora, a hipótese do darwinismo parece constituir uma melhor explicação para dar conta das maravilhas da natureza do que a hipótese Deus. Assim, o darwinismo põe em causa o argumento teleológico na versão formulada.
Porém, há uma nova versão do argumento teleológico que não é afectada pela anterior critica baseada no darwinismo.

Nova versão do argumento teleológico

Numa nova versão do argumento teleológico, em vez de se partir da evidencia das maravilhas da natureza, parte-se de uma evidencia diferente, nomeadamente da observação do universo como altamente estruturado com parâmetros precisamente definidos.

A esse propósito, há quem observe que se a explosão inicial do BIG BANG diferisse em força por tão pouco quanto uma parte de 10 elevado a 60, o universo ou teria colapsado sobre si mesmo ou teria expandido muito rapidamente, não permitindo que as estrelas se formassem. Além disso, se a força nuclear forte, a força que liga protões e neutrões num átomo, bem como se a gravidade e a força eletromagnética fossem ligeiramente mais fortes ou mais fracas, a vida seria impossível.

Assim, na nova versão do argumento teleológico parte-se dos seguintes dados:

Afinação minuciosa

As constantes físicas estão minuciosamente afinadas para a existência da vida

 

Tendo em conta a afinação minuciosa, temos as seguintes hipóteses para explicar esse fenómeno:

 

Designer - a afinação minuciosa do universo deve-se a um designer sobrenatural: a um Deus.

Acaso - A afinação minuciosa do universo é fruto do acaso.

Ora:

se o universo for resultado do acaso, será surpreendente ele ter as características de afinação minuciosa. Podemos estabelecer uma analogia: tal como é surpreendente que uma seta atirada ao acaso acerte no circulo central de um alvo, também se o universo for um mero fruto do acaso será bastante surpreendente que esteja tão precisamente afinado para a vida.

- se o universo for resultado de algum tipo de designer inteligente, não será surpreendente ele ter as características de afinação minuciosa - pois se supomos que a vida em geral (mesmo a racional e consciente) é algo bom, então não será surpreendente que um designer inteligente e sobrenatural, tendo os atributos tradicionais do teísmo (omnipotência e sumamente bom), tenha criado um universo minuciosamente afinado para a vida.

Poderemos, então, afirmar o seguinte:
- a probabilidade de o universo exibir as características da afinação minuciosa, tendo resultado do acaso, é baixa.
- a probabilidade  de o universo exibir as características da afinação minuciosa, tendo resultado de um designer inteligente, não é baixa.
- É mais provável que o universo tenha constantes minuciosamente afinadas para a vida se houver um designer do que se for fruto do acaso.
- Portanto, a afinação minuciosa do universo dá razão para acreditar em Deus.


Formalizando este raciocínio num silogismo disjuntivo:

1. A afinação minuciosa do universo deve-se a um designer ou ao acaso
2. Mas não se deve ao acaso
3. Logo, deve-se a um designer.

Será este um bom argumento?

 

Objecções:

Falácia do Falso Dilema - está presente na premissa 1 pois as hipóteses do designer e do acaso não são as únicas hipóteses possíveis e relevantes para explicar a evidencia da afinação minuciosa - pode existir uma terceira hipótese: 


Multiverso

Existem muitos universos distintos: muitos dominios do espaço-tempo que divergem entre si em virtude de terem constantes fisicas ou leis naturais diferentes.

 

Assim, entre os vários universos, acabará por surgir, por mero acaso, um universo em que as constantes assumem os valores correctos para a existencia da vida. Admitida esta pluralidade de universos, a afinação minuciosa não será surpreendente.

 

 Leia o seguinte texto:

(...) O britânico Stephen Hawking tinha postulado em 1980 (juntamente com o norte-americano James Hartle) que o Big Bang tinha criado não só o nosso Universo, como também universos infinitos, com diferentes leis entre si. Como, em teoria, tudo seria possível num universo paralelo, não haveria maneira de garantir que as leis da física seriam as mesmas do que aquelas que se aplicam ao nosso cosmos.

Este último trabalho de investigação desenvolvido por Hawking antes da sua morte, a 14 de Março deste ano, aponta uma solução para este problema, dizendo que o nosso Universo é apenas um entre muitos universos parecidos, que se regem pelas mesmas leis.(...) 

