Persuasão e manipulação ou os dois
usos da retórica
Persuadir, do latim persuadere, significa levar
alguém a optar por uma determinada
posição.
Todo o discurso
argumentativo é persuasivo. A sua intenção é convencer um
auditório a aderir a uma determinada tese apoiada por um orador.
Ao falarmos de argumentação temos que
aceitar a existência de persuasão, visto que é essencial para atingir o seu
objectivo. São, por isso, conceitos imediatos/contíguos.
A persuasão tem adquirido uma conotação
negativa com o desenvolvimento de técnicas persuasivas dos meios de
comunicação, aproximando-se ao conceito de manipulação. É
também associado à retórica sofística (da Grécia antiga).
Entende-se por manipulação, a restrição
à liberdade de pensamento e de opção assim como a uma imposição para
aceitar qualquer conteúdo sem que passe por um “filtro” pessoal.
A manipulação não permite um discurso
livre entre emissor e receptor, acaba por se tornar um discurso
unidireccional sem benefícios para o conhecimento da verdade.
Já a persuasão, não pretende forçar a
aceitação, mas através da argumentação, corrobora com uma determinada
tese que é a mais aceitável.
P
·
Existem diferentes formas de manipular o
auditório.
Estas estratégias manipulativas podem resumir-se em dois tópicos: cognitivo e afectivo.
A manipulação cognitiva baseia o
discurso numa argumentação puramente falaciosa, distorcendo factos de uma forma
bastante subtil.
A manipulação afectiva apela
essencialmente ao Pathos, ou seja, impressiona o público
pelos sentimentos e pelas emoções.
Existe uma linha muito ténue a separar
a manipulação e a persuasão, o que torna difícil a sua distinção na prática.
A identidade e a autonomia própria do ser humano ficam
comprometidas com o uso frequente de um discurso manipulador já que este impede
o exercício crítico do que se lê e do que se ouve, baseando-se apenas em ideias
já feitas.
A democracia é desrespeitada já que os indivíduos
não expressam as suas próprias opiniões.
Devemos, assim, considerar a distinção
que alguns autores fazem entre retórica
branca e retórica negra.
A retórica negra corresponde a um uso ilegítimo do discurso, porque visa enganar, iludir, manipular
o interlocutor, sendo, portanto, equivalente à manipulação; a retórica branca procura
pôr a descoberto os procedimentos da segunda, e, por isso, evidencia-se como
crítica, lúcida e consciente, das diferentes formas e dos vários problemas que
envolvem a comunicação, sendo, portanto, equivalente à persuasão, e por isso
ela inclui o estudo da retórica e do seu uso.
Assim, é através de uma retórica branca, ou seja, é
no interior da própria retórica que podemos encontrar as armas para lutar contra
a manipulação.
A questão do mau uso ou abuso da
retórica exige uma reflexão critica sobre os efeitos que ela produz e
remete-nos para o domínio da
ética. Por outras palavras, impõe-se como necessário o estabelecimento de limites à própria persuasão, ou se quisermos
dizer de uma outra maneira, torna-se
urgente a imposição de regras que impeçam a manipulação
A competência
retórico-argumentativa consiste,
sobretudo, em saber argumentar e desmascarar a manipulação e urge delinear
limites à persuasão necessários para que a manipulação não limite a liberdade
do ser humano e não interfira nas questões éticas.
Porque se
deixa o homem manipular e porque manipula são questões éticas que intrigam
desde os tempos antigos até à actualidade.
Lola
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