Será
que os animais têm direitos?
Este
ensaio filosófico discute o problema de se os animais têm ou não direitos.
Durante
séculos e ainda hoje em dia, os animais têm sido utilizados para os mais
diversos fins: fonte de alimentação, testes de vacinas e produtos cosméticos,
para satisfazerem a curiosidade humana
(jardins zoológicos) e o seu gosto pelo espétaculo (circo e tourada). É por
isso importante saber se os animais sentem ou não dor e se é mesmo necessário
fazê-los sofrer para satisfazer as nossas necessidades.
Existem
três perspectivas quanto a este tema: a perspectiva utilitarista, defendida por
Bentham e Singer, a perspectiva dos direitos, argumentada por Tom Reegan e a
perspectiva tradicional, da qual é apologista, por exemplo, Kant. As duas
primeiras perspectivas defendem que os animais têm direitos e que o especismo
que está na base da perspectiva tradicional, é um erro.
Para
Bentham, se os animais não têm importância moral, por não possuirem capacidade
de usar uma linguagem ou de pensar, então as crianças de tenra idade ou as
pessoas com deficiências profundas também não têm essa importância.
A
sensiência (capacidade de sofrer e de ter prazer) é usada como critério que
permite integrar humanos e animais numa mesma comunidade moral, não atribuindo
maior pesi aos nossos interesses. Porque, para Singer, se os animais dotados de
sistema nervoso e de cérebro são capazes de experimentar sofrimento, ora , o
sofrimento é igualmente desagradável quer se seja humano ou animal. Razão para
levar Singer a dizer que, as nossas
dores não contam mais do que a dos outros animais, por maiores que sejam as
nossas capacidades intelectuais e morais.
Na
perspectiva dos direitos, Reegan defende que para além de interesses, os
animais têm direitos e que nós temos o dever moral fundamental de tratar com
respeito todos os seres com capacidade de sofrer. Os animais têm direito a ser
respeitados em virtude de possuírem um valor intrínseco (vale por si só e não
depende dos benefícios que dele possamos obter).
Com
base no especismo (atitude que consiste em, partindo do príncipio de que somos
animais superiores, julgarmos que os outros animais nada mais são do que
objectos ou coisas que estão ao serviço dos nossos interesses, sofram o que
sofrerem com isso) devenvolveu-se a perspectiva tradicional que é defendida,
por exemplo, por Kant que afirma: "Os animais não têm consciência de si e
existem apenas como meio para um fim. Esse fim é o homem.".
A
perspectiva com que me identifico mais e da qual sou defensor é a perspectiva
dos direitos dos animais, defendida por Tom Reegan.
Reegan
defende uma perspectiva , denominada perspectiva dos direitos em que os animais
para além de interesses têm direitos ao contrário da perspectiva utilitarista
onde estes apenas têm interesses e da tradicional, onde os animais são apenas
objectos ao dispôr do Homem. Para Reegan os animais têm um valor intrinseco
(valem por si só e não dependem dos beneficios que deles possamos retirar) e
não instrumental. Sendo assim os animais devem ser respeitados e não devem ser
vítimas de sofrimento pois são seres conscientes. A maior parte dos mamíferos
com um ou mais anos têm até mesmo uma certa perspectiva de futuro!
Esta
perspectiva pode ser objectada pois diversas tribos e povos pelo mundo fora
dependem da natureza e dos animais para sobreviverem. Para eles, os animais são
uma fonte de alimentação, de vestuário e sem estes produtos eles acabariam por
morrer de frio ou então à fome.
Além
disso, segundo esta perspectiva os animais têm um valor intrínseco não podendo
assim ser mortos por nenhuma razão, então as instituiçoes como, por exemplo, o
Banco Alimentar contra a fome teriam de ser repugnadas pois distribuem produtos
de origem animal às famílias mais carenciadas e por isso nós não deveriamos
contribuir para estas. O mesmo se passaria com as instituições que tratam dos
animais abandonados que grande parte das vezes os alimentam com carne ou outros
produtos de origem animal.
O
Homem é por excelência um ser omnívoro e por isso come carne, cereais,
vegetais, frutos e todos esses alimentos são essenciais na sua dieta e vitais
para um bom funcionamento do corpo. Sem carne, leite e outros derivadosde
produtos animaiso Homem iria ter vitaminas em falta no seu corpo.
Outro
caso é o do leão. Os leões , por exemplo, caçam gazelas na savana para se
alimentarem e ninguém os tenta persuadir a deixar de comer carne.
Um
dos casos mais evidentes de como os anmais são necessários ao Homem é o facto
de as experiências medecinais e cosméticas serem realizadas com animais, sendo
estes completamente vitais para a realização destas. Estas experiências podem ser consideradas
correctas se as analisarmos a partir da perspectiva utilitarista de Stuart Mill
que diz: "A maior felicidade para o maior número de pessoas.". Sendo
assim, se esta experiências conseguirem salvar pessoas então a morte do animal
não terá sido em vão.
Por
fim, a Bíblia no Génesis contém uma passagem que afirma que Deus deu ao Homem o
controlo de toda a natureza sendo que os animais se encontram na Terra ao
dispôr do Homem.
Todas
estas objecções parecem à primeira vista irrefutáveis, porém se analisarmos
melhor veremos que não o são.
O
facto de um grande número de tribos dependerem dos animais para sobreviverem
não é preocupante pois estas tribos já existem hà milhares de anos, sendo a maior parte amiga dos
animais. Elas apenas matam para sobreviverem e esse número é apenas uma
"migalha" comparado com as mortes que o Homem, considerado
civilizado, faz.
As
instituiçoes contra a fome distribuem produtos de origem animal porém se todo o
Homem se alimentasse a partir de produtos vegetais as instituições também o
fariam. Quanto aos produtos distribuídos
aos animais abandonados poderiam ser rações ao invés de carne e outros
produtos de origem animal.
O
Homem é um ser omnívoro e alimenta-se de produtos de origem animal mas
conseguiria sobreviver se apenas se alimentasse de produtos vegetais como
fruta, vegetais, cereais, derivados de soja, conseguindo assim suplantar a
falta de carne no organismo.
A
comparação do Homem com o leão é no mínimo absurdo visto que o leão não tem
consciência daquilo que faz e mata por instinto de sobrevivência.
As
experiências medecinais são realizadas com recurso a cobaias animais porém este
método tem de ser mudado pois nós não nos podemos considerar mais importantes
que os outros animais. Apesar de um animal poder salvar a vida de outras tantas
pessoas e animais, não considero justo. Quanto às experiências de cosmética com
uso de animais são no mínimo rídiculas visto que são necessidades humanas de
segunda ordem e para as quais já existem outros métodos.
Em
relação à Bíblia, eu considero que não se pode acreditar muito nessa passagem
pois é um livro antigo do qual não se tem a certeza à cerca da verdade das suas
escritas. Além disso, quem escreveu essa passagem não tinha noção do quanto
sofriam os animais.
Posto
isto e, para concluir, eu considero que os animais não devem ser mortos por
qualquer que seja a razão pois são seres vivos que sentem como qualquer ser
humano, merecendo ser respeitados.
Filipe
Prado
Jim e Kurt |
Lola
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