In Público, 3 de Maio de 2018

 

- Não se prova a existência do Deus teísta - um problema que atinge as várias versões do argumento teleológico tem a ver com a ideia de que com o argumento em consideração sabemos pouco sobre a natureza do designer:

- será que a afinação minuciosa do universo se deve apenas a um Deus ou é um trabalho colaborativo de vários deuses?

-Talvez o designer em questão tenha poder suficiente para criar um universo favorável à vida, mas será omnipotente, omnisciente, ou moralmente perfeito? Será alguém com quem podemos estabelecer uma relação pessoal, por exemplo, através da oração?

- O argumento da afinação minuciosa, por si só, não consegue responder a estes desafios. Será esta uma objecção boa ou má?

Esta prova parece limitativa pelas seguintes razões:

- Mesmo que aceitemos que as analogias provam que um ser inteligente criou o universo, esta prova não demostra que este seja o Deus do teismo.

- Tal não implica que o criador seja omnipotente (embora tenha de ser poderoso), nem omnisciente, nem bondoso, nem que tenha de ser eterno (poderá já ter morrido), nem mesmo que seja só um - para uma tão grande criação, seria até bem mais provável que, por analogia, com o que vemos na terra, resulte da colaboração entre vários cocriadores.

 

C. Argumento Ontológico  - Anselmo de Cantuária (1033-1109) 

 

característica mais invulgar deste argumento é o facto de se basear apenas em premissas cuja verdade, a serem verdadeiras, poderá ser conhecida sem apelar à experiência: a simples análise do conceito de  Deus que todos somos capazes de formar nas nossas mentes, poderá demonstrar  a sua existência na realidade.

É um argumento por redução ao absurdo: juntando às restantes premissas a proposição de que Deus não existe na realidade, gera-se uma contradição (pois o tal ser maior do que o qual nenhum outro é possível, teria de ter outro ser superior maior que Deus), pelo que essa proposição Deus não existe na realidade- é falsa - Deus existe.

Na versão clássica de Santo Anselmo parte-se da definição de Deus como "ser maior do que o qual nada pode ser pensado" - um ser que acumula todas as perfeições que existam, que detém todas as propriedades positivas e nenhuma negativa, de tal modo, que seja o máximo possível da perfeição.

A partir desta definição conclui-se que Deus existe na realidade, pois se Deus não existisse ou se apenas existisse no pensamento, mas não na realidade, não seria aquele ser maior do que o qual nada pode ser pensado.

é um argumento a priori (sem apelar à experiência)

 

Formalizando este raciocínio:

 

1. Deus existe no pensamento (isto é, pode ser concebido como ideia, quer exista ou não na realidade)

2. Deus é um ser possível
3. Se Deus existe no pensamento e não na realidade, então um ser mais perfeito do que Deus é concebível.
4. Deus não existe na realidade (hipótese da redução ao absurdo). 
5. Se Deus não existe na realidade, então pode haver um ser maior que ele.

6.Há um ser que é existindo no pensamento e na realidade é maior do que o Deus que existe só no pensamento mas a quem falta a existência na realidade. Mas, não é concebível  um ser mais perfeito do que Deus, nem que Deus não exista na realidade.

4. Logo, Deus existe na realidade e no pensamento.

 

Objecções:

A. Pode provar-se coisas que não existem 

Gaunillo (994- 1083), um monge beneditino da Abadia de Marmoutier em Tours, França apresentou uma primeira critica em que seguindo a mesma estrutura argumentativa do argumento ontológico de Santo Anselmo , pode provar-se coisas que não existem. Para mostrar isto, Gaunillo definiu "Ilha Perfeita" como uma ilha maior do que a qual nada maior pode ser pensado e conclui, pelas mesmas razões de Santo Anselmo, que essa ilha meramente imaginária também existe na realidade.

 Formalizando o argumento de Gaunillo: 


1. A Ilha Perfeita existe no pensamento
2. Se a ilha perfeita existe no pensamento e não na realidade, então uma ilha mais perfeita do que a ilha perfeita é concebível
3. Mas não é concebível uma ilha mais perfeita do que a ilha perfeita
4. Logo, a ilha perfeita existe na realidade.


