Foto André Teixeira |
Filosofia, retórica e democracia
· Desde a antiguidade greco-latina até
aos dias de hoje, retóricos e filósofos opuseram-se pois apesar de ambos
aspirarem ao direito de formar a juventude, estes contrariam-se.
· O filósofo preconiza a busca da verdade, enquanto
que os retóricos influenciavam o Homem pela arte de bem
falar, essencial na política.
Segundo W. Ritschard – “Não são os que procuram a verdade
que são perigosos, mas os que acham que a encontraram”.
· Os retóricos talentosos não necessitam de ser
sinceros naquilo que dizem, devem contudo ser eficazes ou, pelo menos,
interessantes de forma a persuadir o auditório – é a forma como diz e não o que se diz.
· A proliferação
da retórica deve-se aos sofistas pois para estes, o uso da
palavra, tinha em vista convencer e seduzir o auditório sendo mais eficaza
palavra dita com habilidade do que o conteúdo do próprio discurso.
“ Nenhum
espelho reflete melhor o Homem que as suas palavras”.
“ O Homem é a medida de todas as coisas” –
afirmava Protágoras de
Abdera.
· Para os sofistas há um relativismo e subjectivismo da
verdade – a verdade é o que
parece a cada um.
· Os
filósofos, ao contrário
dos sofistas, pensam que
uma boa argumentação é aquela que serve o filósofo na eterna busca da verdade.
· A verdade e o bem são ideias que convêm à filosofia.
· Só
pelo uso dialético da razão o filósofo pode procurar e encontar a
verdade, segundo a filosofia
socrático-patónica. Esta não aceita o relativismo de Protágoras e pretende
inviabilizar a prática de uma retórica baseada em opiniões ou meras aparências.
Deste modo, através do diálogo
e eliminação de contradições, Sócrates e Platão inauguram o fosso que separava a
filosofia da retórica.
· Com Aristóteles, a retórica torna-se um saber entre
outros, ocupando-se do que é verosímil.
Através da separação dos domínios da retórica, da moral e da verdade,
Aristóteles pôde libertar a
retórica da má reputação associada
à sofística.
· A retórica pode ter um bom ou mau uso não sendo esta que deve ser julgada em
termos morais mas sim quem a utiliza.
· No século XX ocorre uma completa reabilitação da
retórica e da sua relação com a filosofia, sendo criada uma nova retórica por Chaïm
Perelman e Stephen Toulmin, encontrando
estes na argumentação o fundamento de uma nova racionalidade.
· O
filósofo Michel Meyer fez uma leitura da história da
retórica, afirmando que era na relação entre os conceitos de ethos, pathos e logos que se podia explicar a evolução desta
ao longo da história. Para se dar esta evolução vários filósofos privilegiaram
um conceito em detrimento dos outros, nomeadamente: Platão (valorizou o
Pathos), Aristóteles (valorizou o logos), Cícero (valorizou o ethos) e Perelman
(valorizou o logos).
· A retórica evidencia-se, efetivamente, nos terrenos democráticos, onde o
poder do demos (povo) é coetâneo do poder da
palavra.
· Nesta
área, o conceito de cidadania é fomentado pela igualdade perante a
lei e o livre uso da palavra.
· À semelhança da Grécia antiga, também
hoje, nos países democráticos,
a palavra é o primeiro instrumento de defesa da liberdade
e de igualdade de direitos. No entanto se esta substitui a violência física
não substitui a simbólica, não impedindo assim o surgimento de outro violência
camuflada e perigosa, nomeadamente a sedução,
manipulação e demagogia.
· Com o aparecimento
destes novos tipos de violência emergiram questões sobre a influência dos mais recentes meios de comunicação (televisão e internet) num indíviduo e numa sociedade!
Lola
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