segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Filosofia, retórica e democracia

Foto André Teixeira


Filosofia, retórica e democracia 



· Desde a antiguidade greco-latina até aos dias de hoje, retóricos e filósofos opuseram-se pois apesar de ambos aspirarem ao direito de formar a juventude, estes contrariam-se.

· O filósofo preconiza a busca da verdade, enquanto que os retóricos influenciavam o Homem pela arte de bem falar, essencial na política.

Segundo W. Ritschard – “Não são os que procuram a verdade que são perigosos, mas os que acham que a encontraram”.

· Os retóricos talentosos não necessitam de ser sinceros naquilo que dizem, devem contudo ser eficazes ou, pelo menos, interessantes de forma a persuadir o auditório – é a forma como diz e não o que se diz.

· A proliferação da retórica deve-se aos sofistas pois  para estes, o uso da palavra, tinha em vista convencer e seduzir o auditório sendo mais eficaza palavra dita com habilidade do que o conteúdo do próprio discurso.  

  “ Nenhum espelho reflete melhor o Homem que as suas palavras”.
 “ O Homem é a medida de todas as coisas” –  afirmava Protágoras de Abdera.

·  Para os sofistas há um relativismo e subjectivismo da verdade – a verdade é o que parece a cada um.

· Os filósofos, ao contrário dos sofistas, pensam que uma boa argumentação é aquela que serve o filósofo na eterna busca da verdade.

· A verdade e o bem são ideias que convêm à filosofia.

· Só pelo uso dialético da razão o filósofo pode procurar e encontar a verdade, segundo a filosofia socrático-patónica. Esta não aceita o relativismo de Protágoras e pretende inviabilizar a prática de uma retórica baseada em opiniões ou meras aparências. Deste modo, através do diálogo e eliminação de contradições, Sócrates e Platão inauguram o fosso que separava a filosofia da retórica.

· Com Aristóteles, a retórica torna-se um saber entre outros, ocupando-se do que é verosímil. Através da separação dos domínios da retórica, da moral e da verdade, Aristóteles pôde libertar a retórica da má reputação associada à sofística.

·         A retórica pode ter um bom ou mau uso não sendo esta que deve ser julgada em termos morais mas sim quem a utiliza.

·  No século XX ocorre uma completa reabilitação da retórica e da sua relação com a filosofia, sendo criada uma nova retórica por Chaïm Perelman e Stephen Toulmin, encontrando estes na argumentação o fundamento de uma nova racionalidade.


· O filósofo Michel Meyer fez uma leitura da história da retórica, afirmando que era na relação entre os conceitos de ethos, pathos e logos que se podia explicar a evolução desta ao longo da história. Para se dar esta evolução vários filósofos privilegiaram um conceito em detrimento dos outros, nomeadamente: Platão (valorizou o Pathos), Aristóteles (valorizou o logos), Cícero (valorizou o ethos) e Perelman (valorizou o logos).

· A retórica evidencia-se, efetivamente, nos terrenos democráticos, onde o poder do demos (povo) é coetâneo do poder da palavra.

· Nesta área, o conceito de cidadania é fomentado pela igualdade perante a lei e o livre uso da palavra.

· À semelhança da Grécia antiga, também hoje, nos países democráticos, a palavra é o primeiro instrumento de defesa da liberdade e de igualdade de direitos. No entanto se esta substitui a violência física não substitui a simbólica, não impedindo assim o surgimento de outro violência camuflada e perigosa, nomeadamente a sedução, manipulação e demagogia.

· Com o aparecimento destes novos tipos de violência emergiram questões sobre a influência dos  mais recentes meios de comunicação (televisão e internet) num indíviduo e numa sociedade!




 Lola


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