Deste modo, chega-se a uma conclusão estranha com base na mesma estrutura do argumento ontológico. Como não há qualquer ilha perfeita, na forma como Gaunillo a definiu, alguma das premissas terá de ser falsa. Embora Gaunillo não tenha identificado, com precisão, qual o erro, filósofos posteriores tentaram-no fazer.

B. A existência não é um verdadeiro predicado 

- Na premissa 2 do argumento de Santo Anselmo - Se Deus existe no pensamento e não na realidade, então um ser mais perfeito do que Deus é concebível - uma das razões a favor dessa premissa assenta na ideia  de que existir na realidade torna algo mais perfeito do que existir apenas no pensamento. 

 Kant (1724-1704) discorda e  defende que a existência não é um verdadeiro predicado. A existência não é um predicado tal como o é uma propriedade que pode caracterizar uma coisa (ou seja, "existe" não é uma propriedade como "verde", "inteligente" ou "alto").Isto porque a existência não acrescenta nada ao conceito de uma coisa - , a existência é apenas a exemplificação ou instanciação de uma coisa.

No argumento ontológico, Santo Anselmo parece sustentar que a existência é um predicado que se acrescenta ao conceito de Deus definido como um ser maior do que o qual nada pode ser pensado, ou seja, é maior ter a propriedade de existir do que não ter essa propriedade. Ora, afirma que algo existe não acrescenta nada ao conceito de um tal ser, apenas afirma que o conceito é exemplificado. Não há diferença de propriedades entre  o conceito de um Deus existente e de um Deus não existente. 

existência não envolve uma nova propriedade. E se a existência não é uma propriedade ou um predicado, então um ser maximamente perfeito não é maior se existir do que se não existir.

CFalácia da Petição de Principio 

- o argumento ontológico comete a falácia informal da petição de principio  ou circularidade, pois parte-se da definição de Deus como absolutamente perfeito, contendo todos os predicados e perfeições, inclusive a existência na realidade. Assim, quando se diz   na premissa 1 - que Deus existe no pensamento - já se está comprometido, pela definição apresentada de Deus, com a ideia de que Deus existe na realidade.   

 

8. Deus e o problema do Mal

 Acredito que Deus criou coisas em perfeição última, apesar de não nos parecer isso ao considerar partes do Universo. É um pouco como o que acontece na música e na pintura, pois as sombras e dissonâncias melhoram verdadeiramente as outras partes, e o autor sábio de tais obras obtém destas imperfeições particulares um benefício tão grandioso para a perfeição total do seu trabalho que é muito melhor dar-lhes espaço do que tentar passar sem elas. Assim, temos de acreditar que Deus não teria permitido o pecado nem teria criado coisas que sabe que irão pecar, se não tivesse obtido delas um bem incomparavelmente maior que o mal que daí resulta. 

(Leibniz, “Diálogo sobre a Liberdade Humana e a Origem do Mal”, 

pp. 115)


O problema do mal pretende responder ao seguinte problema:

- Será compatível a existência de Deus e a existência de Mal no mundo?

- A existência do Mal no mundo parece ser um forte indicia contra a existência de Deus.

- Algumas pessoas poderiam argumentar nesse sentido, que a existência da Guerra da Ucrânia , por exemplo, mostra que Deus não existe ou ele não é bondoso e/ou onipotente

- Há vários tipos de mal no mundo:

a) MAL MORAL: que tem origem nas acções humanas, como por exemplo, os assassinatos, torturas e roubos;

b) MAL NATURAL: não tem origem nas acções humanas, como por exemplo, terramotos, tsunamis e algumas doenças.

- William Rowe (1931 – 2015) defende uma versão forte da incompatibilidade entre a existencia de Deus e do Mal no mundo – Argumento Probabilístico do Mal.

 - Segundo o autor podemos distinguir:

a) MAL JUSTIFICADO é aquele que se não existir leva a que se perca um bem maior. Exemplo: uma má acção (mal) que é perdoada (bem maior do perdão).

b) MAL NÂO JUSTIFICADO é aquele que se não existir não leva a que se perca um bem maior- é um mal sem sentido, gratuito. Exemplo: o sofrimento de todoa os animais na guerra da Ucrânia que, por não terem livre arbítrio, não pode fazer uso deste bem e, deste modo, coloca-se a questão: Será que Deus poderia, com facilidade, ter evitado o sofrimento destes animais?

- Assim, alguns dos males do nosso mundo, como o exemplo acima citado, parecem gratuitos.

- Segundo o ateismo a existencia do MAL GRATUITO não é improvável pois se o mal gratuito continua a existir isso parece evidenciar que Deus  não existe.

- Segundo o teismo, a existencia do MAL GRATUITO é muito improvável - pois se o Deus teista existe, sendo este omnipotente, omnisciente e moralmente perfeito, ele sabe, quer e tem o poder para iliminar os males gratuitos ou sem sentido.

- Então, o facto de constatarmos a existencia do MAL GRATUITO poderá ser uma forte razão para se preferir o ateismo ao teismo?

Assim:

- O problema do mal (também conhecido como teodiceia) e uma das críticas mais antigas à existência de Deus como ser omnipotente (que tudo pode) e benevolente (que é bom). 

- o argumento procura mostrar que a existência do mal no mundo não é compatível com a ideia de um Deus benevolente e omnipotente.

Algumas pessoas poderiam argumentar nesse sentido, que a existência da Guerra da Ucrânia , por exemplo, mostra que Deus não existe ou ele não é bondoso e/ou omnipotente.


A teodiceia de Leibniz (1646-1716)

- O problema do mal (também conhecido como teodiceia) e uma das críticas mais antigas à existência de Deus como ser omnipotente (que tudo pode) e benevolente (que é bom). 

- o argumento procura mostrar que a existência do mal no mundo não é compatível com a ideia de um Deus benevolente e omnipotente.

- Uma das teodiceias mais importantes foi desenvolvida por Leibniz - por teodiceia entende-se uma resposta à questão de saber por que motivo Deus permite o mal já que nenhum mal é justificável.

- A estrutura argumentativa é a seguinte:

Deus criou o melhor dos mundos possíveis

O melhor dos mundos possíveis tem males (partes indesejáveis)

Logo, Deus permite o mal. (pois o melhor dos mundos possíveis não implica um mundo sem males)


Mas não seria possível pensar um mundo com menos mal?

- Segundo Leibniz, considerando todas as coisas, não temos justificação para poder afirmá-lo pois não poderemos saber se é possivel criar um mundo melhor sem esses aspectos negativos, dado que não sabemos quais as conexões entre estes  e outros aspectos do mundo.

- Se pudéssemos evitar o sofrimento, teríamos um mundo melhor mas não temos forma de saber se essa mudança deixaria ou não o mundo inalterado, ou se, em vez disso, tornaria as coisas piores.

- Deus tem razões para permitir a existência do mal no mundo, não existindo, deste modo, males gratuitos ou injustificados.


Poderá o livre arbítrio justificar a existência do Mal?

Como conciliar a existência do Mal e do livre arbítrio?

Segundo  Peter Van Inwagen, USA, 1942) na sua obra The Problem of Evil…

 - Deus fez o mundo e isso foi muito bom.

- Uma parte indispensável da bondade que ele escolheu foi a existência de seres racionais: seres auto conscientes capazes de amor e pensamento abstrato, e com o poder de livre escolha entre cursos de ação alternativos contemplados.

- Essa última característica dos seres racionais, a livre escolha ou livre-arbítrio, é um bem.

 - Mas mesmo um ser onipresente é incapaz de controlar o exercício do poder de livre escolha, já que uma escolha que fosse controlada não seria verdadeiramente livre. 

- Se eu tenho uma livre escolha entre ir ao concerto dos U2 e fazer uma visita de voluntariado a Kiev, nem mesmo Deus pode garantir que vou escolher a segunda hipótese.

 - Pedir a Deus que me dê livre escolha entre ir ao concerto dos U2 ou fazer uma visita de voluntariado a Kiev e que garanta que eu escolha ir ao concerto dos U2 em vez de fazer uma visita de voluntariado a Kiev é pedir que Deus realize o intrinsecamente impossível.

- Tendo esse poder de livre escolha, alguns ou todos os seres humanos o usaram mal e produziram uma certa quantidade de mal.

- O livre-arbítrio, porém, é um bem suficientemente grande para que sua existência exceda os males que têm resultado e que resultarão do seu abuso: e Deus previu isso.


9. O Fideísmo de Blaise Pascal (1623-1662)

 Fideísmo – o que é?

- Será racional acreditar em Deus?

- O fideísmo é uma posição que defende que a fé e a razão são incompatíveis e que só a fé permite acreditar em Deus: Só a fé nos pode pôr em contacto com Deus;

- A falta de boas razões para acreditar na existência de Deus não é uma boa razão para não ter fé.

- Assim, a fé na existência de Deus não pode ser justificada com argumentos.

- Segundo Pascal mesmo sem argumentos a favor da existência de Deus, segundo uma racionalidade  prudencial, (não conduz à verdade, justifica crenças práticas ou ajuda as pessoas em situações terminais, por exemplo)   acreditar que Deus existe pois essa é a melhor "aposta" - é aquela que traz mais vantagens para nós, até mesmo do ponto de vista de benefícios práticos.

- A posição de que se pode acreditar, legitimamente em Deus sem qualquer racionalidade epistémica (aquela que é justificada e permite chegar a novas crenças verdadeiras) designa-se fideísmo.

- O propósito de Pascal não é provar se Deus existe ou não existe  tal como acontece nos argumentos tradicionais mas sim afirmar que, tendo em conta os custos e benefícios para a nossa vida, apostar e acreditar na existência de Deus é uma felicidade plena.

Formalizando o argumento de Pascal

1. Ou Deus existe ou não existe

2. Se Deus existe, estaremos melhor como crentes em Deus do que como não crentes

3. Se Deus não existe , acreditar e não acreditar é o mesmo

4. Logo, acreditar que Deus existem um resultado melhor /do que não acreditar em Deus)

 

Objeções à aposta de Pascal

Em primeiro lugar, Pascal está enganado na sua crença de que devemos apostar contra ou a favor da existência de Deus. Podemos optar por permanecer nas margens, como faz o agnóstico. Claro que nesse caso podemos perder o prémio, se houver um prémio, por termos apostado incorretamente. Mas Pascal não pode provar que há tal prémio.

Em segundo lugar, a aposta não é tão simples como Pascal pensou porque há um número indefinido de possíveis criadores. O Deus cristão comum em quem Pascal apostou é apenas um deles. Assim, o número de possibilidades para apostar é muito maior do que duas e os jogadores racionais não têm a possibilidade de escolher mesmo que queiram escolher um Deus ou outro. Por outras palavras, se a aposta de Pascal faz sentido, será tão razoável apostar num deus-lua ou deus-sol como no Deus judeu, cristão ou muçulmano.

E, finalmente, não há prova ou razão para supor que ganhamos um prémio se apostarmos no Deus que de facto exista. Porque não podemos pressupor sem razões que Deus recompense os crentes ou que puna os descrentes. (De facto, em última análise o próprio Pascal apelou à revelação ou fé). Pelo contrário, as intuições de muitos de nós dizem precisamente o contrário talvez porque quando nos tentamos pôr no lugar de Deus, percebemos que estaríamos inclinados a considerar que a crença baseada na aposta de Pascal é hipócrita. Deus, se existir, pode impressionar-se bem mais com a honestidade daqueles que não conseguiram apostar (acreditar) na ausência de provas do que com aqueles que acreditam porque pensam que é prudente fazê-lo.

 

                 Howard Kahane, Há boas razões para acreditar que Deus existe? In Crítica

Outras reflexões acerca de O  Fideísmo de Pascal....

1. Será que Deus beneficia de igual modo os crentes que têm fé por interesse na recompensa dos crentes que têm fé desinteressada e honestamente?

2. Pascal refere o Deus teísta - mas não poderemos considerar outras hipóteses de divindade como, por exemplo, o Deus deísta que não dá qualquer recompensa?

3. Será que a fé religiosa se pode basear num cálculo para obter os melhores resultados no que concerne a custos e benefícios?

5. Não parece esta concepção revelar uma devoção religiosa egoísta , interesseira e, moralmente, muito desprezível?

6. Será que Deus aprovaria uma atitude de fé baseada no cálculo?

7. Será que a crença em Deus é voluntária como defende Pascal? (A crença segundo Pascal está sob controlo voluntário e livre).


William Alston (1921 - 2009) considera que não temos o poder de decidir se acreditamos ou não em Deus apenas por decidir faze-lo. 



LOLA


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